NED, a janela legal da CIA
por Thierry Meyssan
Desde há 30 anos, a National Endowment for Democracy (NED), tem sido
subcontratada para a parte legal das operações ilegais da CIA.
Sem despertar suspeitas, pôs em prática a maior rede de
corrupção do mundo, subornando sindicatos,
associações patronais, partidos políticos, tanto da
direita e como da esquerda para defenderem os interesses dos EUA em vez de
defenderem os dos seus associados. Neste artigo descreve-se a extensão
deste sistema.
Em 2006, o Kremlin denunciou a proliferação de
associações estrangeiras na Rússia, algumas das quais
participaram de um plano secreto, orquestrado pelo NED, para desestabilizar o
país. Para evitar uma "revolução colorida",
Vladislav Surkov elaborou uma estrita regulamentação sobre estas
organizações não-governamentais (ONGs). No Ocidente, esse
quadro administrativo foi descrito como um "ataque à liberdade de
associação por Putin, o "Ditador" e pelo seu
conselheiro.
Esta política tem sido seguida por outros Estados os quais, por sua vez,
são rotulados pela imprensa internacional como dominados por
"ditadores".
O governo dos EUA alega que o Congresso pode subsidiar a NED e que a NED pode,
por sua vez e de forma totalmente independente, ajudar direta ou indiretamente,
associações, partidos políticos ou sindicatos, em todo o
mundo. As ONGs, sendo, como seu nome sugere,
"não-governamentais" podem tomar iniciativas políticas
que embaixadores não poderiam assumir sem violar a soberania dos Estados
que os recebem. O cerne da questão encontra-se aqui: a NED e a rede de
ONGs que financia são iniciativas da sociedade civil injustamente
reprimidas pelo Kremlin ou uma cobertura para os serviços secretos dos
EUA apanharem os povos de mãos atadas com a sua ingerência?
Para responder a esta pergunta, vejamos as origens e funções do
NED. Mas o nosso primeiro passo será analisar o significado deste
projeto oficial dos EUA: "exportar a democracia".
Que democracia?
Os EUA, como povo, subscreve a ideologia dos seus fundadores. Pensam de si
mesmos como uma colónia que veio da Europa para estabelecer uma cidade
obedecendo a Deus. Eles vêem o seu país como "uma luz na
montanha" nas palavras de S. Mateus, adotada desde há dois
séculos pela maioria dos seus presidentes nos seus discursos
políticos. Os EUA seriam uma nação modelo, brilhando no
topo de uma colina, iluminando o mundo inteiro. E todas as outras pessoas no
mundo gostariam de emular este modelo para alcançar o seu bem-estar.
Para o povo dos Estados Unidos, esta crença muito ingénua implica
que o seu país é uma democracia exemplar e que têm um dever
messiânico de impô-la ao resto do mundo. (
)
Impregnado por essa mitologia nacional, o povo dos Estados Unidos não
percebe que a política externa de seu governo é uma forma de
imperialismo. (
) Por exemplo, aprendem na escola, que levaram a
democracia para a Alemanha, não sabem que os factos históricos
indicam o oposto: seu governo ajudou Hitler a derrubar a República de
Weimar e criar um regime militar para combater os soviéticos. Esta
ideologia irracional impede-os de contestar a natureza das suas
instituições e o absurdo conceito de "democracia pela
força".
De acordo com o presidente Abraham Lincoln, a "democracia é o
governo do povo, pelo povo para o povo". Deste ponto de vista, os Estados
Unidos não são uma democracia, mas um sistema híbrido onde
o poder executivo está voltado para a oligarquia, enquanto as pessoas
limitam este exercício arbitrário através de poderes
legislativos e judiciais que podem controla-lo.
