Após o vírus, nem peste nem cólera
Travar a marcha do capital rumo ao neofascismo!
por Remy Herrera
Surrealista. Os acontecimentos que, a partir de meados de Março de 2020,
sob o assalto do coronavírus, fizeram afundar um país inteiro, e
outros com ele, têm algo de surrealista. Menos pelo ocorrência da
própria pandemia e sim pelas escolhas de política
económica-sanitária que foram feitas. O risco de epidemia global
era anunciado desde há anos por muitos cientistas especializados
à semelhança da ameaça ligada a eventuais
catástrofes naturais (ou nucleares), por exemplo, previstas por outros
investigadores... Se a contagem quotidiana das mortes causadas pelo
vírus causa horror, se o afluxo aos hospitais de doentes contaminados
angustia, a "gestão da crise do covid-19" transtorna. As
escolhas efectuadas no cimo da pirâmide dos poderes foram de
consequências pesadas, extremamente graves, simplesmente monstruosas.
Pois quis-se fazer aceitar como normal o facto de que equipes médicas,
despojadas
ex ante
dos meios de exercer sua profissão consistente em salvar vidas
tenham sido constrangidas
ex post
a fazer a selecção entre pacientes para os quais tudo seria
tentado a fim de sobreviverem e os outros idosos, vulneráveis,
ditos "polipatológicos", "com comorbilidade", ou
seja, aquelas e aqueles que, pelo seu próprio estado de saúde,
necessitariam de mais cuidados. Estas escolhas revelaram, quão
dramática é a imoralidade culpável dos altos
responsáveis do país, políticos naturalmente, mas
também e sobretudo económicos uma vez que a fidelidade dos
primeiros aos segundos, do interesse geral aos interesses de um punhado de
grandes accionistas ávidos, ferozes, desavergonhadamente
anti-patrióticos, acaba por colocar em perigo a humanidade: depois de
ter arruinado o mundo, desesperado nossos jovens, degradado nossas
condições de vida e de trabalho, querem abandonar nossos idosos.
Uma vez dissipado o estupor e a incredulidade, amplas parcelas do povo
francês compreenderam que os seus dirigentes não lhes seriam de
nenhum socorro em semelhante caso excepcional, certamente, mas em que o
indivíduo sente como nunca a necessidade vital de ser protegido. Elas
perceberam rapidamente que é contra elas, e não contra um
vírus, que os representantes das classes dominantes partiram "em
guerra" e que, de facto, eles não fazem parte deste
"nós" mencionado por E. Macron no seu discurso de 16 de
Março. Nosso "nós" para nós, o dos governados,
foi pressionado ao retrocesso, obrigado a reconhecer que a sociedade na qual
nos prendem
(embastille)
é aquela do cada um por si, do todos contra todos e do salve-se quem
puder. Uma sociedade em que os governos e as potências aos quais eles
são dedicados estão em condições de decretar que
não há lugar para todos nós não há
bastantes lugares no "mercado" de trabalho nem no do alojamento,
não bastante para ganhar uma remuneração que permita viver
dignamente ou para se exprimir democraticamente, nem mais lugares na fila de
espera das entregas de máscaras cirúrgicas ou dos serviços
de reanimação no tempo do coronavírus. Esta sociedade tem
um nome. Este nome é
capitalismo.
