Bancos dos EUA preparam-se para aumento da tempestade enquanto o dólar e o sistema de crédito cambaleiam

por Mike Whitney [*]

Fila para retirar o dinheiro. Nesta altura provavelmente já terá visto as fotos dos clientes irados do Northern Rock Bank em fila à sua porta a fim de retirar o dinheiro. Esta é a primeira grande corrida a um banco britânico em mais de um século. Ele perdeu um oitavo dos seus depósitos em três dias. As fotos estão nas manchetes dos noticiários do Reino Unido mas foram remetidas às páginas internas dos jornais americanos. A razão para isto é óbvia. O mesmo furacão económico com Força 5 que acaba de atingir a Grã-Bretanha encaminha-se para a América e está a ganhar força pelo caminho.

Na segunda-feira à noite, tentando desesperadamente protelar um pânico mais vasto, o governo britânico emitiu uma garantia de emergência a dizer aos clientes do Northern Rock que o dinheiro deles estava seguro. O governo está a tentar descobrir um comprador para o Northern Rock.

Isto parece uma boa corrida bancária à moda antiga. E, tal como em 1929, os proprietários do banco e o governo estão freneticamente a tentar acalmar os seus clientes reassegurando que o dinheiro deles está seguro. Mas sendo a natureza humana o que é, as pessoas não são tão facilmente acalmadas quando pensam que as suas poupanças estão em risco. No final das contas é isto: As pessoas querem o seu dinheiro, sem desculpas.

Mas o Northern Rock não tinha o seu dinheiro e, surpreendentemente, não foi porque o banco estivesse envolvido em arriscados empréstimos subprime. Ao invés disso, o NR havia pouco inteligentemente adoptado o modelo de "tomar emprestado a curto prazo para emprestar a longo" no financiamento das suas hipotecas, tal como muitos dos grandes bancos nos EUA. Por outras palavras, eles dependiam do financiamento por grosso das suas hipotecas de ansiosos investidores no mercado, ao invés do método tradicional de manter suficiente capital para suportar os empréstimos.

Isto parecia uma linda ideia naquele momento e a maior parte dos grandes bancos nos EUA estava a fazer o mesmo. Era um bom modo de evitar exigências aborrecidas de reservas e as comissões da origem dos empréstimos também eram lucrativas. O negócio do Northern Rock disparou. Agora eles arcam com uma hipoteca contabilizada que totaliza 200 mil milhões de dólares.

US$200 mil milhões! Então porque não podem pagar uns magros US$4 ou US$5 mil milhões aos seus clientes sem um empréstimo de salvação (bailout) do governo?

É porque não têm as reservas e porque o modelo de negócio do banco é irremediavelmente enviesado e não é mais viável. Os seus activos são ilíquidos e (presumivelmente) "marcados para modelagem", o que significa que não têm valor de mercado perceptível. Eles podem também ter sido "marcados para a fantasia", o que equivale à mesma coisa. Os investidores não os querem. Assim, o Northern Rock está preso a um albatroz de US$200 mil milhões que está a arrastá-lo.

Um tsunami mais poderoso está prestes a descer sobre os Estados Unidos, onde muitos dos bancos têm estado empenhado nas mesmas práticas e estão a usar o mesmo modelo de negócio do Northern Rock. Os investidores já não estão a comprar CDOs, MBSs ou qualquer coisa relacionada com o imobiliário. Ninguém os quer, sejam eles subprime ou não. Isto significa que os bancos americanos logo experimentarão o mesmo tipo de vendaval económico que está agora a assolar o Reino Unido. A única diferença é que a economia americana já está na lista da retracção no imobiliário e num mercado de acções cada vez mais nervoso.

Eis porque o secretário do Tesouro Henry Paulson correu ontem para a Inglaterra para ver se podia conceber um meio de impedir que o contágio se propagasse.

BOA SORTE, HANK

Seria interessante saber se Paulson ainda acredita que "Isto é de longe a mais forte economia global que já vi durante toda a minha vida negócios", ou terá ele adaptado o seu pensamento quando as perturbações nos subprime, commercial paper, private equity e crédito continuam a aumentar?

