"O que aprendemos com o Maio de 68?"
por Makis Papadopoulos
[*]
Talvez alguns se perguntem por que estamos a discutir esse assunto hoje,
cinquenta anos depois de Maio de 68. Certamente não o fazemos por
nostalgia. Felizmente para nós,
ao contrário do SYRIZA e de algumas correntes oportunistas
, o evento de hoje do KNE é participado principalmente por jovens,
estudantes universitários, e não apenas por algumas pessoas de
meia-idade que têm uma lembrança experiencial dos eventos ou
discussões relativas às últimas décadas
através de reuniões na universidade.
Estamos a discutir Maio de 1968 não só para revelar os mitos da
propaganda burguesa que querem encobrir a realidade, os mitos que negam o papel
condutor da classe trabalhadora, da CGT e do PCF nas lutas, enquanto ao mesmo
tempo de modo provocador
colocam a responsabilidade política exclusiva pela rápido
declínio do movimento apenas sobre eles.
Os mitos burgueses que persistentemente apresentam aventureiros
anti-comunistas proeminentes como Cohn-Bendit como genuínos
revolucionários e apresentam Maio como uma mera revolta de estudantes.
Estamos a discutir Maio de 1968 porque o exame autocrítico da
experiência positiva e dos erros, das fraquezas do movimento comunista
internacional tornam-nos
mais fortes nos dias de hoje,
a fim de não repetir os mesmos erros, de acelerar o futuro, com a
abolição da exploração do homem pelo homem e o
socialismo.
No entanto, a fim de entender as causas dos acontecimentos de Maio de 1968,
como em qualquer outro evento histórico, precisamos esclarecer a
relação entre economia e política, devemos entender o
contexto económico dos acontecimentos. É claro que há a
dimensão internacional da ascensão do movimento, por exemplo, o
movimento nos EUA contra a Guerra do Vietname nos anos 60, mas hoje nos
limitaremos à França.
Este ano é o bicentenário do nascimento de Marx, que observou em
seu trabalho " ;O 18º Brumário de Luís Bonaparte" ;,
que o
povo escreve a sua própria história,
mas não a escreve arbitrariamente em condições livres
escolhidas por si próprio, mas sob as condições objectivas
em que se encontra, ou seja, as relações de
produção em cada período dado.
Assim, para entender os desenvolvimentos, vamos dar uma breve olhadela à
evolução da economia capitalista na França neste momento.
O desenvolvimento da economia capitalista francesa
Após a Segunda Guerra Mundial, foi implementado em França um
Plano Estatal de Modernização e Infraestrutura elaborado por Jean
Monnet, com o financiamento de uma parte do investimento pelo Plano Marshall
americano. Depois de 1954, a
taxa de crescimento
da produção industrial francesa atingiu 9-10% ao ano. Os ramos
modernos da produção de energia nuclear, aeroespacial,
electrónica ganharam muito dinamismo em comparação com
outras poderosas economias capitalistas europeias. Em 1968, não havia
crise capitalista em França. Em contraste, entre 1969 e 1973, a
França teve a segunda maior taxa de crescimento depois do Japão.
A burguesia francesa procurava naturalmente
melhorar seu papel de potência imperialista no território europeu.
Este objectivo tornou-se mais imperioso, pois depois de 1960 perdera de
imediato a soberania política nas suas 15 colónias, especialmente
em África.
À medida que a correlação de forças mudava, o
general De Gaulle, que representava a maior independência do imperialismo
francês, distanciava-se em certa medida das opções dos EUA.
Em 1966, a França retirou-se da
secção militar e da estrutura organizacional
da NATO. Foi criada uma rede francesa de enriquecimento de urânio para a
produção interna de armas nucleares.
Depois de 1963, o governo restringiu os investimentos estrangeiros em sectores
estratégicos da economia francesa. Foi lançado um ataque contra a
soberania do dólar. De Gaulle falou no período da guerra-fria de
uma "Europa do Atlântico aos Urais". Ele criticou a
intervenção dos EUA no Vietname, falando a Phnom Penh em Setembro
de 1966, enquanto visitava a União Soviética no mesmo ano e
reconhecia a República Popular da China.
No processo de estabelecimento e evolução da CEE, De Gaulle
contrapôs a " ;Europa dos Estados" ; às propostas em favor
de instituições supranacionais e de uma política externa e
de defesa comum europeia. Ele vetou a adesão da Grã-Bretanha em
1963, que considerava o "cavalo de Tróia" dos Estados Unidos.
Ele tentou construir o eixo franco-alemão e assinou com o chanceler
Adenauer uma convenção franco-alemã de reuniões
periódicas.
Controvérsia EUA-De Gaulle
Depois do que mencionamos, todos entendemos por que houve uma
reacção americana à política de De Gaulle e por que
as contradições intra-burguesas em França foram
intensificadas. A actividade independente e multifacetada do pós-guerra
na França por parte dos EUA, em cooperação com a maior
parte das forças pró-atlântistas da burguesia francesa
não se limitava apenas a restringir a influência do PCF e ao
cultivo do anticomunismo, mas incluía também, ao longo do tempo,
uma forma de pressão burguesa e de enfraquecimento da dominância
política de De Gaulle.