No fim de Fevereiro, restavam muito poucos dúvidas entre os
microbiologistas, em primeiro lugar dos quais os virologistas, mas igualmente
epidemiologistas, infectologistas e outras vozes autorizadas: a inevitabilidade
da pandemia estava cientificamente estabelecida. Fazia cerca de um mês
que a OMS declarara a "urgência de saúde pública
mundial"; mais de um mês e meio que os investigadores chineses
haviam identificado o vírus, descoberto (ultra-rapidamente) um teste de
despistagem, publicado a sequência genética do novo agente
infeccioso. Em 6 de Março, "aproveitando a vida com todos os
dentes", o presidente francês e sua esposa iam à noite
aplaudir a representação de uma peça de teatro (pondo em
cena um chefe de Estado recém eleito, mas doente, a dialogar com um
psiquiatra [lapso revelador?]). Ao passearem nos Campos Elíseos, sob
flashs dos fotógrafos, em 9 de Março os pombinhos desafiavam
novamente o perigo. A mensagem destinada aos franceses neste momento tão
singular? Divirtam-se! Já há cinco dias o coordenador da primeira
missão da OMS em Wuhan, o doutor Bruce Aylward, canadiano, insistia no
New York Times
(datado de 4 de Março) sobre a extraordinária gravidade da
situação.
Em 29 de Fevereiro, um dia após à passagem do país
à "fase 2" e à recomendação da OMS de
mobilizar "todo o governo" a fim de dominar a pandemia, a ordem do
dia do Conselho de Ministros "excepcional" dedicado ao
coronavírus foi virada do avesso pelo executivo de um outro reizinho
visivelmente preocupado em respeitar a agenda de demolição das
conquistas sociais ditadas pela [confederação patronal] MEDEF:
destruir com um bulldozer modelo 49.3
[1]
o sistema de pensões, proibir toda manifestação e, para
que o barulho do tractor anti-democrático seja um pouco menos ouvido,
manter em 15 de Março a realização das
eleições municipais. Mesmo que isso signifique enviar para o
combate sem a menor máscara distribuída os
assessores dos gabinetes de voto e seu concidadãos.
A
"gestion à la française"
da pandemia do covid-19 foi catastrófica. De um extremo ao outro. Os
que impõem o desordenamento da França entrarão na
história pela porta usada outrora pelos capituladores e traidores. Eles
já haviam confirmado a sentença de execução no
garrote do hospital público pronunciada pelos seus antecessores,
fechando camas, pagando mal o pessoal, tornando os estrangeiros
precários, deixando envelhecer as instalações,
transformando os cuidados de saúde num supermercado. Haviam
deslocalizado a produção de equipamentos e medicamentos, entregue
a investigação à sede de lucros dos laboratórios
farmacêuticos privados, passado a verdade científica na peneira de
cálculo dos lucros. Era suficiente? No momento da "crise do
covid-19", decidiram de modo consciente, cínico e criminoso
não proteger a população e não tratar os doentes
algo absolutamente incrível. "Se tens os sintomas do
coronavírus, talvez estejas doente. Nesse caso...
estribilho...
fica em tua casa"! Esta foi a directiva alucinante difundida pelas
autoridades sanitárias. Não julgaram útil realizar testes
em grande escala, nem constituir a tempo os indispensáveis stocks de
respiradores, entubadores, máscaras, óculos protectores,
aventais, blusas, gels hidro-alcoólicos. Sem mencionar tratamentos que
provocassem algum efeito favorável contra o coronavírus ao
mesmo tempo que tristes polémicas de jornalistas autoproclamados peritos
que se esqueceram de informar "conflitos de interesses". Os
médicos e as suas equipes, enviados para a frente de batalha por um
chefe de exército a divertir-se com eles como se fossem soldadinhos de
chumbo vestidos com sacos de lixo e chapéus de trapo costurados no
local, não tiveram sequer sedativos suficientes para aliviar os
moribundos, os infelizes destinados a "não reanimar" aos quais
não fora atribuída uma "pontuação de
fragilidade" correcta... Em vários locais, nenhum material de
protecção foi atribuído aos serviços
psiquiátricos deliberadamente? Para nada dizer dos
lúgubres EHPAD
[2]
, em que muitas direcções rapidamente deixaram de transmitir as
contagens de falecidos às instâncias "competentes". E no
terreno? Faltava tudo menos a coragem. Viva os heróis!
