O regime pós-Bush: um prognóstico

por Richard K. Moore

A fim de compreender algo acerca dos assuntos políticos americanos é preciso ter algum entendimento de quem é que realmente toma as decisões por trás do palco, e o que são os seus interesses. Deste modo podemos ter alguma esperança de identificar as agendas escondidas que estão a ser servidas pelas acções e programas do governo, e alguma esperança de identificar as estratégias a longo prazo que estão em jogo.

Verifica-se — e as pessoas informadas já deveriam saber disto — que os EUA são no essencial possuídos e administrados por uma pequena clique de famílias ricas — as únicas que possuem e controlam o Federal Reserve. Os Rockfellers são os membros óbvios em bem conhecidos desta clique, mas há outros menos conhecidos, nem todos americanos, e alguns cuja identidade permanece até hoje um segredo cuidadosamente guardado. Nós não sabemos exactamente quem é que está a dirigir o show.

FEDERAL RESERVE ACT

Esta tem sido a natureza da nossa 'democracia' desde 1913, quando o Federal Reserve Act foi enfiado à socapa no Congresso durante as férias de Natal pelas mesmas pessoas que financiaram a campanha de Woodrow Wilson e que se tornaram os proprietários privados do novo e todo poderoso banco central. A primeira grande iniciativa dessas pessoas, os ancestrais da nossas actual clique dirigente, foi financiar ambos os lados na Europa durante a I Grande Guerra Mundial, e a seguir conluiar a entrada dos EUA na guerra bem a tempo de inclinar o equilíbrio de forças para lado favorecido pela clique — o mesmo padrão que caracterizou a II Guerra Mundial.

A partir daquele ponto e daí em diante a elaboração da política americana tem estado firmemente nas mãos da clique original do Federal Reserve e dos seus descendentes. Os media "de referência" também estão sob o controle da mesma clique, de modo que à opinião pública nunca é permitido interferir com objectivos fundamentais da clique. Os medias podem ser utilizados para apoiar presidentes em exercício, ou para miná-los, dependendo do que serve melhor aos objectivos. Nenhum Presidente que tenha virado as costas a estas pessoas sobreviveu muito no cargo, como vimos mais recentemente no caso de JFK. Os tentáculos da clique atingem também os escalões de topo dos serviços de inteligência e do Pentágono, bem como àqueles influentes fóruns globalistas como a WTO, a Comissão Trilateral e os Bilderbergers.

Bush e os neocons têm sido meras ferramentas-do-momento para esta clique. Aconteceu os neocons estarem a promover um pacote que atraia a clique, que prometia avançar alguns dos seus objectivos. Ao selecconar os neocons para serem os condutores por trás de uma nova administração, a clique não estava de modo alguma a adoptar a filosofia neocon, nem tão pouco estava a comprar todo o pacote do PNAC [1] . Eles estavam simplesmente a empregar uma ferramenta conveniente que estava tacticamente alinhada com os interesses da clique naquele momento. Qualquer destas ferramentas pode ser descartada a qualquer momento se o seu comportamento vier a ser contraproducente, ou quando uma ferramenta melhor aparece. Há sempre um Plano B nos bastidores para qualquer ferramenta que se possa estragar.

Bush, que provavelmente nunca leu nem mesmo a agenda do PNAC, foi seleccionado por razões inteiramente diferentes. Sabendo que a agenda seria altamente impopular, a clique decidiu que defendê-la logicamente seria muito difícil, mesmo com o controle completo dos media. Um Presidente articulado e inteligente pareceria um idiota se tentasse defender as políticas insanas. Assim, a nossa clique imaginou com esperteza: por que não colocar alguém que é obviamente um idiota de modo a que o público acredite que está a lutar contra a idiotice de um homem, e não compreender o que realmente está a avançar. Bush, naturalmente, sendo despistado sobre todos os assuntos além do golf, saqueio, cocaína e efemização (womanizing) , precisaria ser mantido longe de qualquer papel na direcção da Casa Branca. Daí a necessidade de Cheney, o presidente real na sombra, que deixa todas as foto-oportunidades para Bush, que permanece fora das vistas do público, e que transporta a Caixa do Armagedão Negro [2] com a todo lugar onde vai, algo que no passado apenas Presidentes oficiais o fizeram.

