Os prejuízos não recuperáveis da Associação
Montepio
A Associação mutualista teve 408,8 milhões de
prejuízos em 2019
Há que reconhecer que não são recuperáveis
parte dos 833 milhões de "Ativos por impostos diferidos"
Isso significa que o Ativo da Associação já
não é suficiente para pagar o que deve
Assembleia geral de associados no Coliseu, em Lisboa, às 21 horas no dia
30/6/2020, para debater o Relatório e Contas de 2019.
Se quiser garantir as suas poupanças não falte e participe.
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A hora da verdade para a AMMG chegou, as imparidades não registadas, a
criação de ativos fictícios para ocultar uma
situação insustentável, já não são
mais possíveis até porque o novo auditor (PwC) não deu
cobertura a isso. É impossível por mais tempo ocultar a verdade
aos associados.
Há vários anos
(desde 2010 com a aquisição do FINIBANCO e da REAL Seguros)
temos vindo a alertar os associados, os supervisores e o governo
(tivemos várias reuniões com o anterior Ministro do Trabalho com
esse objetivo)
para uma gestão ruinosa e megalómana que violava a lei e que
utilizava as poupanças dos associados para comprar empresas arruinadas,
para criar empresas sem rentabilidade
(o grupo Montepio tem participações em cerca de 40 empresas)
muitas delas são um sorvedouro do dinheiro dos associados, só
servindo para
dar lugares de administração. Os supervisores e governo
não podem agora dizer que não sabiam, e que não foram
avisados a tempo sendo, por isso, também responsáveis pela
situação a que o Montepio chegou.
Nas assembleias gerais da AMMG tivemos de enfrentar a fúria dos
defensores da administração de Tomás Correia e vimos, com
desilusão, os poucos associados que participavam nas assembleias
(em média 300 ou menos em mais de 600.000)
devido à falta de informação e à
manipulação das datas por Tomás Correia & o padre
Melícias para que fosse difícil a sua participação;
repetimos, vimos a maioria dos poucos presentes arregimentados pelos fieis de
Tomás Correia, aprovarem cegamente a sua gestão ruinosa
tornando-se assim também corresponsáveis por ela.
Parafraseando Eça de Queirós pode-se dizer que
a nudez forte da verdade acabou por se impor, e o manto diáfano da
fantasia e da mentira desapareceu, e tem-se de enfrentar a realidade dolorosa.
A ORIGEM DOS 408,8 MILHÕES DE PREJUIZOS DA
ASSOCIAÇÃO MUTUALISTA EM 2019
Em estudos anteriores e mesmo na ultima assembleia geral de associados chamamos
a atenção para o facto do Banco Montepio estar valorizado nas
contas da Associação Mutualista por 1.877 milhões quando
os Capitais próprios
(diferença entre o ATIVO e o PASSIVO)
do Banco Montepio eram apenas, de acordo com as suas contas de 2019, de 1.452
milhões , ou seja, valia na contabilidade do banco menos 425
milhões do que estava registado nas contas da
Associação Mutualista. O auditor, que é a PwC, deste total
apenas considerou 377,5 milhões como perdidos
(registando em 2019 como imparidades nas contas da Associação
Mutualista sendo a razão principal dos elevados prejuízos deste
ano),
o que determina que o Banco Montepio passe a estar valorizado nas contas da
Associação Mutualista por 1.500 milhões , um valor
ainda superior em 48 milhões àquilo que na contabilidade
do banco vale.
Mesmo este montante sobrevalorizado aceite pelo auditor tem como
justificação a previsão de lucros do Plano de
negócios 2020-2024 aprovado pelo conselho de administração
do Banco Montepio que não é realista
(20,7 M em 2020; 38,9M em 2021; 53,3M em 2022; 124,4M
em 2023; e 200,2M em 2024 e, a partir deste ano um crescimento anual de
2%)
sendo de duvidosa obtenção pelo menos os valores a partir de
2022 devido aos reduzidos rácios de capital que impedem o aumento
significativo do credito concedido e à incapacidade que a atual
administração do banco tem demostrado para aumentar o
negócio bancário, agravada pela crise económica causada
pelo "coronavírus" que não foi tida em conta.
Para além disso, foi utilizada uma taxa de desconto de 9,47% para
atualizar os "cash-flow", manifestamente reduzida como se constataria
se Associação Mutualista não tivesse adquirido, em junho
de 2020, 50 milhões obrigações subordinadas, e se o
Banco Montepio tivesse sido obrigado a ir ao mercado para obter esses fundos.
