Império de palhaços contra Perigo Amarelo
O Sul global não ficará impressionado pelo novo esquema de
infraestruturas B3W financiado por interesses privados ocidentais para lucros a
curto prazo
É necessária uma grande credulidade para considerar o G7, que se
auto-descreve como o clube mais exclusivo da democracia, como relevante nos
Furiosos anos vinte
(
Raging Twenties
).
A vida real determina que mesmo tendo em conta a desigualdade estrutural
intrínseca do actual sistema mundial, a produção
económica do G7 regista apenas escassos 30% do total global.
A Cornualha foi na melhor das hipóteses um espectáculo
embaraçoso com uma troupe de mediocridades imitando
"líderes" a posarem mascarados para a foto, enquanto numa
festa privada com a Rainha de Inglaterra de 95 anos todos eles estavam sem
máscara e confraternizavam alegremente numa apoteose de "valores
partilhados" e "direitos humanos".
A quarentena, as máscaras impostas 24 horas por dia, 7 dias por semana e
o distanciamento social são, é claro, apenas para a plebe.
O
comunicado final do G7
é o proverbial oceano pejado de banalidades e promessas. Mas
contém algumas pepitas. A começar com o "Reconstruir
melhor" ou B3 que aparece no título. B3 é
agora o código oficial tanto para o
Great Reset
como para o New Green Deal.
A seguir há o Perigo Amarelo misturado outra vez, com as tropas de
choque dos "nossos valores" a "apelar à China para
respeitar os direitos humanos e as liberdades fundamentais" com uma
especial ênfase no Xinjiang e em Hong Kong.
A estória por trás disso foi-me confirmada por uma fonte
diplomática da UE, uma fonte realista (sim, existem algumas em Bruxelas).
Todo o inferno foi desencadeado dentro da sala exclusiva do G7
quando o eixo anglo-americano, apoiado pelo Canadá sem espinha, tentou
arrastar a UE-3 mais o Japão para uma condenação
explícita da China no comunicado final quanto a
"evidência" absolutamente falsa do campo de
concentração no Xinjiang. Em contraste com
acusações politizadas de "
crimes contra a humanidade
", a melhor análise do que realmente se passa no Xinjiang foi
publicada pelo
colectivo Qiao
.
A Alemanha, França e Itália o Japão era quase
invisível pelo menos mostraram alguma espinha dorsal. A Internet
para a sala foi bloqueada durante o "diálogo" realmente duro.
Fala-se de realismo um verdadeiro retrato de "líderes"
a vociferarem dentro de uma bolha.
A disputa colocou essencialmente Biden na realidade os seus
manipuladores contra Macron, o qual insistiu em que a UE-3 não
seria arrastada para a lógica de uma Guerra Fria 2.0. Isso era algo em
que Merkel e Mario 'Goldman Sachs' Draghi podiam facilmente chegar a acordo.
No fim, a mesa dividida do G7 optou por acordar num Melhor Mundo
Reconstruído
(Build Back Better World )
ou B3W "iniciativa" para se contrapor à Belt
and Road Initiative (BRI) conduzida pela China.
Reinicialisar ou senão...
A Casa Branca, como era de esperar, esvaziou previamente o comunicado final do G7.
Uma declaração posterior retirada do seu sítio web,
substituída pelo comunicado oficial
, assegurava que, "os Estados Unidos e os nossos parceiros do G7 continuam
profundamente preocupados com a utilização de todas as formas de
trabalho forçado nas cadeias de abastecimento globais, incluindo o
trabalho forçado patrocinado pelo Estado de grupos e minorias
vulneráveis e as cadeias de abastecimento dos sectores agrícola,
solar e do vestuário as principais cadeias de abastecimento que
se referem ao Xinjiang".
"Trabalho forçado" é o novo mantra
que facilmente conecta e sobrepõe a demonização tanto de
Xinjiang como da BRI. O Xinjiang é o eixo crucial que liga a BRI
à Ásia Central e mais além. O novo mantra "trabalho
forçado" abre o caminho para que o B3W entre na arena como o pacote
"salvador" dos direitos humanos.
