'Constituição' europeia
Os franceses querem o 'não'

por Diana Johnstone [*]

Há reverberações de 1789 no ar da Primavera. "Será isto uma revolta", pergunta consternado o poderoso. "Não, sire", diz a réplica histórica, "é uma revolução".

Pelo menos, se uma revolução é uma reversão da política provocada pela revolta popular contra uma elite auto-satisfeita e arrogante que perdeu o contacto com a vida do povo e as suas preocupações, uma outra revolução poderia na verdade estar a fermentar em França. Se assim for, ela começa na urna eleitoral, no referendo nacional a se efectuado em 29 de Maio próximo para ratificar o Tratado que estabelece uma Constituição para a Europa.

O governo francês é apenas um dos nove, entre os 25 membros da União Europeia, que ousaram submeter a Constituição a um referendo popular. A elite política e dos media nunca teve dúvida de que os votantes obedientemente diriam "sim à Europa". Foram vítimas da sua própria euforia, a qual tornou-os surdos ao levantamento da revolta das massas contra uma política de "competição über alles" que subordina todas as preocupações humanas ao "mercado livre".

O despertar para a realidade começou em 4 de Fevereiro, quando 82% do delegados da maior central sindical da França, a CGT, votaram pelo apoio ao "não". Isto foi uma bofetada na própria liderança da CGT, a qual saíra-se pelo "sim". Os murmúrios começaram a ser ouvidos nas fileiras do Partido Socialista, cujo primeiro secretário François Holland passara por um referendo interno do partido o qual apoiou por pouca margem a Constituição antes mesmo que alguém tivesse tempo para le-la.

Uma nota de pânico rastejou dentro da campanha do "sim" quando as pesquisas começaram a mostrar que a intenção de votar "não" crescia firmemente acima da marca crucial dos 50%. Jack Lang trotou para longe do seu vasto estábulo de celebridades a fim de apoiar a posição do "sim" com a sua presença carismática. Jacques Delors advertiu do "cataclismo". Tudo quanto é coisa, desde a memória de Auschwitz à candidatura de Paris às Olimpíadas de 2012, foi evocado como prova da necessidade de aprovar esta Constituição. Tudo, com excepção do próprio texto.

Durante décadas disseram aos cidadãos que cada um dos novos passos na construção europeia era necessário a fim de assegurar a paz e consolidar o modelo europeu de solidariedade social. Agora os franceses estão a despertar para o facto de que foram vendidos.

O ideal do pós II Guerra Mundial de unir a Europa para impedir outra guerra foi alcançado há muito. Ele está agora a ser explorado para ganhar assentimento a um projecto que ameaça ligar a Europa a guerras externas travadas pelos Estados Unidos. Longe de preservar o "modelo europeu", a Constituição foi concebida para transformar a Europa numa área de livre comércio de vanguarda no processo de globalização neoliberal.

Já em 1992 o Tratado de Maastricht ditava estrita disciplina monetarista aos Estados membros, excluindo não só o socialismo como até mesmo políticas económicas keynesianas. Na altura do referendo francês de Setembro de 1992 sobre aquele Tratado poucos realmente chegaram a le-lo — e aqueles que o fizeram podem entender porque. Ele não foi escrito para ser lido pelo público geral. É altamente improvável que os franceses, se tivessem conhecimento, escolheriam as políticas ditadas por aquele Tratado. Mas uma ligeira maioria de votantes, notavelmente à esquerda, foi vencida pelas promessas de que, após a união monetária estabelecida em Maastricht, o próximo assunto na agenda seria a há muito esperada "Europa social". Aconteceu o oposto. A obrigação de seguir as regras da UE levou a fracassos comerciais, transferências de indústrias para o exterior, reduções em serviços sociais, poder de compra reduzido e desemprego em massa.

O QUE HÁ DE ERRADO COM ELE

É fácil descobrir pessoas que votaram por Maastriht que prometem não cometer o mesmo erro duas vezes. Desta vez estão a ler o texto e a retirar as suas próprias conclusões.

Pode-se mencionar umas poucas coisas que elas consideram erradas nesta Constituição:

  • Ninguém está suficientemente seguro do que ela é. Juristas indicam que é apenas um outro Tratado internacional, não uma Constituição real. Mas uma vez que foi apresentada ao público como uma Constituição, as pessoas naturalmente julgam-na como tal.