Este foi o projecto que se tornou operacional na forma da primeira campanha presidencial de Bush. Os patos estavam todos alinhados para lançar uma grande aventura imperialista, as preparações para o 11 de Setembro estavam bem encaminhadas, e nenhum poder sobre a Terra iria travar o Bush Show. Bush, O Despistado, naturalmente tinha de vencer, não importa quanta alteração de votos e mentiras dos media fossem precisas, ou quantos Supremos Tribunais de Justiça fossem precisos para cumprir a tarefa. Como último recurso eles não teriam hesitado em afastar Gore, um dos seus próprios rapazes, se isto fosse o único meio para abrir o caminho para o seu homem actual, uma táctica que utilizaram anteriormente com Bobby Kennedy. Naturalmente, agora que temos as máquinas Diebold [3] , tudo isto pode ser efectuado através de uma única mensagem de comando do computador, especificando quais candidatos devem obter quais percentagens de votos em cada jurisdição. Contagens finais foram abandonadas pois proporcionam duras evidências estatísticas da "correcção" sistemática.

Os neocons cumpriram muito para os seus mestres da elite, e em troca foi-lhes dada rédea solta para saquearem à vontade, canalizando todos aqueles milhares de milhões destinados à Guerra do Iraque para dentro dos seus próprios cofres corporativos e carteiras de investimento. Eles pelo seu lado estabeleceram os fundamentos de um Estado fascista nos EUA e no Canadá, asseguraram as reservas petrolíferas do Iraque, construíram mega-bases permanentes no Iraque, desestabilizaram com êxito o Iraque e preparado para a balcanização, garantiram rotas de pipelines no Afeganistão, restauraram o lucrativo comércio de ópio e fizeram progressos para alcançar a capacidade de primeiro impacto que será necessária quando chegar o tempo de tomar a Rússia e a China. É na verdade um grande maço de proezas num curto espaço de tempo. Mas para a nossa clique, a questão é sempre a mesma: "O que tem você feito por mim ultimamente?"

A intenção neocon de bombardear o Irão foi o ponto em que se estragou a ferramenta, e ameaçou ficar inadministrável. Qualquer um que pense seriamente acerca do bombardeamento sabe que um ataque escaparia rapidamente a qualquer controle — dadas as armas avançadas que a Rússia forneceu aos cabeças aquecidas do Irão, e dado o facto de que o paiol de pólvora envolveria um Israel clinicamente desarranjado e com o dedo no gatilho, com potência nuclear. A Rússia e a China naturalmente entrariam em alerta ultra elevado, prontas a intervirem com a força devida se a espiral cruzasse certas não especificadas linhas na areia. Os neocons sabiam isto e a clique sabia isto. Qualquer ataque ao Irão, não importa quão bem planeado, limitado, e executado, seria jogar a roleta russa com a III Guerra Mundial.

Os neocons estavam prontos a dar este passo, a jogar este jogo, e estavam num estágio muito avançado nos seus preparativos, tanto no aspecto militar como no das operações psicológicas, Isto nada tem a ver com a pretensa crença de Bush em revelações divinas e na ascensão do eleito, mas ao invés com crença evidente dos neocons de que estavam 'prontos para o grande dia', copiando uma página directamente de Dr. Strangelove, com os neocons no papel de Jack D. Ripper [4] . Contudo, ao contrário do demente comandante da base SAC, os neocons foram forçados a telegrafar os seus movimentos, e a clique não ficou satisfeita com o cenário. Eles sabiam que a capacidade de primeiro impacto não estava totalmente pronta — e a roleta russa não é algo que joguem sempre. Eles jogam só quando possuem todas as melhores cartas e possuem o controle do casino.

Assim, chegou o momento de desligar a tomada da ferramenta neocon. Foi surpreendentemente fácil fazer isso. O primeiro passo, tomado quem sabe há quanto tempo, foi transmitir discretamente à Junta de Chefes das Forças Armadas que o projecto Irão é para cair, pouco importando que ordens possam vir da Casa Branca ou da Caixa Negra. Esta notícia, naturalmente, era para ser mantida no gabinete, tão seguramente quanto possível. Uma vez que castelo foi dessa forma tornado secretamente seguro, era um assunto trivial plantar as sementes que descarrilariam toda a carruagem da banda neocon. Um simples mas devastador aviso da Inteligência, uns poucos murmúrios para actores chave de Bilderberger de que na próxima reunião estava aberta a estação de caça ao contingente americano, e vários outros movimentos subtis e bastante fáceis. Custa pouco, afinal, deitar abaixo um castelo de cartas, particularmente um que se apoia num curinga fraco. A clique, como de costume, permanece invisível.

