Mistificações de Bush acerca do Iraque

1ª mistificação:
Os Estados Unidos têm o direito de travar guerras preventivas contra o Iraque.


Guerra preventiva é guerra de agressão.

De acordo com a legislação internacional, uma guerra preventiva só pode ser justificada como um acto de auto-defesa quando existe uma genuína e iminente ameaça de ataque físico.

A guerra preventiva de Bush contra o Iraque nem sequer pretende prevenir um ataque real. Pretende prevenir uma ameaça que nem sequer foi formulada.

O Iraque não está a fazer ameaças de ataque aos Estados Unidos. Só os Estados Unidos é que ameaçam com a guerra.

Não existe qualquer evidência de que o Iraque tenha capacidade para levar a cabo um ataque aos Estados Unidos, já para não falar de ter qualquer intenção de efectuar tal ataque.



2ª mistificação:
O Conselho de Segurança da ONU pode com legitimidade autorizar um ataque preventivo.


O Conselho de Segurança da Nações Unidas não pode autorizar um potencial primeiro ataque nuclear dos EUA ou ataque de agressão que viole a Carta da ONU, a Lei Internacional e a lei que proibe crimes de guerra, crimes contra a paz e crimes contra a Humanidade.

A Carta da ONU – que cria o Conselho de Segurança e que dá ao Conselho a sua autoridade – requer que o “Conselho de Segurança actue de acordo com os propósitos e princípios das Nações Unidas.” (artigo 24)

A Carta da ONU requer que disputas internacionais ou situações que possam levar à quebra da paz sejam resolvidas por meios pacíficos. (artigo 1 e Capítulo VI)

Por outras palavras, uma nação não pode travar a guerra com base na pretensão de que procura impedir uma guerra. Uma nação pode usar a força unilateralmente em auto-defesa apenas “se ocorrer um ataque armado” contra ela. (Artigo 51)




3ª mistificação:
O Congresso dos EUA pode legalmente autorizar um ataque preventivo contra o Iraque.


O Artigo VI da Constituição dos EUA estabelece que os tratados ratificados, como a Carta da ONU, são a “lei suprema da terra.”

A Carta da ONU foi ratificada pelos Estados Unidos e o Congresso não pode decidir acções – incluindo guerras de agressão – em violação da Carta.

Guerras de agressão, e mesmo a realização de ameaças de agressão, violam a lei humanitária internacional à qual todas as nações estão obrigadas.

Nem o Congresso nem o Presidente tem o direito de envolver os EUA numa guerra de agressão, e qualquer voto de apoio, longe de legalizar ou legitimar planos globais de guerra, servem apenas como ratificação de crimes de guerra.




4ª mistificação:
O governo dos EUA pretende “libertar” o povo iraquiano.


O New York Times de 11 de Outubro de 2002 revelou os verdadeiros planos dos Estados Unidos: “A Casa Branca, está a desenvolver um plano detalhado, modelado na ocupação do Japão no pós-guerra, para instalar um governo militar liderado pelos EUA no Iraque, se os Estados Unidos derrubarem Saddam Hussein, disseram ontem altos responsáveis da Administração... Na fase inicial, o Iraque seria governado por um comandante militar americano – talvez o Gen. Tommy R. Franks, comandante das forças americanas no Golfo Pérsico, ou por um dos seus subordinados – que assumiria o papel que o Gen. Douglas MacArthur desempenhou no Japão após a sua rendição em 1945”. (”U.S. has a plan to occupy Iraq, officials report”)

A verdadeira intenção do governo americano é recolonizar o Iraque. Até 1960, as corporações americanas obtinham 50% dos seus lucros no estrangeiro graças aos investimentos no petróleo da região. A Administração Bush pretende que o Iraque desnacionalize a sua riqueza petrolífera – 10% da oferta mundial. Esta guerra é uma tentativa de reconquistar o Iraque e todas as suas riquezas naturais. A Administração Bush quer remodelar as cartas no Médio Oriente e desfazer todas as conquistas dos movimentos de libertação nacional dos últimos 60 anos. Quer eliminar a independência de todos os países na região e estabelecer o seu controlo e dominação – não no interesse da vasta maioria dos povos – mas para aceder ao petróleo.




5ª mistificação:
O Iraque é uma ameaça militar para o mundo.

Não há nenhum dado que suporte esta pretensão. Durante a Guerra do Golfo de 1991, enquanto os Estados Unidos bombardearam o Iraque com uma barragem que incluiu 110 mil saídas, o Iraque não destruiu nem um avião ou tanque americano.

A Tempestade do Deserto destruiu, de acordo com os inspectores de armamento da ONU, 80% da capacidade militar iraquiana. Em consequência das inspecções que se seguiram, 90% das capacidades militares iraquianas que restavam foram destruídas.

O Iraque tem estado a pagar indemnizações ao Kuwait e às corporações petrolíferas americanas desde 1991, e não têve capacidade financeira para construir outro arsenal.

Além do mais não tem havido ameaça de qualquer espécie do Iraque contra qualquer outro país.



6ª mistificação:
O Iraque rejeitou os inspectores de armamento


O Iraque nunca disse aos inspectores para saírem do país. Os inspectores de armamento saíram em Dezembro de 1998 porque os Estados Unidos lhes disseram para retirar a fim de que pudessem lançar uma campanha de bombardeamento sobre Bagdad.

No dia seguinte, em 16 de Dezembro, os Estados Unidos lançaram a Operação Raposa do Deserto, que incluiu o lançamento de 1.100 bombas e mísseis Cruise sobre o Iraque.