  • É extremamente longa, 482 páginas na versão em inglês, em quatro secções principais que totalizam 448 artigos, mais uma infindável série de anexos e protocolos. Excepto talvez para juristas com muito tempo disponível, ler isto é uma tarefa árdua.

  • Ao contrário de qualquer Constituição normal, esta vai além da definição da estrutura institucional, estabelecendo com considerável pormenor as políticas que a União Europeia deve seguir. O principal objectivo da União, o qual condiciona todos os outros, é "uma economia de mercado altamente competitiva" em que "a competição é livre e não distorcida". A experiência mostra que na prática isto significa "não distorcida" pela intervenção do Estado em nome da igualdade social.

  • Só as despesas militares são isentas da austeridade imposta. O Artigo I.41, sobre a "política comum de segurança e defesa", apela à melhoria das capacidades militares, e especifica que "compromissos e cooperação nesta área serão consistentes com compromissos sob a Organização do Tratado do Atlântico Norte". A União Europeia é ligada à NATO, o mais importante instrumento institucional dos Estados Unidos para controlar a política externa europeia.

  • Além disso, é ligada à actual doutrina de política externa americana, nomeadamente pela ênfase no combate a "ataques terroristas" (Artigo I-43) e nas contribuições militares para o "combate contra o terrorismo" (Artigo III-309). As missões previstas combinam-se perfeitamente com as guerras externas conduzidas pelos EUA. As minutas deste texto pareciam encarar a União Europeia como o "bom polícia" ao lado dos EUA, na mesma pulsação em escala mundial.

  • A Constituição é "concluída por um período ilimitado" e pode ser emendada (Artigo IV-443) apenas mediante um processo extremamente tortuoso que exige a unanimidade de todos os Estados membros.

  • A Carta dos Direitos da UE — suposta ser um dos principais argumentos de venda — fica longe da Declaração Universal dos Direitos Humanos e da maior parte das constituições nacionais da Europa ocidental, incluindo aquelas da França, Itália e Alemanha. Exemplo: onde a Constituição Francesa garante o direito ao trabalho, no sentido do direito ao emprego útil, a Constituição da UE garante o direito a procurar trabalho. A Constituição da UE garante o "direito à greve" não só a trabalhadores como também a empregadores: por esse meio introduz o "lockout" dentro da jurisprudência francesa.

    Tudo isto pode parecer bom para os "novos europeus" nos países do ex-bloco soviético que estão ansiosos por dar um impulso de um extremo ao outro. Para a classe trabalhadora na Europa ocidental, significa regressão.

    SERVIÇOS PÚBLICOS

    O foco primário da revolta tem sido a defesa dos serviços públicos. A vasta maioria do povo francês é dedicada aos seus serviços públicos como factor essencial da sua alta qualidade de vida e solidariedade social. A França tem talvez o melhor sistema médico do mundo, e com isto a maior expectativa de vida. O Metro de Paris é um modelo de transporte urbano. Os sistemas ferroviário e postal são incomparavelmente mais eficientes do que os sistemas privatizados na Grã-Bretanha e em outros países. O sistema escolar do país resolutamente escolar e uma vida cultural rica são elementos indispensáveis de coesão social.

    Para proporcionar a todos os cidadãos igual acesso a serviços tão vitais como as redes de água, electricidade, gás, telefone, transportes e correios, é necessário uma base vasta a fim de permitir que as receitas das operações mais lucrativas sejam utilizadas para cobrir os custos das menos lucrativas, tais como serviços em áreas rurais remotas ou populações carenciadas.

    Isto significa regulação governamental. Se tais serviços forem abertos amplamente ao capital privado, as empresas privadas tomarão conta das partes lucrativas e deixarão as operações não lucrativas por conta do Estado. Elas, assim, serão drasticamente reduzidas ou encerradas. De acordo com as leis dos mercados financeiros, companhias privadas devem utilizar lucros para pagar aos seus accionistas o melhor retorno que possam obter em relação a outros investimentos. Uma margem de lucro estreita não é suficiente. No sector privado, servir o público é um slogan e não uma necessidade.

