Uma política absurda e irracional está a destruir o país
- Não resolverá o problema mais grave de Portugal: a
dívida externa
- Problema da dívida externa ultrapassa de longe o do défice
público
RESUMO DESTE ESTUDO
Contrariamente ao que Sócrates, a direita e o pensamento
económico neoliberal dominante nos media procuram fazer crer à
opinião pública, o problema mais grave que o País enfrenta
neste momento não é o da receita e da despesa pública
serem elevadas, mas sim o da divida ao estrangeiro ser incomportável
para o País e não parar de crescer a um ritmo elevado.
Em 2009, segundo dados do Eurostat a receita pública em Portugal
representou 41,6% do PIB, quando na UE27 foi, em média, 43,9% do PIB.
Em relação à despesa pública, no mesmo ano, e
segundo também o serviço de estatística da UE, ela em
Portugal atingiu 51% do PIB, quando na UE27 correspondeu em média a
50,7%. Portanto, em Portugal, tanto a receita como a despesa pública
estão em linha com a média dos países das U.E, embora
exista, do lado receita, uma profunda injustiça fiscal e, do lado da
despesa, má utilização de uma parte dela. A direita e os
defensores do pensamento económico único nos media mentem
descaradamente quando afirmam que a receita e a despesa pública em
Portugal são muito mais elevadas do que na UE.
O grave problema que o País enfrenta neste momento, que o governo e toda
a direita ignoram ou deliberadamente ocultam é o elevado e crescente
endividamento do País ao estrangeiro. E este grave problema não
se resolve nem com as medidas anunciadas pelo governo nem com as que o PSD e
CDS querem impor ao País. A elevada e crescente divida externa é
determinada pelo elevado défice da Balança de Pagamentos.
Só nos 5,5 anos de governos de Sócrates (Jan2005/Jul2010) a soma
destes défices atingiu -96.135 milhões , ou seja, o
correspondente a 56,5% do PIB. Uma parte muito significativa dele resulta do
défice permanente da Balança Comercial Portuguesa. Em cinco anos
de governos de Sócrates (2005/2009), a soma dos défices da
Balança Comercial atingiu -72.176 milhões , ou seja, 84% do
défice acumulado da Balança de Pagamentos durante o mesmo
período (o resto são fundamentalmente de juros e lucros).
Este elevado défice da Balança Comercial Portuguesa resulta do
País importar muito mais do que exporta, não produzindo o
necessário para satisfazer uma parte importante do consumo interno. Em
2009 por ex., 84,5% das importações e 71,6% das
exportações eram de bens, ou seja, de produtos fundamentalmente
da indústria e da agricultura. E apesar dos produtos da indústria
e da agricultura representarem a esmagadora maioria das
importações e exportações portuguesas tem-se
verificado em Portugal, nos últimos anos, uma profunda
desindustrialização e uma quebra significativa da
produção agrícola e da pesca. Segundo dados do
próprio INE, entre 1999 e 2009, o peso da produção da
industria transformadora em Portugal, medido pelo VAB (riqueza produzida)
diminuiu em -18,6%, pois passou de 16,1% da produção nacional
para apenas 13,1%. A quebra verificada na produção
agrícola e pesca foi também grande já que diminuiu em
-15,6%, passando, entre 1999 e 2009, de 3,2% para somente 2,7% da
produção nacional. Como consequência, em especial durante
os governos de Sócrates (entre 2004 e 2009, o peso da
produção da Industria Transformadora na produção
nacional diminuiu em -14,4% pois passou de 15,3% para apenas 13,1%) o emprego
na Industria Transformadora que, em 1999, contribuía com 22,5% do
emprego total do País, em 2004 representava já 19,6%, e
após 5 anos de governos de Sócrates, ou seja, em 2009 era apenas
17% do emprego em Portugal. Nos 5 anos de governos de Sócrates foram
destruídos só na Indústria Transformadora portuguesa
255.000 empregos.
As medidas anunciadas por Sócrates visando uma redução
brutal e irracional do défice orçamental só poderão
provocar o agravamento de toda esta situação. Para além de
agravarem ainda mais a injustiça fiscal (79% do aumento das receitas
são de impostos sobre as famílias), elas determinarão uma
forte contracção do mercado interno, o que causará a
falência de muitas empresas com consequente disparar do emprego e
destruição da economia, determinando o aumento do défice
externo e subida do endividamento. E com uma economia destruída e sem
crescimento económico os chamados mercados (bancos e fundos)
considerarão que Portugal terá dificuldades crescentes em pagar o
que pede emprestado, e por isso aumentarão ainda mais as taxas de juro.
