O regime pós-Bush: um prognóstico
por Richard K. Moore
A fim de compreender algo acerca dos assuntos políticos americanos
é
preciso ter algum entendimento de quem é que realmente toma as
decisões por trás do palco, e o que são os seus
interesses. Deste modo podemos ter alguma esperança de identificar as
agendas escondidas que estão a ser servidas pelas acções e
programas do governo, e alguma esperança de identificar as
estratégias a longo prazo que estão em jogo.
Verifica-se e as pessoas informadas já deveriam saber disto
que os EUA são no essencial possuídos e administrados por uma
pequena clique de famílias ricas as únicas que possuem e
controlam o Federal Reserve. Os Rockfellers são os membros
óbvios em bem conhecidos desta clique, mas há outros menos
conhecidos, nem todos americanos, e alguns cuja identidade permanece até
hoje um segredo cuidadosamente guardado. Nós não sabemos
exactamente quem é que está a dirigir o show.
FEDERAL RESERVE ACT
Esta tem sido a natureza da nossa 'democracia' desde 1913, quando o Federal
Reserve Act foi enfiado à socapa no Congresso durante as férias
de Natal pelas mesmas pessoas que financiaram a campanha de Woodrow Wilson e
que se tornaram os proprietários privados do novo e todo poderoso banco
central. A primeira grande iniciativa dessas pessoas, os ancestrais da nossas
actual clique dirigente, foi financiar ambos os lados na Europa durante a I
Grande Guerra Mundial, e a seguir conluiar a entrada dos EUA na guerra bem a
tempo de inclinar o equilíbrio de forças para lado favorecido
pela clique o mesmo padrão que caracterizou a II Guerra Mundial.
A partir daquele ponto e daí em diante a elaboração da
política americana tem estado firmemente nas mãos da clique
original do Federal Reserve e dos seus descendentes. Os media "de
referência" também estão sob o controle da mesma
clique, de modo que à opinião pública nunca é
permitido interferir com objectivos fundamentais da clique. Os medias podem
ser utilizados para apoiar presidentes em exercício, ou para
miná-los, dependendo do que serve melhor aos objectivos. Nenhum
Presidente que tenha virado as costas a estas pessoas sobreviveu muito no
cargo, como vimos mais recentemente no caso de JFK. Os tentáculos da
clique atingem também os escalões de topo dos serviços de
inteligência e do Pentágono, bem como àqueles influentes
fóruns globalistas como a WTO, a Comissão Trilateral e os
Bilderbergers.
Bush e os neocons têm sido meras ferramentas-do-momento para esta clique.
Aconteceu os neocons estarem a promover um pacote que atraia a clique, que
prometia avançar alguns dos seus objectivos. Ao selecconar os neocons
para serem os condutores por trás de uma nova
administração, a clique não estava de modo alguma a
adoptar a filosofia neocon, nem tão pouco estava a comprar todo o pacote
do PNAC
[1]
.
Eles estavam simplesmente a empregar uma ferramenta conveniente que estava
tacticamente alinhada com os interesses da clique naquele momento. Qualquer
destas ferramentas pode ser descartada a qualquer momento se o seu
comportamento vier a ser contraproducente, ou quando uma ferramenta melhor
aparece. Há sempre um Plano B nos bastidores para qualquer ferramenta
que se possa estragar.
Bush, que provavelmente nunca leu nem mesmo a agenda do PNAC, foi seleccionado
por razões inteiramente diferentes. Sabendo que a agenda seria
altamente impopular, a clique decidiu que defendê-la logicamente seria
muito difícil, mesmo com o controle completo dos media. Um Presidente
articulado e inteligente pareceria um idiota se tentasse defender as
políticas insanas. Assim, a nossa clique imaginou com esperteza: por
que não colocar alguém que é obviamente um idiota de modo
a que o público acredite que está a lutar contra a idiotice de um
homem, e não compreender o que realmente está a avançar.