Com efeito, enquanto o povo elege o Congresso e alguns juízes,
são os Estados da Federação que elegem o poder executivo e
este último nomeia os juízes de mais alto escalão. Embora
os cidadãos tenham sido chamados para determinar a escolha do
Presidente, seu voto nesta matéria só funciona como uma
ratificação, como o Supremo Tribunal salientou em 2000, em Gore
versus Bush. A Constituição dos EUA não reconhece que o
povo é soberano, porque o poder é dividido entre o povo e uma
Federação de Estados, por outras palavras, entre os
líderes dessas Comunidades. (
)
Nos últimos trinta anos, esta contradição foi suportada
pela NED e à qual foi dada uma forma específica como
desestabilizador de numerosos Estados. Com um sorriso, milhares de ativistas e
ONG tornadas credíveis têm violado a soberania popular.
Em 1982, Ronald Reagan estabeleceu a NED em parceria com o Reino Unido e
Austrália, para derrubar o "Império do mal".
Uma fundação pluralista e independente
No seu famoso discurso em 8 de junho de 1982 no Parlamento britânico, o
Presidente Reagan denunciou a URSS como "o Império do mal" e
propôs-se ir em auxílio dos dissidentes lá e em quaisquer
outros lugares. Ele declarou: "Precisamos criar a infraestrutura
necessária para a democracia: a liberdade de imprensa, sindicatos,
partidos políticos e universidades. Isto permitirá para as
pessoas a liberdade de escolher o melhor caminho para eles para desenvolverem a
sua cultura e para resolver suas disputas pacificamente". Nesta base
consensual da luta contra a tirania, uma Comissão de reflexão
bipartidária patrocinou a criação da NED em Washington,
criada pelo Congresso em novembro de 1983 e imediatamente financiada.
A Fundação subsidia quatro estruturas independentes que
redistribuem dinheiro no exterior, tornando-o disponível para
associações, sindicatos, membros da classe dominante e partidos
da direita e da esquerda:
-
Free Trade Union Institute (FTUI), atualmente renomeado American Centre for
International Labour Solidarity (ACILS), gerido pela central sindical AFL-CIO;
-
Centre for International Private Enterprise (CIPE), gerido pela Camara de
Comércio dos EUA
-
International Republican Institute (IRI), gerido pelo Partido Republicano
-
National Democratic Institute for International Affairs (NDI), gerido pelo
Partido Democrata.
Apresentado desta forma, a NED e os seus quatro tentáculos parecem estar
ancorados na sociedade civil, refletindo a diversidade social e o pluralismo
político. Financiado pelo povo dos EUA, pelo Congresso, estariam a
funcionar para um ideal universal. Seriam completamente independentes da
administração presidencial e a sua ação
transparente não poderia ser uma máscara para
operações secretas, servindo interesses não declarados. A
realidade é completamente diferente.
Um drama produzido pela CIA, MI6 e ASIS
O discurso de Reagan em Londres teve lugar na sequência de
escândalos envolvendo revelações em comissões do
Congresso para inquirir sobre golpes sujos da CIA. O Congresso então
proibiu a Agência de organizar mais golpes de Estado para serem
conquistados mercados. Mas enquanto isso, na Casa Branca, o Conselho de
Segurança Nacional (NSC) procurava pôr em prática outros
instrumentos contornar esta proibição. (
)
O Presidente da Comissão bipartidária do Congresso era o
representante especial dos EUA para o comércio, que considerou que a
comissão não visava promover a da democracia, mas, de acordo com
a terminologia corrente, a "democracia de mercado". Este estranho
conceito está de acordo com o modelo político dos EUA: uma
oligarquia económica e financeira que impõe as suas escolhas
políticas através dos mercados e um estado federal, enquanto
parlamentares e juízes eleitos pelo povo protegem as pessoas de um
governo arbitrário.
Três das quatro organizações periféricas do NED
foram formadas na ocasião. No entanto, não havia necessidade de
estabelecer uma quarta, a ACILS. Tinha sido criada no final da segunda guerra
mundial embora tenha mudado de nome em 1978, quando a sua
subordinação à CIA foi desmascarada. Com isso podemos
tirar a conclusão de que a CIPE, IRI e NDI não nasceram
espontaneamente, mas foram projetadas pela CIA.