A agravar a situação, está a baixa poupança das
famílias portuguesas determinada pelo crescimento económico
anémico (em 2009, a taxa de poupança das famílias em
Portugal foi apenas de 8,8%, quando na UE27 atingiu 13,7%) que limita o
recurso ao endividamento interno para cobrir as necessidades de financiamento
do País, acelerando o recurso ao crédito externo.
É um circulo vicioso de agravamento social e de miséria, de
destruição da economia, de aumento da divida externa que esta
politica absurda e irracional inevitavelmente determinará. É uma
política sem visão do futuro. Por isso, os sacrifícios que
estão a ser impostos serão inúteis, porque no fim o
País ainda estará mais endividado e mais à mercê dos
credores externos. É urgente inverter esta política de corrida
cega para o abismo.
|
Contrariamente à ideia que o governo e toda a direita (PSD e CDS), assim
como o pensamento económico único dominante pretendem fazer crer,
o problema mais grave que o País enfrenta não é o da
receita e da despesa pública serem muito elevadas, mas sim o da divida
externa ser já elevadíssima e não parar de aumentar, o que
coloca Portugal nas mãos dos credores e sujeito às suas
exigências. E esta divida não se resolve com a
redução do défice orçamental. As medidas anunciadas
pelo governo para o reduzir de uma forma abrupta e irracional o défice
orçamental num curto período de tempo, e ainda por cima quando o
País enfrenta uma grave crise, só poderão determinar um
maior agravamento da divida como iremos provar utilizando dados oficiais.
A RECEITA E DESPESA PÚBLICA EM PORTUGAL ESTÃO EM LINHA COM A
MÉDIA DA UE
O quadro 1, construído com dados do Eurostat, que é o
serviço oficial de estatística da União Europeia, mostra
que tanto a receita como a despesa publica em Portugal estão em linha
com a média dos países da União Europeia.
Quadro 1 Receita e despesas das Administrações
Públicas na União Europeia em % do PIB
REGIÃO
|
RECEITA PÙBLICA em % do PIB
|
DESPESA PÙBLICA em % do PIB
|
2004
|
2005
|
2006
|
2008
|
2008
|
2009
|
2004
|
2005
|
2006
|
2007
|
2008
|
2009
|
UE (27 países)
|
44
|
44,4
|
44,9
|
44,9
|
44,6
|
43,9
|
46,9
|
46,9
|
46,4
|
45,8
|
46,9
|
50,7
|
UE (25 países)
|
44
|
44,5
|
45
|
45
|
44,7
|
44,1
|
47
|
47
|
46,5
|
45,9
|
47
|
50,8
|
UE (15 países)
|
44,2
|
44,7
|
45,3
|
45,3
|
45,1
|
44,4
|
47,1
|
47,1
|
46,6
|
46
|
47,3
|
51,2
|
Zona euro
|
44,6
|
44,8
|
45,4
|
45,5
|
45
|
44,4
|
47,6
|
47,4
|
46,7
|
46,1
|
47
|
50,7
|
Zona euro (16 países)
|
44,6
|
44,9
|
45,4
|
45,5
|
44,9
|
44,5
|
47,6
|
47,4
|
46,7
|
46,1
|
46,8
|
50,8
|
Zona euro (15 países)
|
44,7
|
44,9
|
45,5
|
45,6
|
45
|
44,5
|
47,6
|
47,5
|
46,8
|
46,2
|
47
|
50,8
|
PORTUGAL
|
43,1
|
41,6
|
42,3
|
43,2
|
43,2
|
41,6
|
46,5
|
47,6
|
46,3
|
45,8
|
46,1
|
51
|
Fonte: Eurostat
Em 2009, por ex., de acordo com dados do Eurostat a receita pública em
Portugal representou 41,6% do PIB, quando na UE27 correspondeu, em
média, a 43,9%. Contrariamente ao que afirmam o PSD, o CDS, e
também o governo de Sócrates, e é essa a mensagem que
têm procurado fazer passar junto da opinião pública, a
receita pública em Portugal não é superior à
média dos países da União Europeia. Ela é
até inferior em 2,3 pontos percentuais à média dos
países da União Europeia como provam os dados do Eurostat. O
problema grave que existe é a forma injusta como está
distribuída, atingindo fundamentalmente os trabalhadores, os
pensionistas e outras camadas desfavorecidas da população. E as
medidas que o governo de Sócrates acabou de anunciar, vão agravar
ainda mais esta injustiça como provaremos mais à frente.
