Número de médicos no SNS diminui em 800
Precariedade dispara na administração pública
Apesar dos aumentos das remunerações, o seu poder de
compra continua inferior ao de 2010
A DGAEP, do Ministério da Modernização do Estado e da
Administração Pública, acabou de publicar as
Estatísticas do Emprego Público referentes ao 4º Trim.2020.
Estes dados oficiais permitem fazer uma análise objetiva da
situação dos trabalhadores e da capacidade da
Administração Pública para responder aos graves problemas
e desafios que os portugueses enfrentam. É o que vamos fazer.
Durante o governo PSD/CDS, com a "troika", portanto entre dez.2011 e
set.2015, o número de trabalhadores da Função
Pública sofreu uma redução muito grande (78.328). As
categorias profissionais mais atingidas com esta redução, para
reduzir o défice, foram a de dirigentes intermédios (-757); a dos
Técnicos superiores (-2.717); a dos Assistentes Técnicos
(-12.906); a dos Assistentes operacionais (-21.527); a dos Docentes do ensino
Politécnico (-1850); a dos Educadores de infância e professores do
ensino básico e secundário (-26.295); a de enfermeiros (-1431);
as Forças Armadas (-4.536) e a PSP (-1001). Esta redução
significativa do número de trabalhadores determinou uma profunda
degradação dos serviços públicos prestados à
população (saúde, educação, segurança
de pessoas e bens, etc.).
O governo PS (set.2015/dez.2020) procurou reduzir a destruição a
que tinha sido sujeita toda a Administração Pública no
período anterior, mas só conseguiu em parte como mostram os dados
do quadro 1. E isto porque dos 78.328 trabalhadores que tinham sido eliminados
da Administrações Públicas entre dez.2011 e set.2015,
só contrataram, até dez.2020, 69.365, faltando para ter o mesmo
número que existia no início do governo PSD/CDS, 8.962.
trabalhadores. As categorias profissionais mais beneficiadas por esta nova
política de pessoal foram a dos Dirigentes intermédio (+2504); a
dos Técnicos superiores (+15.988); a dos Assistentes Técnicos
(+4.483); a dos Assistentes operacionais (+10.623), a dos professores (+20.024)
e a dos profissionais de saúde (+17.090). No período mar.2020 a
dez.2020, portanto no período da pandemia há a registar de
negativo a redução do número de médicos (-800) e a
das Forças de segurança (-939).
OS CONTRATOS A PRAZO DISPARARAM NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E
CRESCE A PRECARIEDADE
Uma das promessas do atual governo era reduzir a precariedade no país, o
que é extremamente importante, pois os contratos a prazo significam
salários ainda mais baixos, precariedade no emprego, e ausência de
uma carreira e de um futuro com um mínimo de segurança. No
próprio "
Plano de Recuperação e Resiliência"
(a "bazuca) o governo incluiu uma "
Agenda de promoção do trabalho digno
" a que atribuiu 230 milhões (pág. 71). No entanto escreve
uma coisa e faz outra como provam as "Estatísticas de Emprego
Público" que acabaram de ser divulgados e cujos dados de contratos
a prazo em toda a Administração Pública constam do quadro
2.
Apesar do
PREPAV- Regularização extraordinária de vínculos
laborais
precários
, que permitiu a milhares de trabalhadores que estavam com contratos a prazo
há muitos anos passarem a ter contratos por tempo indeterminado
terminado em 2019, a precariedade disparou novamente nas
Administrações Públicas com o aumento de 20,6% dos
contratos a prazo apenas num ano. Não é desta forma que o Estado,
com este exemplo que dá ao setor privado, combate a precariedade.
Voltou-se ao período pré-PREPAV, ao período em que o
próprio governo reconhecia que era uma situação
inaceitável. Entre 2019 e 2020, os contratos a prazo aumentam de 10,6%
para 12,5%
APESAR DA ELIMINAÇÃO DOS CORTES SALARIAIS E DAS SUBIDAS DE NIVEL
NA TABELA DE REMUNERAÇÕES POR FORÇA DO SIADAP, O PODER DE
COMPRA ATUAL DAS REMUNERAÇÕES E DOS GANHOS
BRUTOS
(antes de quaisquer descontos) CONTINUA INFERIOR AO DE 2010
Para mostrar a forma como os trabalhadores das Administrações
Públicas, apesar de estarem na frente do combate do COVID, defendendo a
vida dos portugueses; apesar de serem eles que garantem que os apoios cheguem
às famílias e às empresas, e de serem eles que
terão de garantir que serão implementados os planos de
recuperação do país (Portugal 2020, PRR, Programa
Plurianual 2021/2027) com rapidez; repetindo, apesar de serem um elemento
fundamental no combate à grave crise de saúde e à
recuperação do país, e fundamentais para que os fundos
comunitários cheguem á economia as suas condições
de vida e remunerações degradam-se.
O quadro 3 permite analisar a evolução do poder de compra da
remuneração base média bruta e do ganho médio
mensal bruto, portanto antes de deduzir os descontos para a ADSE, CGA/SS e IRS,
mas deduzindo apenas o efeito corrosivo do aumento de preços entre 2010
e 2020. E a degradação é clara.
Mesmo não deduzindo os descontos
ADSE, CGA ou Segurança Social e IRS
e só entrando com o aumento de preços, o poder de compra
em 2020 das
remunerações e dos ganhos brutos
é inferior ao de 2010 para a quase totalidade das categorias
profissionais (colunas a laranja).
Em média a redução é .-3,6% na
Remuneração bruta e de -2% no Ganho bruto- Há categorias
onde é maior
A DIMINUIÇÃO DO PODER DE COMPRA DA REMUNERAÇÃO
MEDIA
LÍQUIDA
ENTRE 2010/2020
O quadro 4, já com remunerações líquidas, ou seja,
após deduzidos todos os descontos
(ADSE,CGA/SS e IRS), e também o efeito corrosivo do aumento de
preços entre 2010 e 2020, revela uma situação mais grave,
pois
a descida do poder compra das remunerações líquidas
é muito maior.
E tenha-se presente que o que se leva para casa não são
remunerações brutas, mas sim as líquidas
(após todas as deduções).
Como revelam os dados do quadro 4, que são os divulgados pela DGAEP, do
Ministério da Modernização do Estado e da
Administração Pública, o poder da
Remuneração base média
líquida
dos trabalhadores de todas as Administrações Públicas era
em 2020, inferior ao de 2010, em 10%. No entanto, esta redução
era de -10,3% na Administração Central, de -6,7% na
Administração Regional e -7,1 na Administração
Local. E variava também muito por categorias profissionais. Por ex. a
redução do poder de comprar nos médicos, entre 2010/2020,
é de -16,5%, enquanto nos Assistente Operacionais registava-se um
aumento de +2,6% devido apenas ao efeito do aumento do salário
mínimo nacional.
20/Fevereiro/2021
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