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							Roubo ou exploração?
						
							 Resenha do livro 
							
								Stolen,
							
							 de Grace Blakeley
						
							 Toda a nossa riqueza foi roubada pela grande finança e, ao
							fazê-lo, a grande finança pôs a nossa economia de joelhos.
							Portanto, devemos nos livrar da grande finança. Esta é a mensagem
							abreviada de um novo livro, 
							
								 Stolen  how to save the world from financialisation
								 (Stolen  como salvar o mundo da financiarização),
							
							 de Grace Blakeley. 
 Grace Blakeley é uma estrela em ascensão no firmamento da
							esquerda radical do movimento trabalhista britânico. Ela licenciou-se em
							política, filosofia e economia (PPE) na Universidade de Oxford e fez um
							mestrado em estudos africanos. A seguir Blakeley foi investigadora do Institute
							of Public Policy Research (IIPPE), um "think tank" de esquerda, e
							agora tornou-se o correspondente económico da revista de esquerda 
							
								New Statesman. 
							
							Blakeley é uma comentarista habitual e apoiante de ideias de esquerda em
							vários media da Grã-Bretanha. Seu perfil e popularidade elevaram
							seu livro, publicado esta semana, ao top 50 de todos os livros da Amazon.
 
 Roubado: como salvar o mundo da financiarização 
							
							é um relato ambicioso das contradições e fracassos do
							capitalismo do pós-guerra ou, mais exactamente, do capitalismo
							anglo-americano (porque o capitalismo europeu ou asiático é pouco
							mencionado e a periferia da economia mundial é coberta apenas de
							passagem). O livro pretende explicar como e porque o capitalismo se transformou
							na ladroagem do modelo da "financiarização",
							beneficiando poucos, enquanto destruindo (roubando?) o crescimento, o emprego e
							o rendimento de muitos.
 
 Stolen 
							
							conduz o leitor através dos vários períodos do
							desenvolvimento capitalista anglo-americano de 1945 até a Grande
							Recessão de 2008-9 e além. E termina com algumas propostas de
							política para acabar a roubalheira com um novo modelo económico
							(pós-financiarização) que beneficiará os
							trabalhadores. Isto é algo atraente. Mas o relato de Blakeley acerca da
							natureza do capitalismo anglo-americano moderno e das causas das crises
							recorrentes na produção capitalista estará correcto?
 
 Comecemos pelo título do livro de Blakeley: "Roubado".
							É um título atraente para um livro. Mas ele implica que os
							proprietários do capital, especificamente o capital financeiro,
							são ladrões. Eles têm "roubado" a riqueza
							produzida por outros; ou eles "extraíram" a riqueza daqueles
							que a criaram. Isto é lucro sem exploração. Na verdade, o
							lucro agora vem simplesmente do roubo dos outros.
 
 Marx chamou a isto de "lucro de alienação". Para Marx,
							ele é alcançado pela transferência da riqueza 
							
								existente
							
							 (valor) criada no processo de acumulação e
							produção capitalista. Mas o valor não é criado por
							este roubo financeiro. Para Marx, os lucros, ou valor excedente 
							
								(surplus value),
							
							 como os chamava Marx, são criados apenas através da
							exploração do trabalho na produção de mercadorias
							(coisas e serviços). A riqueza dos trabalhadores não é
							"roubada", nem a riqueza que eles criam. Sob o capitalismo, os
							trabalhadores recebem um salário dos empregadores pelas horas em que
							trabalham, conforme negociado. Mas eles produzem mais valor no tempo trabalhado
							do que o valor (medido em tempo de trabalho) que recebem em salários.
							Assim, os capitalistas obtêm uma mais-valia com a venda das mercadorias
							produzidas pelos trabalhadores de que eles se apropriam como donos do capital.
							Isto não é roubo, mas exploração. (Ver meu livro, 
							 Marx 200
							, para uma explicação mais completa).
 