Nos primeiros anos do pós-guerra, ela se concentrou no objectivo da
expulsão do PCF do governo de unidade nacional e da
contracção da sua influência na classe trabalhadora. Apesar
de sua linha reformista, a forte influência do PCF era considerada
um obstáculo à ampliação do
anti-sovietismo pelos serviços americanos e como um risco potencial para
a estabilidade do sistema, caso o partido corrigisse sua linha e adquirisse uma
estratégia e actividade revolucionárias.
O PCF recebeu 29% dos votos nas eleições nacionais de 1946,
L'Humanité
era o jornal com mais leitores e o director do CIG (antecessor da CIA), Hoyt
Vandenberg, advertiu que se o partido quisesse poderia tomar o poder.
A intervenção anticomunista dos EUA no pós-guerra incluiu
vários planos e redes de agentes secretos, alguns dos quais foram
revelados por políticos burgueses franceses no contexto de
contradições intra-burguesas. O Plano Azul para impedir a
criação de uma França vermelha tornou-se conhecido. A rede
anticomunista francesa, com o nome de código de "Rosa dos
Ventos" foi estabelecida, com o símbolo da Aliança
Atlântica, liderada por François de Grossouvre que viria a ser
assessor especial do presidente socialista Mitterrand,.
A CIA apoiou a criação e a actividade da central sindical
divisionista e anticomunista Force Ouvrière, a qual tentava limitar a
grande influência da confederação dos trabalhadores
vermelhos, a CGT.
A CIA também apoiou a acção da Organização
do Exército Secreto (OAS), a qual organizou um golpe contra De Gaulle.
Procurando manter o jugo colonial sobre a Argélia, bem como assassinatos
tais como o presidente da municipalidade de Evian que apoiava De Gaulle e uma
tentativa de matar o próprio De Gaulle.
Durante o período anterior a Maio de 1968, de acordo com um
relatório do Parlamento francês muitos anos depois, dezenas de
milhares de membros foram recrutados para o
Serviço de Acção Cívica,
o qual participou desta guerra encoberta de serviços secretos.
Também digno de nota é o apoio de políticos
social-democratas pró-atlantistas por grupos de estudantes
anti-autoritários e oportunistas, como Pierre Mendès France, que
foi calorosamente saudado pela assembleia anti-governamental em 27 de Maio de
1968 no Estádio Charléty.
O grupo de Cohn-Bendit, incluindo as tendências maoísta,
trotskista e anti-autoritária, visava tanto o governo De Gaulle como o
PCF e na prática facilitou o acesso ao governo da social-democracia
atlantista francesa.
Mesmo militantes não-comunistas de Maio de 68, como Guy Hocquenghem,
nomearam importantes protagonistas da época, tais como Bernard Kouchner
e Serge July, como órgãos de uma pseudo-esquerda
pró-americana.
Tendo visto o que estava a acontecer no campo burguês, vamos agora ver
quais foram as consequências desses desdobramentos sobre a classe
trabalhadora, os estudantes, a juventude.
Necessidades contemporâneas insatisfeitas
No período específico de 1968, não tivemos uma
rápida deterioração,
um aumento acentuado da miséria absoluta
da classe trabalhadora em relação aos anos anteriores, nem se
desencadeou uma crise capitalista profunda.
Então, o que temos nós? Na década de 1960, a
tendência da
pauperização relativa
da classe trabalhadora foi fortalecida em relação à
riqueza produzida, que a burguesia, os grandes accionistas dos grupos
monopolistas, desfrutavam. Os trabalhadores viam empiricamente
uma distância crescente entre as suas necessidades modernas
e o seu poder de compra.
Na nossa época, a classe trabalhadora já não pode mais
contentar-se em satisfazer apenas necessidades básicas, como
vestuário e alimentação diária. Ela se preocupa
com a necessidade de mais tempo de lazer,
conteúdo criativo de trabalho,
erradicação da insegurança quanto ao futuro,
a educação real dos seus filhos, a melhoria da
protecção à saúde.
Ainda que não compreendesse o mecanismo da exploração
capitalista e não estudasse o marxismo em massa, ela
experimentava mais intensamente a contradição entre a
socialização do trabalho
em centrais nucleares, indústria automobilística, fábricas
modernas e a
apropriação
dos resultados da produção pelo grande capital.
Era agora mais educada e qualificada do que nas primeiras décadas do
século XX. Ela podia objectivamente reflectir mais sobre
quem
determina o ritmo do trabalho,
quem
decide sobre investimentos e prioridades. Desde que a vanguarda
revolucionária a orientasse nesta direcção.
Os empregados estavam preocupados com o
aumento do desemprego em massa,
particularmente entre os jovens, que havia aumentado de 200 mil em 1964 para
300 mil em 1967 e a eclosão de uma crise de certos sectores, como os
estaleiros navais de Nantes e St Nazaire. Eles experimentavam as primeiras
medidas para limitar os direitos trabalhistas e de segurança social com
o Plano de Estabilização de De Gaulle que, entre outras coisas,
elevava as contribuições para a segurança social e
retirava os fundos da mesma do controle dos sindicatos.
