Os media alternativos podem derrotar os media "de referência"
Aqui está o plano de jogo
Um par de anos atrás lancei minha
Unz Review,
proporcionando um amplo conjunto de diferentes perspectivas alternativas, a
vasta maioria das quais totalmente excluídas dos media de
referência
(mainstream).
Também publiquei um certo número de artigos nas minhas
séries
American Pravda
, com foco em lapsos suspeitos e lacunas nas narrativas dos nossos media.
A estratégia política subjacente por trás destes
esforços pode já ser aparente e por vezes sugeri isto aqui e ali.
Mas finalmente decidi que posso explicitamente esboçar o
raciocínio num memorando como o que se encontra abaixo.
Os media de referência são a força opositora crucial
Grupos que advogam políticas opostas ao establishment americano deveriam
reconhecer que o maior obstáculo que enfrentam vem habitualmente dos
media de referência.
Oponentes comuns e ideológicos certamente existem, mas estes são
habitualmente inspirados, motivados, organizados e assistidos pelo poderoso
apoio dos media, o qual também modela a estrutura percebida do conflito.
Em termos de Clausewitz, os media frequentemente constituem o "centro de
gravidade" estratégico das forças opositoras.
Os media deveriam ser tornados um alvo primário
Se os media são a força crucial para reforçar a
oposição, então deveriam ser encarados como um alvo
primário de qualquer estratégia política. Enquanto os
media permanecerem fortes, o êxito pode ser difícil, mas se a
influência e credibilidade dos media for substancialmente degradada,
então as forças opositores comuns perderiam grande parte da sua
eficácia. Sob muitos aspectos, os media criam realidade, assim talvez a
rota mais eficaz para a mudança da realidade passe através dos
media.
Desacreditar os media em qualquer parte enfraquece-o por toda a parte
Os media de referência existem como um todo contínuo. Assim,
enfraquecer ou desacreditar os media em qualquer área particular
automaticamente também reduz a sua influência geral.
Os elementos da narrativa dos media confrontados por um grupo
anti-establishment particular podem ser demasiado fortes e bem defendidos para
atacar com eficácia e tais ataques também podem ser ignorados
como ideologicamente motivados. Portanto, a estratégia mais produtiva
pode por vezes ser indirecta, atacar alhures a narrativa dos media, em pontos
onde ela é muito mais fraca e menos bem defendida. Além disso,
vencer estas batalhas mais fáceis pode gerar maior credibilidade e
impulso, o qual pode então ser aplicado para ataques posteriores em
frentes mais difíceis.
Uma aliança vasta pode apoiar o objectivo comum do enfraquecimento dos
media
Uma vez que reconheçamos que o enfraquecimento dos media é um
objectivo estratégico primário, um corolário óbvio
é que outros grupos anti-establishment a enfrentarem os mesmos desafios
tornam-se aliados naturais, ainda que talvez temporários.
Tais alianças tácticas inesperadas podem decorrer de uma ampla
gama de diferentes perspectivas políticas e ideológica
Esquerda, Direita ou outras apesar de os grupos componentes terem
objectivos não relacionados ou mesmo conflituosos. Enquanto todos estes
elementos na coligação reconhecerem que os media são o seu
adversário imediato, eles podem cooperar no seu esforço comum,
ganhando ao mesmo tempo credibilidade e atenção adicionais pelo
próprio facto de discordarem sobre muitas outras matérias.
Os media são enormemente poderosos e exercem controle sobre um
espaço vasto do território intelectual. Mas tal influência
omnipresente também assegura que seus adversários locais sejam
numerosos e difusos, sendo todos fortemente opostos aos media hostis que
enfrentam nas suas próprias questões particulares. Por analogia,
um império grande e poderoso é frequentemente deitado abaixo por
uma vasta aliança de muitas facções rebeldes diferentes,
cada uma delas com objectivos não relacionados, as quais em conjunto
esmagam as defesas imperiais pelo ataque simultâneo a múltiplos
diferentes locais.