 Importa se é roubo ou exploração? Bem, Marx pensava que
							sim. Ele argumentou ferozmente contra a ideia de Pierre-Joseph Proudhon, o
							socialista mais popular daquele tempo de que "a propriedade é um
							roubo". Dizer isso, argumentou Marx, era deixar de ver a maneira real pela
							qual a riqueza criada por muitos e como ela acaba nas mãos de poucos.
							Portanto, não estava em causa acabar com o roubo, mas sim com o
							capitalismo.
 
 Em 
							
								Stolen,
							
							 Blakeley ignora a mais importante descoberta científica (como Engels
							afirmou), ou seja, a mais-valia. Ao invés disso, Blakeley engole
							completamente os pontos de vista dos modernos Proudhonianos como Costas
							Lapavitsas, David Harvey e outros como Bryan e Rafferty, os quais rejeitam a
							visão de Marx de que o lucro vem da exploração do
							trabalho. Para eles, isso é velho. Agora, o capitalismo moderno é
							o "capitalismo financiarizado", que obtém a sua riqueza
							roubando ou extraindo "rendas" de todos, não da
							exploração do trabalho. Isto leva Blakeley ao ponto de aceitar a
							falsa análise de Thomas Piketty de que os retornos ao capital
							aumentarão inexoravelmente através deste processo  quando a
							evidência é de que os retornos ao capital têm estado a cair
							inexoravelmente  
							 ver aqui minha crítica a Piketty
							.
 
 Mas estes argumentos "modernos" são tão falsos quanto
							os de Proudhon. 
							 Lapavitsas foi bem criticado pelo marxista britânico Tony Norfield
							;
							 eu envolvi David Harvey no debate
							 sobre a teoria do valor de Marx e 
							 Bryan e Rafferty foram considerados falhos pelo marxista grego Stavros Mavroudeas
							. Depois de ler estas críticas, pode-se perguntar se a lei do valor de
							Marx pode ser ignorada ao explicar as contradições do capitalismo
							moderno.
 
 Depois, há o subtítulo do livro de Blakeley: "Como salvar o
							mundo da financiarização".
							"Financiarização" como categoria ou termo tornou-se
							extremamente popular na teoria económica heterodoxa. A categoria veio
							originalmente da economia convencional, foi adoptada por alguns marxistas e
							promovida por economistas pós-keynesianos. Seu objectivo era explicar as
							contradições dentro do capitalismo e suas crises recorrentes com
							uma teoria que não envolvesse a lei do valor de Marx e a lei da
							lucratividade  ambas as quais os pós-keynesianos rejeitam ou
							ignoram (
							 ver minha carta à Monthly Review
							)
							.
 
 Blakeley toma a definição do termo de Epstein, Krippner e
							Stockhammer e faz dela a peça central da narrativa do livro (p.11). 
							 Como esbocei num post anterior
							, se o termo significa simplesmente um aumento do papel do sector financeiro e
							um aumento da sua participação nos lucros nos últimos 40
							anos, isso é obviamente verdade  pelo menos nos EUA e no Reino
							Unido. Mas se significa "a emergência
							
								 de um novo modelo económico ... e uma profunda mudança
								estrutural no modo como a economia (capitalista) funciona" 
							
							(Krippner), então trata-se de um jogo totalmente novo.
 
 Como Stavros Mavroudeas coloca em seu excelente e novo artigo (
							 393982858-QMUL-2018-Financialisation-London
							), a "hipótese da financiarização" considera que 
							
								"o capital monetário se torna totalmente independente do capital
								produtivo (pois pode explorar directamente o trabalho através da usura)
								e remodela as outras fracções do capital de acordo com suas
								prerrogativas". 
							
							E se
							
								 os "lucros financeiros não são uma subdivisão da
								mais-valia, então ... a teoria da mais-valia é, pelo menos,
								marginalizada. Consequentemente, a lucratividade (as principais
								diferenças específicas da análise económica
								marxista em relação à economia neoclássica e
								keynesiana) perde sua centralidade e o juro é autonomizado a partir dele 
							
							(ou seja, do lucro  MR)".
 