O estrato inferior da classe trabalhadora, isto é, um milhão e
meio de trabalhadores, recebia o
salário mínimo
(apenas 400 francos por mês), o qual não chegava para uma
sobrevivência decente, a menos que trabalhassem muito tempo extra todas
as semanas.
Onde a falta de satisfação das necessidades modernas emergiu com
particular acuidade
foi nas universidades.
As necessidades de expandir a reprodução do capital após
a guerra
aumentaram a exigências
por mão-de-obra científica qualificada. A
investigação e o conhecimento científico estavam a
tornar-se cada vez mais generalizados na produção para
benefício da lucratividade capitalista.
Assim, na década de 1960, temos o
aumento espetacular
da entrada de estudantes nas universidades. Isto muda a
composição dos estudantes em termos de
origem de classe
, mas principalmente diferencia sua
perspectiva de classe. O risco de desemprego
e de trabalho assalariado mal pago surge pela primeira vez. Por outras
palavras, a tendência da proletarização aparece.
Ao mesmo tempo, a infraestrutura, laboratórios, edifícios,
professores não são adequados para os estudantes. As barreiras de
classe na educação estão a tornar-se mais intensas. Uma
série de anacronismos, como a autoridade do professor e a
separação dos átrios estudantis naqueles para homens e
naqueles para mulheres, eram agora considerados inaceitáveis.
Discussões sobre opressão sexual e igualdade das mulheres foram
abertas.
Dentro deste clima, uma faísca, como a
Lei do Ministério da Educação,
que dizia respeito a barreiras de exame e mecanismos de
separação para futuros estudantes, foi suficiente para
desencadear as primeiras mobilizações estudantis
no final de Abril.
Assim, a questão das necessidades modernas insatisfeitas desencadeou
um clima de um desafio geral difuso, e algumas lutas estalaram. A
questão é como o PC enfrentou a situação.
A fraqueza política do PCF
O PCF tinha
fortes laços com a classe trabalhadora
e grande influência política no movimento sindical. Em
ocupações de fábricas, em lutas trabalhistas, na grande
greve geral de 10 milhões que deu peso político real a Maio de
68, onde as forças sindicais do PCF através da CGT estavam na
liderança.
Só após a gigantesca manifestação política
do PCF em 29 de Maio de 1968 é que De Gaulle ficou realmente alarmado
com a possibilidade de uma escalada da luta de classes e da
ocupação do Palácio Presidencial devido à
dinâmica das lutas, embora os slogans fossem limitados ao objectivo de
uma mudança no governo.
De Gaulle em 30 de Maio acusou o PCF de tramar contra a legalidade civil, a fim
de pressioná-lo na direcção da desescalada das lutas
trabalhistas e do compromisso. Foi só depois das aparições
dinâmicas do partido que ele ameaçou escolher "outro caminho
para além do voto directo", isto é, medidas de
repressão de emergência.
Infelizmente as coisas não foram tão difíceis para a
burguesia. O clima de um desafio geral difuso nunca foi suficiente para levar a
um ataque planeado e organizado da classe trabalhadora pelo poder, nem para que
o movimento trabalhista formasse as alianças sociais apropriadas.
O PCF no período do pós-guerra até 1968 estava
recuando cada vez mais da estratégia revolucionária
e, finalmente, acabou por seguir a linha da capitulação aberta
do eurocomunismo. Não nos preocuparemos hoje em profundidade desta
questão, a qual está enraizada em contradições e
considerações erradas na elaboração da
estratégia da Internacional Comunista anterior à guerra.
O que é importante entender é
o impacto negativo decisivo da linha reformista, as ilusões acerca de
uma transição parlamentar para o socialismo,
com um governo de cooperação de sociais-democratas e
comunistas. Esta estratégia levou o PCF
a alinhar-se frequentemente como um pêndulo nas
contradições intra-burguesas em França
entre os burgueses pró-atlantistas e os apoiantes de De Gaulle.
O tempo não permite uma apresentação pormenorizada deste
rumo de desvio oportunista e de negação das leis da
revolução socialista. No entanto, vale a pena mencionar
brevemente seus pontos-chave:
O PCF participou do governo de unidade nacional de 1846, o qual tinha como
objectivo a reconstrução capitalista da França. Por esta
opção, foi criticado pela Cominform em 1947.
Após o seu afastamento pelo governo, com o comprovado envolvimento dos
Estados Unidos neste desenvolvimento, ele voltou o seu fogo no 12º
Congresso (1950) somente contra a influência americana, absolvendo na
prática a burguesia francesa.
Depois do 20º Congresso do PCUS em 1956, emergiu a meta da unidade de
acção com a social-democracia, na qual, entre outras coisas, se
encontra a maioria dos políticos burgueses pró-atlântistas.
Foi proclamado que a
passagem revolucionária violenta
ao socialismo não é obrigatória e que
agora é possível impedir as guerras imperialistas devido a uma
mudança na correlação internacional de forças.