Alguns elementos na Casa Branca sabem agora o que está a acontecer, ao passo que outros ainda pensam que a agenda neocon está na ordem do dia. Parece bastante óbvio que Cheney foi informado antecipadamente, e tem alguma espécie de paraquedas dourado nas suas acções de Natal. Nunca mais ouvi um pio dele desde que soubemos da reversão da clique, quando o aviso da Inteligência tornou-se do conhecimento público. Bush nesta altura está a imaginar Cheney como um Judas reincarnado, e a praticar como dirá "Até tu, Bruto?" se houver oportunidade. Mas Bush evidentemente ainda não compreendeu que o seu chip foi desligado, o dele e o do seu amigo Gates, pois ambos continuam a actuar como se o tractor ainda estivesse engrenado. Imagino que afundarão como os compadres no filme Monte Python... "Vá em frente, arranque o meu outro braço. Ainda assim baterei em ti".

O passo a seguir será arrecadar os ganhos e preparar uma nova linha de estória inteiramente nova. Isto quer dizer, nenhum dos muito impressionantes (i.e. horrendos) feitos dos neocons será desfeito, e ainda assim o povo americano será levado a acreditar que os males estão no passado — o mesmo padrão táctico que vimos funcionar tão bem aquando da demissão de Nixon. Os media serão recheados com novas linhas de estórias totalmente novas, bem como com brilhantes confissões da inteligência a fim de recuperar a simpatia. Novas caras para os amantes da Terra, mais outras novas fantasias — e a experiência Bush desvanecer-se-á da memória pública, juntamente com os resultados da última temporada de futebol. É uma vantagem para os nossos dirigentes que nós os americanos tenhamos uma memória tão diminuta e tão limitados poderes de observação independente, em comparação com o resto da população mundial. Imagino que a finalidade do caldeirão foi fundir o nosso julgamento intuitivo básico.

Ainda não é tempo para o ataque surpresa aos Feiticeiros Maus do Leste. A guerra baseada no espaço ainda está no Beta Teste. Nem é necessário por enquanto prosseguir com o pleno desencadeamento da Gestapo, das SS Storm Troopers, campos de concentração e trabalho forçado. Os neocons, diligentemente, construíram as fundações para tudo isto, tanto no concreto como nos precedentes legais, mas o projecto por enquanto está suspenso e os neocons sem missão. Quando vier o tempo de retomar o projecto isso será percebido como uma nova resposta para um cenário emergente inesperado, e a continuidade com a era Bush será percebida.

O PREGADOR SINISTRO

Sugiro que podemos ver o foco da próxima administração dos EUA se prestarmos atenção em Al Gore. Ele anda por aí a pregar o evangelho da mudança climática, e isso está a tornar-se rapidamente a nova cause celebre da 'comunidade internacional'. Trata-se de mais do que uma campanha por Gore, estamos a assistir a uma campanha apoiada pelos mass media, pelos poderes que estão por trás deles. Estamos claramente a ser preparados para um 'novo show', após o 'Bush show', e o 'novo show' vai em direcção a novos impostos e créditos sobre o carbono, novas fontes de energia, carros mais eficientes, biocombustíveis, e todas aquelas outras coisas que são alegadamente relacionadas com a mudança climática e o pico petrolífero.

A fim de limpar o caminho para o novo show, parece muito claro que a nova administração começará com algumas vitórias políticas fáceis, ao limpar rapidamente algumas das óbvias bagunças deixadas pelos neocons. Encerrar Guantanamo, e declarar que os voos de "rendição" foram abandonados, ganharia um bocado de pontos sem qualquer custo real (voos e prisões secretas sem dúvida continuariam). O Iraque já foi desestabilizado e preparado para a balcanização, e bases permanentes americanas já foram construídas. Uma outra vitória fácil para as tropas americanas será retirarem-se para as suas bases e para os campos de petróleo, pois a guerra será declarada ultrapassada, e dividir o Iraque em províncias étnicas, deixando-as brigarem entre si. Isto pode ser retratado nos medias como uma 'vitória da paz de da democracia'.

O que, então, podemos nós esperar deste novo show? Que consequências são prováveis seguir-se à aplicação das espécies de políticas que Al Gore e os media tem estado a falar, em torno de mudança climática, independência energética, etc? O que é que a nossa clique dirigente está realmente a tentar alcançar?