 E é claramente assim que Blakeley o encara. Aceitar este novo modelo
							implica que o capital financeiro é o inimigo e não o capitalismo
							como um todo, ou seja, excluindo os sectores produtivos (criadores de valor).
							Blakeley nega esta interpretação no livro. As finanças
							não são uma camada separada de capital sentada no topo do sector
							produtivo. Isso porque 
							
								todo o 
							
							capitalismo está agora 'financiarizado!': 
							
								"qualquer análise que veja a financiarização como uma
								"perversão" de uma forma mais pura e produtiva de capitalismo
								falha na apreensão do contexto real.
								O que emergiu na economia global nas últimas décadas é um
								novo modelo de capitalismo, que é muito mais integrado do que sugerem as
								dicotomias simples". 
							
							Segundo Blakeley, 
							
								"as corporações de hoje tornaram-se completamente
								financiarizadas com algumas a parecerem-se mais como bancos do que como
								empresas produtivas".
							
							 Blakeley argumenta que 
							
								"não estamos a testemunhar a "ascensão dos
								rentistas"
								nesta era; ao invés disso estamos a testemunhar a ascensão de
								todos os capitalistas  industriais e não industriais  a
								tornaram-se rentistas ... De facto, as corporações não
								financeiras estão cada vez mais empenhadas em actividades financeiras a
								fim de assegurar os mais altos retornos possíveis".
 
 Se isso fosse verdade, e todo o valor proviesse de juros e renda
							'extraídos' de todo mundo e não da exploração,
							então isto seria realmente ganhar dinheiro a partir do nada e Marx
							esteve a dizer asneiras. Contudo, a evidência empírica não
							confirma a tese da "financiarização". Sim, desde a
							década de 1980, os lucros do sector financeiro aumentaram como uma
							parcela dos lucros totais em muitas economias, embora principalmente nos EUA.
							Mas mesmo no auge (2006), a participação dos lucros do sector
							financeiro nos lucros totais atingiu apenas 40% nos EUA. Após a Grande
							Recessão, a participação recuou drasticamente e agora
							está em média em cerca de 25%. E grande parte destes lucros
							acabaram por ser "fictícios", como Marx os chamou, baseados em
							ganhos da compra e venda de acções e títulos (não
							nos lucros da produção), os quais desapareceram na baixa.
 
 Além disso, a narrativa de que os sectores produtivos da economia
							capitalista se transformaram em rentistas ou banqueiros simplesmente não
							é confirmada pelos factos. 
							 Joel Rabinovich, da Universidade de Paris, efectuou uma análise meticulosa
							 do argumento de que agora as empresas não financeiras obtêm a
							maior parte de seus lucros com a "extracção" de juros,
							rendas ou ganhos de capital e não com a exploração da
							força de trabalho que empregam. Ele descobriu que: 
							
								"contrariamente à hipótese da rentização
								financeira, o rendimento financeiro calcula a média (justa) de 2,5% do
								rendimento total desde os anos 80, enquanto o lucro financeiro líquido
								fica mais negativo como percentagem do lucro total para
								corporações não financeiras. Em termos de activos, alguns
								dos alegados activos financeiros realmente reflectem outras actividades nas
								quais as corporações não financeiras se têm
								empenhado cada vez mais: internacionalização da
								produção, reorientação das actividades e
								fusões e aquisições". 
							
							Aqui está o seu gráfico:
 
 
   
							Por outras palavras, corporações não financeiras como a
							General Motors, Caterpillar, Amazon, Google, Microsoft, grande indústria
							tabaco, grande farmacêutica e assim por diante ainda lucram com a venda
							de mercadorias da maneira habitual. Os lucros da
							'financiarização' são pequenos como uma parcela do
							rendimento total. Estas companhias não são 'financiarizadas'.
							
