Do 11/Set ao Grande Reinício
O 11/Set foi a pedra inaugural do novo milênio ,
indecifrável como os
Mistérios Eleusinos
. Há um ano, no
Asia Times
, mais uma vez formulei
numerosas perguntas
que ainda não encontraram respostas.
Entre as setas dos arcos e as pedras das fundas que voaram como raios de
ultrajante desgraça e rasgaram estas duas décadas, com certeza
incluem-se as seguintes: O fim da história. O breve momento unipolar. A
Longa Guerra do Pentágono. A Segurança Nacional. A Lei
Patriótica
(Patriot Act).
Choque e Pavor. A tragédia/derrocada no Iraque. A crise financeira de
2008. A Primavera Árabe. Revoluções coloridas.
"Liderar pela retaguarda". Imperialismo humanitário.
Síria, a como guerra por procuração absoluta. A farsa
ISIS/Daesh. O Plano Abrangente de Ação Conjunta
(Joint Comprehensive Plan of Action, JCPOA),
conhecido como "Acordo do Irã" e "Acordo
Nuclear"). Maidan. A Era das Operações 'Psicológicas'
(Psyops).
A Era do Algoritmo. A Era dos 0,0001%.
Mais uma vez entramos fundo no território de Yeats: "Os melhores
vacilam e os piores andam cheios de irada intensidade."
[1]
Ao mesmo tempo, a "Guerra ao Terror" decantação
da Longa Guerra avançou sem trégua, matou multidões
de muçulmanos e
arrancou das suas próprias terras
pelo menos 37 milhões de pessoas.
Chegou ao fim a geopolítica derivada da 2ª Guerra Mundial.
Está em andamento a Guerra Fria 2.0. Começou como EUA contra
Rússia, transformou-se em EUA contra China; e agora, completamente desmascarada como
Estratégia de Segurança Nacional dos EUA, e com apoio dos dois
principais partidos, é EUA contra ambas. O pesadelo absoluto de
Mackinder-Brzezinski está à vista: o muito temido
"concorrente" na Eurásia rasteja rumo à [avenida]
Beltway para nascer
[2]
sob a forma da parceria estratégica Rússia-China.
Algo tem de ceder.
[3]
E então, sem mais nem menos, do nada, aconteceu.
Um impulso planejado na direção de concentração de
poder com garras de aço e
diktats
econômicos foi conceptualizado antes sob uma fachada de
"desenvolvimento sustentável" já em 2015, na ONU
(
aqui, em pormenor
).
Agora, esse novo sistema operacional ou distopia digital
tecnocrática está sendo finalmente codificado, embalado e
"vendido", desde meados do Verão, mediante campanha abundante,
ostensiva e concertada, de propaganda.
Zele pelo seu espaço mental
Toda a histeria no Planeta Confinamento que elevou a Covid-19 a
dimensões de moderna Peste Negra já foi consistentemente
desmascarada, por exemplo,
aqui
e
aqui
, a partir de conhecimento original que vem de uma fonte altamente respeitada,
de
Cambridge
.
A demolição de fato controlada de vastas porções da
economia global garantiu ao capitalismo das corporações e
abutres, em todo o mundo, lucros indescritíveis, arrancados do colapso e
da destruição de empresas e negócios.
E tudo feito com a mais ampla cumplicidade das massas processo espantoso
de servidão voluntária.
Nada disso é acidental. Por exemplo, há mais de dez anos, desde
antes da criação de uma Equipe de Percepções
Comportamentais
[Behavioral Insights Team],
o governo britânico já estava muito interessado em
"influenciar" comportamentos, em colaboração com a
London School of Economics e o Imperial College.
O resultado foi o relatório
MINDSPACE
. É a ciência do comportamento usada para influenciar os
políticos e a política e, sobretudo, para impor controle
neo-Orwelliano sobre a população.
Crucialmente importante, MINDSPACE manifestou colaboração
estreita entre o Imperial College e a empresa RAND, de Santa Monica.
