Revolução colorida nos EUA e quem a financia
por F. William Engdahl
[*]
Revolução colorida é a expressão utilizada para
descrever uma série de notáveis operações de
mudança de regime efectuadas pela CIA através de técnicas
desenvolvidas pela RAND Corporation, ONGs pela "democracia" e outros
grupos desde a década de 1980. Elas foram utilizadas de forma bruta para
derrubar o regime comunista polaco no fim da década de 1980. Desde
então as técnicas foram refinadas e utilizadas, juntamente com
fortes subornos, para derrubar o regime Gorbachov na União
Soviética. Para qualquer pessoa que tenha estudado estes modelos
atentamente, está claro que os protestos contra violência policial
conduzidos por organizações amorfas com nomes como Black Lives
Matter ou Antifa são mais do que ultrajes morais puramente
espontâneos. Centenas de milhares de jovens americanos estão a ser
utilizados como um aríete não só para derrubar um
presidente dos EUA como também, no processo, as próprias
estruturas da ordem constitucional dos EUA.
Se voltarmos atrás em relação à questão imediata dos
vídeos
mostrando um polícia branco de Minneapolis a pressionar o seu joelho
sobre o pescoço de um homem negro, George Floyd, e examinarmos o que se
tem passado desde então por toda a nação, fica claro que
certas organizações ou grupo estavam bem preparados para
instrumentalizar o horrível acontecimento para a sua própria
agenda.
Os protestos a partir de 25 de Maio começaram muitas vezes de modo
pacífico sendo então capturados por bem treinados actores
violentos. Duas organizações apareceram regularmente em
conexão com os protestos violentos Black Lives Matter e Antifa
(USA). Vídeos mostram protestatários bem equipados vestido
uniformemente em negro e mascarados (não por causa do coronavírus
certamente), vandalizando carros da polícia, incendiando esquadras de
polícia, partindo vitrinas de lojas com canos ou tacos de baseball. A
utilização do Twitter e outros media sociais para coordenar
ataques relâmpago em enxame de multidões em protesto é
evidente.
O que se tem desdobrado desde o evento disparado em Minneapolia tem sido
comparado à onda de tumultos de protestos dos guetos negros em 1968. Eu
vivi aqueles acontecimentos em 1968 e o que está a acontecer hoje
é muito diferente. Assemelha-se mais à revolução
colorida na Jugoslávia que derrubou Milosevic em 2000.
Gene Sharp: Modelo para derrube de regimes
No ano 2000 o Departamento de Estado dos EUA, ajudado pelo seu National
Endowment for Democracy (NED) e operadores selectos da CIA, começaram
secretamente a treinar um grupo de estudantes da Universidade de Belgrado
conduzidos por um grupo de estudantes que era chamado Otpor!
(Resistência!). O NED e seus vários rebentos foi criado na
década de 1980 pelo chefe da CIA, Bill Casey, como uma ferramenta
encoberta para derrubar regimes específicos por todo o mundo sob a
cobertura de uma ONG de direitos humanos. Na verdade, eles obtinham o seu
dinheiro do Congresso dos EUA e da USAID.
Na desestabilização de 2000 do Otpor! sérvio, o NED e o
embaixador dos EUA em Belgrado, Richard Miles, seleccionaram e treinaram um
grupo de várias dúzias de estudantes, liderados por Srða
Popoviæ, utilizando o manual From Dictatorship to Democracy,
traduzido
para sérvio, do falecido Gene Sharp e do seu Albert Einstein
Institution. Num epitáfio dos acontecimentos sérvios, o
Washington Post
escreveu: "Consultores financiados pelos EUA desempenharam um papel
crucial nos bastidores em virtualmente todos os aspectos do processo, dirigindo
inquéritos de rastreamento, treinando milhares de activistas da
oposição e ajudando a organizar uma contagem paralela de votos
vitalmente importante. Contribuintes dos EUA pagaram 5000 latas de tinta spray
utilizadas
por estudantes activistas para garatujar graffitis anti- Miloeviæ
nas paredes de toda a Sérvia.