 Blakely diz que  
							
								"a financiarização é um processo que começou
								nos anos 80 com a remoção de barreiras à mobilidade do
								capital". 
							
							Pode ser assim, mas por que começou na década de 1980 e
							não antes ou depois? Por que então começou a
							desregulamentação do sector financeiro? Por que o
							'neoliberalismo' surgiu então? Não há resposta de
							Blakeley, ou dos pós-keynesianos. Blakeley destaca que o "modelo
							social-democrata" do pós-guerra fracassou, mas ela não
							fornece nenhuma explicação para isso  excepto sugerir que o
							capitalismo não podia mais 
							
								"permitir-se continuar a tolerar a exigência sindical por aumentos
								salariais no contexto da competição internacional crescente e
								alta inflação"
							
							 (p.48). Blakeley sugere uma resposta: 
							
								"a competição externa começou a corroer os
								lucros" 
							
							(p.51). Mas isso levanta a questão de por que a concorrência
							internacional agora causou um problema quando ele não existia antes e
							por que havia inflação alta.
 
 Mas a teoria económica marxista pode dar uma resposta. Foi o colapso da
							lucratividade do capital em todas as principais economias capitalistas. Isto
							está bem documentado pelos marxistas e por estudos convencionais. Este
							blog tem uma série de posts sobre o assunto e eu forneci uma
							análise clara no meu livro, 
							 The Long Depression
							 (não é um best-seller). A queda na lucratividade forçou o
							capitalismo a procurar forças em sentido contrário: o
							enfraquecimento do movimento trabalhista por meio de baixas 
							
								(slumps)
							
							 e medidas anti-trabalho; privatizações, etc e também uma
							comutação para o investimento em activos financeiros (a que Marx
							chamou de 'capital fictício') para promover os lucros financeiros. Tudo
							isto teve como objectivo reverter a queda na lucratividade geral do capital.
							Teve êxito até certo ponto.
 
 Mas Blakeley descarta esta explicação. Não era por causa
							da lucratividade do capital que crises ocorriam regularmente sob o capitalismo
							e a lucratividade nada teve a ver com a Grande Recessão [considera ela].
							Ao invés disso, Blakeley segue servilmente a explicação de
							analistas pós-keynesianos como 
							 Hyman Minsky
							 e Michel Kalecki. 
							 Agora, eu e outros temos gasto muita tinta a argumentar que a sua análise está incorrecta
							, pois deixa de fora o principal factor da acumulação
							capitalista, o lucro e a lucratividade. Em consequência, eles não
							podem realmente explicar crises.
 
 Kalecki diz que as crises são causadas pela falta de "procura
							efectiva", no estilo keynesiano e, embora os governos possam superar essa
							falta de procura através de intervenções
							orçamentais e outras, elas são bloqueadas pela resistência
							política dos capitalistas. Como se vê, como diz Blakeley, 
							
								"o argumento de Kalecki não é que a social-democracia seja
								economicamente instável, mas sim que é politicamente
								instável". 
							
							Para Kalecki, as crises são causadas pelos capitalistas que
							politicamente não estão dispostos a concordar com reformas.
							Então, aparentemente, a social-democracia funcionaria sob o capitalismo
							se não fosse a estupidez dos capitalistas!
 
 Minsky estava certo de que o sector financeiro é inerentemente
							instável e o crescimento maciço da dívida nos
							últimos 40 anos aumenta esta vulnerabilidade  Marx afirmou isso
							há 150 anos em 
							
								O Capital.
							
							 E no meu blog, já afirmei em muitos posts que "a dívida tem importância"
							. Mas crashes financeiros por si sós nem sempre levam a quedas na
							produção e no investimento. Na verdade, não têm sido
							as crises financeiras (bancarrotas bancárias, colapsos do mercado de
							acções, colapso dos preços das habitações,
							etc.) que têm levado a uma queda na produção e no
							investimento capitalista, a 
							
								menos que haja também
							
							 uma crise na lucratividade do sector produtivo da economia capitalista. Esta
							última ainda é decisiva.
 