Tradução: os autores dos modelos computacionais absurdamente
falhados que alimentaram a paranoia do Planeta Confinamento, operaram em
conjunção com o principal
think-tank
ligado ao Pentágono.
Em MINDSPACE, lê-se que "abordagens comportamentais incorporam uma
linha de pensamento que se desloca, da ideia de um indivíduo
autônomo que toma decisões racionais, para um tomador 'situado' de
decisões
['situated' decision-maker],
cujo comportamento, em grande parte, é automático e influenciado
pelo respectivo 'ambiente de escolha'
['choice environment']
".
Assim, a pergunta chave é quem decide qual é o 'ambiente de
escolha'. Hoje, todo nosso ambiente é condicionado pela [pandemia e
vírus] Covid-19. Chamemos de "a doença". E dá e
sobra para estabelecer muito belamente "a cura":
The Great Reset
.
O coração pulsante
O Grande Reinício
(Great Reset)
foi oficialmente lançado no início de junho pelo Fórum
Econômico Mundial (FEM) habitat natural do Homem de Davos. A base
conceitual é algo que o FEM descreve como Plataforma de
Inteligência Estratégica (
Strategic Intelligence Platform
): "sistema dinâmico de inteligência contextual que capacita os
usuários a que tracem relacionamentos e interdependências entre as
questões, como suporte para tomar decisões mais bem
informadas".
Essa plataforma promove complexo cruzamento e mútua
penetração entre a doença Covid-19 e a
Quarta Revolução Industrial
conceptualizada já em dezembro de 2015 e cenário
futurista escolhido pelo Fórum Econômico Mundial. Um não
pode existir sem o outro. Visa a imprimir no inconsciente coletivo pelo
menos no ocidente a noção de que só a abordagem
"de acionista" autorizada pelo FEM é capaz de superar o
desafio da doença Covid-19.
O
Great Reset
é
imensamente ambicioso
, cobrindo mais de 50 campos de conhecimento e prática. Interconecta
tudo, de recomendações para recuperação da economia,
até "modelos de negócios sustentáveis", de
restauração ambiental até redesenho de contratos sociais.
O coração pulsante dessa matrix é e que mais seria?
a Plataforma de Inteligência Estratégica, que reúne
literalmente tudo: "desenvolvimento sustentável",
"governação global", mercados de capital,
mudança climática, biodiversidade, direitos humanos, paridade de
gênero LGBTI, racismo sistêmico, comércio e investimento
internacional, o duvidoso futuro das indústrias e viagens
e turismo, alimento, poluição do ar, identidade digital,
blockchain, 5G, robótica, inteligência artificial (IA).
No final, só um plano geral A faz interagirem todos esses sistemas, sem
saltos ou emendas: o Grande Reinício
abreviatura de uma Nova Ordem Mundial sempre evocada com
deslumbramento, mas jamais implementada. E não há Plano B.
O "legado" do Covid-19
Os dois principais atores por trás do Grande Reinício
são Klaus Schwab, fundador e presidente executivo do Fórum
Econômico Mundial; e a diretora-gerente do FMI Kristalina Georgieva.
Georgieva não tem qualquer dúvida de que "a economia digital
é a grande vitoriosa dessa crise". Crê firmemente que o Grande
Reinício deva começar, necessariamente, em 2021.
A Casa de Windsor e a ONU são os principais coprodutores executivos.
Principais patrocinadores incluem BP, Mastercard e Microsoft.
Desnecessário dizer que todos quantos têm conhecimento de como
são tomadas as mais complexas decisões geopolíticas e
geoeconômicas sabem que esses dois principais atores só fazem
cumprir roteiro decorado. Os autores são, digamos assim, "a elite
globalista". Ou, em homenagem a Tom Wolfe, "Os Senhores do
Universo".
Schwab, como se poderia prever, escreveu o
mini-manifesto
do
Great Reset
. Um mês depois, expandiu muitíssimo a conexão-chave:
o
"legado"
da [doença] Covid-19.
Tudo isso foi devidamente incorporado num
livro
, escrito em coautoria com Thierry Malleret, diretor da Rede de Risco Global do
Fórum Econômico Mundial
(WEF's Global Risk Network).