Após o golpe militar na Argélia, e no referendo de 1958, onde De
Gaulle pediu a concentração de muitos poderes como Presidente da
República, bem como a dissolução da Assembleia Nacional, o
PCF agora especificamente
mencionou o objectivo de cooperação governamental entre
social-democratas e
comunistas
com um programa conjunto que enfoca a nacionalização de certos
monopólios, o fortalecimento de sectores modernos da
produção capitalista, a redução do desemprego, a
reforma educacional.
Isto cultivou a ilusão de que pode haver uma
gestão pró-povo
das necessidades modernas da sociedade, do estado burguês dos
capitalistas, com a mudança de governo. Cultivou a ilusão da
passagem parlamentar para o socialismo. Nublou a oposição dos
trabalhadores ao falar apenas acerca das secções mais reactivas
da burguesia francesa que apoiam as ambições de De Gaulle de
impor uma ditadura militar. Nublou
o papel da democracia burguesa
como a principal forma de ditadura da capital.
Nas eleições presidenciais de 1966 o PCF apoiou a candidatura
conjunta de François Mitterrand, que estava comprometido com a
aliança euro-atlântica. Nas eleições parlamentares
de 1967, o PCF concordou com o socialista sobre um sistema de retiradas
mútuas em que o candidato do partido que recebesse menos votos no
primeiro turno, retirava-se do segundo turno em favor do candidato do partido
com mais votos.
No 17º Congresso do PCF, o secretário-geral Maurice Thorez chegou a
referir-se ao objectivo
da unidade do partido socialista e comunista.
Em 1968, foi formulado o
acordo francês de Champigny
para a cooperação socialista-comunista, onde a
nacionalização e a ampliação da democracia burguesa
foram confirmadas como termos básicos. Vale notar que durante o
período de 1962 a 1968, Mitterand sistematicamente evitou comprometer-se
com a participação do PCF no governo se ele vencesse as
eleições. Após o estalar da contra-revolução
na Checoslováquia, Mitterand falou na necessidade de uma nova
aliança política de " ;socialismo e liberdade" ; com uma
clara orientação anti-soviética. Em essência, ele
pressionou o PCF a distanciar-se mais abertamente do PCUS.
Portanto, diante da explosão de necessidades sociais insatisfeitas de
hoje, que alimentaram a corrente dos desafios desfocados de Maio de 1968, o PCF
não foi mais capaz de formar uma linha revolucionária que, por um
lado
iluminasse a necessidade e a oportunidade histórica do socialismo.
Por outro lado, contribuísse para a escalada das lutas trabalhistas e
para o aprofundamento da sua direcção anticapitalista.
Acordo de Grenelle
Se bem que as necessidades modernas pelo direito ao trabalho,
por mais tempo de lazer,
pelo conteúdo criativo do trabalho, pela utilização
eficaz da força científica do homem como força produtiva
para a prosperidade social, iluminasse a
necessidade de erradicar o caminho do crescimento baseado no lucro capitalista,
o PCF restringiu a militância e o dinamismo do movimento do trabalho a
um quadro económico de lutas respeitantes ao crescimento salarial,
à redução da idade de reforma, às 40 horas de
trabalho por semana.
Estes objectivos económicos não são sequer declaradamente
vinculados à necessidade de um conflito total com o poder do capital, da
NATO e da CEE.
O único objectivo político
era a renúncia do governo De Gaulle
e a emergência do chamado governo popular.
Para o governo burguês, era fácil lidar com essa linha reformista
sugerindo
os Acordos de Grenelle
entre o governo e os sindicatos sobre reivindicações financeiras
e pedindo
eleições
alguns dias depois de assiná-los.
No Acordo de Grenelle de 27 de Maio, o governo burguês fez
concessões significativas face às reivindicações
económicas da CGT. Aceitou um aumento do salário mínimo de
35%, a redução da idade de reforma para limitar o dinamismo
político da escalada de lutas dos trabalhadores. Os trabalhadores nas
fábricas sob ocupação não aceitaram o acordo
imediatamente ou sem reservas. Em certos casos, um descontentamento intenso foi
expresso. No entanto, na primeira semana de Junho, a produção
industrial recomeçou.
Os pregadores " ;libertários" ; do liberalismo
A incapacidade do PCF de se exprimir de um modo militante, com um programa
radical de luta com uma linha anticapitalista para atender às
necessidades sociais modernas, também contribuiu
para o surgimento de conceitos burgueses e pequeno-burgueses, os quais por sua
vez ajudaram no surgimento de uma movimento anti-comunista em massa e no
desarmamento do movimento dos trabalhadores.
Marcuse, por exemplo, condenou
as exigências da classe trabalhadora pelo atendimento de algumas das suas
necessidades materiais modernas
, como adquirir electrodomésticos modernos e um carro, como
responsáveis
por sua alienação. Assim, ele inculpou a classe trabalhadora e
obscureceu o facto de que o sistema capitalista é responsável por
alienar o trabalhador do produto de seu trabalho, da sua própria
actividade de trabalho, das outras pessoas e do meio ambiente.
Mas é o capitalismo que impõe o lucro capitalista como o
objectivo do trabalho e não o produto específico ou o
serviço particular produzido pelos trabalhadores. É o capitalismo
que afecta a consciência de classe da classe trabalhadora, a qual modela
padrões de consumo específicos, transformando tudo em mercadoria,
desde a água até a saúde e a educação das
crianças. É o capitalismo que leva muitos trabalhadores a
competir
para garantir um emprego temporário
dentro da selva do mercado capitalista.
