Coletes amarelos: "odiosos", "depredadores",
"anti-semitas"... o que mais ainda?
por Rémy Herrera
A princípio, no início de Novembro de 2018, quando os primeiros
"coletes amarelos" protestaram nas redes sociais contra o aumento do
imposto sobre combustíveis decidido pelo governo de Édouard
Philippe, os media dominantes todos eles de propriedade dos poderes do
dinheiro censuraram-nos por se oporem à defesa do meio ambiente.
Inicialmente, portanto, os coletes amarelos eram apresentados pelos seus
críticos como rurais arcaicos mas conectados à Internet!
ferozmente "apegados ao seu automóvel" e obtusamente
indiferentes à causa ecológica. Como se os poucos centavos de
euro cobrados sobre esses impostos e destinados à
"transição ecológica"
fossem suficientes para nos fazer esquecer que a França, aureolado pelo
prestígio da COP21 de Paris, ainda não tem uma política
crível em matéria ambiental.
Então, muito rapidamente, na verdade desde a primeira
mobilização dos coletes amarelos em 17 de Novembro, os ataques
dos media subiram de tom e acusaram-nos de serem
"racistas"
de extrema-direita. Das centenas de milhares de coletes amarelos que se
manifestam por todo o país, houve um ou dois que foram filmados ou
gravados em vias de intimidar pessoas "tipificadas" ou de origem
estrangeira. Dizem que eles são "misóginos" porque um
outro da mesma farinha fez comentários impróprios a respeito de
uma dama. Três idiotas, em suma, foram dotados com o poder de transformar
300 mil manifestantes em xenófobos machistas! No processo, seus
adversários viram os coletes amarelos tornarem-se
"odiosos",
sob o pretexto de acções colectivas utilizando a força
para bloquear estradas e rotundas e por reivindicações formuladas
com ardor e veemência.
Não demorou muito para que os peritos em segurança arrebanhados
pelos media fizessem o amalgama entre coletes amarelos e
"depredadores". Este foi o novo
leitmotif
de canais de (des)informação em contínuo em todos os
sábados de mobilização. Isso, até que o presidente
Emmanuel Macron acabasse por declarar que aquelas e aqueles que atendem aos
apelos a manifestar dos coletes amarelos tornam-se
ipso facto "cúmplices"
das eventuais violências que poderiam ocorrer. Era como tomar os coletes
amarelos por imbecis. E foi isso que fizeram os serviçais
mediáticos da macronie que, ao entrevistarem coletes amarelos, se
deleitavam com os seus desajeitamentos de linguagem e a sua inexperiência
na arte da oratória. Não restava senão classificar todos
como "refractários" às reformas, ingratos à
generosidade do Estado, incoerentes na expressão de seus desejos.
Veio a seguir o momento em que o eixo principal da argumentação
mediática hostil aos coletes amarelos era insistir sobre as suas
"divisões". Aquilo que representa o movimento social
francês mais vigoroso e unificador das últimas décadas,
apoiado por uma grande maioria de seus concidadãos (que, sem vestir um
colete amarelo, trazem-no no coração), tornava-se de repente
heteróclito, contraditório, brigão, "dividido".
E finalmente dizem que "anti-semitas" quando um coletes amarelo
quando um deles, reaccionário, lançou, no virar de uma rua,
insultos contra o intelectual Alain Finkielkraut, também ele
reaccionário (não passa um dia sem que ele declare que os
palestinos de Gaza eram "homens em excesso"?). Dois tipos
inaceitáveis, cara a cara. O
loop
está completo: "os coletes amarelos são a extrema-direita!
Em 28 de fevereiro, Roselyne Febvre, chefe do departamento político do
canal de televisão público France 24, resumiu a opinião
burguesa: "No final, persiste apenas uma cólera bruta (...), da
qual emergiu uma gosto pela violência, anti-semitismo, racismo,
conspiração, enfim, tudo que há de pior no homem.
Será que se tornou [a mobilização de coletes amarelos] uma
espécie de estábulo de indivíduos vulgares
(branquignols)
? (...) Quando os ouvimos hoje, não é muito racional". Tudo
isso é claro: os coletes amarelos encarnam "o pior do Homem" e
as elites a razão. O Código deontológico dos jornalistas
diz, no entanto: "O tratamento profissional da informação
requer respeito pelos princípios de integridade e imparcialidade.
Comunique os factos de maneira honesta, proibir-se de toda mentira,
aproximação, preconceito ou manipulação".
Eis como, permanentemente e de mil maneiras, os media da burguesia em guerra
contra todo um povo insultam os coletes amarelos. Como são
desacreditados, caluniados, rebaixados. Estes coletes amarelos que se
levantaram por nossa dignidade, para não mais suportar o
insuportável. De agora em diante, dizem que eles são
"extremamente pouco numerosos". Quando não se conta
senão um cada dez, e quando a simpatia generalizada de muitos franceses
os acompanha e os encoraja. A hora do golpe chegará em breve? O que
não compreendem estes cavalheiros-damas dos media, do poder e da
finanças, no entanto, é que a cólera dos coletes amarelos
não desaparecerá tão cedo porque as razões
profundas desta cólera não desapareceram. Os limites do movimento
podem ser visíveis. Mas o espírito colete amarelo recolocou um
povo sobre os seus pés.
11/Março/2019
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