Em relação à despesa pública, os dados do Eurostat
mostram também que ela está em linha com a dos países da
União Europeia. Em 2009, por ex., a despesa das
Administrações Públicas em Portugal representou 51% do
PIB, quando na UE27 correspondeu, em média, a 50,7%. O problema da
despesa pública em Portugal não é ser muito elevada como
toda a direita (PSD e CDS) e os defensores do pensamento económico
neoliberal dominante falsamente afirmam tentando enganar a opinião
pública, mas sim a má utilização de uma parte dela.
A construção de elevado número de auto-estradas em
Portugal (é o país da UE com maior número de
quilómetros de auto-estrada por 100 mil habitantes); a
intenção de construir o TGV e uma 3ª ponte sobre o Tejo; a
construção de 10 estádios de futebol; tudo isto foi ou
será feito em prejuízo, porque os recursos do País
são escassos, da electrificação,
modernização e ampliação da rede ferroviário
convencional nacional (factor de coesão e desenvolvimento equilibrado do
País); do aumento da rede de metro (factor de aumento de qualidade de
vida urbana), e do investimento produtivo (agricultura, indústria),
são apenas alguns exemplos, a nosso ver, da ausência de uma
politica que sirva os interesses dos portugueses e de Portugal que tenha em
conta a realidade nacional, a que se deve acrescentar ainda o
desperdício de fundos públicos em alguma áreas ou a
utilização de dinheiros públicos para satisfazer
clientelas privadas ou grandes grupos económicos a operar em Portugal.
O CRESCIMENTO CONTÍNUO E ELEVADO DA DIVIDA EXTERNA É O PROBLEMA
MAIS GRAVE QUE O PAÍS ACTUALMENTE ENFRENTA
O aumento continuo e elevado da divida ao estrangeiro é determinado pelo
facto de Portugal, nas suas relações com o exterior, ter de pagar
muito mais do que recebe do exterior. O quadro seguinte, construído com
dados divulgados pelo Banco de Portugal, mostra o elevado défice da
Balança de Pagamentos Corrente durante os governos de Sócrates.
Quadro 2 Saldo da Balança de Pagamentos Corrente (bens,
serviços, rendimentos e transferências correntes) de Portugal
ANOS
|
Défices da Balança de Pagamentos Corrente
Milhões
|
2005
|
-14.139
|
2006
|
-15.680
|
2007
|
-17.074
|
2008
|
-21.699
|
2009
|
-17.262
|
2010 (Janeiro - Julho)
|
-10.281
|
SOMA
|
-96.135
|
Fonte: Boletim Estatístico Fevereiro de 2009, Setembro 2010
Em cinco anos e meio de governo de Sócrates, a soma dos saldos negativos
da Balança de Pagamentos Corrente de Portugal atingiu o gigantesco valor
de -96.135 milhões euros, fazendo disparar a divida externa portuguesa.
Mesmo em 2010, em apenas sete meses (de Janeiro a Julho), a
situação não melhorou, tendo o défice nesta
Balança atingido -10.281 milhões , o que leva a prever que
o défice deste ano ainda venha a ser superior ao de 2009.
E este défice resulta dos elevados saldos negativos da Balança de
Bens e Serviços (importamos muito mais do que exportamos) e
também do défice da Balança de Rendimentos (pagamos aos
estrangeiro por juros e lucros muito mais do que recebemos). É evidente
que este problema é muito mais grave para o País que o
défice orçamental, mas tanto o governo de Sócrates, como o
PSD , o CDS e todo o pensamento económico neoliberal dominante, assim
como a Comissão Europeia, encerrados no seu casulo de arrogância e
autosuficência ignoram ou fingem não o compreender, arrastando os
portugueses e Portugal numa corrida cega para o abismo e destruindo a economia
portuguesa.