Esta situação não foi criada pelo desenvolvimento da
indústria e da tecnologia em geral, mas pela
relação de exploração do homem pelo homem,
as relações capitalistas de produção.
Não discutiremos a multiplicidade de correntes pequeno-burguesas e
burguesas que influenciaram primariamente as fileiras do movimento estudantil
em Maio de 1968. Para muitos deles, como os
situacionistas,
os existencialistas, os neo-freudianos, os chamados anti-autoritários,
vamos fazer uma breve referência na intervenção do camarada
Loukas que se segue.
Contudo, precisamos apontar as consequências políticas da
"linha libertária"
que glorificou os direitos individuais contra qualquer opressão social.
Essa linha não era
apenas inócua
para o sistema capitalista, também era
útil
para a nova ofensiva do capital. Marxistas franceses daquele tempo (Michel
Clouscard) falavam correctamente do "
liberalismo libertário".
Os slogans anarquistas "é proibido proibir" e "qualquer
tipo de poder corrompe"
obscureceram o objectivo estratégico de derrubar o poder do capital
e desarmou o movimento,
porque é imperioso banir a propriedade privada
sobre os meios de produção a fim de abolir a
exploração do homem pelo homem e o desemprego.
A reivindicação difusa e generalizada de
menos burocracia governamental
e
mais liberdade
tornou-se a bandeira da política burguesa liberal, a qual,
naturalmente, foi aplicada por poderosos estados burgueses junto com o
anticomunismo, uma vez que compara o estado burguês ao estado com os
trabalhadores no poder.
A glorificação do individualismo em oposição
à
sociedade opressiva em geral
tornou-se o pano de fundo da campanha americana que falava acerca de
direitos humanos
a serem espezinhados nos países socialistas, a qual evoluiu para a
promoção contemporânea
da prioridade e protecção dos direitos individuais
em relação aos direitos e deveres sociais. É uma linha
política profundamente reaccionária que classifica qualquer
escolha que prefira o interesse da sociedade como forma de opressão
social. Esta linha política oprime e sufoca os direitos dos
milhões explorados no capitalismo.
Se aceitarmos e ampliarmos estas posições, dentro de poucos anos
estaremos a discutir acerca da protecção dos
direitos individuais
do estuprador, do pedófilo, do traficante de drogas. E, é claro,
esta posição considera sagrado e inviolável o
direito à propriedade privada dos meios de produção.
O mito individualista do direito à subjectividade, ou seja, que todos
são primariamente responsáveis por si mesmos, foi explorado
depois de Maio de 1968 pela organização capitalista do trabalho.
Novas formas de organização
com o manto da participação activa e da
liberalização da iniciativa de cada funcionário
aumentaram a competição entre os trabalhadores e a
intensificação do trabalho. Eles se concentraram na
responsabilidade individual
de cada trabalhador para aumentar a lucratividade da empresa.
O verdadeiro papel dos grupos trotskistas
O Movimento de 22 de Março era tão inofensivo para o sistema que
o próprio Cohn-Bendit, um estudante de Sociologia, disse então
que
não tinha um programa definitivo, nem hierarquia, nem estrutura.
Os estudantes que seguiam esta linha gritavam " ;abaixo a
repressão" ; e " ;imaginação ao poder" ;,
essencialmente
deixando o poder burguês incólume,
permitindo ao estado burguês
organizar a exploração e a repressão do povo.
Além disso, Cohn-Bendit havia mencionado em várias
ocasiões seu próprio anticomunismo convicto.
Este movimento condenou o governo de De Gaulle e o PCF em geral, deixando
sistematicamente intacta a social-democracia francesa pró-atlantista. A
vaga de slogans " ;libertários" ; que foram lançados
serviu
na prática o objectivo de mudar o governo.
Esta presença aventureira inicialmente apoiou
o grupo trotsquista básico
que fora expulso da organização juvenil do PCF França, a
qual emergiu como a Juventude Comunista Revolucionária com Alain Krivine
como seu
líder.
Eles já tinham manifestado sua simpatia pelas forças
contra-revolucionárias na Polónia e principalmente na Hungria em
1956. Recusando a possibilidade de
construir o socialismo
num país como a França, eles adiavam o fomento da
revolução socialista para o futuro distante. O programa
transicional de luta que eles propuseram
concentrou-se na criação da organização do controle
dos trabalhadores no território do capitalismo.
As suas críticas ao PCF concentraram-se no facto de que ele subestimava
e não incentivava
a acção espontânea dos trabalhadores
e as formas militantes de luta. Ernest Mandel, seu teórico, avaliando o
Maio de 1968, escreveu que a experiência mostrava
que, mesmo quando a vanguarda revolucionária não está
presente
, a experiência prática das contradições
capitalistas pelos trabalhadores pode levar
à aceleração do desenvolvimento da consciência de
classe revolucionária.
