As estranhas condições da morte de Milosevic
por Georges Gastaud
[*]
e Daniel Antonini
[**]
Os media acabam de anunciar, com um atraso estranhíssimo, a morte na
prisão do antigo presidente da Jugoslávia, Slobodan Milosevic.
Fica-se assim a saber assim que o ex-presidente, aprisionado pela
"justiça" revanchista da NATO, travestida em "comunidade
internacional", teria sido encontrado morto na sua cela várias
horas após o seu falecimento, cujo anuncio tardio foi feito primeiro sem
qualquer comentário, nomeadamente sob a forma inusitada de um
"não-desmentido" pelas autoridades neocoloniais de Belgrado.
Sabe-se também que o Tribunal Penal Internacional por várias
vezes recusou a liberdade provisória a este homem gravemente doente.
Estranha justiça, decididamente em relação àquela
que prevalece na UE: a justiça francesa que rapidamente libertou Papon
há pouco deu mostra de uma maior "humanidade" maior para com
este criminoso contra a humanidade, assassino dos manifestantes comunistas de
Charonne, do que o TPI ao serviço da nova ordem europeia em
relação a um antigo dirigente comunista, "culpado" de
ter defendido a unidade do seu país e o seu direito inalienável a
não ser anexado pela UE!
Parece finalmente que, há uma semana, uma das principais testemunhas
sérvias no processo de Milosevic ter-se-ia suicidado. Cada vez melhor!
O que é certo é que Milosevic fazia mais do que resistir aos seus
pretensos "juizes" denunciando os criminosos bombardeamentos da NATO
sobre Belgrado, a ocupação da Jugoslávia pelos
exércitos americano, alemão, inglês e francês. Ele
denunciava igualmente a privatização total da economia
sérvia, o lançamento no desemprego de milhões de
operários, a destruição das aquisições
sociais herdadas da ex-República Socialista Federativa da
Jugoslávia, o desmembramento "étnico" da Sérvia
e da Jugoslávia, a próxima partição sob
influência ocidental da Sérvia-Montenegro... O processo de
Milosevic chegava ao ponto fixado pelos "acusadores", momento em que
o processo do ex-presidente levava à confusão do TPI e dos seus
comanditários euro-atlânticos.
O PRCF tem um julgamento nuançado acerca de Milosevic. Por um lado,
Milosevic acreditou ser bom, no momento da tempestade
contra-revolucionária que destruiu a URSS e as democracias populares,
participar activamente na auto-dissolução da Liga dos Comunista
da Jugoslávia e do PC sérvio, para aliar-se a elementos
sérvios nacionalistas e ultra-nacionalistas, com o fim proclamado de
preservar a unidade sérvia e jugoslava. Ora, alguns destes ultras
cometeram terríveis exações na guerra civil tal como os
ultras croatas, bósnios e kossovares que desencadearam unilateralmente
movimentos separatistas. É evidente que o PRCF condena todos os crimes
de guerra quaisquer que eles seja e de onde quer que venham, mas o seu
julgamento caberá por direito ao povo jugoslavo e não aos
"juizes" instituídos pelos promoveram o crime da NATO, do
Vaticano e da RFA.
Foram com efeito estas grandes potências "virtuosas" que
desencadearam a guerra civil inter-étnica reconhecendo a secessão
unilateral dos senhores fascizantes da Croácia a fim de ampliar a esfera
de influência da Grande Alemanha e do Vaticano em prol da
re-clericalização da Europa de Maastricht...
Na realidade, não foi para julgar imparcialmente o conjunto dos
criminosos de guerra que foi aberto do TPI a pedido do novo Santo
Império romano-germano-americano. Nem tão pouco para julgar o
atentado criminoso contra a soberania jugoslava que constitui a actual
ocupação dos Balcãs pelos imperialismos americano,
francês e alemão que se rivalizam para partilhar o país
entre si sob a cobertura da ingerência humanitária e com a
bendição da ONU. De facto, à sombra do
"processo" Milosevic o principais fautores de crimes
não-sérvios e os massacradores da NATO que partilham o
país entre si com os seus fantoches separatista estão em
liberdade ou... abertamente no poder nos micro-Estados resultantes do
estilhaçamento jugoslavo sob sua influência!
Sem entretanto aprovar em tudo a linha política que foi a sua, o PRCF
saúda a atitude digna de Milosevic face àquela
perseguição política. Apesar da doença e da
impossibilidade de se tratar no exterior, Milosevic enfrentou os
re-colonizadores do seu país despedaçado.
O PRCT exige portanto a dissolução do TPI, o respeito da
soberania jugoslava, a saída da NATO e das tropas francesas da
Jugoslávia, o respeito dos direitos de todos os povos da ex-RSFI,
inclusivé no ex-Kosovo onde os sérvios "depurados
etnicamente" pela mafia do UCK, o julgamento pela Jugoslávia
independente de todos os criminosos de guerra, chefes de Estados ocidentais e
generais da NATO. O PRCF está solidários com os trabalhadores
jugoslavos confrontados com regressões sociais maciças, assim
como é solidário com os comunistas jugoslavos que combatem a
ocupação da NATO na base do patriotismo federal e socialista e do
internacionalismo proletário, recusando o chauvinismo
"étnico", instrumento de divisão nas mãos do
supra-nacionalismo europeu e do imperialismo americano.
A "justiça dos vencedores" ocidentais é decididamente
cada vez mais opaca. Ao ver como acabou o "processo" Milosevic, os
observadores do processo Saddam Hussein em Bagdad têm razões para
perguntar quanto tempo ainda será preciso para encontrar o antigo
dirigente iraquiano morto na sua cela devido a uma paragem de
coração descoberta tardiamente... após o oportuno
suicídio das suas testemunhas de acusação...
[*] Secretário político do PRCF,
[**] Secretário internacional do PRCF
Milosevic no tribunal da NATO: quando os criminosos se arvoram em juízes
Milosevic dies in NATO prison: Yugoslav leader exposed U.S. war crimes in Balkans
O original encontra-se em
http//www.initiative-communiste.fr/
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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