Putin desafia os maltusianos:
A energia de fusão é uma prioridade nacional para a Rússia
Num
discurso em 9 de Julho
na
2ª Cimeira Global de Produção e
Industrialização
em Yekaterinburg, Rússia, o presidente Putin fez uma brilhante
intervenção quanto à falta de visão da ética
anti-crescimento (e anti-humana) característica da ordem mundial
neoliberal e declarou que a liderança da Rússia na energia de
fusão é uma prioridade nacional.
Falando a 2500 representantes dos sectores público e privado, o
Presidente Putin expôs o paradoxo da necessidade de desenvolvimento da
humanidade, a qual muitas vezes vem a expensas da saúde da biosfera, ao
dizer:
"Ainda não está claro como combinar o desenvolvimento a
longo prazo e o fortalecimento da produção preservando ao mesmo
tempo a natureza e altos padrões de vida".
Ao atacar os tecnocratas anti-crescimento que promovem uma travagem do
progresso e a diminuição da população mundial,
Putin afirmou: "Isto gera
apelos pelo abandono do progresso o que possibilitará, na melhor das
hipóteses, perpetuar a situação e criar bem-estar local
para uns poucos selectos.
Mas,
ao mesmo tempo, milhões de pessoas teriam de se conformar com o que
têm hoje, ou seria mais apropriado dizer com o que não têm
hoje: acesso à água potável, alimentação,
educação e outros aspectos básicos da
civilização".
Afastando-se desta cosmovisão cínica, Putin afirmou que "
é impossível e inútil tentar impedir o progresso humano.
A questão é
em que base pode este progresso ser construído realistamente a fim de
alcançar as metas de desenvolvimento do milénio estabelecidas
pelas Nações Unidas?"
Respondendo a sua própria pergunta, Putin expôs o importante
papel do poder da [energia da] fusão como o fundamento para uma
harmonização entre o reino da natureza (a biosfera) e o
âmago da razão criativa (a tecnosfera):
"soluções científicas, de engenharia e de
fabricação super-eficientes nos ajudarão a estabelecer um
equilíbrio entre a biosfera e a tecnosfera... a energia da fusão
a qual, de facto, é semelhante à produção de calor
e luz na nossa estrela, o sol, é um exemplo de tais tecnologias
naturais".
Putin prosseguiu descrevendo o papel condutor do Instituto Kurchatov, o qual
já iniciou um projecto sobre reactores híbridos de
cisão-fusão
(fission-fusion)
e que estarão operacionais em 2020, bem como o seu papel no impulsionar
da ciência avançada. Esta será uma força criativa
para o programa do
International Thermonuclear Experimental Reactor (ITER),
em França, que está programado para entrar em serviço, com
o seu primeiro plasma, em 2025.
A recuperação de um paradigma esquecido
Outrora, discursos como este de Putin eram comuns no Ocidente, quando o
progresso científico/tecnológico era reconhecido como a base de
existência para a civilização.
Mas isto foi antes de ter sido criada a "nova moralidade" na esteira
da
contracultura do sex-drugs-rock and roll
de 1968. O "velho paradigma obsoleto da família nuclear" que
Woodstock procurou substituir reconheceu a simples verdade de que
"uma vez que todos nós um dia estaremos mortos, para que servem
nossas vidas se não deixarmos algo melhor para nossos filhos e para
aqueles que ainda não nasceram?
Este era o fundamento para a fé no progresso científico e
tecnológico que animou o combate da humanidade contra o fascismo na
Segunda Guerra Mundial e o lançamento da humanidade para além dos
seus limites, explorando o espaço e os segredos do átomo.
O presidente da Comissão de Energia Atómica, Lewis Strauss,
exprimiu esta ética brilhantemente em 1958, quando disse:
"Espero viver o suficiente para ver a mesma força natural que
impulsiona a bomba de hidrogénio domada para fins pacíficos. Um
grande avanço pode ocorrer amanhã ou daqui a uma década.
Dos nossos laboratórios pode sair uma descoberta tão importante
quanto o domínio do fogo de Prometeu".
Por que ainda não alcançámos a fusão?
A questão válida ainda permanece:
Se os estadistas e os formuladores das políticas dominantes durante os
anos pós Segunda Guerra Mundial acreditaram tão profundamente no
poder da fusão, por que não atingimos os grandiosos objectivos,
como a fusão, definidos como metas nacionais na década de 1980 ou
antes?