Bush, naturalmente, sendo despistado sobre todos os assuntos além do
golf, saqueio, cocaína e efemização
(womanizing)
, precisaria ser mantido longe de qualquer papel na direcção da
Casa Branca. Daí a necessidade de Cheney, o presidente real na sombra,
que deixa todas as foto-oportunidades para Bush, que permanece fora das vistas
do público, e que transporta a Caixa do Armagedão Negro
[2]
com a todo lugar onde vai, algo que no passado apenas Presidentes oficiais o
fizeram.
Este foi o projecto que se tornou operacional na forma da primeira campanha
presidencial de Bush. Os patos estavam todos alinhados para lançar uma
grande aventura imperialista, as preparações para o 11 de
Setembro estavam bem encaminhadas, e nenhum poder sobre a Terra iria travar o
Bush Show. Bush, O Despistado, naturalmente tinha de vencer, não
importa quanta alteração de votos e mentiras dos media fossem
precisas, ou quantos Supremos Tribunais de Justiça fossem precisos para
cumprir a tarefa. Como último recurso eles não teriam hesitado
em afastar Gore, um dos seus próprios rapazes, se isto fosse o
único meio para abrir o caminho para o seu homem actual, uma
táctica que utilizaram anteriormente com Bobby Kennedy. Naturalmente,
agora que temos as máquinas Diebold
[3]
, tudo isto pode ser efectuado através de uma única mensagem
de comando do computador, especificando quais candidatos devem obter quais
percentagens de votos em cada jurisdição. Contagens finais foram
abandonadas pois proporcionam duras evidências
estatísticas da "correcção" sistemática.
Os neocons cumpriram muito para os seus mestres da elite, e em troca foi-lhes
dada rédea solta para saquearem à vontade, canalizando todos
aqueles milhares de milhões destinados à Guerra do Iraque para
dentro dos seus próprios cofres corporativos e carteiras de
investimento. Eles pelo seu lado estabeleceram os fundamentos de um Estado
fascista nos EUA e no Canadá, asseguraram as reservas
petrolíferas do Iraque, construíram mega-bases permanentes no
Iraque, desestabilizaram com êxito o Iraque e preparado para a
balcanização, garantiram rotas de pipelines no
Afeganistão, restauraram o lucrativo comércio de ópio e
fizeram progressos para alcançar a capacidade de primeiro impacto que
será necessária quando chegar o tempo de tomar a Rússia e
a China. É na verdade um grande maço de proezas num curto
espaço de tempo. Mas para a nossa clique, a questão é
sempre a mesma: "O que tem você feito por mim ultimamente?"
A intenção neocon de bombardear o Irão foi o ponto em que
se estragou a ferramenta, e ameaçou ficar inadministrável.
Qualquer um que pense seriamente acerca do bombardeamento sabe que um ataque
escaparia rapidamente a qualquer controle dadas as armas
avançadas que a Rússia forneceu aos cabeças aquecidas do
Irão, e dado o facto de que o paiol de pólvora envolveria um
Israel clinicamente desarranjado e com o dedo no gatilho, com potência
nuclear. A Rússia e a China naturalmente entrariam em alerta ultra
elevado, prontas a intervirem com a força devida se a espiral cruzasse
certas não especificadas linhas na areia. Os neocons sabiam isto e a
clique sabia isto. Qualquer ataque ao Irão, não importa
quão bem planeado, limitado, e executado, seria jogar a roleta russa com
a III Guerra Mundial.
Os neocons estavam prontos a dar este passo, a jogar este jogo, e estavam num
estágio muito avançado nos seus preparativos, tanto no aspecto
militar como no das operações psicológicas, Isto nada tem
a
ver com a pretensa crença de Bush em revelações divinas e
na
ascensão do eleito, mas ao invés com crença evidente dos
neocons de que estavam 'prontos para o grande dia', copiando uma página
directamente de Dr. Strangelove, com os neocons no papel de Jack D. Ripper
[4]
.