Além disto, embora a NED seja uma associação sob a lei
americana, não é apenas uma ferramenta da CIA, mas um instrumento
compartilhado com os serviços secretos britânicos (por isso Reagan
anunciou a sua criação, em Londres) e os serviços secretos
australianos. Este ponto-chave é muitas vezes encoberto sem
comentários. No entanto, é validado por mensagens de
felicitações pelos primeiros-ministros Tony Blair e John Howard
por ocasião do 20º aniversário desta assim chamada
"ONG". A NED e seus tentáculos são órgãos
de um pacto militar anglo-saxão, ligando Londres, Washington e Canberra;
o mesmo vale para o Echelon, a rede de intercepção
electrónica, que pode ser utilizada não só pela CIA mas
também pelo MI6 britânico e o australiano ASIS.
Para esconder esta realidade, a NED estimulou entre seus aliados a
criação de organizações similares que trabalham com
ela. Em 1988, o Canadá criou o centro Droits & Démocratie, que
teve um foco especial primeiro no Haiti, depois no Afeganistão. Em 1991,
o Reino Unido estabeleceu a Fundação de Westminster para a
democracia (DQA). O funcionamento deste órgão público
é decalcado da NED. A sua administração é confiada
a partidos políticos (oito delegados: três para o partido
conservador; três para o Partido Trabalhista; um para o Partido Liberal e
outro para os outros partidos representados no Parlamento). A DQA tem
trabalhado sobretudo na Europa Oriental. Desde 2001, a União Europeia
está equipada com um instrumento europeu para a democracia e os direitos
humanos (IEDDH), que desperta menos suspeitas que suas contrapartes. Este
escritório é o EuropeAid, liderado por um alto funcionário
tão poderoso quanto é desconhecido: o holandês, Jacobus
Richelle.
Diretiva presidencial 77
Quando os parlamentares dos EUA votaram a o estabelecimento da NED em 22 de
novembro de 1983, não sabiam que esta já existia em segredo nos
termos da diretiva presidencial de 14 de janeiro. Este documento,
desclassificado somente duas décadas mais tarde, organiza a
"diplomacia pública" uma expressão politicamente
correta para designar "propaganda". A diretiva estabelece na Casa
Branca grupos de trabalho para a NSC. Um destes grupos tem a tarefa de liderar
a NED.
(
)
As coisas, no entanto, não passaram a ser transparentes. A maioria dos
altos funcionários que têm desempenhado um papel central no NSC
foram diretores da NED. Tais são os exemplos de Henry Kissinger, Franck
Carlucci, Zbigniew Brzezinski ou até mesmo Paul Wolfowitz;
personalidades que não permanecerão na história como
idealistas da democracia, mas como cínicos estrategistas de
violência.
O orçamento da NED não pode ser visto isoladamente, porque recebe
instruções do NSC para liderar a ação como parte de
vastas operações onde participam várias agências.
Merece menção que os fundos são libertados pela
International Aid Agency (USAID), sem serem registados no balanço da
NED, simplesmente para não se dizer que é governamentalizada.
Além disso, a Fundação recebe dinheiro indiretamente da
CIA, após ter sido branqueado por intermediários privados como o
Smith Richardson Foundation, o John M. Olin Foundation ou mesmo o Lynde e Harry
Bradley Foundation.
Para avaliar a extensão do presente programa, precisamos combinar o
orçamento do NED com correspondentes itens de orçamentos da
Secretaria de Estado, da USAID, da CIA e do departamento de defesa. Hoje, tal
estimativa é impossível.
No entanto, certos elementos podem nos dar uma ideia de sua importância.
Durante os últimos cinco anos, os Estados Unidos gastaram mais de mil
milhões de dólares em organizações e partidos da
Líbia, um pequeno estado de 4 milhões de habitantes. No geral,
metade deste maná foi lançado publicamente pela Secretaria de
Estado, a USAID e a NED; a outra metade foi secretamente entregue pela CIA e
pela Secretaria da Defesa.