Esquadrões treinados de activistas foram posicionados em protestos para
tomar o comando de quarteirões de cidades com a ajuda de écrans
de vídeo em "capacetes de inteligência" que lhes davam
uma supervisão instantânea do seu ambientes. Bandos de jovens a
convergirem sobre cruzamentos alvo em diálogo constante através
de telefones celulares iriam então sobrecarregar a polícia. O
governo dos EUA gastou cerca de US$41 milhões na operação.
Grupos de estudantes foram secretamente treinados nas técnicas do manual
Sharp de encenação de protestos que ridicularizavam a autoridade
da polícia do governo, mostrando que eram desajeitados e impotentes
contra os jovens manifestantes. Profissionais da CIA e do Departamento de
Estado dos EUA guiaram-nos nos bastidores.
O modelo Otpor! de Revolução Colorida foi refinado e aplicado em
2004 como a Revolução Laranja na Ucrânia com o logo e a cor
em cachecóis, assim como em 2002 na Geórgia como
Revolução Rosa. Posteriormente a secretária de Estado
Hillary Clinton utilizou o modelo para lançar a Primavera Árabe.
Em todos os casos o NED esteve envolvido, com outras ONGs incluindo as
Fundações Soros.
Depois de derrotar Milosevic, Popovic prosseguiu para estabelecer um centro de
treino global de revoluções coloridas, CANVAS, uma espécie
de negócio de consultoria lucrativa para revoluções e
estava pessoalmente presente em Nova York a trabalhar, confirmadamente, com o
Antifa durante o Occupy Wall Street em que o dinheiro de Soros também
foi confirmado.
Antifa e BLM
Os protestos, tumultos, acções violentas e não-violentas
que varrem os Estados Unidos desde 25 de Maio, incluindo um assalto às
portas da Casa Branca, começam a fazer sentido quando entendemos o
manual de estratégia
(playbook)
da Revolução Colorida da CIA.
O impacto dos protestos não seria possível se não houvesse
uma rede de responsáveis políticos locais e estaduais dentro do
Partido Democrata dando apoio aos protestatários, mesmo ao ponto de o
presidente democrata da municipalidade de Seattle ordenar à
polícia que abandonasse vários quarteirões no centro da
cidade para a ocupação pelos protestatários.
Nos últimos anos grandes porções do Partido Democrata por
todos os EUA têm sido silenciosamente capturadas pelo que alguém
poderia considerar como candidatos da esquerda radical. Muitas vezes eles
vencem com o apoio activo de organizações tais como Democratic
Socialists of America ou Freedom Road Socialist Organizations. Na câmara
baixa do parlamento o grupo vocal dos novos representantes em torno de
Alexandria Ocasio-Cortez (D-NY), Rashida Tlaib e o deputado de Minneapolis
Ilhan Omar são
todos membros ou próximos
do Democratic Socialists of America. Claramente, sem responsáveis
locais democratas simpáticos nas cidades chave, os protestos de rua de
organizações como Black Lives Matter e Antifa não teriam
um impacto tão dramático.
Para compreender melhor quão sério é o actual movimento de
protesto, deveríamos olhar para quem tem estado a despejar
milhões no BLM. Em relação ao Antifa é mais
difícil devido à sua forma explícita de
organização anónima. No entanto, o seu Manual online
recomenda abertamente que as "células" locais do Antifa se
juntem aos capítulos do BLM.
FRSO: Sigam o dinheiro
O BLM começou em 2013 quando três activistas amigos criaram o
hashtag #BlackLivesMatter para protestar contra alegações de
disparo de um adolescente negro desarmado, Trayvon Martin por um vigia
hispânico branco, George Zimmermann. Alicia Garza, Patrisse Cullors e
Opal Tometi eram todos ligados e financiados por grupos de frente ligados a
algo chamado Freedom Road Socialist Organization (FRSO), uma das quatro maiores
organizações de esquerda radical dos Estados Unidos formada a
partir de algo chamado New Communist Movement que se dissolveu nos anos 80.