Lá em baixo, os confinados. Que só conseguiram aguentar
graças aos trabalhadores dos sectores essenciais, também eles
heróicos: agricultores, operários das indústrias
agro-alimentares, caixas de lojas, motoristas de entregas, pessoal de
manutenção, empregados de limpeza, colectores de lixo,
trabalhadores dos serviços públicos, tantos outros
invisíveis e anónimos... Lá em cima? Os idiotas
estão acabados! No meio dos confetis estatais que se arrastam aqui e
ali, resíduos das farras e carnavais do neoliberalismo celebrando a cada
dia, durante quase 40 anos, a festa dos miliardários!
Durante a pandemia, os líderes do grande patronato francês
mostraram estar abaixo de tudo. Os patrões sonhavam só em nos
pôr em cadeias, nas suas mini ditaduras de patrões exploradores,
não pensavam, assim que o confinamento foi anunciado, senão em
recolocar-nos sob a alçada da exploração. Aqueles que
quase haviam conseguido convencido a maior parte dos gentis organizadores da
"esquerda" de que a classe trabalhadora e a nação
haviam desaparecido viram-nas ressurgir mais vigorosas do que nunca! Aqueles
que nos contavam que poderiam magicamente passar sem nós para criar as
riquezas foram subitamente tomados de pânico uma vez sem nós, o
ciclo do capital, a sua bomba de dinheiro, bloqueou. Aqueles que, para nos
fazer esquecer que a nação, nascida nas nossas fileiras, é
o quadro da luta das classes e um baluarte contra a sua
globalização selvagem, lançam-na novamente nos pastos da
extrema direita. A Airbus reabriu rapidamente as suas fábricas e assim
privou de máscaras (FFP2) os cuidadores que delas precisavam. A Sanofi,
ao dar prioridade aos Estados Unidos, humilhou o Tesouro, que no entanto lhe
havia assinado cheques gordos.
A Renault anunciou os seus milhares de despedimentos, encaixando os seus
milhares de milhões de dinheiros públicos. A Peugeot
pós-covid preferiu utilizar trabalhadores "destacados" de uso
único ao invés de trabalhadores temporários locais. B.
Arnault e Vuitton reproduziram para nós o filme de Notre Dame num belo
golpe publicitário. O Medef, que durante décadas pressionou pela
flexibilização e precarização dos contratos,
desvinculou as empresas do financiamento da Segurança Social e encorajou
as deslocalizações, é certamente, e imensamente,
responsável não só pela desindustrialização
do país que nem sabe mais fabricar um cotonete ou o paracetamol
como também pela dramática penúria que aqui reina.
E que o governo dissimula.
Os "heróis da linha da frente" também foram agradecidos
com o despedimento uma vez levantado o confinamento. Já tínhamos
visto patrões liquidar ou quebrar as máquinas das últimas
fábricas de máscaras em França, agora vemos afundar 300
PMEs do sector que acreditaram ingenuamente na palavra macroniana. As
empresas não sabiam que o Kreattur
[3]
dos devoradores de mortos da finança só diz a verdade aos
banqueiros, que, tão destituídos de escrúpulos quanto os
seus duendes domésticos, não largam o dinheiro? Que não
haja dúvidas. Cedo ou tarde chegará a hora da justiça
social em que todos estes grandes accionistas serão julgados por alta
traição, condenados, expropriados. Ainda levará tempo para
que as contas sejam prestadas e os privilégios abolidos, mas o
escândalo revolta de tal modo que em breve chegará o momento que,
unidos, encontraremos a força para lhes fazer vomitar o que nos roubam,
para ensinar boas maneiras aos riquíssimos que não têm
cura, para ensinar aos novos aristocratas avarentos e às suas más
companhias dos paraísos fiscais a comportar-se bem, a viver em
sociedade. Para educar os detentores da chamada violência dita
"legítima" que, na nossa República, as pessoas
não são sufocadas, não são espancadas, não
lhes é furado o olho, não se arrancam mãos nem pés
nem nada, nem tão pouco se diz "bicot"
[4]
.