Na anterior emissão, o Banco Montepio ofereceu uma taxa de 10,5%, e
mesmo com esta taxa não apareceram interessados no mercado o que obrigou
a Associação a adquirir a maior parte da emissão: Se se
adicionar um spread de 1%, obtém-se uma taxa de 11,5% o que causa a
redução do valor do banco para 1.284 milhões , e
mais 216 milhões de imparidades que teriam de ser registadas na
Associação
É uma prova de falta de independência do atual conselho fiscal
eleito na lista do atual conselho de administração,
o ataque que faz ao auditor já que, no seu parecer, defende a taxa de
desconto proposta pelo conselho de administração de apenas 8,47%,
e com base nela tenta por em causa a utilizada pela PwC, sem qualquer
razão técnica, apenas com a justificação de que
"com tal alternativa desejada, o capital próprio da AMMG não
teria, seguramente, sofrido a sangria de que foi alvo, na medida em que,
inclusivamente , haveria margem para alguma reversão de
imparidades".
O que era preciso, segundo o atual conselho fiscal, era continuar a enganar os
associados e a opinião pública sobre a real
situação da Associação Mutualista.
O que o conselho fiscal devia ter feito, e não fez,
era analisar as reservas e os desacordos bem fundamentados do auditor
, a saber:
uma reserva por desacordo
, relativa ao registo dos impostos diferidos ativos,
uma incerteza material relacionada com a continuidade
, atentos os riscos de liquidez, de concentração de ativos, de
incerteza suscitada pelo COVID-19, da mensuração e
recuperabilidade dos investimento em participadas, bem como da
mensuração e recuperabilidade dos ativos por impostos diferidos
e, finalmente, três ênfases,
a saber: uma relativa ao princípio da continuidade das
operações, uma segunda relativa aos pressupostos subjacentes
à valorização das participações financeiras
e uma terceira associada à transição para um novo ambiente
regulatório.
Mas nada disto fez, revelando incapacidade técnica e falta de
independência apesar da gravidade da situação.
Na pág. 61 do Relatório e contas da Associação
Mutualista está uma informação que pela sua
importância se transcreve na integra:
"O valor da participação da Associação
Mutualista no
capital social do Banco Montepio, em 2019, totalizou 1.500 milhões
, correspondente a um valor bruto de 2.375 milhões a qual
está associado imparidade no montante total de 875 milhões
".
Isto significa que a Associação Mutualista já aplicou no
Capital social do Banco Montepio 2.375 milhões , a maior parte
poupanças dos associados, e que 875 milhões já se
perderam devido a créditos ruinosos concedidos na Caixa Económica
fundamentalmente pela gestão da administração de
Tomás Correia que não foram recuperados. Mas não foi
só na Caixa Economica, agora Banco Montepio, que isso sucedeu.
Na pág. 62 do mesmo relatório, em relação a outras
empresas do grupo Montepio, também se pode ler o que a seguir se
transcreve na integra:
"A carteira de outras participações financeiras da
Associação Mutualista noutras empresas do grupo finalizou o ano
de 2019 com um valor liquido de 221 milhões , representando 6,4%
do ativo liquido da Associação Mutualista. Esse valor compreende
um valor bruto de 395 milhões deduzido da imparidade acumulada e
registada de 173 milhões ".
Isto significa que a Associação Mutualista investiu nas outras
empresas do grupo 395 milhões , a maior parte poupanças dos
associados, mas que devido também a uma gestão ruinosa e
irresponsável se perderam já 173 milhões
Se somarmos as poupanças dos associados que desapareceram na Caixa
Economica agora Banco Montepio 875 milhões mais as
perdas já contabilizadas noutras empresas do grupo 173
milhões causadas pela gestão ruinosa da
administração de Tomás Correia obtém-se 1.048
milhões . Eis um valor indicativo da destruição de
valor contabilizado causada pela administração de Tomás
Correia.
Para além das imparidades de 377,5 milhões constituidas
pela Associação Mutualista em 2019 devido à
destruição que a administração de Tomás
Correia causou na Caixa Economica agora Banco Montepio e que só foram
contabilizadas em 2019 nas contas da Associação Mutualista, sendo
a causa mais importante dos enormes prejuizos que esta apresentou em 2019,
há ainda acrescentar a constituição de 14,8 milhões
imparidades devido a perdas verificadas do Montepio Seguros (pág.
63), causadas pelos prejuizos na companhia de seguros Lusitânia, SA
(não vida) que, somados aos da Caixa Economica/Banco Montepio,
dão um total de 392,3 milhões , que explicam os enormes
prejuizos da Associação Mutualista em 2019.