    Os advogados da Constituição mentem descaradamente quando afirmam que ela protege os serviços públicos. O ponto de partida da campanha do "não" foi expor este logro. O texto nunca menciona "serviços público", nem qualquer "direito a serviços públicos". O Artigo III-166 refere-se a "serviços de interesse económico geral".

    "Empreendimentos aos quais foi confiada a operação de serviços de interesse económico geral ou tendo o carácter de um monopólio produtor de rendimentos serão sujeitos às disposições da Constituição, em particular às regras sobre competição, enquanto a aplicação de tais disposições não obstruir o desempenho, na lei ou de facto, das tarefas particulares que lhes foram assinaladas. O desenvolvimento do comércio não deve ser afectado numa tal extensão que contrariasse os interesse da União".

    Esta passagem introduz a raposa "económica" no interior do galinheiro. Como é frequente, a linguagem é obscura, mas pode ser lida para dar a primazia às "regras da competição" e ao "desenvolvimento do comércio". O Artigo III-167 avança para especificar que "qualquer ajuda concedida por um Estado membro ou através de recursos do Estado em qualquer forma que seja que distorça ou ameace distorcer a competição ao favorecer certos empreendimentos ou a produção de certos bens no futuro, na medida em que afecte o comércio entre Estados membros, será incompatível com o mercado interno". As poucas isenções mencionadas não incluem serviços públicos.

    ENTRA FRANKENSTEIN

    Por sorte, exactamente quando a campanha do pré-referendo estava a iniciar-se, a atenção pública foi atraída por um rascunho de Directiva sobre liberalização de serviços que ilustrou perfeitamente as implicações do "mercado interno onde a competição é livre e não distorcida" (Artigo I-3). Conhecido pelo nome do seu autor, o Comissário da UE Frits Bolkestein, antigo chefe da Shell Oil e líder político da extrema direita holandesa, ganhou logo a alcunha de "Directiva Frankenstein". A principal característica desta legislação proposta é o "princípio da origem". Serviços vendidos no exterior submeter-se-iam às regras do seu país de origem. Isto significa que companhias em França ou na Alemanha, por exemplo, poderiam contratar serviços da Polónia ou da Eslováquia com o salário mais baixo e desembaraçar-se dos padrões profissionais do "país de origem".

    A "Europa social" prometida pelos políticos durante anos significaria harmonizar padrões sociais em sentido ascendente, acabando por alinhar todos os Estados membros com aqueles que tivessem os níveis mais elevados de protecção ao trabalhador, de salários e de benefícios. O Reino Unido — quer com os Trabalhistas como com o Conservadores — bloqueou teimosamente todas as tentativas nesse sentido. Agora, a directiva Bolkestein torna bastante claro que o impulso é no sentido de reduzir os padrões, trazendo-os para os níveis mais baixos.

    Isto eliminaria os ganhos sociais de mais de um século em países como a França, a Alemanha e a Bélgica. Isto também poria em perigo os serviços públicos da França, forçando-os a competir com ofertas mais baratas de países mais pobres, externas às regulamentações francesas.

    Da mesma forma, líderes conservadores e socialistas em França despenharam-se na condenação desta directiva. A questão é que quando ela foi introduzida no ano passado estes mesmos líderes endossaram-na calorosamente. Esta mudança de opinião puramente oportunista não podia enganar ninguém.

    Para aumentar o embaraço da facção do "sim", havia o próprio sr. Bolkestein, uma caricatura quase perfeita do reaccionário arrogante. Ele, que foi o primeiro líder político holandês a queixar-se abertamente da imigração muçulmana no seu país e que opôs-se ferozmente à entrada da Turquia na UE, insultou os franceses como "nacionalistas" por distorcerem o seu nome para "Frankenstein". Para ilustrar os méritos da sua directiva, Bolkenstein disse a uma audiência francesa que seria delicioso importar um electricista polaco, uma vez que era difícil descobrir um no sítio em que tem uma casa de campo no norte da França.