Contudo, ao contrário do demente comandante da base SAC, os neocons
foram forçados a telegrafar os seus movimentos, e a clique não
ficou satisfeita com o cenário. Eles sabiam que a capacidade de
primeiro impacto não estava totalmente pronta e a roleta russa
não é algo que joguem sempre. Eles jogam só quando
possuem todas as melhores cartas e possuem o controle do casino.
Assim, chegou o momento de desligar a tomada da ferramenta neocon. Foi
surpreendentemente fácil fazer isso. O primeiro passo, tomado quem
sabe há quanto tempo, foi transmitir discretamente à Junta de
Chefes das Forças Armadas que o
projecto Irão é para cair, pouco importando que ordens possam vir
da Casa Branca ou da Caixa Negra. Esta notícia, naturalmente, era para
ser mantida no gabinete, tão seguramente quanto possível. Uma
vez que castelo foi dessa forma tornado secretamente seguro, era um assunto
trivial plantar as sementes que descarrilariam toda a carruagem da banda neocon.
Um simples mas devastador aviso da Inteligência, uns poucos
murmúrios para actores chave de Bilderberger de que na próxima
reunião estava aberta a
estação de caça ao contingente americano, e vários
outros movimentos subtis e bastante
fáceis. Custa pouco, afinal, deitar abaixo um castelo de cartas,
particularmente um que se apoia num curinga fraco. A clique, como de costume,
permanece invisível.
Alguns elementos na Casa Branca sabem agora o que está a acontecer, ao
passo que outros ainda pensam que a agenda neocon está na ordem do dia.
Parece bastante óbvio que Cheney foi informado antecipadamente, e tem
alguma espécie de paraquedas dourado nas suas acções de
Natal. Nunca mais ouvi um pio dele desde que soubemos da reversão da
clique, quando o aviso da Inteligência tornou-se do conhecimento
público. Bush nesta altura está a imaginar Cheney como um Judas
reincarnado, e a praticar como dirá "Até tu, Bruto?" se
houver oportunidade. Mas Bush evidentemente ainda não compreendeu que o
seu chip foi desligado, o dele e o do seu amigo Gates, pois ambos continuam
a actuar como se o tractor ainda estivesse engrenado. Imagino que
afundarão como os compadres no filme Monte Python... "Vá em
frente, arranque o meu outro braço. Ainda assim baterei em ti".
O passo a seguir será
arrecadar os ganhos e preparar uma nova linha de estória inteiramente
nova.
Isto quer dizer, nenhum dos muito impressionantes (i.e. horrendos) feitos dos
neocons será desfeito, e ainda assim o povo americano será levado
a acreditar que os males estão no passado o mesmo padrão
táctico que vimos funcionar tão bem aquando da demissão de
Nixon. Os media serão recheados com novas linhas de estórias
totalmente novas, bem como com brilhantes confissões da
inteligência a fim de recuperar a simpatia. Novas caras para os amantes
da Terra, mais outras novas fantasias e a experiência Bush
desvanecer-se-á da memória pública, juntamente com os
resultados da última temporada de futebol. É uma vantagem para
os nossos dirigentes que nós os americanos tenhamos uma memória
tão diminuta e tão limitados poderes de observação
independente, em comparação com o resto da
população mundial. Imagino que a finalidade do caldeirão
foi fundir o nosso julgamento intuitivo básico.
Ainda não é tempo para o ataque surpresa aos
Feiticeiros Maus do Leste.
A guerra baseada no espaço ainda está no Beta Teste. Nem
é necessário por enquanto prosseguir com o pleno desencadeamento
da Gestapo, das SS Storm Troopers, campos de concentração e
trabalho forçado. Os neocons, diligentemente, construíram as
fundações para tudo isto, tanto no concreto como nos precedentes
legais, mas o projecto por enquanto está suspenso e os neocons sem
missão. Quando vier o tempo de retomar o projecto isso será
percebido como uma nova resposta para um cenário emergente inesperado, e
a continuidade com a era Bush será percebida.