EM CINCO ANOS DE GOVERNOS DE SÓCRATES O SALDO ACUMULADO NEGATIVO DA
BALANÇA COMERCIAL PORTUGUESA ATINGIU 72.176 MILHÕES
O elevadíssimo saldo negativo da Balança de Pagamentos Correntes
portuguesa tem como causa principal o elevadíssimo défice da
Balança Comercial (o País importa muito mais do que exporta),
como mostram os dados do INE constantes do quadro 2.
Quadro 3 Balança Comercial Portuguesa - Importações,
exportações e défices
ANO
|
EXPORTAÇÕES
Milhões
|
IMPORTAÇÕES
TOTAIS
Milhões
|
Importações de bens
em % do Total
|
DÉFICE
da Balança Comercial
Milhões
|
% do Total das exportações
|
Bens
|
Serviços
|
TOTAL
|
Bens
|
Serviços
|
1995
|
18.963
|
4.902
|
23.865
|
29.778
|
84,8%
|
-5.913
|
79,5%
|
20,5%
|
2004
|
32.414
|
9.461
|
41.875
|
54.294
|
87,7%
|
-12.420
|
77,4%
|
22,6%
|
2005
|
32.751
|
9.918
|
42.669
|
57.191
|
87,2%
|
-14.522
|
76,8%
|
23,2%
|
2006
|
37.670
|
12.042
|
49.713
|
63.685
|
86,6%
|
-13.973
|
75,8%
|
24,2%
|
2007
|
40.358
|
14.156
|
54.514
|
68.045
|
86,3%
|
-13.531
|
74,0%
|
26,0%
|
2008
|
40.999
|
14.863
|
55.861
|
73.180
|
86,3%
|
-17.319
|
73,4%
|
26,6%
|
2009
|
33.554
|
13.326
|
46.880
|
59.712
|
84,5%
|
-12.832
|
71,6%
|
28,4%
|
Fonte: Contas Nacionais Preliminares - 2º Trim.2010-INE
Nos cinco anos de governos de Sócrates (2005/2009) o saldo negativo
acumulado da Balança Comercial Portuguesa atingiu -72.176 milhões
segundo o INE, o que corresponde a 84% do défice acumulado da
Balança de Pagamentos durante o mesmo período. Portanto, é
evidente que a causa principal do elevado défice na Balança de
Pagamentos Portuguesa é o saldo negativo na Balança Comercial.
Se analisarmos a composição quer das importações
quer das exportações portuguesas concluímos que o peso
dominante são de bens e não de serviços. Assim, em 2009
por ex., 84,5% das importações e 71,6% das
exportações eram de bens, ou seja, de produtos fundamentalmente
da indústria e da agricultura embora nas importações
esteja incluído o petróleo.
UMA PROFUNDA E CRESCENTE DESINDUSTRIALIZAÇÃO DO PAÍS E
QUEBRA NA PRODUÇÃO AGRICOLA E DA PESCA
Apesar da produção de bens ser fundamental para Portugal para
reduzir o défice da Balança Comercial Portuguesa e,
consequentemente, o endividamento do País, pois eles representaram, em
2009, 71,6% das exportações portuguesas e 84,5% das
importações nacionais (e se se quiser reduzir as
importações há necessidade de aumentar significativamente
a produção de bens nacionais), e apesar deles terem como origem
fundamentalmente a indústria e a agricultura e pescas (excluindo o
petróleo com peso também), tem-se assistido em Portugal a uma
profunda desindustrialização do País e a uma quebra
acentuada na produção agrícola e das pescas, como mostram
os dados do INE e do Banco de Portugal constantes do quadro 4.