A Covid-19 é descrita como o fator que "criou o grande
reinício disruptivo dos nossos sistemas global, social, econômico e
político". Schwab pinta a [doença] Covid-19 não
só como "oportunidade" fabulosa, mas, realmente, como fator
criador
(itálicos meus) do agora inevitável
Reset.
Tudo isso se encaixa lindamente com a ideia filhote do próprio Schwab: a
[doença] Covid-19 "acelerou nossa transição para a
era da Quarta Revolução Industrial". A
revolução vem sendo exaustivamente discutida em Davos desde 2016.
A tese central do livro é que nossos mais prementes desafios têm a
ver com o meio ambiente considerado só em termos de
mudança climática e com desenvolvimentos
tecnológicos, que permitirão a expansão da Quarta
Revolução Industrial.
Em resumo: o Fórum Econômico Mundial está declarando
oficialmente morta a globalização empresarial,
modus operandi
hegemônico desde os anos 1990s. Agora é tempo de
"desenvolvimento sustentável". E é
"sustentável" o que for declarado
"sustentável" por um seleto grupo de "acionistas",
idealmente integrados numa "comunidade de interesses, objetivos e
ação comuns (sic)."
Atilados observadores do Sul Global não deixarão de comparar a
retórica do FEM de "comunidade de interesses comuns" à
"comunidade de interesses partilhados" chinesa, que se aplica
à Iniciativa Cinturão e Estrada (ICE), que, sim, é projeto
continental de comércio/desenvolvimento.
O Grande Reinício
pressupõe que todos os acionistas em todo o planeta
alinhem-se perfeitamente. Se não, como Schwab destaca, teremos
"mais polarização, mais nacionalismo, mais racismo,
agitação social crescente e mais conflitos".
Assim sendo mais uma vez é ultimato tipo "você
está conosco ou contra nós" reminiscência
espectral do nosso velho mundo do 11/Set. Ou o Grande Reinício
estabelecido pacificamente, com todas as nações devidamente
subservientes, obedecendo às novas orientações definidas
por um punhado de autonomeados sábios de República
neoplatônica, ou o caos.
Se a Covid-19 e respectiva "janela de oportunidade" apareceram por
aí por acaso, ou se apareceu por projeto, permanece sempre como
questão das mais sumarentas.
Neofeudalismo digital
A reunião 'real', cara a cara, em Davos, ano que vem, foi adiada para o
Verão de 2021. Mas Davos virtual acontecerá em janeiro, focada no
Grande Reinício.
.
Já há três meses, o livro de Schwab sugeria que quanto mais
todos se deixem prender na paralisia global, mais claramente se verá que
não se permitirá
(itálicos meus) que as coisas voltem ao que, antes, se considerava
normal.
Há cinco ano, a Agenda 2030 da ONU madrinha do Grande
Reinício já insistia em vacinas para todos, sob patrocínio
da Organização Mundial de Saúde e da
CEPI
iniciativa fundada em 2016 por Índia, Noruega e a
fundação de Bill e Belinda Gates.
O
timing
não poderia ser mais conveniente para o notório
Event 201
.
O "exercício de pandemia" efectuado em outubro do ano passado
em Nova York, com o Centro para Segurança da Saúde da
Universidade Johns Hopkins, em parceria com adivinhem! o
Fórum Econômico Mundial e a Fundação Bill e Melinda
Gates. Os guardiões vigilantes dos media não admitem nenhuma
crítica às
motivações
dos Gates que não seja superficial. Afinal de contas, são os
Gates que
financiam
estes guardiões mediáticos.
Mas já está imposto como consenso mantido com mão de ferro
que sem uma vacina que neutralize a Covid-19 não há qualquer
possibilidade de coisa alguma que sequer se pareça com normalidade.
E o artigo espantoso publicado no
Virology Journal
que também publica o que diz o Dr. Fauci
demonstra muito claramente
que "a cloroquina é potente inibidor da infecção e
disseminação de infecção por coronavírus na
SARS"
[NR]
. Trata-se de droga "relativamente segura, efetiva e barata" cujo
significativo efeito inibitório antiviral quando as células um
possível uso profilático e terapêutico."
