A boa UE, o mau FMI e o governo SYRIZA-ANEL
por Dimitris Koutsoumpas
[*]
As discussões dos executivos do FMI, as quais foram publicadas no
sítio do WikiLeaks, destacam as agudas contradições entre
por um lado o FMI e secções do capital estado-unidense e por
outro lado a UE, particularmente partes do capital alemão. Estas
contradições são manifestadas quanto ao programa grego e
às dificuldades relativas ao término da actual
avaliação.
É ingénuo pensar que a publicação destas
discussões, neste momento, bem como o que se seguiu, como a
reunião Merkel-Lagarde, tem a ver só com o processo da
negociação do governo e a atitude de tecnocratas como Thomsen e
Velculescu.
As causas são muito mais profundas e estão relacionadas com a
administração da dívida como um todo e não apenas a
da Grécia, assim como o rumo da própria eurozona.
Por exemplo: os EUA e, por extensão, o FMI, propuseram o término
da avaliação como requisito prévio para um
"haircut" da dívida grega, o qual será suportado
principalmente pela Alemanha.
A Alemanha reage a este perspectiva e levanta o término da
avaliação como um instrumento de pressão para a
aceleração das reformas, mesmo mantendo aberta a possibilidade de
o país sair da eurozona.
Portanto, o surgimento deste confronto através de
publicações nos media não é nem aleatória
nem sem precedentes. Recordamos o conflito EUA-Alemanha depois das
revelações do agente Snowden da NSA, respeitantes às
escutas de responsáveis europeus por agências dos EUA com o
envolvimento da WikiLeaks.
Além disso, finalmente, mais generalizadas do que nunca, há
muitos cenários conflituosos acerca do futuro da UE, sempre combinado
com o futuro da eurozona, com a Grã-Bretanha, França e Alemanha
como os actores chave deste conflito.
Tudo isto acontece com o pano de fundo de preocupações quanto
à economia global, porque em 2015 o crescimento capitalista global
desacelerou, enquanto 2016 principia com mensagens perigosas. A ameaça
de novos maus tempos sincronizados na economia capitalista global lança
ainda mais "combustível para a fogueira" nos antagonismos
entre grandes grupos de negócios, os respectivos estados e
alianças internacionais, as quais actuam como gangs de ladrões.
Suas alianças, acima de tudo, voltam-se contra o povo, enquanto
são mantidas por tanto tempo e em tantos campos quanto a
coerência dos seus interesses.
Em relação ao governo, é óbvio que ele ergue as
discussões do pessoal do FMI a fim de repetir a conhecida e testada
chantagem de que "ainda pode ser pior" para a
aceleração da avaliação e o novo pacote de medidas,
a fim de embelezar o memorando assinado com a UE. O interessante é que
enquanto o governo SYRIZA-ANEL durante todo o período anterior investiu
no papel do FMI e dos EUA, agora parece estar mais próximo das
posições da UE e da Alemanha. Naturalmente, esta mudança
do papel do "bom e do mau" não pode ocultar o facto de que
tanto o FMI como a UE têm como objectivo comum a
implementação de medidas anti-povo e o fortalecimento da
lucratividade dos seus grupos monopolistas, a expensas do povo grego.
O governo SYRIZA-ANEL, o qual foi eleito tendo como palavra-de-ordem o
cancelamento dos memorandos, chega hoje, 15 meses depois, ao ponto não
só de implementar as políticas anteriores da Nova Democracia e do
PASOK como também de assinar mais uma, bem como fazendo sua
"bandeira" a aplicação literal do memorando como um
"acto de desafio" às exigências do FMI!
Deste modo, ele tenta ultrapassar as dificuldades existentes para completar a
avaliação dificuldades que também se relacionam com
as diferentes opiniões dentro do Quarteto mas também para
ultrapassar a mobilização contrária do povo e a
oposição às novas medidas, à
tributação, aos planos para a segurança social, etc. Os
decisores políticos burgueses, tanto na Grécia como lá
fora, preferem o "término" da
"avaliação" pelo governo SYRIZA-ANEL, mas também
estão a preparar-se para outras possíveis eventualidades
políticas. Enquanto (ao mesmo tempo) os outros partidos da
oposição e especialmente a Nova Democracia levanta a
questão da mudança governamental, ou através de
eleições ou com base no actual parlamento.
Tudo isto deve ser conhecido do povo grego, o qual não deve assistir
passivamente a estes desenvolvimentos, não deve ficar preso entre
"Scila e Caribde", não deve ficar fascinado pelos jogos de
media por parte do governo e outros partidos mas sim, mais
significativamente, a fim de ficar em posição, o movimento dos
trabalhadores deve colocar o seu selo sobre os acontecimentos, guiado pelos
seus próprios interesses e não pelo enganoso "objectivo
nacional" da recuperação, o qual é de qualquer modo
incerto, sobretudo porque este objectivo será baseado nas ruínas
dos direitos dos povos.
Acima de tudo, o povo deve estar em posição de organizar e
dirigir o seu combate para a afirmação dos seus direitos, para a
construção de uma nova grande Aliança Popular, a qual
terá como alvo este mesmo sistema apodrecido e os seus grupos
monopolistas.
Especialmente pessoas que reconhece a militância do KKE, a sua
estabilidade e coerência na luta pelos interesses do povo, já
está a reflectir profundamente. Elas podem e devem dar hoje o passo e
apoiar activamente as propostas políticas do KKE para a saída da
crise, para um novo tipo de organização social, a qual
abolirá as relações bárbaras de
exploração, organizará e dirigirá a
produção, a economia, os serviços sociais, as
relações com outros países destinadas a beneficiar a
prosperidade do povo, as necessidades populares e a salvaguarda do trabalho
permanente e estável para todos.
Quanto mais esta proposta ganhar terreno, melhor estaremos em
posição de atrasar e impedir as medidas anti-povo, de exigir a
melhoria da nossa vida, de alcançar objectivos. Há
experiência suficiente. Mas o povo ainda não percebeu e recuperou
o seu verdadeiro poder. Isto é o poder que ele deve e pode testar agora.
O governo não deve ter a ilusão de que se apresentar a proposta
de lei ao parlamento durante os feriados da Páscoa junto com a
crucificação e o epitáfio o povo não
estará nas ruas.
10/Abril/2016
[*]
Secretário-geral do KKE
O original (em grego) encontra-se no jornal
Ethnos
e a versão em inglês em
inter.kke.gr/...
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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