A um nível geral, é claro que aquelas espécie de políticas não envolvem mudanças fundamentais no modo como as nossas sociedades operam. Ainda teremos carros, eles podem apenas ser um pouco mais eficientes, e estaremos a pagar mais para o combustível e os impostos a fim de operá-los. Ainda estaremos a transportar produtos da China que podíamos produzir localmente, e ainda estaremos dependentes de camionagem a longas distâncias. Ainda estaremos a utilizar métodos agrícolas que são altamente dependentes do petróleo, para tractores, fertilizantes e pesticidas. Investigação e desenvolvimento de novas fontes de energia conduzirão a montes de subsídios governamentais, e isso pode conseguir-nos um pouco mais de energia, mas não o bastante para substituir o petróleo. Enquanto o nosso transporte e outras infraestruturas permanecerem basicamente sem mudanças, permaneceremos insustentáveis, dependentes do petróleo, e nenhuma das iniciativas semelhantes às de Gore mudará o quadro energético global, o quadro do carbono, ou o quadro do clima, de qualquer modo significativo.

BIOCOMBUSTÍVEIS = FOME

A fim de começar a imaginar o que é a agenda real, por trás de políticas como as de Gore, vamos examinar um exemplo: biocombustíveis . Produzir biocombustíveis dá-nos outra fonte de energia, mas também remove terra da produção alimentar. Em consequência do mercado de biocombustíveis já existente, os preços de mercado para cereais e outras fontes potenciais de biocombustíveis agora estão a ser conduzidos pelos preços da energia. Os preços globais dos alimentos estão portanto a ascender rapidamente, enquanto em simultâneo a área de produção alimentar está a ser reduzida. Estas duas coisas aumentarão directa e drasticamente a fome mundial, particularmente nas regiões mais pobres. Uma administração inspirada por Gore estará a promover uma expansão dos programas de biocombustíveis a uma escala global, e estará a congratular-se pelos seus nobres feitos na poupança de petróleo.

Tudo isto estará a ocorrer num contexto em que enfrentamos uma crise alimentar global. Não temos visto muitas manchetes sobre este tópico, mas o mundo está sentado à beira de uma grande crise alimentar. Stocks de emergência estão em níveis baixos, níveis de produção estão baixo, fracassos de colheitas aumentam, etc. É um quadro muito mau, mesmo sem biocombustíveis.

Neste contexto, a consequência líquida de uma grande agenda de biocombustíveis chega ao genocídio intencional. A fim de proporcionar marginalmente mais combustível para os países industrializados super-consumidores, incontáveis milhões passarão fome no terceiro mundo, somando-se àqueles não contados milhões que já estão a passar. O ganho de energia marginal é tão pequeno em comparação que devemos aceitar que a agenda dos biocombustíveis é primariamente acerca do genocídio. Contudo, quando começarmos a ler acerca de novas fomes a irromperem, talvez no Brasil onde os biocombustíveis estão agora a entrar em produção maciça, as manchetes culparão as secas, ou as colheitas fracassadas, ou alguma outra desculpa, como sempre fazem. Nós em contrapartida sentiremos uma 'paixão verde' todas as vezes que enchermos o nosso Prius com biocombustíveis, inconscientes do dano que estamos a fazer. E talvez façamos doações à Oxfam [5] , ou adoptemos alguma criança do terceiro mundo e lhes enviemos cartas.

IMPERIALISMO GENOCIDA

Uma agenda Gore é simplesmente imperialismo genocida a esconder-se sob uma nova máscara, um novo show. Ao invés de exterminar os índios matando-lhes os seus búfalos, extermina populações removendo-lhes o seu acesso à comida por outros meios. Mais uma vez, 'eles' devem ser sacrificados de modo a que o 'nosso' modo de vida possa continuar e expandir-se. Podemos observar aqui que morreram mais iraquianos sob as sanções de Bill Clinton do que os foram mortos na actual guerra do Iraque. No tempo de Bill Clinton o padrão era genocídio invisível, ao invés daquele mais violento da variedade Bush. Aparentemente, num mandato de Hilary Clinton vamos retornar àquele anterior padrão invisível.