Entretanto, os trabalhadores têm resistido em toda a França, pelo
direito de reforma, de se desengatarem, de apresentarem queixas: nos hospitais
públicos (como durante a mobilização de 16 de Junho); na
indústria, na indústria automóvel e seus subcontratantes
(Valeo, Faurecia, Burelle), na aeronáutica (Daher, Safran), nas
infra-estruturas ferroviárias (Alstom), nos estaleiros navais
(Atlantic), na indústria siderúrgica (ArcelorMittal), na
embalagem (Allard); nos serviços (Carrefour, Amazone, La Redoute,
Deliveroo, Uber Eats, La Poste, etc.); no sector público (Carrefour,
Amazone, La Redoute, Deliveroo, Uber Eats, La Poste, etc.). Entre muitos
outros. E será preciso resistir sempre, lutar com todas as nossas
forças contra a
Blitzkrieg
hoje desencadeada pelo patronato a fim de varrer o que resta dos escombros do
Código do Trabalho, sob o pretexto de "salvar a economia". Um
patronato acompanhada por líderanças sindicais sem espinha
dorsal, colaboradores de classe e adoradoras do euro (o que ganharia a CGT se
não se perdesse nela?) e apoiada por um executivo com prerrogativas cada
vez mais reforçadas, mas cujo poder os nossos concidadãos
já não aceitam, enojados por tantas submissões,
traições, corrupções, repressões.
No tobogã que se precipita rumo às águas gélidas
das candidaturas à municipalidade de Paris, a antiga ministra da
Saúde, Agnès Buzyn, revelou que sabia o que estava a acontecer e
que teria informado todos eles ela disse ter prevenido o chefe de Estado
já em 11 de Janeiro e depois advertido o primeiro-ministro no dia 30 que
o pico da epidemia era esperado em França por volta de 15 de
Março todos sabiam. Invocar a desenvoltura de Emmanuel Macron, um
pouco menos penosa de suportar do que a de um D. Trump ou de um B. Johnson,
é importante: isso recorda que foram as potências do dinheiro a
vampirizarem nossas economias que fizeram passar o elenco de actores de
ópera bufa em que se tornou a democracia burguesa. Evocar a
incompetência deste ou daquele funcionário ou ministro eleito tem
a sua importância, mas eles são apenas pára-raios que
encobrem as manobras dos seus mestres, os verdadeiros, os accionistas do
Leviatã Financeiro e dos seus impérios económicos que
brincam com o planeta como o globo de plástico do ditador Adenoïd
Hynkel
[5]
, regem as nossas sociedades, maltratam os nossos serviços
públicos, subjugam as nossas consciências, controlam todos os
aspectos da nossa existência individual.
Estes grandes proprietários do capitalismo haviam prometido a
opulência; estão a condenar-nos à escassez organizada
a que atravessámos durante a pandemia do coronavírus
e à crise sistémica a pior depressão
económica desde a Segunda Guerra Mundial está a aproximar-se.
Eles glorificavam a liberdade, mas sequestram o trabalhador, mantido cativo
desde a infância até à morte na sua máquina
caça-niqueis do salariato. Eles sacralizavam o indivíduo, mas
aniquilaram-no brutalmente para impor o seu arrepiante cálculo do
"valor económico" de cada ser humano como critério
decisivo para saber, uma vez que reina a falta de poupança e o
fatalismo, se este poderá viverá e aquele deverá morrer.
Além da insolvência
made in France,
o eugenismo generalizado como projecto do capital!