Contudo, a experiência não mostra isto. A ausência de uma
vanguarda revolucionária efectiva
permitiu à classe burguesa
neutralizar a ascensão do movimento. O governo burguês utilizou a
cenoura que é a
táctica das concessões temporárias
às reivindicações económicas do trabalho e
o chicote
repressão com prisões,
ferimentos e assassínios e a ameaça ao PCF de estar a conspirar
contra a legalidade burguesa.
Mobilizou
organizações para-estatais
como " ;Comités de Defesa para a Democracia" ;, bem como
centenas de milhares de cidadãos
que apoiaram De Gaulle em 30 de Maio, com os slogans " ;França para
os franceses" ; e " ;O comunismo não passará" ;. As
organizações para-estatais até começaram a disparar
tiros de advertência, ocasionalmente, do lado de fora de gabinetes locais
do PCF e da CGT.
Eles jogaram a carta de declarar eleições antecipadas na qual os
gaullistas aumentaram sua percentagem de 38,3% para 46,4%. Durante o
período pré-eleitoral, o trabalhador de 18 anos e membro da
Juventude Comunista, Marc Lanvin foi assassinado, assim como dois trabalhadores
na ocupação da fábrica da Peugeot e um estudante de 17
anos. O PCF que já havia convocado os trabalhadores
a deter as greves após a satisfação de suas
exigências económicas
, estabeleceu como objectivo político a formação de um
governo burguês de " ;unidade democrática com os
socialistas" ; e declarou que não caía na armadilha que seria
libertar as mãos de De Gaulle para um Comité Constitucional.
Naturalmente, os acontecimentos mostraram que a classe burguesa francesa
não tinha como objectivo um confronto de classe decisivo
e administrou facilmente o movimento dos trabalhadores. A Liga Trotskista,
formada principalmente pela fracção expulsa da Juventude
Comunista, apareceu nas eleições
a apoiar o objectivo de formar um governo burguês de
cooperação
entre o Partido Socialista e o Partido Comunista.
Quanto aos estudantes universitários que em Maio cantavam, " ;sob as
pedras do pavimento, a praia" ; desde Junho já haviam começado
a partir em busca das praias reais para começarem suas férias de
Verão.
Quão rapidamente as lutas militantes do Maio de 68 francês foram
dizimadas. Nos anos que se seguiram, a França foi assimilada de forma
mais orgânica dentro dos planos imperialistas euro-atlânticos.
Cohn-Bendit, que se havia iniciado na Associação de Estudantes
Socialistas Alemães, antes de se tornar activo em Nanterre, na
França, reapareceu como um político burguês na Alemanha nas
décadas seguintes.
O que foi o Maio de 68?
Com base no que discutimos anteriormente, podemos agora extrair algumas
conclusões específicas acerca do
Maio de 1968
francês.
Maio provou que o próprio desenvolvimento do capitalismo aguça
a contradição básica
capital-trabalho e objectivamente
alimenta a crescente insatisfação
da classe trabalhadora, do povo, da juventude dos estratos populares. Revelou
que nenhuma política burguesa, nenhuma forma de
modernização tecnológica na era do capitalismo
monopolista, onde o sistema está apodrecendo,
pode cobrir completamente e para sempre
o fosso entre
as possibilidades
de satisfazer as necessidades da sociedade que são crescentes e
os sacrifícios daquelas necessidades
no altar do lucro capitalista.
Inversamente, à medida que o crescimento das forças produtivas
prossegue sob o capitalismo, este fosso só pode tornar-se maior, tanto
que
pode provar que
este caminho não só não conduz como na verdade se
opõe à satisfação das necessidades
contemporâneas da sociedade que estão a expandir-se e em
mutação.
No entanto, o agravamento da situação e o descontentamento da
classe trabalhadora
não conduzem automaticamente ao
amadurecimento da consciência de classe por parte dos trabalhadores e
dos estratos populares pobres.
É necessário que
uma vanguarda revolucionária
exista e actue decisivamente. Esta é, o PC sob o capitalismo, a fim de
preparar e liderar a classe trabalhadora organizacionalmente, política e
ideologicamente, a fim de concretizar sua missão histórica, a
abolição da exploração do homem pelo homem.
Não teria havido uma revolução burguesa na França
em 1789 sem os Jacobinos e Robespierre, a revolução de
libertação nacional burguesa grega em 1821 sem o Filiki Etaireia,
a Revolução de Outubro sem os bolcheviques e Lenine.
Durante o período de Maio de 68, essa conclusão foi
realçada
pela fraqueza do
PCF em efectivamente desempenhar o papel da vanguarda revolucionária,
devido ao predomínio da linha reformista, das ilusões
parlamentares, do objectivo de formar um governo " ;progressista" ; com
social-democracia no território do capitalismo.
Em geral, o PC francês não formulou uma política
revolucionária que destacasse a importância do derrube
revolucionário do capitalismo e a ascensão ao poder da classe
trabalhadora a fim de satisfazer as necessidades da sociedade.
Assim, no período mais vasto de Maio de 1968,
a influência das percepções burguesas, pequeno-burguesas e
oportunistas foi reforçada
e prevaleceram slogans que eram ou inócuos, facilmente integrados ao
sistema, ou úteis para o ataque do capital nos anos seguintes com.
reestruturações no capitalismo. Deste ponto de vista, o
desenvolvimento de outros líderes de Maio no movimento estudantil
como Cohn-Bendit, que mais tarde se tornou um político burguês
anticomunista foram, em essência, completamente naturais.