Durante semanas temos estado a dizer que os bancos estão em perturbação e não têm as reservas para cobrir as suas perdas. Esta noção a princípio foi apupada por quase toda a gente. Mas está a tornar-se cada vez mais aparente que é verdadeira. Esperamos ver muitas falências bancárias nos meses pela frente. Prepare-se. O sistema bancário está atolado em fraude e chicanice. Agora os esquemas e logros estão a aclarar-se e os corpos dentro em breve estarão a flutuar na superfície.

A "Structured finance" é louvada como a "nova arquitectura dos mercados financeiros". Ela está concebida para distribuir capital mais eficientemente por permitir que outros participantes do mercado cumpram um papel que costumava ser deixado exclusivamente aos bancos. Na prática, contudo, as finanças estruturadas são uma farsa (hoax); e indubitavelmente a mais cara farsa de todos os tempos. A transformação de passivos (empréstimos hipotecários suspeitos) em activos (títulos) através da mágica da titularização é a maior intrujice (boondoggle) de todos os tempos. É o equivalente moral da lavagem hipotecária. O sistema repousa sobre a variável do apoio de investidores para proporcionar o financiamento para lagos de empréstimos hipotecários que são cortados em fatias, atados e canalizados como CDOs (collaterized debt obligations). Isto é loucura, mas ninguém parecia perceber quão louco era até que o Bear Stearns explodiu e não pôde encontrar licitantes para os seus CDOs remanescentes. Ele entrou em declínio desde então.

Os problemas com as finanças estruturadas não são simplesmente o resultado de fraca concessão de empréstimos e baixas taxas de juros. O próprio modelo está defeituoso.

John R. Ing apresenta um bom resumo das finanças estruturadas no seu artigo "Ouro: O colapso dos orgulhos" ("Gold: The Collapse of the Vanities"):

"A origem da crise da dívida jaz na evolução dos mercados financeiros da América a utilizar engenharia financeira e alavancagem para financiar a expansão do crédito. As instituições financeiras criaram um Frankenstein ao efectuarem a mudança do simples empréstimo de dinheiro e cobrança de comissões para a titularização e venda de milhões de milhões de empréstimos em todos os mercados, desde o Iowa à Alemanha. O risco do crédito foi substituído pelo "fatiamento e jogo de dados" do risco, permitindo aos bancos actuarem como actores principais, propagando este risco entre várias instituições financeiras... A titularização permitiu um vasto conjunto de passivos a longo prazo outrora posicionados em outro lugar como colateral fossem revendidos juntamente com formas mais tradicionais de activos a curto prazo. A Wall Street criou uma ilusão de que o risco estava de certo modo disseminado entre as massas. Os Private equity também utilizaram pilhas desta dívida para lançar operações de aquisição (buyouts) cada vez maiores. E, lavados em liquidez e em algoritmos muito refinados, os banqueiros de investimento descobriram hedge funds carentes por todo o mundo à procura de rendimento mais elevado para os seus activos. O risco foi empilhado sobre o risco. Acreditamos que a crise do subprime não é um evento isolado mas sim o princípio de um significativo mar de mudanças nos mercados financeiros dos dias modernos".

Os tubarões do investimento que conjuraram as "finanças estruturadas" sabiam exactamente o que estavam a fazer. Eles estavam na cama com as agências de classificação — descarregado milhões de milhões de dólares de títulos-lixo em fundos de pensão, hedge funds, companhias de seguros e gigantes financeiros estrangeiros. É uma burla de proporções épicas e nunca poderia ter-se verificado num mercado suficientemente regulamentado.

Quando multidões de pessoas iradas estão apinhadas do lado de fora do bancos para conseguir o seu dinheiro, o sistema está em perigo real. A credibilidade deve ser restaurada rapidamente. Isto não é tempo para os nosso "mercado livre" de Bush ou sedativos tranquilizantes de Paulson (ele pensa que o problema está "contido") ou os débeis cortes de taxas de Bernanke. Isto exige liderança real.

A primeira coisa a fazer é tomar conta, alertar o público quanto ao que está para vir e fazer com que o Congresso trabalhe para mudanças substantivas do sistema. Devem ser tomados passos concretos para construir confiança pública nos mercados. E deve haver um anúncio presidencial de que todos os depósitos bancários serão plenamente cobertos pelo seguro governamental.