    O presidente da municipalidade da cidade mais próxima escreveu a Bolkdestein a simpatizar com o seu problema, e a indicar que os franceses haviam inventado um remédio para os seus males: as páginas amarelas da lista telefónica, nas quais ele poderia encontrar pelo menos 13 electricistas. Os membros locais daquele ramo demonstraram a seguir a sua presença cortando a corrente de Bolkenstein. Isto é a espécie de acção directa que os franceses tendem a apreciar.

    O aparecimento de Bolkestein foi tão contraproducente que ajudou a compensar o blackout dos media quanto a argumentos sérios para o "não". Ainda assim, alguns inquéritos indicam que a maior parte dos jornalistas não estão de acordo com os seus editores e empresas e pretendem votar "não".

    "OVELHA NEGRA" ENTUSIÁSTICA

    Isto é apenas mais uma indicação da profunda divisão entre governantes e governados. A vaga de fundo pelo "não" veio das bases, com uma proliferação de reuniões de vizinhos a examinar o texto. Em Paris, brotaram grupos activistas a distribuírem folhetos críticos à Constituição em estações do Metro, e relata-se que dois de cada três transeuntes para a fim de discutir a questão. A televisão dá considerável tempo de noticiário a comparecimentos triviais em favor da Constituição de líderes da conservadora UMP, do Partido Socialista e dos Verdes (cujo partido muito estreitamente endossou o "sim"), ao passo que reuniões notavelmente cheias e entusiásticas pelo "não" ficam não noticiadas. Em 14 de Abril, enquanto do presidente Jaques Chirac estava a advertir um grupo seleccionado de jovens num show televisivo à noite de que se a França rejeitar a Constituição ela será a "ovelha negra" da Europa, uma multidão entusiástica encheu o grande teatro Zenith em Paris numa reunião por um "non de gauche" organizada pelo Partido Comunista Francês (PCF). Os oradores incluíam dissidentes socialistas e verdes, trotskystas, republicanos de esquerda, e uma conjunto de activistas de base. O herói do movimento anti-globalização, José Bové, recordou à audiência que em 1789 camponeses franceses atacaram os castelos sem esperar para ver o que o resto da Europa pensava ou fazia. Quando a França tem uma grande ideia progressista ela pode levá-la ao mundo.

    Qual ideia? Nos termos mais simples, foi expressa pela académica Marie-José Mondzain, quando disse que uma crescente maioria de cidadãos rejeita um mundo onde tudo e todos pode ser comprado e vendido. São aqueles que nem tem muito para vender nem a fantasia de ser capaz de comprar tudo, e aqueles que preferem gastar as suas vidas a dar e a participar. Ela havia tocado claramente a nota certa junto à audiência, a qual levantou-se de pé numa longa ovação.

    Seis dias depois, socialistas inundaram um ginásio em Paris, em desafio aos líderes do seu partido, com o slogan: "Desta vez é NÃO". Ambas as reuniões mostraram a mesma rejeição resoluta do neoliberalismo, o mesmo entusiasmo eléctrico, aplausos prolongados e ovações de pé aos oradores. Mas esta assembleia foi talvez ainda mais prometedora. No caso de o "não" vencer, há uma probabilidade de que a revolta possa acometer o próprio Partido Socialista, o qual tem uma possibilidade real de influenciar o curso futuro da França e da Europa. E os dissidentes socialistas prometem unir a sua campanha às outras, do PCF, Verdes e acima de tudo da ATTAC ("Association pour la Taxation des Transactions Financières pour l'Aide aux Citoyens"), cuja defesa de taxa Tobin internacional floresceu numa crítica ampla à globalização neoliberal, e que tem sido o principal "think tank" da actual revolta.

    O que vem a seguir?

    O QUE ACONTECERÁ SE VENCER O "NÃO"?

    O presidente da ATTAC, Jacques Nikonoff, observou que ao contrário do alarmismo oficial, a União Europeia continuará a funcionar de acordo com o mais recentes dos seus tratado, o Tratado de Nice, até 2009. A situação jurídica ficará inalterada. Politicamente, o "não" francês criará uma onda de choque salutar através da Europa. Estimulará um debate real sobre questões económicas básica que durante 20 anos têm sido abafadas pela "TINA" — there is no alternative. As piores medidas ficarão num impasse, ou pelo menos não escritas dentro de uma Constituição de ferro. Ficará aberta a perspectiva para executar transformações radicais nos fundamentos da UE — harmonização social para cima, direito universal a serviços sociais, uma política industrial progressista, oposição a todas as formas de neocolonialismo, cancelamento da dívida do Terceiro Mundo, dissolução da NATO, etc.

