Em 2006, os lucros das 500 maiores empresas aumentaram 66,8% enquanto os salários dos trabalhadores portugueses subiram apenas 2,4%

por Eugénio Rosa [*]

RESUMO DESTE ESTUDO

Em 2006, os lucros das 500 maiores empresas não financeiras (não inclui nem os bancos nem as seguradoras) a funcionar em Portugal somaram 5.817 milhões de euros, o que representa, em relação a 2005, em que os lucros atingiram 3.488 milhões de euros, um aumento de 66,8%. Em 2006, os vencimentos dos trabalhadores da Administração Pública aumentaram 1,5%, e a subida nas remunerações dos trabalhadores do sector privado foi somente de 3,1% (em toda a economia, o aumento das remunerações no nosso País foi apenas de 2,4%, segundo o Banco de Portugal). Se considerarmos uma período mais longo (2003-2006), a subida dos lucros das 500 maiores empresas atingiu 150,2% , pois passaram de 2.325 milhões de euros para 5.817, enquanto o aumento verificado nas remunerações foi apenas de 6,4% na Administração Pública e de 13,3% no sector privado. Durante este período a taxa de inflação aumentou 11%, o que determinou uma redução importante do poder de compra das remunerações nominais. Portanto, a diferença é impressionante entre o crescimento dos lucros e dos salários, o que contribuiu para o agravamento das desigualdades.

Este agravamento das desigualdades é confirmado por outros dados. O aumento de 66,8% dos lucros em 2006 foi conseguida com uma subida das vendas destas empresas em apenas 4,6% e do VAB (riqueza criada) em 4,2%. Portanto, aquela subida impressionante dos lucros não foi conseguida através de um aumento significativo das vendas ou do VAB, mas foi fundamentalmente obtida por meio de um aumento muito grande da parte do VAB que reverteu para lucros. No período 2003-2006, os lucros aumentaram em 150%, enquanto as vendas subiram apenas em 31,3% e o VAB em 29,1%,, reduzindo-se naturalmente a parcela destinada a remunerações. Em percentagem do VAB (riqueza criada), entre 2003 e 2006, os lucros passaram de 15,2% para 29,5% do VAB das 500 maiores empresas, portanto registaram um aumento de 94%. Isto prova que o que se verificou em 2006 em Portugal não é conjuntural, mas sim uma tendência profunda e estrutural que está a determinar que num pequeno número de grandes empresas se esteja a concentrar uma parte muito grande da riqueza criada, dando aos seus proprietários lucros gigantes à custa do empobrecimento geral quer da população quer da maioria das pequenas e microempresas.

Outros dados confirmam também a mesma tendência. Assim, se dividirmos o a riqueza criada (VAB) e os Lucros pelo número de trabalhadores destas empresas constata-se o seguinte: entre 2003 e 2006, o VAB por trabalhador aumentou 13,3% enquanto os lucros por trabalhador cresceram 119,5%. Fica assim claro que se está a verificar em Portugal um forte redistribuição da riqueza criada nas 500 maiores empresas a favor do Capital e em prejuízo dos seus trabalhadores. Esta tendência acelerou-se no último ano pois, em 2006, o VAB por trabalhador cresceu apenas 2,8%, enquanto os lucros por trabalhador aumentaram 62,7%.

Em percentagem da riqueza criada no País, a parte que corresponde às 500 maiores tem aumentado. Assim, entre 2003 e 2006, a percentagem que o VAB (riqueza criada nestas empresas) representa em relação ao VAB nacional (riqueza criada no País ) aumentou de 12,7% para 14,7% em apenas três anos.

Finalmente interessa ainda referir que se se calcular para o ano de 2006 o valor do VAB por trabalhador destas 500 maiores empresas, ou seja, a produtividade do trabalho, e se fizermos o mesmo para todo o País, obtêm-se para as 500 maiores empresas o valor de 63.118 euros por empregado e, para o País, o valor de 29.950 euros por empregado, o que significa que a produtividade média por empregado nas 500 maiores empresas é mais do dobro da verificada a nível nacional.. Esta diferença tão grande de produtividade, prova que a causa da baixa produtividade da Economia Portuguesa não está nem na chamada "rigidez" das leis laborais portuguesas, nem no elevado custo do trabalho, mas sim na gestão e na organização da produção, bem como na qualidade do investimento realizado. E isto porque empresas sujeitas às mesmas leis laborais e com "custos do trabalho" idênticos apresentam valores de produtividade muito diferentes.

Os dados constantes do quadro seguinte, publicados pela revista Exame [1] em Setembro de 2007, no seu número especial dedicado às 500 maiores empresas, mostram que, em 2006, apesar da grave crise que o País enfrenta, o aumento verificado nos lucros destas empresas foi 27,8 vezes superior à subida média das remunerações dos trabalhadores portugueses.

Tabela 1.

Entre 2003 e 2006, as vendas das 500 maiores empresas a funcionar em Portugal cresceram 31,3%, o VAB, ou seja, a riqueza criada por estas empresas aumentou 29,15%, mas os lucros subiram 150,2%. Se analisarmos a variação verificada entre 2005 e 2006, portanto num ano apenas, constamos que as 500 maiores empresas a funcionar em Portugal conseguiram aumentar os seus lucros, relativamente aos de 2005, em 66,8% com apenas uma subida de 4,6% nas vendas e de 4,2% no VAB, isto é na riqueza criada. É evidente que aquele aumento de lucros foi conseguido, em grande parte, à custa da redução da riqueza criada que reverteu para os trabalhadores sob a forma de remunerações.

