A infame libertação pela presidenta do Panamá de terroristas condenados (e o silêncio dos media que se seguiu)

por Ángeles Maestro [*]

'O grito', de Edvard Munch, 1863-1944. A decisão da presidenta do Panamá, uma semana antes de concluir o mandato, de indultar quatro terroristas de origem cubana condenados pelas tentativa de atentado contra Fidel Castro na Universidade desse país durante a Cimeira Ibero-Americana do ano 2000, é um insulto brutal ao povo cubano e ao povo panamenho. Um deles, Luís Posada Carriles, provavelmente ocupa o primeiro lugar entre os criminosos que mais assassinatos e atentados perpetrou na América Latina e naturalmente contra Cuba. Os quatro foram detidos pela polícia panamenha, alertada pelos serviços secretos da ilha, quando planificavam o assassinato do Chefe de Estado cubano num local que teria sido uma carnificina: o anfiteatro da Universidade.

Em plena cruzada anti-terrorista em escala planetária, quando a UE sacrificou a segurança jurídica no altar da eficácia da luta contra-terrorista, nenhum governo europeu, nem – naturalmente – o flamante mister PESC, levantou a sua voz contra a colocação em liberdade de autores de explosões de aviões, de assassinatos, da colocação de bombas em embaixadas, em representações diplomáticas junto à ONU, em hotéis e fugitivos da justiça em vários países. Nenhum país europeu acusou o governo panamenho de violação do Direito Internacional e da sua própria Constituição ao considerar "delito político" a planificação e preparação de uma matança. Por que? Os crimes eram dirigidos contra o povo cubano, sua revolução e seus dirigentes.

O duplo padrão nas relações internacionais conhece assim uma nova edição, a qual atinge novas alturas de cinismo. Enquanto cinco cubanos, encarregados de investigar grupos terroristas de Miami para prevenir crimes contra o seu país como aquele que foi tentado no Panamá, enfrentam intermináveis condenações em cárceres dos EUA, aqueles que os perpetram estão livre "por razões humanitárias". Pensava em algo assim Edvard Munch quando pintou O grito ? Dificilmente os povos do mundo tolerariam tamanho atentado contra o mais elementar sentimento de justiça se não fosse pela utilização sistemática da manipulação informativa como arma de anestesia maciça das consciências.

PRESSÃO DE POWELL

Contudo, o vínculo político e económico de Mireya Moscoso com a extrema direita cubana de Miami não esgota a explicação das causas pelas quais a presidenta de um povo, que votou maciçamente contra si e elegeu Martín Torrijos, representante da esquerda anti-imperialista, aceita carregar sobre si própria semelhante infâmia. A pressão do governo Bush, exercida nada menos que através da visita de Colin Powell, foi decisiva e representa uma perigosa escalada na agressão contra Cuba a dois meses das eleições presidenciais. Não é um facto isolado. A semana passada foi emitido o primeiro sinal da rádio e televisão Marti utilizando, como plataforma de transmissão, um avião Hércules C-130 da Força Aérea dos EUA.

É aterrador pensar naquilo que pode ser capaz de fazer um governo que confirmou que nenhuma grande potência se atreve a tomar medida alguma que altere a sua impunidade, que vê perigar sua reeleição e que depende do apoio económico e eleitoral da mafia mais feroz do mundo. Na Venezuela, a tentativa de revogar Chavez saldou-se por um rotundo fracasso. Um profundo desconcerto reina entre os grupos da oposição; comprovaram pela oitava vez que eleitoralmente não tem nada a fazer.

No objectivo da extrema direita americana aparece uma vez mais a presa mais cobiçada. A revolução cubana sobreviveu entre outras razões porque o povo da ilha conhece bem os seus inimigos. Agora, menos que nunca, em Cuba não se afasta nenhuma hipótese. Os povos do mundo e suas organizações anti-imperialistas tão pouco devemos fazê-lo. O comunicado da Aliança de Intelectuais Anti-Imperialista "Com Cuba, contra o império", publicado em 26 de Julho de 2003, alertava: "Cuba sempre esteve e está hoje, mais do que nunca, no ponto de mira do brutal imperialismo estadunidense. E hoje mais do que nunca necessita a nossa solidariedade, do mesmo modo que nós, hoje mais do que nunca, necessitamos do exemplo do heróico povo cubano". A validade estas palavras é maior a cada dia que passa. A revolução cubana também é património da humanidade e a sua defesa um objectivo civilizatório prioritário.

30/Ago/2004

[*] Ensaista espanhola.

O original encontra-se em http://www.rebelion.org/noticia.php?id=3923 .


Este artigo encontra-se em http://resistir.info .
31/Ago/04