O novo 11 de Setembro do Imperador
Os 11/Set invisíveis: Só a CIA pode ver os EUA
atacados pelos países que ela mira
por Caitlin Johnstone
[*]
Gostava de lhe contar uma fábula. Chama-se "O novo 11/Set do
imperador".
Era uma vez um Imperador que gostava da guerra e do expansionismo militar. Ele
estava sempre à procura de novos meios para instigar conflitos militares
sem perder o apoio da comunidade internacional ou despertar o populacho para o
facto de que eram apenas dentes na engrenagem de propaganda de um
Império de âmbito global que utiliza infindável
violência militar e económica para manter sua hegemonia unipolar.
Um dia dois homens que se consideravam Peritos em Inteligência chegaram
à cidade e afirmaram que haviam inventado um assombroso novo tipo de
ameaça inimiga que é invisível para as pessoas comuns.
"Será tão bom quanto o 11/Set?", perguntou o Imperador
entusiasmado. "Oh, como adorei que aquilo me permitisse iniciar uma nova
era de expansionismo militar sob o pretexto do combate ao terrorismo
global!"
"É ainda melhor!" explicaram os Peritos em Inteligência.
"Esta mágica ameaça inimiga é composta por ataques
cibernéticos que são completamente invisíveis ao
escrutínio público e vossa majestade tem controlo total sobre
onde e quando acontecem. Basta nomear um governo estrangeiro de que não
goste e nós dizemos que eles atacaram a democracia do
Império!"
"Refere-se à pretensa democracia que lhes menti ao dizer que
têm?" perguntou o Imperador.
"Claro que sim", disseram os Peritos em Inteligência.
"Portanto, basta nomear o governo desobediente com que quer combater e
nós lhe damos o seu novo 11 de Setembro".
"Hmm, bem eu não gosto muito dos russos", disse o Imperador.
"Eles têm actuado descaradamente contra os nossos interesses na cena
mundial e continuam a ficar cada vez mais amigos da China. Vamos começar
a trabalhar neles em primeiro lugar".
De modo que os Peritos em Inteligência começaram a tecer a sua
narrativa acerca de ataques cibernéticos russos. O Imperador pôs
os seus mass media a trabalhar a tricotarem juntos o novo e maravilhoso 11 de
Setembro do Imperador, simultaneamente invisíveis para os plebeus mas
ultrajantes e necessitando de uma resposta agressiva.
O orçamento militar do Império foi inflacionado, tratados
terminaram e uma nova corrida à armas começou. Foram aplicadas
sanções contra o governo russo, a Revisão da Postura
Nuclear do Império foi reajustada com uma postura muito mais hostil em
relação a Moscovo, foram destacadas tropas e a NATO foi
expandida. Qualquer um que objectasse a algumas destas medidas seria rotulado
pelo Império como propagandista russo.
"Oh, isto é maravilhoso!" exclamou o Imperador. "Vamos ao
Irão agora! Ah! E à China também!"
"O Irão e a China têm atacado a democracia do
Império!" anunciaram os Peritos da Inteligência.
"É como outro 11 de Setembro!"
Tudo corria bem, até que um dia o Imperador estava a exibir o seu novo
11 de Setembro pela cidade para que os plebeus a admirassem.
"Oh, este 11 de Setembro é ainda mais impressionante do que o
anterior!" exclamou o povo. "Eu por ele de bom grado lançaria
meu corpo para dentro das engrenagens da máquina de guerra! Louvado seja
o nosso poderoso Imperador!"
Então uma vozinha ecoou por cima dos restantes.
"Mas o Imperador não tem um 11 de Setembro!" disse uma
criancinha. "Não há nada ali!"
A criança foi imediatamente marcada como propagandista russa e banida do
Facebook e do Twitter.
Não é coincidência que todos estes alegados ataques
à democracia americana estejam a acontecer de formas que só o
cartel dos serviços secretos norte-americanos pode ver. Não
é uma coincidência que a máquina de propaganda dos EUA
esteja constantemente a anunciar novos ataques invisíveis contra a
nação por parte de governos que há muito são alvos
desse mesmo cartel da inteligência. Não é uma
coincidência que sempre que estes alegados ataques acontecem, as provas
concretas de que aconteceram sejam sempre classificadas.
Há toda a espécie de formas de um país poder ser atacado,
mas as únicas formas de o país que está literalmente
sempre em guerra ser atacado é são aquelas que ninguém
consegue ver e só temos de acreditar na palavra das mesmas
agências governamentais que são responsáveis pelas guerras
que realmente ocorreram. Isto não é uma coincidência.
"Interferência eleitoral" estrangeira é o 11 de Setembro
menos o 11 de Setembro. Recebe a mesma cobertura mediática urgente do
11/Set, a mesma indignação e a mesma exigência de
retaliação enérgica; só que não tem os
edifícios caídos que as pessoas podem ver ou os membros de
famílias enlutadas com quem se pode falar. É um 11/Set que
é completamente invisível para toda a gente, por isso temos de
tomar a palavra das agências de inteligência com um extenso
historial de mentiras de que elas realmente aconteceram.
Entretanto, como os EUA estão a ser vitimizados por estes ataques que
só a CIA e a NSA podem ver, o governo estado-unidense está a
prejudicar o povo americano num grau infinitamente maior do que a
Rússia, a China e o Irão. O governo dos EUA está a
destruir milhões incontáveis de vidas no país e no
estrangeiro, mas diz-se aos americanos que se preocupem com ataques
invisíveis de países estrangeiros que literalmente nunca lhes
fizeram nada.
Não seja tolo. Seja a criança na parada do Imperador.
27/Outubro/2020
Outro 11/Set invisível:
US Intelligence Alleges Iranian Hackers Behind Intimidation Emails Accessed Voter Data
(Inteligência dos EUA alega que há hackers iranianos por
trás de emails de intimidação [enviados] com dados acessados de
eleitores)
[*]
Jornalista maldita, poeta e sobrevivalista da utopia. Publica regularmente em
Medium.
É autora de
Woke: A Field Guide for Utopia Preppers
e
Rogue Nation: Psychonautical Adventures With Caitlin Johnstone
O original encontra-se em
consortiumnews.com/...
Este artigo encontra-se em
https://resistir.info/
.
|