Um aspecto crucial que permite uma tal aliança rebelde é o foco
tipicamente estreito de cada membro constituinte em particular. A maior parte
dos grupos ou indivíduos que se opõem a posições do
establishment tende a ser ideologicamente ardente acerca de uma questão
particular ou talvez um punhado delas, ao passo que muito menos interessado em
outras. Dada a supressão total dos seus pontos de vista por parte dos
media de referência, qualquer foro no qual as suas perspectivas
não ortodoxas sejam apresentadas com tratamento razoavelmente justo e
equânime ao invés de serem ridicularizadas e denegridas tende a
inspirar considerável entusiasmo e lealdade da sua parte. Assim, embora
possam ter visões bastante convencionais sobre a maioria dos outros
assuntos, levando-os a encarar visões contrárias com o mesmo
cepticismo ou desconforto como qualquer outra pessoa, eles geralmente
estarão dispostos a suprimir suas críticas a uma heterodoxia mais
vasta, desde que outros membros da sua aliança estejam dispostos a
devolver esse favor nos seus próprios tópicos de interesse
primário.
Atacar a narrativa dos media onde ela é fraca e não onde é
forte
Aplicando uma metáfora diferente, os media do establishment podem ser
encarados como uma grande muralha que exclui perspectivas alternativas da
consciência do público e, assim, confina a opinião dentro
de uma faixa estreita de visões aceitáveis.
Certas porções dessa muralha dos media podem ser sólidas e
vigorosamente defendidas por poderosos interesses especiais
(vested interests),
tornando difícil o seu assalto. Mas outras porções,
talvez mais velhas e mais obscuras, podem ter ficado decrépitas ao longo
do tempo, com os seus defensores, com o afastamento dos seus defensores. Romper
a muralha nestes locais mais fracos pode ser muito mais fácil e uma vez
destruída a barreira em vários pontos, defende-la nos outros
torna-se muito mais difícil.
Exemplo: considere-se as consequências de demonstrar que a narrativa dos
media estabelecidos é completamente falsa quanto a algum evento
individual importante. Uma vez que este resultado tenha sido amplamente
reconhecido, a credibilidade dos media sobre todas as outras matérias,
mesmo totalmente não relacionadas, seria algo atenuada. Pessoas comuns
naturalmente concluiriam que se os media estiveram errados sobre um ponto
importante, podem também estar errados sobre outros e a poderosa
suspensão de descrença que proporciona influência aos media
tornar-se-ia menos poderosa. Mesmo aqueles indivíduos que colectivamente
constituem os media podem começar a ter sérias dúvidas
quanto às suas certezas anteriores.
O ponto crucial é que tais progressos podem ser mais fáceis de
alcançar em tópicos que parecem simplesmente de significado
histórico e estão totalmente removidos de quaisquer
consequências práticas nos dias de hoje.
Reenquadrar "teorias da conspiração" vulneráveis
como uma eficaz "crítica aos media"
Ao longo das últimas décadas, o establishment político e
os media seus aliados criaram uma poderosa defesa intelectual contra a
crítica importante ao investirem recursos consideráveis na
estigmatização do conceito das
chamadas "teorias da conspiração"
. Este duro termo pejorativo é aplicado a qualquer análise
importante de acontecimentos que se desvie drasticamente da narrativa endossada
oficialmente e sugere implicitamente que o seu proponente é um
fanático infame, que sofre de ilusões, paranóia ou outras
formas de doença mental. Tais ataques ideológicos muitas vezes
destroem efectivamente a sua credibilidade, o que permite os seus argumentos
reais serem ignorados. Uma frase outrora inócua passou a ser usada como
uma "arma" política.
Entretanto, um meio eficaz de contornar este mecanismo de defesa intelectual
poder ser a adopção de uma meta-estratégia de reformular
tais "teorias da conspiração" como "crítica
aos media".
Sob os parâmetro habituais do debate público, desafios à
ortodoxia estabelecida são tratados como "afirmações
extraordinárias" que devem ser justificadas por evidência
extraordinária. Esta exigência pode ser injusta, mas ela constitui
a realidade em muitos intercâmbios públicos, baseados no
enquadramento fornecido pelos media alegadamente imparciais.
Uma vez que a maior parte destas controvérsias envolve um amplo conjunto
de questões complexas e ambíguas ou de evidências
contestadas, muitas vezes é extremamente difícil estabelecer
conclusivamente qualquer teoria não ortodoxa, digamos que com um
nível de confiança de 95% ou 98%. Portanto, o veredicto dos media
é quase invariavelmente "Caso não provado" e os
desafiantes são julgados derrotados e desacreditados, mesmo se parecerem
ter realmente a superioridade das provas do seu lado. E se eles contestarem
oralmente a injustiça da sua situação, essa resposta
exacta é então citada a seguir pelos media como uma nova prova do
seu fanatismo ou paranóia.
Contudo, suponha-se uma estratégia totalmente diferente fosse adoptada.