O PREGADOR SINISTRO
Sugiro que podemos ver o foco da próxima administração dos
EUA se prestarmos atenção em Al Gore. Ele anda por aí a
pregar
o evangelho da mudança climática, e isso está a tornar-se
rapidamente a nova
cause celebre
da 'comunidade internacional'. Trata-se de mais do que uma campanha por
Gore, estamos a assistir a uma campanha apoiada pelos mass media, pelos poderes
que estão por trás deles. Estamos claramente a ser preparados
para um 'novo show', após o 'Bush show', e o 'novo show' vai em
direcção a novos impostos e créditos sobre o carbono,
novas fontes de energia, carros mais eficientes, biocombustíveis, e
todas aquelas outras coisas que são alegadamente relacionadas com a
mudança climática e o pico petrolífero.
A fim de limpar o caminho para o novo show, parece muito claro que a nova
administração começará com algumas vitórias
políticas fáceis, ao limpar rapidamente algumas das óbvias
bagunças deixadas pelos neocons. Encerrar Guantanamo, e declarar que os
voos de "rendição" foram abandonados, ganharia um
bocado de pontos sem qualquer custo real (voos e prisões secretas sem
dúvida continuariam). O Iraque já foi desestabilizado e
preparado para a balcanização, e bases permanentes americanas
já foram construídas. Uma outra vitória fácil para
as tropas americanas será retirarem-se para as suas bases e para os
campos de petróleo, pois a guerra será declarada ultrapassada, e
dividir o Iraque em províncias étnicas, deixando-as brigarem
entre si. Isto pode ser retratado nos medias como uma 'vitória da paz
de da democracia'.
O que, então, podemos nós esperar deste novo show? Que
consequências são prováveis seguir-se à
aplicação das espécies de políticas que Al Gore e
os media tem estado a falar, em torno de mudança climática,
independência energética, etc? O que é que a nossa clique
dirigente está realmente a tentar alcançar?
A um nível geral, é claro que aquelas espécie de
políticas não envolvem mudanças fundamentais no modo como
as nossas sociedades operam. Ainda teremos carros, eles podem apenas ser um
pouco mais eficientes, e estaremos a pagar mais para o combustível e os
impostos a fim de operá-los. Ainda estaremos a transportar produtos da
China que podíamos produzir localmente, e ainda estaremos dependentes de
camionagem a longas distâncias. Ainda estaremos a utilizar
métodos agrícolas que são altamente dependentes do
petróleo, para tractores, fertilizantes e pesticidas.
Investigação e desenvolvimento de novas fontes de energia
conduzirão a montes de subsídios governamentais, e isso pode
conseguir-nos um pouco mais de energia, mas não o bastante para
substituir o petróleo. Enquanto o nosso transporte e outras
infraestruturas permanecerem basicamente sem mudanças, permaneceremos
insustentáveis, dependentes do petróleo, e nenhuma das
iniciativas semelhantes às de Gore mudará o quadro
energético global, o quadro do carbono, ou o quadro do clima, de
qualquer modo significativo.
BIOCOMBUSTÍVEIS = FOME
A fim de começar a imaginar o que é a agenda real, por
trás de políticas como as de Gore, vamos examinar um exemplo:
biocombustíveis . Produzir biocombustíveis dá-nos outra
fonte de energia, mas também remove terra da produção
alimentar. Em consequência do mercado de biocombustíveis
já existente, os preços de mercado para cereais e outras fontes
potenciais de biocombustíveis agora estão a ser conduzidos pelos
preços da energia. Os preços globais dos alimentos estão
portanto a ascender rapidamente, enquanto em simultâneo a área de
produção alimentar está a ser reduzida. Estas duas coisas
aumentarão directa e drasticamente a fome mundial, particularmente nas
regiões mais pobres. Uma administração inspirada por Gore
estará a promover uma expansão dos programas de
biocombustíveis a uma escala global, e estará a congratular-se
pelos seus nobres feitos na poupança de petróleo.