É claro que as consequências de uma agenda Gore são genocidas, mas alguém pode perguntar se este é o resultado primário pretendido. Tenho estado a sugerir que sim, e penso que é necessária mais elaboração sobre este ponto. Ainda não construí o caso muito bem. Simplesmente apresentei alguma evidência e sugeri um padrão. A fim de obter uma perspectiva adequada sobre esta questão, precisamos dar um passo atrás e considerar o quadro mais amplo do mundo industrializado em relação ao terceiro mundo, diante de um vasto conjunto de crescente escassez de recursos — a perspectiva estratégica da nossa clique dirigente.

Parece muito claro que os países industrializado não têm intenção de mudar o caminho básico em que estão, ou de abandonar o capitalismo. Podemos esperar apenas mais crescimento industrial, mais consumo de energia, uso contínuo de métodos agrícolas intensivos em energia, etc. Os remendos energéticos de uma agenda Gore não fazem diferença significativa neste quadro, eles simplesmente afirmam a intenção de prosseguir com os negócios como sempre.

O único meio pelo qual o Norte industrializado pode continuar neste caminho é tomando cada vez mais da terra, água e recursos do terceiro mundo para o seu próprio uso. Quando o apetite industrial por recursos continuar a crescer a uma taxa rápida, e quando os recursos globais estão cada vez mais sob tensão, estamos em vias de assistir a uma muito rápida expansão da fome no terceiro mundo — a globalização de fomes em escala africana. Isto é inevitável enquanto o Norte permanecer neste caminho básico, se tivermos políticas como as de Gore ou algum outro conjunto de políticas isso é de pouca importância.

Esta 'inevitabilidade' de extinções (die-offs) em massa no terceiro mundo é bem conhecida daqueles que dirigem os países industriais. Da perspectiva das alturas do poder, a questão torna-se: "Como podemos nós administrar estas extinções de modo a que elas provoquem o mínimo transtorno na economia global, e dessa forma não suscitem demasiado protesto público?". Naturalmente, uma vez que se começa a administrar extinções está-se então a ocupar de genocídio, isto é, dispor que populações particulares morram de preferência a outras.

ÁFRICA: CAMPO DE TESTE

O padrão para a administração da estratégia tem sido muito clara na África Sub-Saariana, onde todas aquelas guerras civis, atrocidades genocidas, secas e fome tem estado a ocorrer. Poucas pessoas percebem que estes desastres têm sido sistematicamente impostos à África, através de exigências do FMI, programas de desestabilização encobertos, negação de cuidados médicos, distribuição generalizada de armas automáticas, manipulações de bancos internacionais, a dedicação da terra e da água ao consumo do Norte, e a lista pode prosseguir. Não só a África está a ser esfaimada até à morte pelas forças do mercado como o processo está a ser acelerado por intervenções genocidas encobertas.

Em África vemos um Holocausto na sua plena dimensão, um programa maciço de genocídio em andamento, ou deveria eu dizer que não vemos isso pois nada disso aparece nos media. Lemos que 'se atearam conflitos tribais', mas não ouvimos acerca das duas bombas da CIA cada uma das quais foi atribuída ao 'outro lado' e que acenderam a rixa, uma rixa que poderia tornar-se uma guerra civil. Lemos acerca de uma fome devida à 'seca', e não nos dizem que haveria muita água ali se não fossem todas as plantações de café para exportação que utilizam a água local. Nós não vemos genocídio, vemos africanos a cair por causa de misérias infelizes, todas elas devidas aos caprichos da Mãe Natureza.

Assim, o padrão de administração das extinções (die-offs) torna-se claro. Ele foi testado satisfatoriamente na África, e podemos esperar que o padrão demonstrado venha a ser empregado no futuro. Eles escolhem uma população que consideram 'redundante', empreendem um programa de aquisição dos recursos daquela população, e então para acelerar o processo de remoção empenham-se em várias acções encobertas de genocídio. Deste modo a população do mundo pode ser reduzida pouco a pouco, e de forma administrável, pois o Norte requer gradualmente a utilização de TODOS os recursos do mundo para o seu próprio uso exclusivo. Infelizmente para o Norte, mesmo isso não será suficiente para permitir que o crescimento industrial continue. O Sul está a ser massacrado apenas para que o Norte insustentável possa continuar no seu caminho um bocadinho mais longe.

Enquanto isso, os media no Norte pintam um quadro no qual apenas a natureza provoca a fome, e o papel do Norte é sempre proporcionar ajuda, na medida em que pode. Aos observadores preocupados são dados números de telefone convenientes para chamar, de modo a que eles possam dissipar as suas preocupações com um simples donativo que 'salvará uma criança', ou 'dar uma cabra a uma família'. Nenhum genocídio aqui, nós somos os bons rapazes. Não veja o mal, sinta-se bem. A propósito, são uma pena aquelas fomes lá.