Ao invés de tentar defender uma tese "para além de qualquer
dúvida razoável", os proponentes simplesmente fornecessem
provas e análises suficientes para sugerir que há uma
probabilidade de 30% ou de 50% ou de 70% de que a teoria não ortodoxa
é verdadeira. O próprio facto de nenhuma afirmação
de quase certeza estar a ser avançada proporciona uma defesa poderosa
contra quaisquer acusações plausíveis de fanatismo ou
pensamento ilusório. Mas se a questão é de enorme
importância e como é habitualmente o caso a teoria
não ortodoxa tem sido quase totalmente ignorada pelos media, apesar de
aparentemente ter pelo menos uma probabilidade razoável de ser
verdadeira, então os media podem ser efectivamente atacados e
ridicularizados pela sua preguiça e incompetência. Estas
acusações são muito difíceis de refutar e uma vez
que nenhuma afirmação está a ser feita de que a teoria
não ortodoxa foi necessariamente provada como correcta, meramente que
ela pode possivelmente ser correcta, quaisquer contra-acusações
de tendências conspirativas cairiam no chão.
Na verdade, o único meio que os media podem ter para contradizer
efectivamente aquelas considerações seria explorar todos os
pormenores complexos da questão (ajudando dessa forma a
atenção de uma audiência muito mais vasta para os
vários factos controversos) e então argumentar que há
apenas uma probabilidade desprezível de que a teoria possa ser correcta,
talvez 10% ou menos. Portanto, o habitual fardo probatório é
completamente revertido. E uma vez que a maior parte dos media é
improvável que tenha alguma vez prestado atenção
séria ao assunto, a sua apresentação ignorante pode ser
bastante fraca e vulnerável a uma desconstrução
inteligente. Na verdade, o cenário mais provável é que os
media simplesmente continuarão a ignorar toda a disputa,
reforçando dessa forma aquelas acusações plausíveis
de preguiça e incompetência.
Indivíduos angustiados com as falhas dos media sobre tópicos
controversos muitas vezes acusam-nos, bem como aos seus representantes
individuais, de serem enviesados, corrompidos ou estarem tranquilamente sob o
controle de forças poderosas aliadas às posições do
establishment. Estas acusações podem por vezes serem correctos, e
por vezes não, mas elas habitualmente são muito difíceis
de provar, excepto nas mentes dos verdadeiros crentes já existentes e
conduzem à mancha da "paranóia". Por outro lado,
afirmar que as falhas dos media são devidas a pecados veniais tais como
preguiça e incompetência têm a mesma probabilidade de serem
correctas e é muito menos provável que tais
acusações corram o risco de uma reacção adversa.
Finalmente, uma vez que os próprios media tornaram-se o alvo
primário da crítica, eles automaticamente perdem o seu estatuto
neutros de árbitro externo e já não tem mais credibilidade
para proclamar qual o lado vencedor do debate.
A vantagem de inundar as zonas de defesa dos media
Indivíduos que desafiam a narrativa predominante dos media com
afirmações não ortodoxas muitas vezes são
relutantes em levantar demasiadas afirmações controversas em
simultâneo receosos de serem ridicularizados como "loucos", com
todos os seus pontos de vista sumariamente descartados.
Na maior parte dos casos isto pode ser a estratégia correcta a seguir,
mas se manejada adequadamente uma abordagem exactamente oposta pode por vezes
ser bastante eficaz.
Enquanto a apresentação geral for enquadrada como crítica
aos media e não for atribuído um peso desmedido à validade
de qualquer das afirmações particulares que estão a ser
apresentadas, atacar ao longo de uma frente muito vasta, talvez incluindo
dezenas de itens totalmente independentes, pode "inundar a zona" dos
media, saturando e esmagando as defesas existentes. Ou, como sugerido numa
citação atribuída a Estaline, "A quantidade tem uma
qualidade por si própria".
Considere-se o exemplo do humorista Bill Cosby. Ao longo de anos, uma ou duas
mulheres avançaram com afirmações de que ele as havia
drogado e violado, mas as acusações foram em grande medida
ignoradas como infundadas ou implausíveis. Contudo, durante o
último par de anos, a barragem subitamente estourou e um total de
aproximadamente sessenta mulheres avançou, todas fazendo
acusações idênticas. Embora apareça pouca
evidência concreta em qualquer dos casos particulares, virtualmente todo
observador agora concorda em que as acusações provavelmente
serão verdadeiras.