Tudo isto estará a ocorrer num contexto em que enfrentamos uma crise
alimentar global. Não temos visto muitas manchetes sobre este
tópico, mas o mundo está sentado à beira de uma grande
crise alimentar. Stocks de emergência estão em níveis
baixos, níveis de produção estão baixo, fracassos
de colheitas aumentam, etc. É um quadro muito mau, mesmo sem
biocombustíveis.
Neste contexto, a consequência líquida de uma grande agenda de
biocombustíveis chega ao genocídio intencional. A fim de
proporcionar marginalmente mais combustível para os países
industrializados super-consumidores, incontáveis milhões
passarão fome no terceiro mundo, somando-se àqueles não
contados milhões que já estão a passar. O ganho de
energia marginal é tão pequeno em comparação que
devemos aceitar que a agenda dos biocombustíveis é primariamente
acerca do genocídio. Contudo, quando começarmos a ler acerca de
novas fomes a irromperem, talvez no Brasil onde os biocombustíveis
estão agora a entrar em produção maciça, as
manchetes culparão as secas, ou as colheitas fracassadas, ou alguma
outra desculpa, como sempre fazem. Nós em contrapartida sentiremos uma
'paixão verde' todas as vezes que enchermos o nosso Prius com
biocombustíveis, inconscientes do dano que estamos a fazer. E talvez
façamos doações à Oxfam
[5]
, ou adoptemos alguma criança do terceiro mundo e lhes enviemos cartas.
IMPERIALISMO GENOCIDA
Uma agenda Gore é simplesmente imperialismo genocida a esconder-se sob
uma nova máscara, um novo show. Ao invés de exterminar os
índios matando-lhes os seus búfalos, extermina
populações removendo-lhes o seu acesso à comida por outros
meios. Mais uma vez, 'eles' devem ser sacrificados de modo a que o 'nosso'
modo de vida possa continuar e expandir-se. Podemos observar aqui que morreram
mais iraquianos sob as sanções de Bill Clinton do que os foram
mortos na actual guerra do Iraque. No tempo de Bill Clinton o padrão era
genocídio invisível, ao invés daquele mais violento da
variedade Bush. Aparentemente, num mandato de Hilary Clinton vamos retornar
àquele anterior padrão invisível.
É claro que as consequências de uma agenda Gore são
genocidas, mas alguém pode perguntar se este é o resultado
primário pretendido. Tenho estado a sugerir que sim, e penso que
é necessária mais elaboração sobre este ponto.
Ainda não construí o caso muito bem. Simplesmente apresentei
alguma evidência e sugeri um padrão. A fim de obter uma
perspectiva adequada sobre esta questão, precisamos dar um passo
atrás e considerar o quadro mais amplo do mundo industrializado em
relação ao terceiro mundo, diante de um vasto conjunto de
crescente escassez de recursos a perspectiva estratégica da nossa
clique dirigente.
Parece muito claro que os países industrializado não têm
intenção de mudar o caminho básico em que estão, ou
de abandonar o capitalismo. Podemos esperar apenas mais crescimento
industrial, mais consumo de energia, uso contínuo de métodos
agrícolas intensivos em energia, etc. Os remendos energéticos de
uma agenda Gore não fazem diferença significativa neste quadro,
eles simplesmente afirmam a intenção de prosseguir com os
negócios como sempre.
O único meio pelo qual o Norte industrializado pode continuar neste
caminho é tomando cada vez mais da terra, água e recursos do
terceiro mundo para o seu próprio uso. Quando o apetite industrial por
recursos continuar a crescer a uma taxa rápida, e quando os recursos
globais estão cada vez mais sob tensão, estamos em vias de
assistir a uma muito rápida expansão da fome no terceiro mundo
a globalização de fomes em escala africana. Isto é
inevitável enquanto o Norte permanecer neste caminho básico, se
tivermos políticas como as de Gore ou algum outro conjunto de
políticas isso é de pouca importância.
