Os 1% do topo possuem 45% de toda a riqueza pessoal global;
10% possuem 82%; os 50% da base possuem menos de 1%
O
relatório anual do Credit Suisse sobre riqueza global
acaba de ser divulgado. Este relatório continua a ser a análise
mais abrangente e explicativa da riqueza global (não do rendimento) e da
desigualdade de riqueza. Todo ano o relatório sobre riqueza global do CS
analisa a riqueza familiar de 5,1 mil milhões de pessoas em todo o
globo. A riqueza familiar é constituída de activos financeiros
(acções, títulos, cash, fundos de pensão) e de
propriedade (casas, etc) possuída. O relatório mede esta riqueza
líquida. Os autores do relatório são James Davies, Rodrigo
Lluberas e Anthony Shorrocks. O professor Anthony Shorrocks foi meu companheiro
de apartamento na universidade, onde ambos nos licenciámos em
ciências económicas (embora ele tenha muito melhores
qualificações matemáticas!).
Durante o ano passado a riqueza global cresceu 2,6%, até US$360
milhões de milhões
(trillion)
e a riqueza por adulto alcançou um novo recorde de US$70.850, 1,2%
acima do nível de meados de 2018 com a Suíça no topo dos
maiores ganhos em riqueza por adulto este ano. Os EUA, China e Europa
contribuíram o máximo para o crescimento da riqueza global com
US$3,8 milhões de milhões; US$1,9 milhão de milhões
e US$1,1 milhão de milhões respectivamente.
Como em todo ano desde que é publicado, o relatório revela a
extrema desigualdade de riqueza pessoal em termos globais.
A metade da base dos adultos no mundo contavam com menos de 1% da riqueza
global em meados de 2019, ao passo que o decil mais rico (os 10% de adultos do
topo) possuíam 82% da riqueza global e o percentil do topo (1%)
possuía aproximadamente a metade (45%) de todos os activos familiares
. A desigualdade de riqueza é mais reduzida no interior de países
individuais: valores típicos seriam de 35% para a fatia dos 1% do topo e
de 65% para a fatia dos 10% do topo. Mas estes níveis ainda são
muito mais elevados do que os números correspondentes à
desigualdade de rendimento, ou a qualquer outro indicador de bem estar de
espectro amplo.
Se bem que avanços em mercados emergentes continuem a reduzir os fossos
entre países, a desigualdade no interior de países cresceu quando
as economias se recuperaram após a crise financeira global. Em
consequência, os 1% do topo de possuidores de riqueza aumentaram a sua
fatia da riqueza mundial. Mas esta tendência parece ter-se atenuado a
partir de 2016 e a desigualdade global diminuiu ligeiramente. Considerando que
em 2016 os 1% dos possuidores de riqueza do topo tinham 50% da riqueza pessoal
do mundo, uma subida dos 45% de 2006, aquele rácio deslizou outra vez
para 45%. Hoje, a fatia dos 90% da base representa 18% da riqueza global, a
comparar com os 11% de 2000.
A pirâmide de riqueza captura as diferenças de riqueza entre
adultos. Em 2019 aproximadamente 3 mil milhões de adultos 57% de
todos os adultos do mundo têm riqueza abaixo dos US$10.000. O
segmento seguinte, cobrindo aqueles com riqueza na amplitude dos US$10.000 a
US$100.000, viram a maior ascensão em números neste
século, triplicando em dimensão de 514 milhões em 2000
para 1,7 mil milhões em meados de 2019. Isto reflecte a prosperidade
crescente de economias emergentes, especialmente a China. A riqueza
média deste grupo é de US$33.530, ainda menos do que a metade da
riqueza média à escala mundial, mas consideravelmente acima da
riqueza média dos países nos quais residem a maior parte dos
membros. Isto deixa o grupo final de países com riqueza abaixo dos
US$5.000, os quais estão fortemente concentrados na África
central e na Ásia central e do sul.