    O mais activo do dissidentes socialistas, Henri Emmanuelli, assinalou que os líderes europeus haviam criado uma confusão impossível ao precipitar [países] despreparados para dentro de alargamentos "irresponsáveis". Quando a União foi alargada com a inclusão da Grécia, Espanha e Portugal, fundos consideráveis foram destinados a ajudá-los a subir aos padrões europeu. Nenhuma destas medidas foi tomada em relação aos novos membros europeus do leste. Isto inevitavelmente tem conduzido à competição por empregos e por indústria ao invés da solidariedade entre Estados membros. Emmanuelli notou que os Estados Unidos bombeiam a sua economia através de gastos deficitários maciças — despejando o dinheiro nas forças militares. Em contraste, a UE podia ter investido construtivamente elevando padrões nos seus novos Estados membros — mas isto é proibido pelas regras do rígido equilíbrio orçamental estabelecidas em Maastricht. A proibição do gasto deficitário conduziu à estagnação e a tensões entre Estados membros.

    Num esforço para sufocar a rebelião nas fileiras, François Holland ostentou o espantalho Jean-Marie Le Pen. De facto, Le Pen tem sido relativamente discreto ultimamente. Isto, sugeriu Hollande, foi porque os dissidentes socialistas "estavam a fazer o trabalho de Le Pen em seu lugar" ao se oporem à Constituição. Holland chegou mesmo a pedir à televisão francesa para convidar Le Pen e outros extremistas de direita para defender o "não". O "não" deve deve ser estigmatizado tal como a rejeição nacionalista da "Europa" pela extrema direita.

    A chantagem do "concorda com a Frente Nacional" não parece estar a funcionar. Se faz alguma coisa, ela aprofunda a amarga divisão entre socialistas. Tal como o argumento "um vote sim é um sim à Europa, um voto não é contra a Europa" também está desgastado. Como disse um jovem sindicalista, "nossa geração cresceu com a Europa. Não está em causa dizer sim ou não à Europa. A questão é: que espécie de Europa?"

    Além disso, deveria ser razoavelmente óbvio que a actual rota de destruição dos benefícios sociais em nome da "Europa" está a conduzir a uma chantagem. Emmanuelli advertiu que aqueles que pensam poderem continuar indefinidamente a permitir o aumento do desemprego em países como a França e a Alemanha esqueceram o passado. A competição desregulada conduz inevitavelmente a um renascimento do nacionalismo. O melhor caminho para bloquear o crescimento da extrema direita na Europa é votar "não".

    Um tema constante mais positivo, muito particular do país, é a referência à tradição revolucionária francesa. A maior parte do povo francês realmente não quer uma sociedade baseado num "mercado livre altamente competitivo", ele preferiria antes voltar ao "liberté, égalité, fraternité". Nas grandes assembleia pode-se sentir a mesma onda de excitação e confiança: fizemos isto no passado e podemos faze-lo outra vez! A França mostrará o caminho para uma Europa social progressista que possa realmente ser um modelo para o mundo!

    Contra isto, o campo do "sim" argumenta com a autoridade (Elizabeth Badinter: "os líderes que redigiram esta Constituição sabem melhor do que o comum dos mortais"), com a celebridade (o reality show de Jack Lang com grandes nomes), fraude descarada (pretendendo que esta Constituição protege os serviços públicos) e medo: "você não pode votar como Le Pen! O que pensarão os seus vizinhos?"

    Durante vinte anos Le Pen foi usado pela esquerda oficial como um bicho-papão para encobrir o seu próprio recuo constante para a direita. Agora parece que uma esquerda revigorada pode estar preparada para por de pé os seus próprios princípios, sem o bicho-papão. Le Pen pode retirar-se.


    [*] Diana Johnstone é autora de Fools' Crusade: Yugoslavia, Nato, and Western Delusions , publicado pela Monthly Review Press.

    O original encontra-se em http://www.counterpunch.org/johnstone04262005.html .


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

  • 29/Abr/05