Temos aqui um benigno G7 "a oferecer" ao mundo em desenvolvimento um
vago plano de infra-estruturas que reflecte os seus "valores", os
seus "elevados padrões" e a sua forma de negócio, em
contraste com a falta de transparência da marca registada Perigo Amarelo,
horríveis práticas de trabalho e ambientais, e métodos de
coerção.
Tradução: após quase oito anos desde que a BRI,
então denominada OBOR (One Belt, One Road) foi anunciada pelo Presidente
Xi, e subsequentemente ignorada e/ou permanentemente demonizada,
supõe-se que o Sul Global esteja a maravilhar-se com uma vaga
"iniciativa" financiada por interesses ocidentais privados cuja
prioridade é o lucro a curto prazo.
Como se o Sul Global fosse cair neste abismo remisturado de dívida
estilo FMI/Banco Mundial. Como se o "Ocidente" tivesse a
visão, o apelo, o alcance e os fundos para fazer deste esquema uma
"alternativa" real.
Há zero pormenores sobre como irá funcionar o B3W, as suas
prioridades e de onde vem o capital. Os idealizadores do B3W poderiam fazer
pior do que aprender com a própria BRI, através do
Professor Wang Yiwei
.
A B3W nada tem a ver com uma estratégia de desenvolvimento
comercial/sustentável orientada para o Sul Global. É uma cenoura
ilusionista que paira sobre aqueles suficientemente tolos para comprar a
noção de um mundo dividido entre "os nossos valores" e
"autocracias".
Voltamos ao mesmo velho tema: armado com a arrogância da
ignorância, o "Ocidente" não tem ideia de como
compreender os valores chineses. O viés de confirmação
aplica-se. Daí a China como uma "ameaça para o
Ocidente".
Somos os construtores de eleição
Mais sinistramente, o B3W é mais um braço da Grande
Reinicialização
(Great Reset).
Para escavar mais fundo, poder-se-ia fazer pior do que examinar
Construir um mundo melhor para todos (
Building a Better World For All
),
de Mark Carney.
Carney é alguém posicionado de um modo único:
ex-governador do Banco de Inglaterra, Enviado Especial da ONU para a
Acção Climática e Finanças, conselheiro do
primeiro-ministro Boris "Global Britain" Johnson e do
primeiro-ministro canadiano Justin Trudeau, e administrador do Fórum
Económico Mundial (WEF).
Tradução: o ideólogo de um importante Great Reset, do New
Green Deal e do B3W.
O seu livro o qual deveria ser lido em conjunto com a obra de Herr
Schwab sobre o Covid-19 prega o controlo total sobre as liberdades
pessoais, bem como uma reinicialização
(reset)
quanto ao financiamento da indústria e das empresas. Carney e Schwab
tratam o Covid-19 como a "oportunidade" perfeita para a
reinincialização, cuja ênfase benigna e altruísta
enfatiza uma mera "regulação" do clima, dos
negócios e das relações sociais.
Este Admirável Mundo Novo Desperto trazido até si por uma
aliança de tecnocratas e banqueiros desde o WEF e a ONU
até aos manipuladores do holograma "Biden" até
recentemente parecia estar em grande expansão. Mas sinais no horizonte
revelam que está longe de ser um negócio consumado.
Algo proferido em Janeiro por Tony Blair, defensor do B3W, é
bastante revelador
: "Vai ser um mundo totalmente novo... Quanto mais cedo percebermos isso e
começarmos a pôr em prática as decisões
[necessárias para um] impacto profundo nos próximos anos,
melhor".
De modo que aqui Blair, num deslize freudiano, não só denuncia o
jogo ("impacto profundo nos próximos anos", "mundo novo
por completo") como também revela a sua exasperação:
as ovelhas não estão a ser encurraladas tão depressa
quanto necessário.
Bem, Tony sabe que existe sempre um
bom e velho castigo
: se recusar a vacina, deverá permanecer sob confinamento.
A propósito: BBW (big beautiful woman) é actualmente uma categoria heterodoxa de
filmes pornográficos. O B3W, no fim das contas, pode-se revelar
como nada mais que simples pornografia social tóxica.
14/Junho/2021
[*]
Jornalista.
O original encontra-se no
Asia Times
e em
thesaker.is/empire-of-clowns-vs-yellow-peril/
Este artigo encontra-se em
https://resistir.info/
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