Após a campanha de bombardeamento, uma reportagem do Washington Post confirmou a afirmação do Iraque de que as inspecções consistiam numa recolha de informações conduzida sob as ordens da Defense Intelligence Agency . O Pentágono usou as informações recolhidas nas chamadas inspecções para direccionar a sua campanha de bombardeamento. Após esta revelação o governo iraquiano, compreensivelmente, não permitiu o regresso dos inspectores.



7ª mistificação:
As sanções são um modo suave e simpático de lidar com o Iraque.

O plano de sanções sobre o Iraque surgiu do Pentágono, não do Departamento de Saúde e Serviços Humanos. Constituiu uma parte central da estratégia de guerra do Pentágono contra o povo iraquiano.

As sanções têm sido mais devastadoras do que a própria guerra do Golfo.

“A UNICEF confirma que 5 a 6 mil crianças iraquianas estão a morrer desnecessariamente todos os meses devido ao impacto das sanções, e que esse número peca por defeito,” afirmou Denis Halliday numa audiência no Congressista em Outubro de 1998. Halliday, que tinha acabado de demitir-se do seu posto como Assistente do Secretário Geral da ONU e como chefe da missão humanitária da ONU no Iraque, falou da “trágica incompatibilidade das sanções com a Carta da ONU e com as Convenções sobre os direitos Humanos”.



8ª mistificação:
As Nações Unidas permitem aos Estados Unidos e ao Reino Unido bombardearem as “zonas de interdição aérea” ("No Fly Zones")


Os Estados Unidos acordaram com o Iraque um cessar-fogo em Fevereiro de 1991. As “zonas de interdição aérea” sobre dois terços do território iraquiano foram impostas pelos EUA, Inglaterra e França 18 meses após a Guerra do Golfo. As Nações Unidas nunca sancionaram as “zonas de interdição aérea”.

Desde então a França tem condenado essas zonas. Elas constituem uma violação da lei internacional.

O Iraque tem todo o direito, à luz da legislação internacional e de todas as leis conhecidas no mundo, de se defender nestas “zonas de interdição de voo” declaradas pelos EUA. De acordo com o artigo 51 da Carta das Nações Unidas, o Iraque tem o direito de auto-defesa em todo o seu território, incluindo estas “zonas de interdição aérea.”



9ª mistificação:
O povo apoia uma guerra contra o Iraque.

Nem mesmo as sondagens de opinião apoiam esta falsa afirmação. As sondagens confirmam uma vasta oposição contra a guerra. Normalmente existe um vasto apoio a um presidente que está em vias de lançar uma guerra. Ao invés disso, os gabinetes do Congresso relatam uma esmagadora oposição dos eleitores a uma guerra unilateral contra o Iraque.

A oposição é ainda maior pelo mundo afora. Enquanto o primeiro-ministro britânico Tony Blair se mostra como um acólito de Bush, poucos na Inglaterra apoiam uma guerra contra o Iraque. Já se efectuou em Londres uma marcha de 400 mil manifestantes contra a guerra.

Manifestações similares já ocorreram em Roma e Madrid. O sentimento geral na Europa foi sintetizado pelo ministro grego do Desenvolvimento que afirmou: “Estamos frontalmente contra qualquer conflito militar...mesmo que haja uma Resolução da ONU”.

O sentimento não é diferente em todo o mundo. O governo da Nova Zelândia opõe-se à guerra. Nenhum país no Médio Oriente apoia uma guerra contra o Iraque. Líbano, Bahrein, Kuwait, Oman, Qatar, Arábia Saudita, e os Emirados Árabes Unidos, todos eles se opõem à guerra. O mesmo se passa com a França, Rússia e China.



10ª mistificação:
A guerra será boa para a economia
.

Já custa aos contribuintes americanos US$ 50 mil milhões por ano manter as forças armadas americanas no Golfo Pérsico. Os estimados US$ 200 mil milhões necessários para a guerra contra o Iraque virão directamente da segurança social, dos cuidados de saúde, da educação e do bem estar. Será o contribuinte médio americano quem pagará a conta. As classes altas já têm os seus impostos de tal modo reduzidos que apenas pagarão uma pequena parte da mesma.



11ª mistificação:
Esta guerra será rápida e indolor


Uma guerra raramente é rápida e nunca é indolor. Uma nova guerra não foge à regra. Os 4,8 milhões de habitantes de Bagdad enfrentarão uma invasão com os mais modernos e letais equipamentos militares do mundo. O Iraque é uma nação de 22 milhões de pessoas. Elas é que iriam suportar o peso da dor e da morte nesta guerra.



12ª mistificação:
A síndrome da guerra do golfo é um mito

O Veterans Benefits Administration Office notou que 36% dos veteranos da Tempestade do Deserto apresentaram queixas por incapacidades relacionadas com o serviço. Uma primeira razão é porque os Estados Unidos usaram uranio empobrecido (depleted uranium) . Em Julho de 1990, “O Comando do Exército Americano para Armamento, Munições e Produtos Químicos admitiu que uranio empobrecido colocou riscos a longo prazo para os nativos e para os combatentes veteranos... Pequenas doses têm sido associadas a cancros”.

Os veteranos da Guerra do Golfo têm uma incidência 500% maior da doença de Lou Gehrig [*] do que a população em geral. As veteranas do sexo feminino têm uma incidência 300% de gerarem um filho com deficiência à nascença. Para os veteranos homens o número é de 200%.

[*] Doença neuromuscular e fatal que se caracteriza pelo progressivo enfraquecimento muscular, resultando em paralisia.


Internacional A.N.S.W.E.R. Coalition — Act Now to Stop War & End Racism
O original deste documento encontra-se em http://www.internacionalANSWER.org .
Tradução de Paulo Maurício


Este artigo encontra-se em http://resistir.info
23/Nov/02