As luzes deveriam estar a piscar vermelho em todas as agências governamentais relacionadas, incluindo o Fed, a SEC e o Departamento do Tesouro. Eles precisam ultrapassar a curva e parar de pensar que podem minimizar uma catástrofe potencial com a suas habituais relações públicas triviais.

Na semana passada, apareceu um artigo no Wall Street Journal, "Bancos afluem ao guiché do desconto" ("Banks Flock to Discount Window") (14/Setembro/07). O artigo narrava o súbito pequeno aumento (up-tick) na tomada de empréstimos pelos bancos em dificuldades através do programa de salvação de emergência do Fed, o "Guiché do desconto":

"Os empréstimos do desconto sob o programa de crédito primário do Fed para bancos alçou-se consideravelmente a mais de US$7,1 mil milhões na quarta-feira, em relação aos US$1,0 mil milhão na semana anterior".

Mais uma vez vemos aqui o mesmo padrão a desenvolver-se; os bancos a tomarem dinheiro emprestado do Fed porque não podem cumprir as suas exigências mínimas de reservas.

WSJ: "O Fed, no seu comunicado semanal, disse que a média dos empréstimos diários desde quarta-feira ascendeu para US$2,93 mil milhões".

US$3 MIL MILHÕES

Tradicionalmente, o "Guiché do desconto" tem sido utilizado só pelos bancos em aflição, mas o Fed está a tentar convencer as pessoas de que isto não é realmente um sinal de aflição. Seria "um sinal de fortaleza". Asneiras. Os bancos não tomam emprestado US$ 3 mil milhões a menos que precisem deles. Eles não têm as reservas. Ponto.

A condição real dos bancos será revelada em algum momento nas próximas poucas semanas quando eles relatarem rendimentos e contarem as suas perdas maciças em CDOs e MBSs degradados.

O analista de mercado Jon Markman ofereceu estas palavras de conselho aos gigantes financeiros:

"Antes que eles (a indústria financeira) derrube todo o mercado e com esta queda choque a Wall Street com perdas inesperadas, sugiro que ponham de lado os seus advogados e os seus manipuladores dos media e joguem limpo. Eles precisam contar ao mundo acerca da realidade dos fracassos das suas equipes de titularização de empréstimos nos últimos quatro anos — e a verdade acerca do papel tóxico que têm estado a despejar para dentro do sistema económico mundial, ou entulhado dentro de entidades fora do balanço como a Enron — antes que os mercados os façam andar sobre a corda bamba" ... "Uma vez que os reguladores do governo e o Congresso fugiram à sua responsabilidade de administrar "amor duro" com regras que forçassem as instituições financeiras a pormenorizar a criação, titularização e disposição de todo o empréstimo subprime mal concebido, de "veículos de investimento estruturados" fora do balanço, de "canais" secretos do mercado de dinheiro e de veículos do financiamento dos commercial-paper, o mercado o fará com uma vingança".

Bom conselho. Teremos de esperar e ver se alguém está a ouvir. Os bancos de investimento podem estar à espera até terça-feira na esperança de que o chefe Ken Bernanke anuncie um corte na taxa do Fed que remeteria o deprimido mercado de acções para território positivo.

Mas cortes nas taxas de juro não consertam os problemas subjacentes de insolvência entre proprietários de casas, mutuários de hipotecas, hedge funds e (potencialmente) bancos. Como disse o analista de mercado John R. Ing: "Um corte nas taxas não resolverá o problema. A crise foi provocada pelo excesso de liquidez e uma deterioração dos padrões de crédito... Um corte na taxa do Fed Fund é simplesmente heroína para créditos viciados em droga".

Os cortes meramente acrescentam mais crédito barato a um mercado que já está super inflacionado com o oceano de liquidez produzido pelo antigo chefe do Fed, Alan Greenspan. A bolha imobiliária e a bolha do crédito são em grande medida o resultado das enganosas políticas monetárias de Greenspan. (Pelas quais ele agora culpa Bush!) A tarefa do Fed é assegurar estabilidade de preços e a operação suave dos mercados, não reinflacionar as bolhas do equity e dar prémios a participantes do mercado super-expostos.