Este exemplo permite-nos extrapolar que o orçamento global para
corrupção institucional dos EUA equivale a dezenas de milhar de
milhões de dólares anualmente. Além disso, o programa
equivalente da União Europeia que é inteiramente público e
prevê a integração com ações dos EUA,
é de 7 mil milhões de euros por ano.
Em última análise, a estrutura jurídica da NED e volume do
seu orçamento oficial são apenas disfarces. Na sua
essência, não é uma organização independente
para ações legais anteriormente confiadas à CIA, mas sim
uma janela através da qual o NSC dá as ordens para
ações legais incluídas nas operações ilegais.
A estratégia trotskista
Quando estava sendo organizada em 1984, a NED foi presidida por Allen
Weinstein, em seguida, por John Richardson durante quatro anos (1984-88),
finalmente por Carl Gershman (desde 1998). Estes três homens têm
três coisas em comum:
-
Estão ligados ao judaísmo;
-
Eram membros ativos no partido trotskista, Trotskyite Party - Social
Democrats USA
-
Haviam trabalhado na Freedom House
Há uma lógica nisto: o ódio ao estalinismo levou alguns
trotskistas a juntarem-se à CIA para lutar contra os soviéticos.
Trouxeram com eles a teoria do poder global transpondo-o para as
"revoluções coloridas" e a
"democratização". Eles simplesmente aplicaram a vulgata
de Trotsky à batalha cultural analisada por Gramsci: o poder
exercido psicologicamente, ao invés de pela força. Para governar
as massas, a elite tem que primeiro inculcar uma ideologia que programe a sua
aceitação do poder que pretende domina-lo.
American Centre for the Solidarity of Workers (ACILS)
Conhecido também como Solidarity Centre, o ACILS é o ramo
sindical da NED, e pode ser considerado como o seu principal canal: distribui
mais de metade dos donativos da Fundação. Substituiu
organizações anteriores que serviram durante a Guerra Fria para
organizar sindicatos não-comunistas pelo mundo, do Vietnam a Angola,
passando pela França e pelo Chile.
O facto de sindicatos serem escolhidos para dar cobertura a este programa da
CIA é de rara perversidade. Longe do lema marxista: Proletários
de todo o mundo, uni-vos", a ACILS junta os sindicatos dos EUA numa
ação imperialista que esmaga trabalhadores de outros
países. Esta subsidiária foi dirigida por Irving Brown, uma
personalidade exuberante, desde 1948 até 1989, ano da sua morte.
Alguns autores garantem que Irving Brown era filho de um "russo
branco", companheiro de Alexander Kerensky. O que sabemos de certeza
é que foi agente do OSS (serviço secreto dos EUA durante a
Segunda Guerra mundial) e que participou na criação da rede
Gladio organização da CIA e da NATO. Contudo recusou-se
lidera-la, preferindo focar-se na área em que era perito, os sindicatos.
Residiu em Roma, depois em Paris, nunca em Washington. Teve portanto um
significativo impacto na vida pública italiana e francesa.
Em 1981 Irving Brown colocou Jean-Claude Mailly como assistente de André
Bergeron secretário-geral da Force Ouvrière (FO). Este
último reconheceu ter financiado as suas atividades graças
à CIA. Em 2004 Mailly tornou-se secretário-geral da FO.
No fim da sua vida, gabou-se de nunca ter deixado de conduzir a central
sindical francesa FO por detrás da cortina, para além de puxar os
cordelinhos da associação estudantil UNI (em que estiveram ativos
Nicolas Sarkozy e os seus ministros François Fillon, Xavier Darcos,
Hervé Morin e Michèle Alliot-Marie, bem como o presidente da
Assembleia Nacional, Bernard Accoyer e o presidente do grupo parlamentar da
maioria Jean-François Copé) e ter formado pessoalmente membros de
um grupo trotskista dissidente que incluíam Jean-Christophe Cambadelis e
o futuro primeiro-ministro Lionel Jospin.