Esta 'inevitabilidade' de extinções
(die-offs)
em massa no terceiro mundo é bem conhecida daqueles que dirigem os
países industriais. Da perspectiva das alturas do poder, a
questão torna-se: "Como podemos nós administrar estas
extinções de modo a que elas provoquem o mínimo transtorno
na economia global, e dessa forma não suscitem demasiado protesto
público?". Naturalmente, uma vez que se começa a
administrar extinções está-se então a ocupar de
genocídio, isto é, dispor que populações
particulares morram de preferência a outras.
ÁFRICA: CAMPO DE TESTE
O padrão para a administração da estratégia tem
sido muito clara na África Sub-Saariana, onde todas aquelas guerras
civis, atrocidades genocidas, secas e fome tem estado a ocorrer. Poucas
pessoas percebem que estes desastres têm sido sistematicamente impostos
à África, através de exigências do FMI, programas de
desestabilização encobertos, negação de cuidados
médicos, distribuição generalizada de armas
automáticas, manipulações de bancos internacionais, a
dedicação da terra e da água ao consumo do Norte, e a
lista pode prosseguir. Não só a África está a ser
esfaimada até à morte pelas forças do mercado como o
processo está a ser acelerado por intervenções genocidas
encobertas.
Em África vemos um Holocausto na sua plena dimensão, um programa
maciço de genocídio em andamento, ou deveria eu dizer que
não
vemos isso pois nada disso aparece nos media. Lemos que 'se atearam conflitos
tribais', mas não ouvimos acerca das duas bombas da CIA cada uma das
quais foi atribuída ao 'outro lado' e que acenderam a rixa, uma rixa que
poderia tornar-se uma guerra civil. Lemos acerca de uma fome devida à
'seca', e não nos dizem que haveria muita água ali se não
fossem todas as plantações de café para
exportação que utilizam a água local. Nós
não vemos genocídio, vemos africanos a cair por causa de
misérias
infelizes, todas elas devidas aos caprichos da Mãe Natureza.
Assim, o padrão de administração das
extinções
(die-offs)
torna-se claro. Ele foi testado satisfatoriamente na África, e podemos
esperar que o padrão demonstrado venha a ser empregado no futuro. Eles
escolhem uma população que consideram 'redundante', empreendem um
programa de aquisição dos recursos daquela
população, e então para acelerar o processo de
remoção empenham-se em várias acções
encobertas de genocídio. Deste modo a população do mundo
pode ser reduzida pouco a pouco, e de forma administrável, pois o Norte
requer gradualmente a utilização de TODOS os recursos do mundo
para o seu próprio uso exclusivo. Infelizmente para o Norte, mesmo isso
não será suficiente para permitir que o crescimento industrial
continue. O Sul está a ser massacrado apenas para que o Norte
insustentável possa continuar no seu caminho um bocadinho mais longe.
Enquanto isso, os media no Norte pintam um quadro no qual apenas a natureza
provoca a fome, e o papel do Norte é sempre proporcionar ajuda, na
medida em que pode. Aos observadores preocupados são dados
números de telefone convenientes para chamar, de modo a que eles possam
dissipar as suas preocupações com um simples donativo que
'salvará uma criança', ou 'dar uma cabra a uma família'.
Nenhum genocídio aqui, nós somos os bons rapazes. Não
veja o mal, sinta-se bem. A propósito, são uma pena aquelas
fomes lá.
As políticas estilo Gore não são apenas genocidas, elas
são formidavelmente genocidas. Quando eles começam a retirar
quantidades maciças de terra à produção alimentar,
e provocar um aumento substancial nos preços globais dos alimentos,
diante de um mundo já tenso devido à situação
alimentar, eles poderiam provocar a muito curto prazo
uma estação de más colheitas a fome numa escala
jamais vista anteriormente. Quão sério será o resultado
dependerá inteiramente de quão agressivamente a nova
administração prosseguir na agenda estilo Gore. Eles conseguiram
fazer do genocídio uma ciência, com parâmetros
afináveis.