 Num capítulo do livro, 
							 World in Crisis
							, editado por G. Carchedi e eu (infelizmente novamente não é um
							best-seller), Carchedi proporciona um apoio empírico convincente para o
							vínculo entre os sectores financeiro e produtivo nas crises
							capitalistas. Carchedi: 
							
								"Confrontado com a queda da lucratividade na esfera produtiva, o capital
								passa da baixa rentabilidade nos sectores produtivos para a alta rentabilidade
								nos sectores financeiros (ou seja, improdutivos). Mas os lucros nestes sectores
								são fictícios; eles existem apenas nos livros da contabilidade.
								Eles se tornam lucros reais apenas quando recebidos. Quando isto acontece, os
								lucros disponíveis para os sectores produtivos contraem-se. Quanto mais
								capitais tentam obter taxas de lucro mais altas movendo-se para os sectores
								improdutivos, maiores serão as dificuldades nos sectores produtivos.
								Esta contra-tendência  movimento de capital para os sectores
								financeiro e especulativo e, portanto, taxas de lucro mais altas nestes
								sectores  não pode conter a tendência, isto é, a
								queda da taxa de lucro nos sectores produtivos".
 
 Carchedi descobre que: 
							
								"Crises financeiras devem-se à impossibilidade de reembolsar
								dívidas e surgem quando o crescimento percentual está em queda 
								
									tanto
								
								 para lucros financeiros quanto para lucros reais". 
							
							Na verdade, em 2000 e 2008, os lucros financeiros caíram mais do que os
							lucros reais pela primeira vez. Carchedi conclui que: 
							
								"A deterioração do sector produtivo nos anos anteriores
								à crise é, portanto, a causa comum das crises financeiras e
								não financeiras. Se eles têm uma causa comum, é irrelevante
								se um precede o outro ou vice-versa. O ponto é que o (a
								deterioração do) sector produtivo 
								
									determina
								
								 as (crises no) sector financeiro ".
 
 
   
							Pode-se perguntar: importa se as desigualdades e crises que experimentamos no
							capitalismo são causadas pela financiarização ou pelas
							leis de valor e lucratividade de Marx? Afinal de contas, todos podemos
							concordar que a resposta é acabar com o sistema capitalista, não?
							Bem, penso que isso importa, porque a acção política
							decorre de qualquer teoria das causas. Se aceitarmos a
							financiarização como a causa de todos os nossos males, isso
							significa que apenas as finanças são inimigas do trabalho e dos
							trabalhadores e não os bons capitalistas produtivos como a Amazon que
							apenas nos exploram no trabalho? Não deveria, mas acontece. 
							 Tome-se o próprio Minsky como exemplo
							. Minsky começou como um socialista, mas a sua própria teoria da
							financiarização nos anos 80 levou-o não a expor as falhas
							do capitalismo, mas sim a explicar como um capitalismo instável poderia
							ser "estabilizado".
							
 Sem dúvida Blakeley é feita de material mais duro. Blakeley diz
							que devemos enfrentar os banqueiros com o mesmo grau de implacabilidade que
							Thatcher e Reagan enfrentaram o movimento trabalhista no período
							neoliberal principiado na década de 1980. Blakeley diz que "
							
								o manifesto do Partido Trabalhista lê-se como um retorno ao consenso do
								pós-guerra ... não podemos nos permitir sermos tão
								defensivos hoje. Devemos combater por algo mais radical
 porque o modelo
								capitalista está a aproximar-se do fim da estrada. Se não
								conseguirmos substituí-lo, não há como descrever a
								destruição que o seu colapso pode trazer". 
							
							(p.229). Isso soa como o rugido de uma leoa socialista. Mas quando se trata das
							políticas reais a tratar com a finança, Blakeley torna-se uma
							rata da social-democracia.
 