Quadro 4 Diminuição da produção industrial e
agrícola em Portugal, e redução do emprego
ANOS
|
VAB
Milhões
|
VAB
em % Portugal
|
EMPREGO
Milhares
|
EMPREGO
% Emprego Total
|
PORTUGAL
|
Agr. e Pesca
|
Indústria Transformadora
|
Agr. e Pesca
|
Indústria. Transformadora
|
Agr. e Pescas
|
Indústria
|
Agr. e Pescas
|
Indústria
|
1999
|
124.316
|
3.979
|
19.978
|
3,2%
|
16,1%
|
623
|
1.107
|
12,6%
|
22,5%
|
2000
|
129.071
|
3.791
|
20.453
|
2,9%
|
15,8%
|
635
|
1.094
|
12,6%
|
21,7%
|
2001
|
132.107
|
3.660
|
20.758
|
2,8%
|
15,7%
|
653
|
1.096
|
12,8%
|
21,4%
|
2002
|
133.167
|
3.770
|
20.738
|
2,8%
|
15,6%
|
637
|
1.052
|
12,4%
|
20,4%
|
2003
|
132.353
|
3.679
|
20.489
|
2,8%
|
15,5%
|
642
|
1.019
|
12,5%
|
19,9%
|
2004
|
134.650
|
3.888
|
20.570
|
2,9%
|
15,3%
|
618
|
1.002
|
12,1%
|
19,6%
|
2005
|
135.511
|
3.673
|
20.343
|
2,7%
|
15,0%
|
606
|
969
|
11,9%
|
19,0%
|
2006
|
137.828
|
3.761
|
20.533
|
2,7%
|
14,9%
|
604
|
980
|
11,8%
|
19,1%
|
2007
|
141.606
|
3.589
|
21.148
|
2,5%
|
14,9%
|
601
|
988
|
11,7%
|
19,3%
|
2008
|
142.331
|
3.759
|
20.438
|
2,6%
|
14,4%
|
596
|
917
|
11,6%
|
17,8%
|
2009
|
138.982
|
3.793
|
18.257
|
2,7%
|
13,1%
|
565
|
852
|
11,3%
|
17,0%
|
Fonte: Contas Nacionais Preliminares -2010-INE; Relatório e Contas
-2009 - Banco de Portugal
Entre 1999 e 2009, o peso da produção da industria transformadora
em Portugal, medido pelo VAB (riqueza produzida) diminuiu em 3 pontos
percentuais (-18,6%), pois passou de 16,1% da produção nacional
para apenas 13,1%. A quebra verificada na produção
agrícola e pesca foi também grande já que diminuiu de 3,2%
para somente 2,7% (-15,6%). A profunda desindustrialização do
País verificada neste período e, em particular, durante os
governos de Sócrates (entre 2004 e 2009, o peso da
produção da Industria Transformadora na produção
nacional diminuiu em -14,4% pois passou de 15,3% para apenas 13,1%) tendo tido
efeitos graves a nível de emprego. Assim, em 1999, a Industria
Transformadora contribuía com 22,5% do emprego total do País; em
2004 era já com 19,6%; e, após 5 anos de governos de
Sócrates, ou seja, em 2009 o emprego na Industria representava apenas
17% do emprego em Portugal. Nos 5 anos de governos de Sócrates foram
destruídos na Indústria Transformadora 255 mil empregos.
A POLITICA DO GOVERNO DE SÓCRATES SÓ PODE LEVAR A UMA MAIOR
DESTRUIÇÃO DA ECONOMIA PORTUGUESA E NÃO RESOLVE O PROBLEMA
MAIS GRAVE ACTUAL
As medidas adicionais anunciadas pelo governo para 2011 (PEC 3) visam reduzir a
despesa pública em 3.121 milhões e aumentar os impostos em
1.734 milhões . Uma análise fina destas medidas revela que
elas vão atingir fundamentalmente os trabalhadores, os pensionistas e os
portugueses a viverem próximo ou mesmo abaixo do limiar da pobreza, e o
investimento público.
Assim, de acordo com os próprios dados do governo constante do
comunicado do Ministério das Finanças, este pretende reduzir as
despesas com os trabalhadores da Função Pública em 1.040
milhões , congelando carreiras, congelando as
remunerações de 400.000 trabalhadores e cortando entre 3,5% e 10%
nas remunerações dos restantes 250.000 trabalhadores. E isto
apesar de desde 2000, com excepção de 2009, ano de
eleições em que as remunerações dos trabalhadores
da Função Pública aumentaram mais do que a
inflação, em todo os restantes 9 anos os vencimentos destes
trabalhadores ou terem sido congelados ou aumentado menos do que a taxa de
inflação.