Em 12 de Junho de 2020 o sítio web da Freedom Road Socialist
Organization declara: "É tempo agora de aderir a uma
organização revolucionária! Junte-se à Freedom Road
Socialist Organization... Se esteve nas ruas nas últimas semanas,
há boas probabilidades de que esteja a pensar acerca da diferença
entre a espécie de mudança que este sistema tem para oferecer e a
espécie de mudança que este país precisa. O capitalismo
é um sistema fracassado que prospera sobre a exploração,
desigualdade e opressão. A reaccionária e racista
administração Trump tornou pior a pandemia. O desdobramento da
crise económica que estamos a experimentar é o pior desde a
década de 1930. O capitalismo monopolista é um sistema moribundo
e precisamos ajudar a liquidá-lo. E é exactamente para isto que a
Freedom Road Socialist Organization está
a trabalhar
".
Em suma, os protestos sobre a alegada morte pela polícia de um homem
negro no Minnesota estão agora a ser utilizados para apelas a uma
revolução contra o capitalismo. O FRSO é um guarda-chuva
para dezenas e grupos amorfos, incluindo o Black Lives Matter ou BLM. O que
é interessante acerca das auto-descritas raízes marxistas da FRSO
não é tanto a sua política de esquerda e sim o seu
próprio estabelecimento financiado por um grupo de bem providas
fundações com isenção fiscal.
Alicia Garza do BLM é também membro direcção, ou
executiva, de cinco diferentes grupos de frente da Freedom Road incluindo a
presidência da Right to the City Alliance, membro da
direcção da School of Unity and Liberation (SOUL), da People
Organized to Win Employment Rights (POWER), Forward Together e directora de
Projectos Especiais da National Domestic Workers Alliance.
A Right to the City Alliance obteve US$6,5 million entre 2011 e 2014 de um
certo número de muito bem estabelecidas fundações isentas
de fisco, incluindo a Ford Foundation (US$1,9 milhão), das duas
principais de George Soros a Open Society Foundations e a Foundation to
Promote Open Society com US$1,3 milhão. Também a Kellogg
Foundation, ligada ao cornflake, contribuiu com US$250.000 e,
curiosamente
, a Ben & Jerry's Foundation (sorvetes) com US$30.000.
Garza, como directora executiva da frente FRSO, também obteve dinheiro
de da grande fundação POWER onde o antigo "czar dos empregos
verdes" de Obama, Van Jones, que se auto-descreve como
"comunista" e "nacionalista negro rebelde", agora com a
CNN, estava na direcção. Alicia Garza também presidiu a
Right to the City Alliance, uma rede de grupos de activistas que se
opõem à gentrificação urbana. Essa frente desde
2008 recebeu US$1,3 milhão da Ford Foundation, bem como US$600.000 das
fundações de Soros e, mais uma vez, da Ben & Jerry's (US$50.000).
E a SOUL de Garza, a qual afirma ter treinado 712 "organizadores" em
2014, quando ela co-fundou o Black Lives Matter, obteve US$210.000 da
Rockefeller Foundation e outros US$255.000 da Heinz Foundation (ketchup e
família John Kerry) entre outros. Com o Forward Together da FRSO, Garza
senta-se na direcção de uma "organização
multi-racial que trabalha com líderes e organizações
comunitárias para transformar a cultura e a política a fim de
catalisar mudança social". Esta oficialmente obteve US$4
milhões de receitas em 2014 e de 2012 a 2014 a organização
recebeu um total de US$2,9 milhões da Fundação Ford
(US$655.000) e
outras fundações importantes
.
O co-fundador da BLM, Opal Tometi, nascido na Nigéria, provavelmente
veio da rede da FRSO. Tometi encabeçou a Black Alliance for Just
Immigration, da FRSO. Curiosamente, com uma "equipe" de apenas dois
esta obteve dinheiro das principais fundações incluindo a Kellogg
Foundation com US$75.000 e fundações de Soros com US$100.000 e,
mais uma vez, a Ben & Jerry's (US$10.000). Tometi obteve US$60.000 em 2014 para
dirigir o grupo
.