O modo mais simples de dizer isto é que os maltusianos venceram.
A década de 1970 viu o Ocidente sofrer um subtil golpe de Estado com a
eliminação de todos os líderes nacionalistas comprometidos
na defesa das suas populações contra o ressurgimento de uma
oligarquia financeira. Muito recentemente
esta oligarquia fracassara
em conseguir a dominação mundial sob Hitler e Mussolini. Depois
de o último bastião de resistência a este golpe ter sido
morto
com o assassinato de Bobby Kennedy e Martin Luther King, em 1968,
organizações não-governamentais foram rapidamente
constituídas para anunciar uma nova ética sob a
orientação do 1001 Club, do Clube de Roma e do World Wildlife
Fund. Estas organizações estavam cheias de antigos eugenistas e
imperialistas como o príncipe Bernhard da Holanda (fundador do 1001
Nature Trust e do Bilderberg Group), o seu amigo príncipe Philip
Mountbatten e sir Julian Huxley. Todos os três oligarcas foram
co-fundadores do
World Wildlife Fund
.
Os referidos grupos financiaram uma nova "ciência dos limites"
a fim de promover a ideia de que a maior ameaça à humanidade era
a própria humanidade, ao invés da escassez, da guerra, da fome ou
de qualquer outro subproduto do imperialismo tal como se acreditava
anteriormente. O príncipe Philip incorporou esta ética elitista
descaradamente quando disse em 1980:
"O crescimento da população humana é provavelmente a
mais séria ameaça à sobrevivência a longo prazo.
Estamos à beira de um grande desastre se não for contido...
Não temos opção".
Um dos primeiros maltusianos a ganhar o controle da política dos EUA
durante este período foi Henry Kissinger, que afastou os EUA de uma
política de apoio ao desejo de progresso industrial das antigas
colónias e [defendeu] uma política de controle populacional no
seu
relatório NSSM 200 de 1974
. Ali se diz:
"A economia dos EUA exigirá grandes e crescentes quantidades de
minerais do exterior, especialmente de países menos desenvolvidos.
Esse facto dá aos EUA o maior interesse na estabilidade política,
económica e social dos países fornecedores.
Onde quer que a diminuição de pressões populacionais
através da redução das taxas de natalidade possa aumentar
as perspectivas de tal estabilidade, a política populacional torna-se
relevante para o abastecimento de recursos e para os interesses
económicos dos Estados Unidos... Embora a pressão populacional
obviamente não seja o único factor envolvido, estes tipos de
frustrações são muito menos prováveis sob
condições de crescimento lento ou nulo da
população".
Kissinger foi acompanhado por outro maltusiano chamado George Bush Sr.,
então um congressista que presidia uma
Força Tarefa sobre a Terra, Recursos e População, o qual
em 8 de Julho de 1970 disse:
"É quase auto-evidente que quanto maior a população
humana, maiores as demandas por recursos naturais
A questão
primordial refere-se a uma população humana [de dimensão]
óptima.
Quantas pessoas são demasiadas em relação aos recursos
disponíveis?
Muitos acreditam que nossos actuais problemas ambientais indicam que o
nível óptimo foi ultrapassado".
Assim como Sir Kissinger e Sir Bush (foram condecorados em 1995 e 1993,
respectivamente) reposicionaram a América rumo a uma agressiva
política externa anti-crescimento para países do terceiro mundo,
uma política de desindustrialização estava em andamento
também dentro dos próprios Estados Unidos pois o sector produtivo
de máquinas-ferramenta e o sistema de pequenas/médias empresas
agro-industriais estava a ser desmantelado como preparação para
uma era de globalização neoliberal. Para assegurar que fosse
mantida a nova ética de "adaptar-se aos limites" ao
invés de tentar transcender estes limites com novas descobertas,
programas tais como o programa espacial Apolo foram cancelados por
"razões orçamentais" seguidos logo após por um
deliberado enfraquecimento dos ambiciosos programas de energia da fusão
que haviam sido desencadeados durante a década de 1950 e cujo
orçamento subiu de US$114 milhões em 1958 para US$140
milhões em 1968. O orçamento continuaria a subir com conquistas
recordes lideradas pelo
Laboratório de Física de Plasmas de Princeton
que rompeu a marca dos 44 milhões de graus para iniciar fusão em
1978 e rompeu recordes internacionais ao alcançar um plasma de 200
milhões de graus em 1986.