"ATIVOS POR IMPOSTOS DIFERIDOS" (DTA) NO MONTANTE DE 833
MILHÕES , A MAIOR PARTE FICTICIOS QUE SÓ SERVEM PARA
OCULTAR A SITUAÇÃO GRAVE E REAL DA ASSOCIAÇÃO
MUTUALISTA
Como consta da pág. 124 do Relatório e contas de 2019, a
Associação Mutualista contabilizou como um ATIVO 833,2
milhões de impostos diferidos, sendo 790,4 milhões
de "Provisões matemáticas" e 67,2 milhões
referentes a "Reporte de prejuízos fiscais". Para se poder
compreender o carater fictício destes "ATIVOS"
(eles não servem para reembolsar as poupanças aos associados nem
para pagar dividas)
é importante ter presente o seguinte.
A Associação Mutualista até 2017 esteve isenta de
pagamento de IRC. Para que gozasse dessa isenção era
indispensável, nos termos da alínea b) do n.º 1 do artigo
10º do CIRC, condicionada à observância dos requisitos
previstos no n.º 3 do artigo 10º do CIRC que cumprisse as seguintes
condições:
(i)
exercício efetivo e a título exclusivo ou predominante das
atividades de cariz social (alínea a) do n.º 3);
(ii)
por regra, afetação aos fins sociais, de pelo menos 50% do
rendimento global líquido (alínea b)) e;
(iii)
inexistência de qualquer interesse direto ou indireto dos membros dos
órgãos estatutários (alínea c).
Face ao agravamento da situação da Associação
Mutualista determinado por uma gestão ruinosa que causou que o seu
PASSIVO
(dividas a pagar, incluindo os reembolsos das poupanças aos associados)
fosse já nessa altura superior ao seu ATIVO
(o que possuía e o que tinha a haver),
a administração de Tomás Correia imaginou um expediente
para esconder aos associados e à opinião publica a
situação real da Associação Mutualista. Para isso
declarou ao Ministério das Finanças a existência de
interesses dos membros do conselho de administração nos
resultados da Associação Mutualista
(recebiam para além da remuneração fixa entre 24.000
e 31.000/mês, uma remuneração variável)
o que determinou que a Associação Mutualista perdesse a
isenção do IRC, causando assim prejuízos aos associados
(pode-se falar mesmo de uma medida danosa)
que desta forma viram ser ainda mais reduzidos os escassos rendimentos das
suas poupanças, mas que permitiu à administração de
Tomás Correia criar enormes "Ativos por impostos diferidos",
que eram fictícios (não reais), mas com os quais conseguiu
esconder a situação grave da Associação Mutualista
devido à sua gestão, e enganar por mais algum tempo os associados
e a opinião pública, perante a passividade dos supervisores, do
auditor de então, mas não da PwC , e do próprio governo
que nada fizeram para impedir tal manobra.
Assim em 2017, para além dos
"Ativos por impostos diferidos"
por
"Reporte de prejuízos fiscais"
(202,3 milhões )
foram criados, pela primeira vez,
"Ativos por impostos diferidos"
de
"Provisões matemáticas"
no montante de 622,5 milhões
(em 2019, este valor é já de 790,4 milhões como se
referiu, constituindo a parcela mais importante do "Ativos de impostos
diferidos" cujo total é 833,3 milhões ).
Para obter estes montantes utilizou-se uma taxa de 30,18% aplicada ao valor das
poupanças dos associados já que fiscalmente, pela lei das
seguradoras, não eram dedutíveis, mas que não correspondem
a qualquer Ativo real. Resultam apenas de "diferenças
temporárias" que são simplesmente anulados na
proporção em que essas poupanças sejam reembolsadas aos
associados. Estão em duplicado no ATIVO
(em aplicações do Ativo-depósitos, imóveis,
participações financeiras, etc. -e mais 30% das Provisões
técnicas em impostos diferidos).
Os "Ativos por impostos diferidos" só servem para evitar que
a Associação pague IRC pelas poupanças quando as
reembolsa, mas não servem para reembolsar as poupanças aos
associados. Para isso tem que existir dinheiro ou outros ativos reais, mas uma
parte deles desapareceram na Caixa Economica, devido a créditos
ruinosos, ou em outras empresas do grupo Montepio causado por má
gestão, por isso uma parte não são recuperáveis.
Apesar de serem "Ativos fictícios" eles servem para empolar o
ATIVO da Associação e assim esconder aos associados a real
situação da Associação. Se deduzirmos ao ATIVO
LÍQUIDO da Associação Mutualista 3.455,6
milhões - os 790,4 milhões da
"Ativos por impostos diferidos"
de "Provisões matemáticas", que são
"ativos fictícios" pois não correspondem a qualquer
ativo real, nem servem para reembolsar as poupanças, obtém-se
2.665,2 milhões - que é inferior ao PASSIVO (o que deve)
da Associação Mutualista 3.118,2 milhões -
já em 453 milhões . Mas os
"Ativos por impostos diferidos"
não se resumem em 2019 apenas às diferenças
temporárias no valor de 790,4 milhões . Há ainda
67,2 milhões de "Reporte de prejuízos fiscais".
