As origens anglo-americanas das revoluções coloridas & da NED
Até há poucos anos poucas pessoas entendiam o conceito
das revoluções coloridas.
Se a liderança da Rússia e da China não tivessem decidido unir-se solidariamente em 2012
, quando começaram a vetar o derrube de Bashar al Assad na Síria,
seguindo-se a sua aliança
em torno da Iniciativa Estrada da Seda
(Belt and Road Initiative)
, seria duvidoso que hoje o conceito de revolução
colorida fosse tão bem conhecido.
Naquela época, a Rússia e a China perceberam que não
tinham escolha senão ir à contra-ofensiva, uma vez que as
operações de mudança de regime e as
revoluções coloridas orquestradas por organizações
como National Endowment for Democracy (NED), filiada à CIA, e a Soros
Open Society Foundations eram concebidas para atacá-las. Os
esforços a favor de revoluções rosa, laranja, verde ou
amarela na Geórgia, Ucrânia, Irão ou Hong Kong
sempre reconhecidos como pontos fracos na periferia
ameaçavam a formação de uma grande aliança de
nações soberanas euro-asiáticas que teria o poder de
desafiar a elite anglo-americana com base em Londres e na Wall Street.
A
expulsão da Rússia em 2015
de 12 importantes canais de
revolução colorida incluiu a Open Society Foundation de Soros
que, tal como a NED, era poderosas quinta-colunas do inimigo, com o
Ministério dos Negócios Estrangeiros a classificá-la como
"uma ameaça os fundamentos da ordem constitucional da Rússia
e à sua segurança nacional". Isto resultou em apelos
fanáticos de George Soros em favor de um
fundo de US$50 mil milhões
para actuar contra a interferência da Rússia em defesa da
democracia na Ucrânia. Aparentemente os
US$5 mil milhões gastos pelos NED
na Ucrânia não foram suficientes
[1]
.
Apesar da luz que incidiu sobre estes vermes, as operações da NED
e da Open Society continuaram com força total concentrando-se nos elos
mais fracos do Grande Tabuleiro de Xadrez, desencadeando o que ficou conhecido
como uma "estratégia de tensão". Venezuela, Caxemira,
Hong Kong, Tibete e Xinjian (alcunhado de Turquestão Oriental pela NED)
foram todos atacados nos últimos anos. Milhões de dólares
da NED foram despejados em grupos separatistas, sindicatos, movimentos de
estudantes e falsos "formadores de opinião" sob o disfarce da
"construção da democracia". US$1,7 milhão em
subsídios foram gastos pela NED em Hong Kong desde 2017, o que
representou um aumento significativo em relação aos US$400 mil
gastos para coordenar o fracassado protesto
"Ocuppy HK" em 2014
.
O caso da China
Como resposta a mais de dois meses de caos controlado, o governo chinês
manteve uma postura admiravelmente contida, permitindo às autoridades de
Hong Kong que administrasse a situação com a sua polícia
privada de armas letais e até mesmo cedendo à exigência dos
manifestantes de que mudanças no tratado de extradição
nominalmente o que desencadeou esta confusão fossem
anuladas. Apesar deste tom paciente, os desordeiros que provocaram danos em
aeroportos e edifícios públicos criaram listas de
exigências quase impossíveis de cumprir para a China continental,
incluindo 1) um "comité independente para investigar os abusos das
autoridades chinesas", 2 ) que a China deixe de se referir aos desordeiros
como "desordeiros", 3) que todas as acusações contra
desordeiros sejam canceladas, e 4) sufrágio universal incluindo
candidaturas que promovam a independência ou o regresso ao Império
Britânico.
Como a violência continua a crescer, e como se tornou uma realidade
crescente que alguma forma de intervenção do continente possa
ocorrer a fim de restaurar a ordem, o Foreign Office britânico adoptou um
tom agressivo ameaçando a China com "graves
consequências" a menos que seja permitida "uma
investigação totalmente independente" quanto à
brutalidade policial. O ex-governador colonial, Christopher Patten, atacou a
China ao dizer: "Desde que o presidente Xi entrou no governo, tem havido
repressão a dissidentes por toda a parte, o partido tem estado no
controle de tudo".
O Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês respondeu
dizendo que "o Reino Unido não tem jurisdição
soberana ou direito de supervisão sobre Hong Kong
é
simplesmente errado que o governo britânico exerça pressão.
O lado chinês insta seriamente o Reino Unido a cessar sua
interferência nos assuntos internos da China e a cessar de fazer
acusações aleatórias e inflamatórias acerca de Hong
Kong".
