Mélenchon: a única barreira contra Macron & Le Pen

– Uma análise da política francesa e da extrema-direita

por Antoine Manessis

Jean-Luc Mélenchon De acordo com uma sondagem publicada em 25 de Janeiro pelo instituto Harris Interactive, Marine Le Pen ficaria à frente do presidente cessante Emmanuel Macron na primeira volta das eleições de 2022. A presidente do Rassemblement Nacional obteria 26 a 27% dos votos, contra 23 a 24% para Macron. À direita, uma candidatura de Xavier Bertrand receberia 16% das intenções de voto e de Valérie Pécresse 11%, qualquer que fosse a personalidade apoiada pelo Partido Socialista.

À esquerda, a candidatura de Anne Hidalgo (Partido Socialista) ganharia 6% ou 7% dos votos, dependendo de ela se opor a Xavier Bertrand ou a Valérie Pécresse, respetivamente. Já Arnaud Montebourg (Partido Socialista) foi creditado com 5% dos votos em todas as configurações. Essas pontuações atribuídas aos candidatos socialistas colocam-nos atrás da candidatura de Jean-Luc Mélenchon, que arrecada 10% ou 11% das intenções de voto. Mas também atrás do ecologista Yannick Jadot.

Faltam quinze meses para as eleições presidenciais e muitas coisas podem acontecer. O facto é que um possível face a face Le Pen/Macron permanece muito preocupante. Metade dos eleitores de esquerda iriam abster-se perante um tal escolha. Podemos entendê-los e até aprová-los. Ainda assim, uma escolha entre a peste castanha e a peste azul seria desoladora.

Duas atitudes estariam erradas. A primeiro seria a política do pior. Acreditar que Le Pen no Palácio do Eliseu não teria consequências negativas na vida dos trabalhadores e das pessoas. Em termos de liberdades, mas também no plano social, todos os países que testaram a extrema-direita viram a situação das classes populares piorar. A demagogia (inclusive social) que acompanha o neofascismo pode enganar uma vez. Mas nunca devemos esquecer que essas pessoas não podem vencer sem o apoio de grandes empresas (pelo menos de uma fração delas), que exige um retorno sobre o seu investimento. Nem sem alianças à direita.

A segunda seria pensar que Macron é um obstáculo à extrema-direita: aquelas sondagens provam que, pelo contrário, as políticas de Macron abrem, objetivamente, o caminho do poder aos neofascistas. A burguesia (a classe dos capitalistas que possui os principais meios de produção, o Estado e os media), com sua política antipopular, causa descontentamento que se expressa seja com a esquerda da esquerda seja com o neofascismo.

Desde a liquidação do comunismo organizado e da social-democracia, a extrema-direita está em ascensão. Eles cristalizam a cólera e o desespero populares. O neofascismo usa a xenofobia, o racismo e o nacionalismo como um cavalo de Tróia para derrubar os muros da desconfiança da classe trabalhadora e popular a seu respeito. Eles conseguem capturar o ressentimento para com os líderes burgueses tradicionais (direita e PS em França). Vemos isso na rejeição dos partidos burgueses, na abstenção popular e dos jovens, na perda de confiança nos media burgueses e até no questionamento da democracia parlamentar, cujo logro é desmascarado por muitos.

O problema é que tudo isso é recuperado pelo neofascismo, outro engodo do capital, e não pela esquerda que se mostra globalmente incapaz de o fazer. Qual pode então ser a atitude da esquerda ou das esquerdas face a uma perspetiva politicamente catastrófica?

Claro que se pode dizer, já dizemos isso há algum tempo, quebremos a sujeição ao aperto Macron/Le Pen. Sim, mas como? Com que ferramenta? E mil hipóteses florescem. No entanto, apenas uma concilia o desejo da esquerda com a política realmente existente. O único que, penosamente, se impõe. Essa hipótese identifica-se com um nome, agrade ou não aos ex-seguidores do "culto da personalidade": Jean-Luc Mélenchon.

À frente das esquerdas, ele é forte com a sua legitimidade democrática de 2017, a sua personalidade brilhante, as suas posições decentes e a sua coragem política (necessária para prestar homenagem a Fidel Castro). O seu jauressianismo de esquerda, o seu "reformismo revolucionário" e sobretudo a dinâmica que a sua eleição poderia (no condicional) ser portadora, de facto a única portadora de uma barreira ao neofascismo.

Qualquer outra candidatura de esquerda é, digamos francamente, uma candidatura de divisão. Qualquer coisa que impeça J L Mélenchon – e portanto a esquerda da esquerda – de estar presente no segundo turno é um erro político histórico.

A possibilidade de uma alternativa progressiva não é clara, universalmente visível e confiável. A Terceira Internacional está morta desde 1943. E o Movimento Comunista Internacional desde 1990 (pelo menos...). No Chile, no Líbano, na Itália, na Espanha e também em Portugal, no Japão como no Egito ou no Mali, como aqui na França, a alternativa ao capitalismo, quer chamemos de socialismo ou eco-socialismo, não é interiorizada pelas massas, mesmo quando lutam com feroz determinação contra os efeitos do capitalismo.

Podemos, portanto, concluir que um processo pode ser posto em prática a partir do "contra" para mover-se gradualmente em direção do "a favor". É necessário, portanto, criar as condições mais favoráveis para tal processo. Depois, para que as massas avancem pelas suas lutas as reivindicações que levarão o processo à sua radicalização, ao seu aprofundamento com o apoio mais amplo, largamente maioritário da população.

Que os puristas, os revolucionários em palavras, os sectários e os anacrónicos empoeirados digam a si mesmos: aqui e agora a maneira de ter hipóteses de criar as condições para o desenvolvimento de um vasto movimento popular é o voto em Mélenchon.

30/Janeiro/2021
Ver também:
  • JL Mélenchon, le vaccin, la pandémie et le mode d'organisation de la société

    O original encontra-se em nbh-pour-un-nouveau-bloc-historique.over-blog.com/...


    Este artigo encontra-se em https://resistir.info/ .
  • 18/Mar/21