Aparentemente, tendo efectuado os testes de campo das tácticas do
Holocausto na África Sub-Saariana, foi tomada uma decisão no
sentido de avançar com o programa à escala global. Para esta
finalidade, as políticas estilo Gore têm o potencial para serem as
Armas de Destruição em Massa adequadas, o equivalente no jogo da
fome às ogivas nucleares no jogo do matar pelo fogo. Esta
decisão de avançar para o global foi evidentemente tomada tempos
atrás, sem dúvida antes de ser pedido a Gore para realizar
Uma verdade inconveniente (An Inconvenient Truth).
O filme foi o primeiro sinal de quais os caminhos pelos quais os ventos iriam
soprar, a primeira antevisão do 'novo show'.
A missão primária da administração Hilary, sob as
bandeiras do 'fazer alguma coisa acerca da mudança climática e do
pico petrolífero', será evidentemente empreender a tomada
maciça dos recursos no Sul global, conduzindo à
eliminação maciça e selectiva de certas
populações através da morte pela fome. Por outras
palavras, a missão é expandir globalmente o modelo africano de
morte pela fome, um processo que presumivelmente será corroborado pelos
suspeitos do costume nos seus papéis habituais de
desestabilização.
Meu grande medo com o regime Bush era o provável ataque ao
Irão... ou seria o desencadear da Gestapo? Foi uma corrida apertada
naqueles dias negros. Agora estamos nós à beira de um regime
inclinado ao genocídio numa escala que envergonharia os nazis. Sugiro
que escapámos da panela apenas para cairmos na frigideira.
Espero que ninguém tenha quaisquer noções românticas
acerca da nova administração, e espero que todos percebam que o
processo político nunca poderá ser utilizado para resolver os
nossos problemas. Tal sistema é de facto o cerne do nosso problema.
Também espero ser claro para todos que o genocídio global
é uma consequência inevitável da continuação
deste sistema capitalista insano, quer concorde com a maior da minha
análise ou não. E finalmente, que o capitalismo não pode
perdurar mais.
Só quando tiver atingido este nível profundo de
desesperança, onde não se vê saída para a fuga,
é que poderá ficar suficientemente esclarecido para
começar a ver onde jaz o problema real. O problema real, caros amigos,
jaz no facto de que você e eu nada temos a dizer acerca de como as nossas
sociedades são dirigidas. E qualquer um de nós tem mais senso do
que as pessoas que estão a dirigir as coisas, e nós certamente
temos os nossos companheiros humanos mais no coração. O nosso
problema jaz na nossa falta de poder, deixando-o nas mãos daqueles
que sempre dele abusaram, de uma forma ou de outra, numa era após a
outra.
Nosso desafio como espécie consciente, e nossa resposta se procurarmos
fazer alguma coisa acerca da agenda
crescimento-através-do-genocídio, é começarmos a
nos fortalecer, nós pessoas comuns, sem referência aos processos
políticos inúteis. Como buscar o nosso fortalecimento deve ser o
objectivo das nossas investigações, e buscar tal fortalecimento
deve ser o ponto central do nosso activismo.
27/Dezembro/2007
[1] PNAC:
Project for the New American Century
,
[2] Caixa negra: refere-se aos comandos para desencadear a guerra nuclear.
[3] Diebold: máquinas de votação electrónica que se
prestam à falsificação. São fabricadas por uma
empresa cujo proprietário é apoiante de Bush.
[4] Jack D. Ripper: general mentalmente perturbado da U.S. Air Force no filme
Dr. Strangelove.
[5] Oxfam: organização caritativa que promove programas de
auxílios individuais a crianças africanas.
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© Copyright Richard K. Moore, Global Research, 2007
O original encontra-se em
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