Os britânicos não seriam capazes de efectuar suas
manipulações de Hong Kong sem o papel vital das
operações sujas de ONGs dos EUA. De um modo realmente imperial, a
classe política de ambos os lados atacou a China, com o líder da
maioria no Senado, Mitch McConnell, e Nancy Pelosi a fazerem o barulho mais
ruidoso levando o Comité do Assuntos Estrangeiros da Câmara
americana a
ameaçar
"condenação universal e consequências rápidas
se Pequim intervier. Isso só fez com que as fotografias de Julie Eadeh,
a chefe do Gabinete Político do Consulado Americano em Hong Kong,
reunida com líderes das manifestações de Hong Kong se
tornassem muito mais repugnantes para qualquer observador.
Se bem que tanto a Grã-Bretanha quanto a América foram apanhadas
em flagrante a organizarem esta revolução colorida, é
importante ter em mente quem controla quem.
As origens estrangeiras da NED
Ao contrário da crença popular, o Império Britânico
não desapareceu após a Segunda Guerra Mundial, nem entregou as
"chaves do reino" à América. Ele nem mesmo se tornou o
parceiro júnior num novo relacionamento especial anglo-americano. Ao
contrário da crença popular, ele permaneceu no assento dos
condutores.
A ordem pós-Segunda Guerra Mundial foi em grande medida moldada por um
golpe britânico que tomou conta da América através de um
combate.
Ninhos de Rhodes Scholars
[NT 1]
treinados em Oxford, fabianos e outros ideólogos inseridos no interior
do establishment americano tiveram um bocado de trabalho quando lutavam para
expurgar todos os impulsos nacionalistas da comunidade de inteligência
americana. Se bem que o expurgo mais agressivo de patriotas americanos da
comunidade de inteligência se verificasse durante a
dissolução do OSS
[NT 2]
e a criação do MI6, em 1947, e a caça às bruxas
comunistas que se seguiu, houve outros expurgos que foram menos bem conhecidos.
Durante uma organização que começava a tomar forma e que
viria a se tornar conhecida como a
Comissão Trilateral
, organizada pela "mão britânica na América"
chamada
Council on Foreign Relations
e o Grupo Internacional Bilderberg, verificou-se outro expurgo. Foi em 1970
sob a direcção de James Schlesinger, nos seus breves seis meses
como director da CIA. Naquela época, 1000 altos funcionários da
CIA considerados "inadequados" foram demitidos. A isto seguiu-se,
nove anos depois, outros 800 demitidos de acordo com uma lista elaborada pelo
"espião-mestre" da CIA, Ted Shackley
. Tanto Schlesinger como Shackley eram membros de alto nível da
Comissão Trilateral que participaram da formação do grupo
em 1973 e tomaram o pleno poder da América durante a presidência
de Jimmy Carter em 1977-1981, a qual desencadeou uma
reorganização distópica da política externa e
interna americana
esboçada no meu relatório anterior
.
Projecto de captura da democracia
Na década de 1970, a mão suja da CIA a financiar
operações anarquistas tanto dentro como fora dos Estados Unidos
tornou-se bem conhecida pois a cobertura dos media sobre suas
operações escabrosas tanto em casa como no exterior estragou a
imagem patriótica que a comunidade de inteligência desejava.
Enquanto a resistência interna ao comportamento fascista a partir de
dentro da própria comunidade de inteligência era tratada
através de expurgos, a realidade era que uma nova agência tinha de
ser criada para assumir as funções de
desestabilização encoberta de governos estrangeiros.
Aquilo que se tornou o
Project Democracy
teve origem numa reunião da Comissão Trilateral em 31 de maio de
1975 em Quioto, Japão, quando um protegido do director da
Comissão Trilateral, Zbigniew Brzezinski, chamado Samuel (Choque de
Civilizações) Huntington, apresentou os resultados da sua
Força-tarefa sobre a governabilidade das democracias
. Este projecto foi supervisionado por Schlesinger e Brzezinski e apresentou a
noção de que as democracias não poderiam funcionar
adequadamente nas condições de crise que a Comissão
Trilateral estava a preparar-se para impor à América e ao mundo
através de um processo alcunhado de
"Desintegração controlada da sociedade"
.
O relatório Huntington apresentado na reunião da Trilateral
declarava: "Poderíamos considerar
meios de obter apoio e
recursos de fundações, corporações de
negócios, sindicatos, partidos políticos,
associações cívicas e, quando possível e
apropriado, agências governamentais para a criação de um
instituto destinado ao fortalecimento das instituições
democráticas".
Levou quatro anos para que este projecto se tornasse realidade.
Em 1979
três membros da Comissão Trilateral, William Brock (RNC
Chairman), Charles Manatt (DNC Chairman) e George Agree (chefe da Freedom
House), estabeleceram uma organização denominada
American Political Foundation
(APF) que tentava cumprir o objectivo esboçado por Huntington em 1975.