É melhor deixar que os mutuários sem dinheiro não paguem do que retalhar taxas de juros e disparar uma corrida global contra o dólar. O analista financeiro Richard Bove diz que taxas de juros mais baixas nada farão para trazer o dinheiro de volta aos mercados. Ao invés disso, taxas de juros mais baixas remeterão o dólar para um mergulho e provocará a devastação do mercado de trabalho.

"Não há problema de liquidez, mas uma séria crise de confiança", disse Bove:

"Num sistema financeiro onde há ampla liquidez e um desejo de taxas mais elevadas para compensar pelo risco, a solução não é criar mais liquidez e reduzir as taxas que estão disponíveis para compensar pelo risco. ... (O Fed) não pode reduzir o medo estimulando inflação...

"É ilógico assumir que possuidores de cash terão um forte desejo de emprestar dinheiro a taxas baixas numa divisa que está a declinar de valor quando eles podem tomar estes mesmos fundos e emprestá-los a taxas altas numa divisa que está a ganhar valor. Ao baixar taxas de juros o Federal Reserve não estimulará o crescimento económico ou criará empregos. Ele esmagará a divisa, estimulará a inflação e enfraquecerá a economia e os mercados de trabalho".

Bove está certo. As pessoas e os negócios que não podem reembolsar os seus débitos deveriam poder falir. Um novo enfraquecimento do dólar apenas aumenta o nosso risco colectivo ao alimentar a inflação e aumentar a probabilidade de uma fuga de capital dos mercados americanos. Se isto acontecer, seremos assados.

Considere isto: em 2000, quando Bush tomou posse, o ouro estava a US$273 por orça, o petróleo estava a US$22 por barril e o Euro valia US$0,87 por dólar. Actualmente, o ouro está a mais de US$700 por onça, o petróleo está a mais de US$80 por barril, e o Euro está a aproximadamente US$1,40 por dólar. Se Bernanke cortar as taxas [NR] , provavelmente veremos o petróleo a US$125 por barril na próxima Primavera.

A inflação está a aumentar. As estatísticas do governo são inteiramente falsas. O ouro, o petróleo e o Euro não mentem. Segundo o economista Martin Feldstein, "O dólar cadente e a ascensão dos preços dos alimentos levaram os preços com base no mercado de bens de consumo ascendesse em 4,6 por cento no trimestre mais recente". (WSJ)

Ela está em 18,4 por cento ao ano, e ainda assim Bernanke está a considerar cortar taxas de juros e alimentar ainda mais a inflação.

E o que dizer acerca do trabalhador americano cujos salários estagnaram durante os últimos seis anos? A inflação para ele é o mesmo que um corte nos pagamentos. E quanto aos pensionistas com um rendimento fixo? A mesma coisa. A inflação é apenas um impostos escondido a corroer gradualmente o seu padrão de vida.

O corte de taxa de Bernanke pode ser uma bênção para os viciados em "crédito barato" na Wall Street, mas é o dobrar de finados para o trabalhador médio que já está a lutar só para viver com dificuldades financeiras.

Não às salvações (bailouts). Não aos cortes de taxas. Deixem os bancos e os hedge funds afundarem ou flutuarem como todos os demais. A mensagem para Bernanke é simples: "Já é tempo de retirar-lhes a garrafa de bebida".

A inflação no mercado de acções é tão evidente quanto no preço do ouro, do petróleo ou do imobiliário. O economista e escritor Henry Liu demonstra isto no seu artigo "O boom de liquidez e o assomar da crise" ("Liquidity Boom and the Looming Crisis").

"O paradigma convencional do valor é incapaz de explicar porque a capitalização de mercado de todas as acções americanas cresceu de US$5,3 milhões de milhões no fim de 1994 para US$17,7 milhões de milhões no fim de 1999 e para US$35 milhões de milhões no fim de 2006, gerando um aumento geométrico de preços nos rácios de lucros e tudo o mais. A análise de liquidez proporciona uma resposta rápida". (Asia Times)

A capitalização do mercado fez um zoom de US$5,3 milhões de milhões para US$35 milhões de milhões em 12 anos? Por que? Terá isto sido devido ao crescimento do mercado, às expansão dos negócios ou da produtividade?

Não. Foi porque havia mais dólares em busca do mesmo número de títulos; portanto, inflação.