 Primeiro, Blakeley diz que "
							
								devemos adoptar uma agenda política que desafie a hegemonia do capital
								financeiro, revogando seus privilégios e colocando os poderes do
								investimento novamente sob controle democrático". 
							
							 Agora, tenho argumentado em muitos postos e em reuniões do movimento trabalhista
							 na Grã-Bretanha que a única maneira de assumir o controle
							democrático é trazer à propriedade pública os cinco
							grandes bancos que controlam 90% dos empréstimos e depósitos na
							Grã-Bretanha. 
							 A regulamentação desses bancos não funcionou e não funcionará
							.
 
 No entanto, Blakeley ignora esta opção e, ao invés, pede
							medidas de "constrangimento" aos bancos existentes, ao mesmo tempo
							que estabelece um banco público de retalho ou bancos postais em
							competição juntamente com um Banco Nacional de Investimento. 
							
								"O financiamento privado deve ser adequadamente constrangido" 
							
							(mas o seu comando não deve ser tomado), 
							
								"usando ferramentas reguladoras adoptadas internacionalmente". p.285.
							
							 Em vários lugares, Blakeley refere-se a Lenine. Talvez Blakeley devesse
							recordar-se do que Lenine disse sobre lidar com os bancos. 
							
								"Os bancos, como sabemos, são centros da vida moderna
								económica, os principais centros nervosos de todo o sistema
								económico capitalista. Falar sobre "regular a vida
								económica" e, no entanto, fugir da questão da
								nacionalização dos bancos significa trair a mais profunda
								ignorância ou enganar as "pessoas comuns" com palavras floridas
								e promessas grandiloquentes com a intenção deliberada de
								não cumprir tais promessas".
 
 Quanto a um Banco Nacional de Investimento, uma promessa do Partido
							Trabalhista, ele deixa a maioria das decisões e recursos de investimento
							nas mãos do sector financeiro capitalista. 
							 Como mostrei antes, o BNI acrescentaria apenas 1-2% de PIB em investimento extra na economia britânica, a comparar com 15-20% no investimento controlado pelo sector capitalista
							. Portanto, a 'financiarização' não seria contida.
 
 A outra proposta-chave de Blakeley é um Administrador de Activos do Povo 
							
								(People's Asset Manager, PAM),
							
							 que gradualmente compraria acções das grandes multinacionais, 
							
								"socializando assim a propriedade em toda a economia"
							
							 e 
							
								"pressionando as empresas" 
							
							a apoiar investimentos em projectos socialmente úteis. 
							
								"À medida que um sistema bancário público surja e
								cresça ao lado de um administrador de activos do povo, a propriedade
								será constantemente transferida do sector privado para o sector
								público" (p.268) "numa tentativa de dissolver a
								distinção entre capital e trabalho"
							
							 (p.267). Portanto, o objectivo de Blakeley não é acabar com o
							modo de produção capitalista, pela tomada de comando dos
							principais sectores de investimento e produção capitalista, mas
							dissolver gradualmente a "distinção" entre capital e
							trabalho.
 
 Isto é o máximo em gradualismo utópico. Os capitalistas
							permaneceriam impávidos enquanto os seus poderes de controle fossem
							gradualmente ou constantemente perdidos? Uma greve de investimentos se seguiria
							e qualquer governo socialista seria confrontado com a tarefa de assumir o
							controle completo. Então, por que não formular completamente um
							programa para uma economia de propriedade pública controlada
							democraticamente com um plano nacional de investimento, produção
							e emprego?
 
 O objectivo de 
							
								Stolen 
							
							é apresentar uma análise radical das crises e
							contradições do capitalismo moderno e das políticas que
							poderiam acabar com a "financiarização" e dar aos
							muitos o controle sobre seu futuro económico. Mas, como a análise
							é defeituosa, as políticas também são inadequadas.
 
 
								13/Setembro/2019
							[*]
								 Economista. 
 O original encontra-se em
								 thenextrecession.wordpress.com/...
 
 Este artigo encontra-se em
								 https://resistir.info/
								.
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