Ao invés de financiar a fusão e encorajar a
construção de novas concepções e protótipos
tão necessários a esta transformação da sociedade,
ocorreu o oposto, como um subfinanciamento sistémico e o colapso de
visão que levou à desmoralização de cientistas
nucleares que não podiam executar seus experimentos. Ao abandonar seu
posto como Director de Fusão do Departamento de Energia dos EUA em
protesto contra a sabotagem, Ed Kintner disse que
"deixa o programa de fusão sem uma espinha dorsal
estratégica é uma colecção de projectos e
actividades individuais sem uma missão definida ou cronograma... O plano
para aumentar o envolvimento da indústria no desenvolvimento da
fusão é adiado indefinidamente e os benefícios industriais
e económicos dos desdobramentos (spin-offs) da alta tecnologia,
certamente um subproduto cada vez mais importante de um programa acelerado de
tecnologia de fusão, serão perdidos".
Indicativo da filosofia desonesta utilizada para justificar a
rejeição americana da investigação da fusão,
um dos pais do revivalismo neo-maltusiano, Paul Ehrlich que em 1968 escreveu a
Bomba Populacional,
disse
numa entrevista de 1989
que fornecer energia barata e abundante para a humanidade era "
como dar uma metralhadora para uma criança idiota".
Um seu discípulo e co-autor de Ehrlich que se tornou o "czar da
ciência" sob Barak Obama foi o biólogo John Holdren, o qual
em 1969 escreveu:
"A decisão a favor do controle populacional será contrariada
por economistas e empresários preocupados com o crescimento, por homens
de Estado nacionalistas, por líderes religiosos apaixonados e pelos
míopes e bem alimentados de toda espécie.
Cabe portanto a todos os que sentem as limitações da tecnologia e
a fragilidade do equilíbrio ambiental fazerem-se ouvir acima do coro
vazio e optimista convencer a sociedade e seus líderes de que
não há alternativa senão a cessação do nosso
crescimento populacional irresponsável, que exige tudo e tudo
consome".
A morte imanente do maltusianismo
O presidente Putin afirmou recentemente, em
entrevista concedida ao Financial Times em 27 de Junho
, que a ordem neoliberal a qual definiu o Ocidente nas últimas
décadas é obsoleta. Com seu forte apoio à energia da
fusão e um retorno a uma política de crescimento industrial
global ao lado da
Iniciativa da Estrada da Seda
(Belt and Road),
o Presidente Putin identificou claramente a visão de mundo neo-maltusiana
como entrelaçada no tecido do liberalismo. Assim como o liberalismo nega
verdades objectivas de princípio em favor da opinião popular, o
neo-maltusianismo só pode prosperar quando um "consenso" de
pessimismo cega suas vítimas à verdade da capacidade natural da
humanidade de fazer constantes descobertas intencionais e traduzir tais
descobertas em novas tecnologias que levem a nossa espécie a sempre
maiores estados de potencial (material, moral e cognitivo).
Enquanto o animal maltusiano está comprometido com a crença de
que a humanidade só pode se adaptar à escassez sob um sistema
fechado de recursos fixados por elites privilegiadas, humanistas como Putin e
Xi Jinping reconhecem que a natureza da espécie humana não se
encontra na carne, mas nos poderes da mente que nos caracterizam como uma
espécie única capaz de fazer descobertas sem fim num universo
criativo crescente que pode ser caracterizado da mesma maneira que Beethoven
descreveu sua música:
tão rigorosa quanto é livre.
Esta declaração simples reflecte uma verdade poderosa que os
liberais e maltusianos não suportam: O poder natural de mudança
criativa do universo que pode ser descoberto pelo poder amadurecido da
razão criadora permitida pela coexistência da legalidade e da
liberdade sob a condição única de harmonizarmos nossas
vontades e razão pelo amor à verdade e aos nossos semelhantes.
16/Julho/2019
[*]
Jornalista de investigação, autor de
The Untold History of Canada
, fundador da
Canadian Patriot Review
e co-fundador da
Rising Tide Foundation
.
O original encontra-se em
www.strategic-culture.org/...
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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