Para a Associação Mutualista poder recuperar a totalidade deste
valor através da dedução no IRC a pagar
(que antes estava isenta mas agora não)
terá de ter lucros no montante de 320 milhões até
2027, já que a taxa utilizada aqui foi de 21,5%, o que não
acontecerá sendo de prever que uma parcela mesmo daqueles 67,2
milhões não sejam recuperáveis. Estes 67,2
milhões não servem para reembolsar os 3.009 milhões
de poupanças dos associados que estão na
Associação, só servem para abater no IRC que antes
não se pagava.
A CONCENTRAÇÃO ELEVADA DE RISCO, EM CLARA VIOLAÇÃO
DA LEI, PERMITIDA PELOS SUPERVISORES E GOVERNO, É QUE LEVOU À
ATUAL SITUAÇÃO, SENDO POR ISSO TAMBÉM RESPONSÁVEIS
POR ELA
De acordo com o nº4 do artº 68 do atual Código das
Associações Mutualistas (DL 59/2018) , que repete neste artigo o
anterior, as aplicações numa
"única empresa ou sociedade não podem, em caso algum,
representar
mais de 10 % do ativo de uma associação mutualista".
No entanto, os 2.375 milhões aplicados no Capital Social
da Caixa Economica, agora Banco Montepio, cujo valor atual é apenas
1.500 milhões segundo a PwC, correspondem a 68,7% do Ativo
líquido total atual da Associação (3.455,2 milhões
) e os 1500 milhões representam 43,4%, valores todos eles
muitas vezes superiores aos permitidos pela lei. E ainda há 180
milhões investidos em obrigações subordinas que
representam também risco elevado para a Associação
Mutualista Esta violação reiterada da lei pela
administração de Tomás Correia, que colocou em risco as
poupanças dos associados, só foi possível com
conivência dos supervisores, entre os quais estava o governo
através do Ministério do Trabalho
A REDUÇÃO CONTINUADA DO NÚMERO DE ASSOCIADOS, UM INDICADOR
CLARO DA PERDA DE CONFIANÇA TAMBÉM NA ATUAL
ADMINISTRAÇÃO, QUE É UMA HERANÇA DE TOMÁS
CORREIA
No fim de 2015, a Associação Mutualista tinha 632.913 associados.
Em 2018, apenas 612.607 e, em dezembro de 2019, somente 601.784 associados. A
perda continua de associados que se verificou a partir de 2015 é um
indicador da perda de confiança na administração da
Associação Mutualista devido a uma gestão ruinosa que
estava a destruir as suas poupanças, e a pôr em risco o reembolso
futuro delas. Em 2019, quando comparado com 2018, verificou-se uma
redução das aplicações dos associados nas
modalidades atuarias (-2,2 milhões ), apenas aumentou
significativamente as aplicações em "Capital certo"
(+179,8 milhões do que em 2018)
, que é uma espécie de deposito a prazo, sem qualquer garantia,
que se torna atrativo por oferecer uma taxa de juro superior às de
depósitos bancário mas com risco elevado porque não tem
qualquer fundo de garantia, diferentemente dos depósitos
bancários que tem. Em 2019, os associados fizeram levantamentos de
poupanças de 640,5 milhões
O QUE É NECESSÁRIO PARA EVITAR O COLAPSO DO MONTEPIO, PARA
ASSEGURAR AS POUPANÇAS AOS ASSOCIADOS, E EVITAR DESPEDIMENTOS DE
TRABALHADORES
Em primeiro lugar reconhecer a gravidade da situação pois
só assim é que se sentirá a urgência de encontrar
uma solução credível, exequível e de unidade para
salvar o Montepio e recuperar o enorme valor destruído.
O 1º passo a dar
, é portanto a realização de eleições gerais
para todos os órgãos da Associação Mutualista com
base nuns Estatutos que respeitem a lei para ser eleita uma
administração de unidade que tenha a confiança dos
associados.
O 2º passo
é elaborar um plano de reestruturação do grupo Montepio
fundindo e acabando com uma multiplicidade de empresas, muitas delas
conflituantes entre si
(ex. no imobiliário)
, que não têm rentabilidade, que só servem para delapidar
as poupanças dos associados e dar cargos de administração
e analisar a possibilidade de recuperar de novo a isenção de IRC.
O 3º passo
é obter o apoio do governo para dar segurança às
poupanças dos associados e conquistar a confiança deles, como
Mário Centeno prometeu em 2018 (ver:
observador.pt/...
),
dando tempo à nova administração para recuperar o enorme
valor destruído pela administração de Tomás Correia
14/Junho/2020
[*]
Associado do Montepio, edr2@netcabo.pt
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