No final dos anos noventa, membros da Confederação AFL-CIO
pediram contas da atividade real do ACILS, quando o seu caráter
criminoso havia sido totalmente documentado em vários países.
Poderia pensar-se que as coisas mudariam após esta
exibição de provas. Nada disso ocorreu. Em 2002 e 2004, ACILS
participou ativamente num fracassado golpe de Estado na Venezuela para derrubar
o presidente Hugo Chávez e noutro com sucesso no Haiti para derrubar
Jean-Bertrand Aristide. Atualmente, o ACILS é dirigido por John Sweeney,
o ex-presidente da Confederação, AFL-CIO, que por sua vez
é ele próprio originário do Trotskyite Party - Social
Democrats USA.
Centre for International Private Enterprise (CIPE)
A CIPE centra-se na divulgação da ideologia liberal capitalista e
luta contra a corrupção. O primeiro sucesso da CIPE: transformar
em 1987 o European Management Forum (um clube de CEOs das grandes empresas
europeias) no World Economic Forum (o clube da classe dominante transnacional).
Esta grande reunião econômica e política anual de
"quem é quem" no mundo, realiza-se na estância de esqui
de Davos na Suíça, contribui para a criação
de uma associação de classe que transcende a identidade nacional.
CIPE certifica-se de que não tem nenhum vínculo estrutural com o
fórum de Davos, e não foi possível até o
momento provar que o Fórum Econômico Mundial é um
instrumento da CIA. Mas pelo contrário, os chefes de Davos teriam muita
dificuldade em explicar por que certos líderes políticos teriam
escolhido o Fórum econômico como o lugar para atos da maior
importância se não houvesse operações planeadas pelo
NSC norte-americano.
Por exemplo:
-
1988: foi em Davos não na ONU que a Grécia e a
Turquia fizeram as pazes.
-
1989: foi em Davos, que as duas Coreias, realizaram sua primeira
reunião a nível ministerial e as duas Alemanhas realizaram sua
primeira reunião sobre a reunificação.
-
1992: é novamente em Davos que Frederik de Klerk e Nelson Mandela
libertado se reúnem para apresentar o seu projeto comum para a
África do Sul pela primeira vez no exterior.
-
1994: ainda mais improvável, é em Davos, após o acordo
de Oslo, que Shimon Peres e Yasser Arafat vêm negociar e assinar seu
acordo para Gaza e Jericó.
A ligação entre Washington e o Fórum é
notória através de Susan K. Reardon, ex-diretora da Association
of Professional Employees of the Department of State tendo-se tornado diretora
da Fundação da Câmara de Comércio dos EUA que gere a
CIPE.
Outro sucesso da CIPE é a Transparency International, uma
"ONG" oficialmente estabelecida por Michael J. Hershman, um oficial
dos serviços secretos militares dos EUA. Além disso, é um
dos diretores da CIPE e líder do serviço de recrutamento de
informadores do FBI, bem como administrador do serviço de
segurança e investigação privado Fairfax Group.
Transparency International é a primeira e principal cobertura para as
atividades de espionagem económica da CIA. É também uma
ferramenta para a comunicação social para obrigar os Estados a
alterar a sua legislação garantindo a abertura dos mercados.
Para mascarar a origem da Transparency International, a CIPE apela para o
savoir-faire
do antigo responsável junto da imprensa do Banco Mundial, o
neoconservador Frank Vogl. Este último instituiu uma Comissão que
contribui para criar a impressão de que é uma
associação nascida da sociedade civil. Esta Comissão de
fachada é liderada por Peter Eigen, ex-diretor do Banco Mundial na
África Oriental. Em 2004 e 2009, sua esposa foi candidata do SPD para a
Presidência da República Federal da Alemanha.