Assim, aqui está a coisa estarrecedora. Se você vive num dos
países capitalistas avançados e possui a sua casa e tem algumas
poupanças, então estará entre os 10% de topo de todos os
possuidores de riqueza do mundo.
Isso acontece porque a vasta maioria das famílias no mundo tem pouca ou
nenhuma riqueza de todo
.
Em meados de 2019 uma pessoa precisa de activos líquidos de apenas
US$7.087 para estar entre a metade mais rica dos cidadãos do mundo!
Contudo, são precisos US$109.430 para pertencer aos 1% do topo.
Cidadãos africanos e indianos estão concentrados no segmento base
da pirâmide da riqueza, a China está no terço do meio e a
América do Norte e Europa no percentil do topo. Mas também
é evidente um número significativo de residentes norte-americanos
e europeus no decil de base da riqueza global, pois adultos mais jovens
adquirem dívida em economias avançadas, o que resulta em riqueza
líquida negativa.
E a desigualdade fica mais vasta no topo da pirâmide
. Há 46,8 milhões de milionários no mundo em meados de
2019, mas a maior parte tem riqueza entre US$1 milhão e US$5
milhões: 41,1 milhões, ou 88% dos milionários. Outros 3,7
milhões de adultos (7,9%) estão entre US$5 milhões e US$10
milhões; e quase exactamente dois milhões de adultos agora
têm riqueza acima dos US$10 milhões. Destes, 1,8 milhão tem
activos na amplitude dos US$10-50 milhões, restando 168.030
indivíduos têm Riqueza Líquida Ultra Alta (Ultra High Net
Worth, UHNW) com valor líquido acima dos US$50 milhões em meados
de 2019.
Estes, com efeito, são a elite dominante do mundo.
Os Estados Unidos têm, de longe, o maior número de
milionários
: 18,6 milhões, ou 40% do total mundial. Durante muitos anos o
Japão manteve, com uma margem confortável, o segundo lugar nas
classificações de milionários. Contudo, o Japão
está agora no terceiro lugar com 6%, superado pela China (10%). A seguir
vem o Reino Unido e a Alemanha com 5% cada um, seguidos pela França (4%)
e depois pela Itália, Canadá e Austrália (3%).
A Suíça (US$530.240), Austrália (US$411.060) e os Estados
Unidos (US$403.970) mais uma vez encabeçam a lista da riqueza por
adulto. A classificação pela
mediana
por adulto favorece países com níveis mais baixos de
desigualdade de riqueza. Este ano, a Austrália (US$191.450) passou
à frente da Suíça (US$183.340) ficando em primeiro lugar.
Assim, a Austrália tem a mais alta riqueza mediana por adulto no mundo
(o que se deve principalmente aos valores das casas)
.
Os activos financeiros sofreram em maior grau durante a crise financeira de
2008-9 e a seguiram recuperaram-se nos anos pós crise. Este ano, o seu
valor ascendeu em todas as regiões, contribuindo com 39% do aumento na
riqueza bruta mundial e 71% da ascensão na América do Norte.
Contudo, activos não financeiros (propriedade) proporcionaram o
estímulo principal para o crescimento geral nos últimos anos. No
período de 12 meses até meados de 2019 eles cresceram mais
rapidamente do que os activos financeiros em todas as regiões. A riqueza
não financeira representava o grosso da nova riqueza na China, Europa e
América Latina, bem como quase toda a nova riqueza na África e na
Índia. Mas a dívida familiar ascendeu ainda mais rapidamente,
para 4,0% no todo. A dívida das famílias aumentou em todas as
regiões e a uma taxa com dois dígitos na China e na Índia.
O esmagamento da dívida está para chegar.
25/Outubro/2019
[*]
Economista.
O original encontra-se em
thenextrecession.wordpress.com/...
Este artigo encontra-se em
https://resistir.info/
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