A APF foi utilizada para montar um programa que usava fundos federais chamado
Democracy Program, o qual emitiu um relatório intermediário
chamado "O compromisso para com a democracia", o qual dizia: Nenhum
tema exige atenção mais constante no nosso tempo do que a
necessidade de fortalecer as probabilidades futuras de sociedades
democráticas num mundo que permanece predominantemente não livre
ou parcialmente acorrentado por governos repressivos. ... Nunca houve uma
estrutura abrangente para um esforço não governamental
através do qual os recursos do eleitorado pluralista da América
... pudesse ser mobilizado de forma eficaz.
Em Maio de 1981, Henry Kissinger, que substituira Brzezinski como chefe da
Comissão Trilateral e tinha muitos operacionais plantados em torno do
presidente Reagan,
pronunciou um discurso
na Chatham House britânica (a
mão controladora
por trás do Council on Foreign Relations) onde descrevia seu trabalho
como secretário de Estado dizendo que os britânicos
"tornaram-se um participante nas deliberações internas
americanas, num grau provavelmente nunca antes praticado entre
nações soberanas... Na minha encarnação na Casa
Branca mantive então o Foreign Office britânico mais bem informado
e mais estreitamente envolvido do que fazia com o Departamento de Estado dos
EUA
Era sintomático". No seu discurso, Kissinger delineou a
batalha entre Churchill e Franklin Dellano Roosevelt durante a Segunda Guerra
Mundial e destacou que ele favorecia a visão de mundo de Churchill para
o mundo do pós-guerra (e ironicamente também a do príncipe
Metternich que dirigia o Congresso de Viena que em 1815 destruiu movimentos
democráticos na Europa).
Em Junho de 1982, o
discurso de Reagan no Westminster Palace
inaugurou oficialmente a NED e em Novembro de 1983 a lei do National Endowment
for Democracy foi aprovada transformando em realidade esta nova
organização encoberta com US$31 milhões financiados por
quatro organizações subsidiárias (AFL-CIO Free Trade Union
Institute, o Center of International Private Enterprise da Câmara de
Comércio dos EUA, o International Republican Institute e o International
Democratic Institute)
[2]
.
Ao longo da década de 1980, esta organização pôs-se
a trabalhar administrando o [projecto] Irão-Contra, desestabilizando
estados soviéticos e desencadeando a primeira moderna
revolução colorida "oficial" na forma da
Revolução amarela que depôs o presidente filipino Ferdinand
Marcos. Falando mais abertamente do que o habitual, o presidente do NED, David
Ignatius,
disse em 1991
que "muito do que fazemos hoje há 25 atrás era feito
secretamente pela CIA".
Com o colapso da União Soviética, a NED foi instrumental a fim de
trazer os antigos países do Pacto de Varsóvia para o sistema
NATO/OMC e a Nova Ordem Mundial era anunciada por Bush pai e Kissinger
ambos foram recompensados com o título de cavaleiros pelos seus
serviços à Coroa, em 1992 e 1995 respectivamente.
Naturalmente, a vasta teia de ONGs que permeia o terreno geopolítico
só pode ser eficaz na medida em que ninguém disser a verdade nem
der "os nomes aos bois". O próprio acto de denunciar suas
motivações nefastas torna-as impotentes e este simples facto
torna importante na luta actual o
recém anunciado acordo China-Rússia
para a formulação de uma resposta estratégica adequada
às revoluções coloridas.
17/Agosto/2019
(1) Sem dúvida, a
retirada pelo presidente Trump de dois terços do financiamento da NED em 2018
só reforçou as acusações de Soros de que Putin
é a mão condutora
da América enquanto despejava milhões em operações
de mudança de regime anti-Trump na América. Enquanto neocons tais
como Boldon, Pompeo e o líder do Senado Mitch Mcconnell tomaram uma
posição dura contra a China em apoio à
revolução colorida, deveria ser notado que Trump tem
continuamente tomado uma linha oposta. Nos tweets de 14 de Agosto disse que
"a China não é problema nosso" e que "o problema
é com o FED".
(2) No início de 1984, uma reorganização semelhante havia
ocorrido no Canadá sob a orientação do secretário
do Conselho Privado da Comissão Trilateral, Michael Pitfield, o qual
criou o CSIS [Canadian Security Intelligence Service]
quando as "operações sujas" da RCMP [Royal Canadian
Mounted Police] durante a crise da FLQ [Front de libération du
Québec]
foram divulgadas numa série de reportagens de jornais.
NT
[1] Rhodes scholars: Bolsas de estudos destinadas à Universidade
de Oxford.
[2] OSS (Office of Strategic Services): agência de
inteligência do governo norte-americano formada durante
a Segunda Guerra Mundial (antecessora da CIA).
Ver também:
Muralha sino-russa contra a intromissão dos EUA
Follow the Money Trail Behind the Hong Kong Protests
[*]
Jornalista, fundador da
Rising Tide Foundation
O original encontra-se em
www.strategic-culture.org/...
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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