O trabalho da Transparency International serve os interesses dos EUA e
não lhe pode ser concedida credibilidade. Assim, em 2008, esta pseudo
ONG denunciou que a PDVSA, a empresa petrolífera pública da
Venezuela, era sujeita a corrupção; com base em
informações falsas, e colocava-a como a última no seu
ranking global de empresas públicas. O objetivo era, evidentemente
sabotar a reputação de uma empresa que constituía o
fundamento econômico da política anti-imperialista do presidente
Hugo Chávez. Apanhada no ato de envenenamento da
informação a Transparency International recusou-se a responder a
perguntas da imprensa latino-americana e a corrigir o seu relatório.
Além disso, é surpreendente quando recordamos que Pedro Carmona,
o correspondente da CIPE na Venezuela, foi colocado no poder por breve
espaço de tempo pelos Estados Unidos, durante o golpe de Estado falhado
para derrubar Hugo Chávez em 2002.
Focando a atenção sobre a corrupção
económica a Transparency International permite mascarar as atividades do
NED, corrompendo as elites governantes. para vantagem anglo-saxónica.
The International Republican Institute (IRI) and the National Democratic
Institute for International Affairs (NDI)
O objetivo do IRI é corromper os partidos de direita, enquanto o NDI lida
com partidos de esquerda. O primeiro é presidido por John McCain, o
segundo por Madeleine Albright. Estas duas personalidades não devem ser
consideradas políticos comuns, mas sim, como ativos líderes dos
programas do NSC.
Para contextualizar, IRI e NDI renunciaram ao seu controlo sobre a
Internacional Liberal e a Internacional Socialista. Assim, criaram
organizações rivais: a União Democrática
Internacional (IDU) e a Aliança para Democratas (AD). O primeiro
é presidido pelo australiano, John Howard. O russo, Leonid Gozman da
Causa Justa (Правое
дело)
é seu vice-presidente. O segundo é liderado pelo italiano
Gianni Vernetti e co-presidido pelo francês, François Bayrou.
IRI e NDI são também suportados por fundações
políticas, ligando-os a grandes partidos políticos na Europa
(seis na Alemanha, dois na França, um na Holanda e outro na
Suécia). Além disso, algumas operações foram
subcontratadas a misteriosas empresas privadas tais como Democracy
International Inc. que organizou recentes eleições manipuladas no
Afeganistão.
Tudo isso deixa um gosto amargo. Os EUA corromperam a maioria dos grandes
partidos políticos e sindicatos em todo o mundo. (
). As campanhas
eleitorais tornaram-se espetáculos onde a NED escolhe o elenco,
fornecendo os meios financeiros necessários para uns e não para
outros. Mesmo a noção de alternativa perdeu o sentido desde que
NED promove a alternância de um campo ou outro desde que siga as mesmas
políticas de negócios estrangeiros e de defesa.
Atualmente, na União Europeia e noutros países, lamenta-se a
crise da democracia. Os responsáveis por isto são claramente a
NED e os EUA. E como podemos classificar um regime como o dos Estados Unidos,
onde o líder da oposição, John McCain, na verdade é
um líder do NSC? Certamente que não como uma democracia.
Balanço do sistema
Ao longo do tempo, a USAID, a NED, suas instituições
satélite e suas bases intermediárias produziram uma burocracia
complicada e gananciosa. A cada ano, quando o Congresso vota o orçamento
da NED, animados debates surgem sobre a ineficácia deste sistema
tentacular e rumores de que os fundos têm sido apropriados para
beneficiar os políticos dos EUA encarregados de administrá-las.
Para conseguir uma boa gestão, têm sido encomendados estudos para
quantificar o impacto destes fluxos financeiros. Especialistas compararam os
montantes atribuídos em cada Estado e o ranking democrático
destes Estados segundo a Freedom House. Então calculam quanto precisam
gastar em dólares por habitante para melhorar de um ponto o ranking
democrático de um dado Estado.
Claro, tudo isso é apenas uma tentativa de
autojustificação. A ideia de estabelecer uma
classificação de democracia não é
científica. Em alguns aspectos, é totalitária, pois assume
que existe apenas uma forma de instituições democráticas.
Por outro lado, é infantil estabelecer uma lista de critérios
díspares com coeficientes fictícios transformando uma
complexidade social num único número.