Até o livro de Schwab admite que Covid-19 é "uma das
pandemias menos mortais nos últimos 2.000 anos" e que suas
consequências "serão pouco graves, comparadas às de
pandemias anteriores".
Não importa. O que importa sobretudo é a "janela de
oportunidade" que [a doença] Covid-19 oferece, promovendo, dentre
outras questões, a expansão do que já descrevi como
Neofeudalismo Digital
ou o Algoritmo devora a Política. Não surpreende que
instituições político-econômicas, da
Organização Mundial do Comércio à União
Europeia e à Comissão Trilateral já estejam investindo em
processos de "rejuvenescimento", expressão codificada para
"mais concentração de poder".
Vigie os imponderáveis
O filósofo alemão Hartmut Rosa é um dos raros pensadores
que veem o suplício pelo qual estamos passando, como rara oportunidade
para
"desacelerar"
a vida em tempos de turbocapitalismo.
Hoje, não se trata de
"ataque contra o estado-civilização"
. Trata-se de estados-civilizações como China,
Rússia, Irã não submetidos ao Hegemon, que tendem a
mapear curso bem diferente.
O Grande Reinício, apesar de tantas ambições universalistas,
permanece como modelo
insular, ocidente-cêntrico, que só beneficia o proverbial 1%. A
Grécia Antiga não se via como "Ocidental". O
Great Reset
é, essencialmente, projeto
derivado do Iluminismo
.
Se se examina a trilha pela frente, com certeza a vemos cheia de
imponderáveis. Desde o Fed a
transferir dinheiro digital
diretamente para aplicativos financeiros de
smartphones
nos EUA, até a China a promover um sistema de comercial/econômico
para toda a Eurásia, ao mesmo tempo em que implementa o yuan digital.
O Sul Global dedicará muita atenção ao agudo contraste
entre, de um lado, a proposta
desconstrução-liquidação da ordem econômica
industrial; e, de outro lado, o projeto Iniciativa Cinturão e Estrada
focado num novo sistema de financiamento fora do monopólio
ocidental, e que enfatiza o crescimento agroindustrial e o desenvolvimento
sustentável de longo prazo.
O Grande Reinício
apontará contra nações perdedoras, agregando todas as que
se beneficiam da produção e do processamento de energia e
agricultura, desde a Rússia, China e Canadá até o Brasil,
Indonésia e grandes porções da África.
Hoje, só uma coisa se sabe com razoável certeza: o
establishment
no cerne do Hegemon e as baleias babonas do Império só
adoptarão um Grande Reinício se isso ajudar a adiar o
declínio, acelerado na manhã fatídica de 19 anos
atrás.
NT
[1] Yeats, The Second Coming, (A Segunda Vinda) W. B. Yeats, "A Segunda
Vinda", in
W. B. Yeats poemas
[organização, prefácio, tradução e notas
Paulo Vizioli]. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.). A Segunda
Vinda. Loc. Cit.
[2] Muita coisa sempre se perde na tradução. Aí, Pepe
está praticamente parafraseando Yeats, no poema já referido:
"And what rough beast, its hour come round at last, Slouches towards
Bethlehem to be born?" / Na coluna acima, orig.: [the "peer
competitor"] in Eurasia slouched towards the Beltway to be born
(
)".
[3] Bing Crosby, 1954-1956.
[NR] Acerca da HCQ ver
L'hydroxychloroquine et les "méthodologistes"
, do Prof. Guillaume Suing
[*]
Jornalista. Alguns dos seus livros são encontráveis em
Book Depository
.
O original encontra-se no
Asia Times
e em
The Saker
;
a tradução de Luisa Vasconcellos e Amigos do Brasil está
em
sakerlatam.es/geopolitica/pepe-escobar-do-11-9-ao-grande-reset/
(efectuadas pequenas alterações)
Este artigo encontra-se em
https://resistir.info/
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