Se este é o caso, então podemos esperar que o mercado de acções caia drasticamente antes de atingir um nível sustentável. Como afirma Liu, "Não é possível preservar os preços anormais do mercado de activos conduzidos por um boom de liquidez se a liquidez normal for restaurada". Finalmente, os preços das acções retornarão a uma amplitude normal.

Bernanke não deveria sequer estar a contemplar cortes na taxa. O mercado precisa de mais disciplina, não menos. E os trabalhadores precisam de um dólar estável. Além disso, outro corte na taxa arriscaria novamente a cada vez mais instável posição da nota verde como "divisa de reserva" do mundo. Isto podia desestabilizar a economia global ao desatar rapidamente o maciço défice americano de transacções correntes.

O International Herald Tribune resumiu os problemas do dólar num artigo recente: "Recuo do dólar aumenta o medo do colapso" ("Dollar's Retreat Raises Fear of Collapse"):

"Ministros das Finanças e banqueiros centrais há muito que se afligem porque em algum momento o resto do mundo perderia a sua vontade de financiar a tendência dos Estados Unidos de consumirem mais do que produzem – e com a potencialmente desastrosa queda livre do valor do dólar que resultaria.
"Os últimos tumultos nos mercados hipotecários, numa única chicotada, abalaram a fé na resiliência das finanças americanas num grau ainda maior do que a explosão da bolha da tecnologia em 2000 ou os ataques terroristas do 11 de Setembro de 2001, dizem analistas. Ele também salientam a perspectiva de uma recessão na economia em geral.
"Isto tudo está a apontar para o risco muito acrescido de um rápido aprofundamento do défice americano de transacções correntes e de um sério declínio do dólar".

Outros peritos e negociantes de divisas exprimiram sentimentos semelhantes. O dólar está numa descida histórica em relação ao cabaz de divisas contra o qual é medido. Benanke não pode assumir a probabilidade de que o seu esforço para recuperar os mercados provocará uma súbita liquidação do dólar.

O chefe do Fed está de mãos atadas. Bernanke simplesmente não tem as ferramentas para consertar o problema diante de si. A insolvência não pode ser reparada com injecções de liquidez nem tão pouco os profundamente enraizados problemas "sistémicos" nas "finanças estruturadas" podem ser corrigidos cortando taxas de juros. Isto exige soluções fiscais, envolvimento do Congresso, e mudanças fundamentais de política económica.

Os cortes de taxas não ajudam tão pouco a reacender a farra de gastos no mercado habitacional. Aquela charada já está ultrapassada. Os bancos já endureceram os padrões dos empréstimos e o inventário é maior do que em qualquer momento desde que começaram a atingir récords. O arrefecimento na habitação é irreversível tal como já o é o firme declínio nos preços imobiliários. Milhões de milhões em capitalização do mercado serão varridos. A home equity já está em retrocesso tal como os gastos dos consumidores ligados a retiradas dos home-equity.

A bolha disparou sem se importar com o que Bernanke faz. O mesmo é verdadeiro no obstruído mercado dos Commercial Paper onde centenas de milhares de milhões de dólares em dívida a curto prazo deverão expirar nas próximas poucas semanas. Espera-se que os bancos e os tomadores corporativos de empréstimos tenham de lutar para refinanciar as suas dívidas mas, naturalmente, grande parte da dívida não será renovada (roll over). Haverá perdas substanciais e, muito provavelmente, mais falhas nos reembolsos.

Bernanke tanto pode ser um estadista – e contar ao país a verdade acerca do nosso sistema financeiro disfuncional o qual está a decompor-se após anos de corrupção, desregulação e manipulação – ou pode tomar o caminho dos covardes e comprar algum tempo inundando o sistema com liquidez, estimulando mais consumismo destrutivo e condenando o país a um ciclo evitável de inflação com dois dígitos.

Dentro em breve saberemos a sua decisão.

18/Setembro/2007

[*] Mike Whitney vive no estado de Washington, EUA. Email: fergiewhitney@msn.com

NR: No dia 18 de Setembro o Federal Reserve reduziu a taxa básica para 4,75%. Ver comunicado em http://www.federalreserve.gov/newsevents/press/monetary/20070918a.htm

O original encontra-se em http://www.counterpunch.org/whitney09182007.html


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
20/Set/07