(
)
Seja como for, em 2003, no seu vigésimo aniversário, a NED
elaborou um relatório da sua ação, evidenciando ter
financiado mais de 6.000 organizações políticas e sociais
do mundo, um número que não parou de aumentar a partir de
então. A NED afirma que sozinha criou o sindicato Solidarnosc na
Polónia, a carta 77 na Checoslováquia e o Otpor na Sérvia.
Estava orgulhosa por ter criado a partir do zero a rádio B92 ou o
diário Oslobodjenje na ex-Jugoslávia e uma série de novos
meios de comunicação independentes no Iraque
"libertado".
Em dezembro de 2011, as autoridades egípcias fizeram uma busca nos
escritórios do NDI e IRI no Cairo. Os documentos que foram apreendidos
são da maior importância para compreender a ingerência dos
EUA desde que o "ninho de espiões" foi removido de
Teerão, em 1979. Acusados de espionagem, os líderes locais do NED
são julgados. Os documentos provaram que a NED é inteiramente
responsável por ter manipulado a pseudo revolução que teve
lugar na Praça Tahrir e que resultou em mais de 4.000 mortes levando a
Irmandade Muçulmana ao poder.
Mudando de cobertura
Depois de experimentar um sucesso global, a retórica de
democratização já não convence. Ao
utilizá-lo em todas as circunstâncias, o presidente George W. Bush
empobreceu o seu significado. Ninguém pode reivindicar seriamente que os
subsídios pagos pela NED vão fazer desaparecer o terrorismo
internacional. A alegação de que as tropas dos EUA derrubaram
Saddam Hussein para oferecer democracia aos iraquianos, não pode mais
ser afirmada de forma persuasiva.
Além disso, os cidadãos em todo o mundo que lutam pela democracia
tornaram-se desconfiados. Agora entendem que a ajuda oferecida pelo NED e seus
tentáculos na verdade visam manipular e apanhar os seus países
numa armadilha. Eis porque cada vez mais recusam as contribuições
"sem teias ou bastões anexados" que lhes são oferecidas.
Nos EUA dirigentes de diferentes canais de corrupção tentaram
silenciar o sistema por mais de uma vez. Após os truques sujos da CIA e
da transparência da NED, pretendiam criar uma nova estrutura que
substituiria um pacote desacreditado. Não seria gerido por sindicatos,
patronato e os dois grandes partidos, mas pelas multinacionais no modelo da
Fundação Ásia.
Na década de oitenta, a imprensa revelou que esta
organização foi uma cobertura da CIA para lutar contra o
comunismo na Ásia. Posteriormente foi reformada e a sua gestão
confiada às multinacionais (Boeing, Chevron, Coca-Cola, Levis Strauss,
etc....). Esse novo estilo foi suficiente para dar a impressão de que
era não-governamental e respeitável porém era uma
estrutura que nunca deixou de servir a CIA. Após a
dissolução da Rússia, ela foi replicada na
Fundação Eurásia, cujo mandato cobre a ação
secreta para os novos Estados asiáticos.
Outra questão que anima o debate é se as
contribuições para a "promoção da
democracia" teriam de assumir a forma exclusiva de contratos para realizar
projetos específicos ou subsídios com nenhum dever de atingir
metas. A primeira opção oferece melhor cobertura legal, mas o
segundo é uma ferramenta muito mais eficaz de corrupção.
Dado este panorama, os requisitos previstos por Vladimir Putin e Vladisl Surkov
para regular o financiamento das ONGs na Rússia é
legítimo, mesmo se a burocracia que eles criaram para o fazer é
enorme e difícil de satisfazer. O instrumento NED, criado sob a
autoridade do NSC não apenas falha em apoiar as tentativas de democracia
em todo o mundo como as envenena.
Devido à extensão do texto alguns trechos foram omitidos. A
versão integral pode ser consultada em
www.voltairenet.org/article192992.html
. Tradução de DVC.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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