As políticas estilo Gore não são apenas genocidas, elas são formidavelmente genocidas. Quando eles começam a retirar quantidades maciças de terra à produção alimentar, e provocar um aumento substancial nos preços globais dos alimentos, diante de um mundo já tenso devido à situação alimentar, eles poderiam provocar a muito curto prazo – uma estação de más colheitas – a fome numa escala jamais vista anteriormente. Quão sério será o resultado dependerá inteiramente de quão agressivamente a nova administração prosseguir na agenda estilo Gore. Eles conseguiram fazer do genocídio uma ciência, com parâmetros afináveis.

Aparentemente, tendo efectuado os testes de campo das tácticas do Holocausto na África Sub-Saariana, foi tomada uma decisão no sentido de avançar com o programa à escala global. Para esta finalidade, as políticas estilo Gore têm o potencial para serem as Armas de Destruição em Massa adequadas, o equivalente no jogo da fome às ogivas nucleares no jogo do matar pelo fogo. Esta decisão de avançar para o global foi evidentemente tomada tempos atrás, sem dúvida antes de ser pedido a Gore para realizar Uma verdade inconveniente (An Inconvenient Truth). O filme foi o primeiro sinal de quais os caminhos pelos quais os ventos iriam soprar, a primeira antevisão do 'novo show'.

A missão primária da administração Hilary, sob as bandeiras do 'fazer alguma coisa acerca da mudança climática e do pico petrolífero', será evidentemente empreender a tomada maciça dos recursos no Sul global, conduzindo à eliminação maciça e selectiva de certas populações através da morte pela fome. Por outras palavras, a missão é expandir globalmente o modelo africano de morte pela fome, um processo que presumivelmente será corroborado pelos suspeitos do costume nos seus papéis habituais de desestabilização.

Meu grande medo com o regime Bush era o provável ataque ao Irão... ou seria o desencadear da Gestapo? Foi uma corrida apertada naqueles dias negros. Agora estamos nós à beira de um regime inclinado ao genocídio numa escala que envergonharia os nazis. Sugiro que escapámos da panela apenas para cairmos na frigideira.

Espero que ninguém tenha quaisquer noções românticas acerca da nova administração, e espero que todos percebam que o processo político nunca poderá ser utilizado para resolver os nossos problemas. Tal sistema é de facto o cerne do nosso problema. Também espero ser claro para todos que o genocídio global é uma consequência inevitável da continuação deste sistema capitalista insano, quer concorde com a maior da minha análise ou não. E finalmente, que o capitalismo não pode perdurar mais.

Só quando tiver atingido este nível profundo de desesperança, onde não se vê saída para a fuga, é que poderá ficar suficientemente esclarecido para começar a ver onde jaz o problema real. O problema real, caros amigos, jaz no facto de que você e eu nada temos a dizer acerca de como as nossas sociedades são dirigidas. E qualquer um de nós tem mais senso do que as pessoas que estão a dirigir as coisas, e nós certamente temos os nossos companheiros humanos mais no coração. O nosso problema jaz na nossa falta de poder, deixando-o nas mãos daqueles que sempre dele abusaram, de uma forma ou de outra, numa era após a outra.

Nosso desafio como espécie consciente, e nossa resposta se procurarmos fazer alguma coisa acerca da agenda crescimento-através-do-genocídio, é começarmos a nos fortalecer, nós pessoas comuns, sem referência aos processos políticos inúteis. Como buscar o nosso fortalecimento deve ser o objectivo das nossas investigações, e buscar tal fortalecimento deve ser o ponto central do nosso activismo.

27/Dezembro/2007

[1] PNAC: Project for the New American Century ,
[2] Caixa negra: refere-se aos comandos para desencadear a guerra nuclear.
[3] Diebold: máquinas de votação electrónica que se prestam à falsificação. São fabricadas por uma empresa cujo proprietário é apoiante de Bush.
[4] Jack D. Ripper: general mentalmente perturbado da U.S. Air Force no filme Dr. Strangelove.
[5] Oxfam: organização caritativa que promove programas de auxílios individuais a crianças africanas.


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© Copyright Richard K. Moore, Global Research, 2007


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04/Jan/08