O governo pretende também reduzir a despesa pública em mais 1040
milhões congelando as pensões, retirando o Rendimento
Social de Inserção a 100.000 portugueses, eliminando o abono de
família a milhares de famílias. O governo pretende igualmente
diminuir a despesa com o SNS em 520 milhões em 2011, reduzindo as
comparticipações do Estado nos medicamentos, e obrigando os
portugueses a pagar mais pelos mesmos medicamentos, incluindo pensionistas com
pensões inferiores ao limiar de pobreza; pretende igualmente reduzir
drasticamente as despesas com análises e exames médicos
comparticipados pelo Estado limitando drasticamente o seu acesso aos utentes do
SNS. O governo, para conseguir aquela redução da despesa
pública, terá de reduzir também as transferências do
Estado para as Autarquias e para o sistema de ensino, e reduzir ainda mais o
investimento público.
A nível de impostos, Sócrates pretende aumentar principalmente os
que incidem sobre os trabalhadores e as classes mais desfavorecidas da
população. Assim, tenciona subir a taxa normal do IVA de 21% para
23%, um imposto profundamente injusto, que obriga quem tenha um rendimento, por
ex., de 25.000 por mês e um pensionista a receber a pensão
social cujo valor é de 187 por mês, a pagar o mesmo valor em
de imposto quando adquire o mesmo bem. O governo prevê que o
aumento do IVA e taxa sobre os bancos dê um adicional de receita fiscal
que estima em 1040 milhões de acordo com o comunicado do
Ministério das Finanças. Como o IVA deverá dar um
acréscimo de receita de 972 milhões , isso significa que o
governo prevê que a taxa sobre a banca dê uma receita de apenas 68
milhões . A nível dos benefícios fiscais sucede o
mesmo. O governo prevê que a redução dos benefícios
fiscais às famílias (nas despesas de educação e de
saúde) e às empresas dê um aumento de receita 694
milhões . Como se estima que a parcela das famílias
corresponda a cerca de 400 milhões caberá as empresas
apenas 294 milhões .
Em resumo, a nível de aumento de impostos, o governo prevê,
segundo o comunicado do Ministério das Finanças, uma subida de
1734 milhões de receita, sendo 79% (1.371 milhões )
das famílias (fundamentalmente trabalhadores, pensionistas, e
portugueses a viverem no limiar da pobreza) e apenas 21% (362 milhões
) das empresas.
Estas medidas provocarão certamente um agravamento ainda maior da
injustiça fiscal e das desigualdades sociais em Portugal, determinando
também uma forte contracção do mercado interno, o que
levará a uma diminuição ainda maior do investimento, a que
se junta o corte no investimento público também anunciado pelo
governo, o que certamente causará a falência de centenas, para
não falar de milhares de empresas, principalmente PMEs a que se
juntarão também grandes empresas, com o consequente disparar do
emprego e destruição crescente da economia. Este facto
determinará certamente o aumento do défice e a contínua
subida rápida do endividamento externo. E a gravidade desta
situação ainda se torna maior se se tiver presente que devido
à baixa taxa de poupança das famílias (em Portugal, foi
apenas 8,8% do rendimento disponível em 2009, quando a média da
UE27 atingiu 13,7%) determinada pelo crescimento anémico da economia
portuguesa e pelo elevado desemprego, o País está impedido a
recorrer ao endividamento interno para cobrir uma grande parte das suas
necessidades de financiamento, o que contribui também para acelerar
ainda mais a necessidade de recorrer ao crédito externo, e de endividar,
para se financiar e poder funcionar. É um circulo vicioso de
destruição da economia, de agravamento social, de aumento da
miséria e de continuo crescimento da divida ao estrangeiro que esta
politica inevitavelmente conduzirá.
É por isso que afirmamos que os sacrifícios que estão a
ser impostos serão inúteis, porque no fim o País ainda
estará mais endividado que actualmente, ainda mais nas mãos dos
credores externos, com a economia mais destruída, e com muitos mais
portugueses a viverem na miséria. Os chamados mercados, cujos principais
actores são os bancos e os fundos, depois aumentarão ainda mais
as taxas de juro porque com a economia destruída e sem crescimento
económico naturalmente considerarão que Portugal terá
dificuldades maiores em pagar o que pede emprestado.
É urgente inverter esta politica de marcha acelerada para o abismo que a
miopia, a ausência de pensamento próprio, e a falta de
visão de futuro do governo de Sócrates, da direita, e da
Comissão Europeia estão a conduzir o nosso País e muitos
países das UE.
05/Outubro/2010
Economista,
edr2@netcabo.pt
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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