A Freedom Road Socialist Organization que agora clama abertamente por uma
revolução contra o capitalismo na esteira da morte de Floyd
George tem um outro braço, The Advancement Project, o qual descreve-se a
si próprio como "uma organização da próxima
geração por direitos civis multi-raciais". Sua
direcção inclui um antigo Director de Envolvimento com a
Comunidade do Departamento da Educação de Obama e um antigo
assistente de procurador geral para direitos civis de Bill Clinton. Em 2013 o
Advancement Project da FRSO obteve milhões das principais
fundações isentas de fisco
dos EUA incluindo a Ford (US$8,5 milhões), Kellogg (US$3
milhões), Hewlett Foundation fundadora da indústria de defesa da
HP (US$2,5 milhões), Rockefeller Foundation (US$2,5 milhões) e
fundações de Soros (US$8,6 milhões).
Dinheiro grosso e
ActBlue
Em 2016, o ano das eleições presidenciais em que Hillary Clinton
desafiava Donald Trump, Black Lives Matter tinha-se estabelecido como uma rede
bem organizada. Nesse ano, a Fundação Ford e a Borealis
Philanthropy anunciaram a formação do Fundo do Movimento de
Leigos Negros (Black-Led Movement Fund, BLMF), "uma campanha conjunta de
seis anos de doadores destinada a angariar US$100 milhões para a
coligação Movement for Black Lives", na qual o BLM era uma
parte central. Nessa altura, as fundações Soros já haviam
doado cerca de US$33 milhões em
donativos ao movimento Black Lives Matter
. Este foi o dinheiro a sério da fundação.
O BLMF identificou-se como sendo criado por fundações de topo incluindo, além
da Fundação Ford, a Fundação Kellogg e as fundações Open Society de Soros. Eles
descreveram o seu
papel assim:
"O BLMF providencia doações, recursos para a construção de movimento e
assistência técnica para organizações que trabalham para o avanço da liderança
e visão de jovens,
negros, homosexuais, feministas e líderes imigrantes que estão a modelar e
liderar uma
conversação
nacional acerca de criminalização, policiamento e raça nos EUA".
O Movement for Black Lives Coalition (M4BL), que inclui a Black Lives Matter,
já em 2016 apelou ao "desfinanciamento de departamentos da
polícia, reparações com base na raça, direito de
voto para imigrantes ilegais, desinvestimento em combustíveis
fósseis, fim à educação privada e das
charter schools
, um rendimento básico universal e
faculdades gratuitas para negros
".
É notável que quando clicamos no sítio web da M4BL, no seu
botão de doações aprendemos que elas virão de algo
chamado ActBlue Charities. A ActBlue facilita doações para
"democratas e progressistas". Em 21 de Maio, a ActBlue havia dado
US$119 milhões para a
campanha
de Joe Biden.
Isso foi antes dos protestos mundiais de 25 de Maio do BLM. Agora grandes
corporações como a Apple, Disney, Nike e centenas de outras podem
estar a despejar milhões incontáveis e não contabilizados
na ActBlue sob o nome de Black Lives Matter, fundos que de facto podem ir para
o financiamento da eleição de um presidente democrata, Biden.
Talvez esta seja a verdadeira razão pela qual a campanha de Biden tem
estado tão confiante no apoio dos eleitores negros. O que fica claro
apenas neste relato sobre o papel crucial das fundações do
dinheiro grosso por trás de grupos de protesto como o Black lives Matter
é que existe uma agenda muito mais complexa que impulsiona os protestos
que agora desestabilizam cidades por toda a América. O papel das
fundações isentas de impostos ligadas às fortunas das
maiores empresas industriais e financeiras como Rockefeller, Ford, Kellogg,
Hewlett e Soros diz que há uma agenda muito mais profunda e sinistra
para os distúrbios actuais do que o ultraje espontâneo sugeriria.
Ver também:
How 'Color Revolutions' Are Made
[*]
Consultor de risco estratégico, autor de
numerosos livros
sobre petróleo e geopolítica. Colabora regularmente na
New Eastern Outlook
.
O original encontra-se em
www.globalresearch.ca/america-own-color-revolution/5716153
Este artigo encontra-se em
https://resistir.info/
.
|