Não nos enganemos. Os assassinos vivem no topo, acima de um Estado em
que puxam os cordelinhos para nos atirar uns contra os outros, para nos
dividir, para nos domesticar ao ponto de já não reagir à
visão de sem-abrigo deitados em frente a um edifício desocupado,
de migrantes engolidos pelas ondas, de famílias bombardeadas em
países longínquos por soldados criados entre nós. O
sistema que eles querem ver se eternizar o capitalismo é o
que em 1936 vieram reforçar os fascistas que vociferavam "viva a
morte! e "Morte à inteligência!"". Parece que os
tiranos que dominam aqueles que nos dirigem estão hoje determinados a
marchar para o neofascismo a fim de perdurarem. Terão mesmo decidido que
após o vírus, para o povo francês haveria ou a peste ou a
cólera: se acontecesse que o comediante E. Macron recebesse uma chuva de
tomates, eles nos concederiam o direito de eleger a mais nova das filhas do Le
Pen. Fracções das classes dirigentes já a designaram!
Estes todo-poderosos, possuem na totalidade e controlando
totalitariamente o aparelho de informação e de
comunicação, mais um espectro influente de redes sociais.
É claro que ainda sustentam esforçadamente o actual ocupante da
rua du Faubourg-Saint-Honoré, 55, em Paris
[6]
. Mas doravante estes parceiros silenciosos das finanças
esforçam-se por encerrar todo o espaço da luta de classes no
quadro dos conflitos internos das classes dominantes dos quais faz parte
Marine Le Pen a fim de monopolizar o debate político e de situar
o seu centro de gravidade entre a direita e a extrema-direita. Tal como nos
Estados Unidos, onde se dilaceram "globalistas" (Biden) e
"continentalistas" (Trump).
Assim, retiraram da sua jaula um magote de editorialistas e debatedores, cada
um mais reaccionário do que o outro, a mostrarem os dentes e a morderem,
sedentos de sangue, transmitindo o racismo. Como caçadores a excitarem
os cães de caça, censores políticos odiosos que fazem a
ORTF
[7]
empalidecer. Os grandes financeiros deste regime haviam conseguido eleger E.
Macron em 2017, no fim de uma campanha publicitária relâmpago,
entre televendas e reality show. Eles agora estão a mudar de
método tendo em vista as eleições presidenciais de 2022.
Até ao escrutínio decisivo, perseguirão este povo rebelde,
farão com que seja acossado pelas bestas imundas do neofascismo numa
caçada com cães, para tomá-lo de assalto a fim de
capturá-lo e levá-lo à exaustão.
O que fazer então nestas condições? Teremos de ser
resistentes, muito mais combativos, passar da defensiva à ofensiva, para
poder esperar sair desta armadilha dilemática, para que o nosso
"mundo de depois" não seja a sua " ordem nova"
da qual nasceu a FN em 1972 , para que o slogan da
"união nacional" da LaReM
[8]
não prefigure o advento do RN
[9]
, como "revolução nacional", ressuscitando o pior da
história do país. E, para vencer, será preciso convencer.
Convencer de que se quisermos travar a máquina infernal da crise
sistémica e das guerras imperialistas, da destruição dos
indivíduos, das sociedades e do ambiente, do agravamento das
desigualdades, do racismo e do patriarcado, do embrutecimento cultural, da
regressão dos direitos cívicos e democráticos, será
preciso ultrapassar definitivamente o capitalismo e arrancar de vez e a
sério para uma transição socialista.
29/Junho/2020
[1] Refere-se ao artigo 49, alínea 3 da Constituição
francesa que permite ao governo por uma lei em vigor sem votação
no parlamento.
[2] EHPAD: Établissement d'hébergement pour personnes
âgées dépendantes
[3] Kreattur: personagem da série de ficção Harry Porter,
da escritora J.K. Rowling.
[4] Bicot: palavra depreciativa para designar os norte-africanos.
[5] Adenoïd Hynkel: personagem de ficção criada por Charlie
Chaplin no seu filme "O ditador", em 1940.
[6] Endereço do Palácio do Eliseu.
[7] ORTF: Office de radio-diffusion télévision française.
[8] LaReM: La République En Marche, o movimento fundado por Macron
[9] RN: Rassemblement National, o movimento de Le Pen.
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