Banqueiro macabro. Economia
comediática
por Armando Labra M.
Acaba de assumir a presidência do Banco Mundial um dos personagens mais
sinistros da política estadunidense, plenamente conhecido pela sua
arrogante postura favorável à absurda guerra do Iraque, mas
não tanto pela sua longa história de influência
ultradireitista em matéria de segurança nacional e
política exterior -- e outras guerras preventivas -- desencadeadas pelo
seu país.
Contraparte ideológica do seu antecessor, Paul Wolfenshon, outro
personagem de lupino nome e do mesmo actuar, agora é aceite como titular
do Banco Mundial pela União Europeia (de má vontade e com
resmungos) e, acreditam?, apoiado furiosamente pelo governo mexicano!
Isto é o que se passa enquanto estamos distraídos com as
futilidades do desaforo. Deixamo-las passar, tal como as incessantes
declarações sobre quão bem está a economia. Agora,
como nunca, temos una economia estritamente mediática, esplêndida,
mas só nos jornais e na TV, que se torna
comediática
quando o presidente Fox se lembra de divulgar alguma notícia sobre
temas que claramente não entende. De falaz, a economia converte-se
assim em comédia e ocasionalmente em farsa cómica. De vez em
quando alguém quase se ri.
Mas regressemos ao flamante chefe do Banco Mundial. Acabo de ler um livro que
em grande medida explica o que vem acontecendo há décadas nos
Estados Unidos em matéria de segurança nacional e que ajuda a
esclarecer a história e a ascensão de Wolfowitz. Trata-se de
The Rise of the Vulcans
, escrito por James Mann para a editorial Viking-Penguin e registado com o ISBN
0-670-03299-9.
O enigmático título refere-se à prolongada, tenaz e
efectiva configuração do actual gabinete de guerra de Bush II.
Trata-se de um grupo autobaptizado Vulcano porque pretende forjar o futuro dos
Estados Unidos inspirado numa estátua do povo de Birmingham, Alabama.
Uma homenagem sensível: ali nasceu um dos seus distintos membros e
talvez o de maior influência política: Condoleezza Rice,
até há pouco conselheira de Segurança e actual
secretária de Estado do governo estadunidense.
O grupo é completado pelo vice-presidente Richard Cheney, pelo
ex-secretário de Estado Colin Powell, pelo subsecretário da
Defesa Paul Wolfowitz, agora flamante banqueiro mundial, bem como pelo
secretário da Defesa Donald Rumsfeld e o seu braço direito,
Richard Armitage. Este pequeno grupo veio-se formando, no caso de Powell e
Armitage, desde a guerra do Vietnam. Os demais evadiram-se ao recrutamento ou
eram então demasiado jovens, como Rice. O traço essencial do
grupo é que, ainda que nem sempre tenham coincidido, costumam unir
forças sobre temas cruciais sempre do lado mais conservador
possível dentro do Partido Republicano.
A partir de Ronald Reagan ganham proeminência e vão conseguindo
algo insólito: derrotar Henry Kissinger não só no plano
burocrático, como até no conceptual. Com efeito, Kissinger havia
montado uma doutrina aplicável à segurança nacional
estadunidense, assente numa rede dinâmica de equilíbrios
internacionais que asseguravam a paz e a estabilidade sob o comando real dos
Estados Unidos o comando aparente da comunidade mundial.
A investida dos vulcanos conseguiu impor a doutrina Powell, que é
consideravelmente mais lapidar nas suas três vertentes essenciais: a
única forma de ter e manter a hegemonia estadunidense é
manifestando uma arrasadora superioridade militar que dissuada qualquer
oponente, intervir em conflitos de forma esmagadora, instalar vias para a
democracia e sair o quanto antes das zonas invadidas.
Com isto dava-se como morto o multilateralismo -- e a influência da ONU
-- e ganhava supremacia o unilateralismo que caracteriza os tempos que vivemos.
O ideólogo da doutrina Powell?, já adivinharam: Wolfowitz, o
mais intelectual dos vulcanos. A doutrina funcionou? Os resultados
estão à vista.
O ambicioso grupo estimulou Washington a adoptar a doutrina Powell a partir do
êxito obtido em Granada e no Panamá, que, como sabemos, são
dois países de escala muito reduzida onde foi aplicada pela primeira vez
a nova estratégia arrasadora de Estados Unidos. Desde então, no
Afeganistão e no Iraque não houve mudança e por
trás de cada acção de Powell e dos vulcanos esteve o
talento macabro do novo presidente do Banco Mundial, Paul Wolfowitz,
reconhecido pelo seu carácter intolerante e impositivo e porque sabe
muito de guerras e nada de banca e menos ainda de desenvolvimento. Sua
carreira também está à vista.
Assim actua George Bush; nós naturalmente aplaudimos e nos dedicamos ao
que é nosso, que é o importante: à alta,
visionária e profunda, política nacional!
04/Abr/05
O original encontra-se em
http://www.jornada.unam.mx/2005/abr05/050404/018a1pol.php
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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