Suponha-se estar estabelecido que haja uma probabilidade razoável de que
os media evitaram ou ignoraram completamente e ignorado um assunto importante
que deveria ter sido investigado e informado. O impacto não é
necessariamente significativo e muitos indivíduos teimosamente apegados
à crença nas narrativas mediáticas estabelecidas podem
mesmo resistir a admitir a possibilidade de que os media tenham errado
gravemente naquela situação em particular.
Contudo, suponha-se ao invés que várias dezenas de tais exemplos
separados pudessem ser estabelecidos, cada um deles a sugerir fortemente um
grave erro ou omissão por parte dos media. Nesse ponto, as defesas
ideológicas desmoronariam e quase toda gente reconheceria
silenciosamente que muitas, talvez a maioria das acusações eram
provavelmente verdadeiras, o que produz uma enorme lacuna de credibilidade para
os media de referência. As defesas de credibilidade dos media teriam sido
saturadas e superadas.
O ponto-chave é que todos os tópicos específicos deveriam
ser apresentados como casos de probabilidade razoável e indicativos de
deficiências dos media, ao invés de serem comprovados ou tratados
necessariamente como questões importantes em si mesmas. Ao permanecer
afastado e um tanto agnóstico em relação a qualquer item
individual há pouco risco de ser marcado como fanático ou
monomaníaco por levantar uma multidão de tópicos.
Minha série
American Pravda
e a webzine
Unz Review
como exemplos
A estratégia política/de media esboçada acima foi a
motivação central por trás dos meus artigos
American Pravda
e no sítio web web
Unz Review.
Exemplo: no artigo original
American Pravda
de 2013 levantei mais de meia dúzia de enormes lapsos dos media, todos
eles
agora reconhecidos universalmente: o colapso da Enron, as armas de
destruição em massa da guerra do Iraque, a Trapaça Madoff,
os espiões da Guerra Fria e vários outros. Tendo assim
estabelecido o cenário ao apresentar este padrão admitido de
grande fracasso, demonstrando que uma considerável suspensão de
descrença se justificava, estendi a discussão a três ou
quatro exemplos adicionais importantes, nenhum deles ainda reconhecido, mas
todos perfeitamente plausíveis. Talvez em consequência, o artigo
tenha recebido uma
atenção razoavelmente boa
, incluindo elementos dos próprios media de referência, que muitas
vezes estão dispostos a reconhecer os erros de sua classe desde que
sejam apresentados de forma persuasiva e responsável.
Na sequência daquele artigo, produzi esporadicamente elementos adicionais
da série, alguns mais abrangentes do que outros, e agora estou a iniciar
uma série regular
.
Os
exemplos de McCain/prisioneiro de guerra
na série de artigos ilustram perfeitamente a estratégia que
sugeri acima. A Guerra do Vietname acabou há mais de quarenta anos, os
prisioneiros de guerra provavelmente já morreram há
décadas e até John McCain está no crepúsculo da sua
carreira. O significado prático de levantar o escândalo ou
fornecer evidências que estabeleçam sua probabilidade é
praticamente nulo. Mas se fosse amplamente reconhecido que toda os nossos media
encobriram com êxito tal escândalo durante tantos anos, a
credibilidade dos media sofreria um golpe devastador. Com vários golpes
assim ela estaria em ruínas. Enquanto isso, os poderosos interesses
escusos que outrora mantiveram tão vigorosamente a narrativa oficial
naquela área desapareceram há muito, e a posição
ortodoxa tem poucos defensores remanescentes nos media, o que aumenta muito a
probabilidade de um grande avanço e vitória final.
Uma estratégia semelhante, de forma mais ampla, é aplicada no meu
media alternativo
Unz Review,
o qual abriga numerosos diferentes escritores, colunistas e blogueiros, todos
eles tendendo a desafiar fortemente a narrativa dos media do establishment de
acordo com uma ampla variedade de diferentes eixos e questões, alguns
deles conflituosos. Ao levantar sérias dúvidas acerca das
omissões e erros dos nossos media de referência em tantas
áreas diferentes, o objectivo é enfraquecer a credibilidade
percebida quanto aos media, levando leitores a considerarem a possibilidade de
que grandes elementos da narrativa convencional possam ser inteiramente
incorrectos.
24/Outubro/2016
[*]
Fundador e editor da Unz Review, sítio web conservador dos EUA,
empresário. Candidatou-se uma vez a governador da Califórnia.
O original encontra-se em
www.unz.com/runz/american-pravda-breaching-the-media-barrier/
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
|