De modo análogo, no nosso país, experimentámos um protesto
aparentemente espontâneo nas praças em 2012, o qual não
visava o inimigo real, ele extravasava para fora do movimento do trabalho
organizado e, em essência, ajudou o SYRIZA a se elevar ao poder
governamental.
Neste caso, destacou-se a intervenção de centros organizados que
capturam a insatisfação popular direccionando-a para
mudanças inócuas de governo. As difusas palavras-de-ordem
anti-memorando de 2012 constituíram um ponto de encontro político
para as forças do SYRIZA e as da Aurora Douradas.
A classe trabalhadora mostrou em Maio de 1968 sua capacidade
de organizar sua luta, de emergir dinamicamente na linha de frente encerrando a
produção capitalista,
com uma greve geral e tomadas militantes de fábricas. A classe burguesa
e o governo De Gaulle só ficaram realmente preocupados quando
testemunharam o êxito da greve geral de 10 milhões de
trabalhadores após o apelo da CGT e do PCF. Eles ficaram preocupados
porque o objectivo aguçado da luta de classes
poderia ter impulsionado a liderança do PCF a corrigir sua linha
reformista numa direcção revolucionária.
Ficaram preocupados porque a classe dominante sabe muito bem qual classe
é objectivamente a classe social de vanguarda que pode
derrubá-la, uma vez que não tem nada a perder excepto as suas
cadeias.
No entanto, apesar da acção militante política e sindical
das forças do PCF, sua linha foi essencialmente o que restringiu o
movimento do trabalho às reivindicações de alívio
económico e realocação, com o objectivo sendo uma
mudança de governo.
Objectivamente isto facilitou as manobras do governo De Gaulle, que administrou
com concessões económicas temporárias para neutralizar a
dinâmica do movimento e mobilizar forças sociais conservadoras sob
a bandeira da governação burguesa.
A intervenção do núcleo oportunista,
grupos trotskista e maoista,
ajudou objectivamente no desarmamento político do movimento. O
anti-sovietismo,
a rejeição da
luta pela vitória da revolução socialista em um
país, ao nível nacional,
a projecção da dinâmica das
acções trabalhistas espontâneas,
um programa de transição que se concentrava no
controle operário e na gestão amistosa das pessoas no terreno do
capitalismo
foram alguns dos elementos básicos da sua linha oportunista. Deste
modo, o Liga de Maio trotsquista começa como a cauda e inofensiva do
movimento de 22 de Março, o qual clama por um levantamento sem
conteúdo político específico que leva ao apoio do
objectivo da cooperação entre socialistas e comunistas nas
eleições que tiveram lugar a seguir.
Foi uma revolução?
Maio de 1968 recorda-nos também que os estudantes universitários
e os jovens não constituem
uma classe separada, com interesses objectivos uniformes.
Suas diferentes origens de classe, mas principalmente as diferentes
perspectivas de classe para os graduados, após a sua
organização em massa nas universidades, o perigo do desemprego e
a tendência de proletarização futura para muitos deles,
desempenharam um papel nas revoltas, na luta e na radicalização
do movimento estudantil universitário. Salientou mais uma vez que a
questão decisiva é a
substancial cooperação
do movimento estudantil
com o movimento operário com orientação de classe
, contra as políticas e o poder da classe burguesa.
Como foi mencionado anteriormente, isto nos permite responder com maior clareza
às questões sobre o conteúdo político do de Maio de
1968 francês e avaliar se este poderia ter evoluído de modo
diferente. Maio de 68 não exprimiu um
ataque planeado e organizado
da classe trabalhadora e seus aliados para o derrube do poder capitalista
Por um lado,
as condições objectivas que teriam permitido isto não
existiam completamente;
ainda não existia uma situação revolucionária. Por
outro lado, o PC
não traçou uma política revolucionária
que pudesse liderar o movimento do trabalho nesta direcção,
devido à sua estratégia reformista.
Houve no entanto um aguçamdento do conflito de classes, houve um aumento
significativo no movimento dos trabalhadores que objectivamente criou
condições favoráveis para uma escalada na luta de classe
na direcção do conflito e do derrube do poder do capital. O que
estamos a descrever esquematicamente como " ;situações
não-revolucionárias" ; não é estático,
imutável, uma situação fixa.
É claro que
o momento em que uma situação revolucionária se manifesta
não pode ser previsto com precisão, nem
depende
da vontade da vanguarda revolucionária.
No entanto, a acção do PC e do movimento operário
revolucionário tem um efeito e é registada na mudança das
condições objectivas.
O equilíbrio de forças entre as classes não muda por si
mesmo como um fenómeno natural, nem por um milagre. Ele muda com base no
curso e no resultado da luta de classes,
que é naturalmente travada sob condições
específicas que dizem respeito ao aguçamento da
contradição básica e às contradições
intra-burguesas.