O quadro seguinte construído com dados divulgados pelo Banco de Portugal (Relatório de 2006), relativos à variação das remunerações no nosso País no período 2003-2006, confirma o que se acabou de dizer.

Tabela 2.

Entre 2003 e 2006, os lucros das 500 maiores empresas a funcionar em Portugal aumentaram 150,2%, mas os vencimentos dos Trabalhadores da Administração Publica subiram apenas 6,4% (23,4 vezes menos) e as remunerações dos trabalhadores do sector privado cresceram somente 13,3% (11,3 vezes manos). Mas foi fundamentalmente em 2006 que os lucros mais aumentaram (+66,8% apenas num ano) e as remunerações menos cresceram (segundo o Banco de Portugal, o aumento das remunerações foi apenas de 2,4% para toda a economia, sendo de 1,5% na Administração Pública e de 3,1% no sector privado).

Por outro lado, como se sabe, o VAB, ou seja, a riqueza criada é aplicada em amortizações, no pagamento das remunerações aos trabalhadores , de impostos ao Estado, de contribuições à Segurança Social, e de lucros e juros aos diversos detentores do Capital. Como entre 2003 e 2005, os lucros destas 500 maiores empresas cresceram percentualmente 5,2 vezes mais do que o VAB (entre 2003 e 2006, os lucros aumentaram 150,2% e o VAB cresceu apenas 29,1%), é legitimo concluir que se isso sucedeu foi porque a parte destinada aos trabalhadores (remunerações pagas por estas empresas) e ao Estado (impostos pagos por elas) diminuiu. A provar isso está o facto que, como mostram também os dados do quadro II, em 2003, os lucros representaram 15,2% do VAB (riqueza criada),destas empresas, enquanto em 2006 já correspondiam a 29,5% do VAB, ou seja, aumentaram 94%.

EM 2006, O VAB POR TRABALHADOR AUMENTOU 2,8%, MAS OS LUCROS POR TRABALHADOR CRESCERAM 62,7%

Se se dividir o VAB (riqueza criada num ano) e os lucros obtidos pelas 500 maiores empresas pelo número total dos trabalhadores dessas empresas obtém-se o "VAB por trabalhador" e o "Lucro por trabalhador". São precisamente esses dados o que constam do quadro seguinte os quais permitem também tirar conclusões extremamente importantes e significativas

Tabela 3.

Entre 2003 e 2006, o "VAB por trabalhador" cresceu apenas 13,3% mas o "lucro por trabalhador " obtido pelas 500 maiores empresas aumentou 119,5%, ou seja, 8,6 vezes mais. Se a análise se limitar apenas ao último ano (2006), conclui-se que o "VAB por trabalhador " cresceu apenas 2,8%, mas o "lucro por trabalhador" aumentou 62,7% , ou seja, 22,4 vezes mais. É evidente que este aumento muito maior do "lucro por trabalhador " do que no "VAB por trabalhador" foi conseguido fazendo reverter para lucros uma parte muito maior da riqueza criada pelas 500 maiores empresas, o que significou também que, em termos percentuais, a parcela da riqueza criada (VAB) que reverteu para os trabalhadores, sob a forma de remunerações, diminuiu. E a repartição da riqueza criada nestas empresas entre trabalhadores e proprietários agravou-se, o que contribuiu para o aumento das desigualdades na distribuição dos rendimentos no nosso País, o que é grave até porque a riqueza criada pelas 500 maiores empresas representa já uma parcela muito importante da riqueza criada no nosso País.

14,7% DE TODA A RIQUEZA NACIONAL JÁ É CONTROLADA PELAS 500 MAIORES EMPRESAS NÃO FINANCEIRAS

Em 2006, as 500 maiores empresas não financeiras empregavam 312.777 trabalhadores, o que correspondia apenas a cerca de 6% da população empregada portuguesa. No entanto, a percentagem que o VAB destas empresas representa do VAB nacional, ou seja, de riqueza criada no País era 2,4 vezes superior à percentagem de trabalhadores que empregavam como mostram os dados do quadro seguinte

Tabela 4.

Se se comparar o valor do VAB destas empresas (riqueza criada por elas) com o VAB nacional (riqueza criada no País), conclui-se que, em 2003, o VAB destas empresas correspondia a 12,7% do VAB nacional, enquanto em 2006 correspondia já a 14,7% do VAB, ou seja, mais 15,7%.

Se se calcular para o ano de 2006 o valor do VAB por trabalhador destas 500 maiores empresas, ou seja, a produtividade do trabalho, e se fizermos o mesmo para todo o País, obtêm-se para as 500 maiores empresas o valor de 63.118 euros por empregado e, para o País, o valor de 29.950 euros por empregado, o que significa que a produtividade média por empregado nas 500 maiores empresas é o dobro da verificada a nível nacional..

Esta diferença tão grande prova que a causa da baixa produtividade da Economia Portuguesa não está nem na chamada "rigidez" das leis laborais portuguesas, nem no elevado custo do trabalho, mas sim na gestão e na organização da produção, bem como na qualidade do investimento realizado. E isto porque empresas sujeitas às mesmas leis laborais e com "custos do trabalho" idênticos apresentam valores de produtividade muito diferentes.

03/Outubro/2007

[1] Utilizamos os dados que constam em ficheiros de Excel com dados das 500 maiores empresas divulgados também por esta revista, e não os que constam da revista (escrita) pois apresentam pequenas diferenças.

[*] Economista, edr@mail.telepac.pt

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
04/Out/07