A importância desta
interacção
entre as condições objectivas e os factores subjectivos destaca
de
modo positivo
a vitória da Revolução de Outubro de 1917 e
de modo negativo
o resultado das lutas de Maio de 68.
Examinando o período com base nos critérios leninistas para uma
condição revolucionária, podemos confirmar:
A partir dos factos que temos,
não se pode documentar que em Maio de 68
tivesse objectivamente sido atingida em França o ponto onde " ;os
que
estão no poder não podem mais governar como antes" ;
, isto é, que a desestabilização da dominância
política da classe burguesia tivesse aparecido.
Contudo, a dificuldade de administrar politicamente as crescentes necessidades
sociais
havia aumentado e enfraquecido a hegemonia burguesa. As
contradições intra-imperialistas entre os EUA e a
secção da classe burguesa francesa que apoiava De Gaulle
haviam-se aguçado. Os EUA apoiaram os políticos social-democratas
franceses e intervieram de modo a que o movimento tomasse uma
direcção contra o governo De Gaulle. Apesar disso, o
estado burguês,
o exército, a polícia e os tribunais, todos
funcionaram decisivamente e portanto não foram perturbados.
O governo mobilizou centenas de milhares dos seus apoiantes.
O mês de Maio de 68 não apresentou uma deterioração
espectacular e generalizada nas vidas da classe trabalhadora e da juventude.
Contudo, tornou-se mais claro que o desenvolvimento capitalista não leva
à satisfação das necessidades sociais
contemporâneas, mas ao aumento do desemprego, da insegurança e da
pobreza relativa. O relativo empobrecimento da classe trabalhadora em
relação à riqueza que ela produz aumentou.
Em Maio de 68, assistimos a um aumento dramático na atmosfera militante,
na militância, na difusa radicalização superficial de uma
" ;grande massa vinda de baixo" ;, da classe trabalhadora e dos
estudantes universitários, mas isso naturalmente não era
suficiente para uma grande mudança no equilíbrio de forças
a verificar-se à custa da classe burguesa, que marca uma
situação revolucionária.
Contudo, isto não alivia o PCF das suas grandes responsabilidades pelo
resultado da luta de classe e pela rápida desintegração do
movimento. Certamente as condições não estavam maduras
para que ele liderasse de imediato uma insurreição
revolucionária armada. No entanto, poderia e deveria ter escalado e
aprimorao a luta política do movimento trabalhista, visando o inimigo
real, o poder da classe burguesa, abrindo e aprofundando a fenda na sua
dominância política. Poderia ter corrigido sua linha reformista e
politicamente "fertilizado" o entusiasmo militante que surgiu em
muitas tomadas de fábricas.
Poderia ter propagado abertamente o slogan " ;trabalhador, você pode
administrar sem patrões" ; para os trabalhadores que gritavam:
" ;dez anos é suficiente sob De Gaulle" ; e para os estudantes
que
escreviam nas paredes: " ;Imaginação ao poder" ;. O fraco
slogan radical " ;as fábricas para os trabalhadores" ; já
era ouvido, o que mostrava haver espaço para avançar em
direcção ao poder para os trabalhadores. Poderia ter corrigido
sua linha reformista das ilusões parlamentares sobre um governo
burguês progressista dentro da própria luta de classe.
Sem decepções
O curso de Maio de 1968
acima de tudo nos ensina os termos necessários
para um PC continuar a ser a vanguarda revolucionária da classe
trabalhadora. Este papel não é simplesmente entregue e nem
é concedido de uma vez por todas pela História. A fim de que todo
PC,
em acção e não em palavras,
permaneça uma vanguarda revolucionária, estuda contínua
e auto-criticamente a experiência histórica da luta de classe,
para interpretar os desenvolvimentos contemporâneos, elaborar a
estratégia ideal que esclarecerá a necessidade da
revolução socialista, do socialismo, para a
satisfação das necessidades sociais contemporâneas.
Para mapear militantemente a política ideal
que ajudará na escalada da luta de classe, para aprofundar e ampliar
seus laços com a classe trabalhadora e os estratos populares pobres,
para estabelecer uma orientação anti-capitalista dentro do
movimento do trabalho,
para contribuir para a construção de alianças sociais.
Nosso Partido se esforça persistentemente todos os dias por responder a
todas estas tarefas. Somos
ensinados
pelos 100 anos de luta e sacrifícios do heróico KKE, mas
também pela
experiência
positiva e negativa
do Movimento Comunista Internacional.
Ao estudar momentos históricos importantes, como o de Maio de 68 em
França,
não sentimos qualquer decepção quanto às lutas que
supostamente foram perdidas.
A partir de Maio de 1968, temos em nossas mentes a imagem de centenas de
milhares de trabalhadores e estudantes que marcharam juntos no mesmo caminho no
coração do capitalismo desenvolvido, cantando
A Internacional.
E continuamos a luta por este mesmo caminho, até o fim, para que a
classe trabalhadora finalmente tome o poder, na vida real
e não nas nossas imaginações!
[*]
Intervenção no Festival de Estudantes Universitários da
KNE, na Ática, em 16/Junho/2018.
A versão em inglês encontra-se em
inter.kke.gr/en/articles/What-have-we-learned-from-May-of-68/
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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