por MPR
Há alguns anos o doutor Richard Horton, editor chefe de revista de
medicina
The Lancet,
cometeu um verdadeiro sacrilégio ao por em dúvida a validade de
uma boa parte das investigações científicas. Escreveu isso
na sua própria revista
[1]
, mas por razões óbvias este tipo de publicação
passa desapercebida porque a medicina continua a arrastar a sua origem sagrada.
Os ignaros não apreciarão as palavras de Horton:
"Grande parte da literatura científica, talvez a metade,
simplesmente é falsificada. Está podre pela natureza estreita das
amostras estudadas, pelos efeitos observados virtualmente
imperceptíveis, pelas análises exploratórias e protocolos
experimentais inúteis e pelos conflitos de interesses flagrantes, que se
somam à obsessão por seguir as tendências duvidosas que
estejam na moda naquele momento. A ciência fez uma viragem rumo à
obscuridade".
Não seria possível resumir melhor o estado ruinoso da
ciência actual em especializações muito diversas, tanto
mais ruinoso quanto mais mediático for.
É preciso agradecer a Horton não abrir excepções,
nem sequer consigo próprio, com os editores das revista
científicas:
"Nós ajudamos e instigamos os piores comportamentos. Nossa
aceitação do factor de impacto alimenta uma
competição malsã para ganhar um lugar numas poucas
revistas. Nosso amor pelos 'significados' contamina a literatura com muitos
contos de fadas estatísticos
".
Um dado significativo é que as diferentes formas de
corrupção ou fraude científica são mais frequentes
nas revistas qualificadas como "mais prestigiosas" ou de maior
impacto.
As revistas médicas são controladas pelos grupos de
pressão farmacêuticos. Os estudos que se apresentam para
publicação já não têm nem sequer a
aparência de trabalhos científicos. Em primeira leitura é
evidente que seus autores conseguiram obter resultados coerentes com uma
hipótese ditada pelas empresas que os financiam.
Uma das muitas taras das publicações científicas é
a revisão pelos pares
(peer review),
que está ao serviço dos grupos de pressão que, na
investigação médica, são compostos pelas grandes
empresas farmacêuticas.
É o servilismo do dinheiro, do qual a investigação
científica e médica não está isento, que criou uma
situação que Horton qualifica de "alarmante". Dela
não escapam nem os cientistas, nem as publicações, nem as
universidades, nem os laboratórios, nem os centros de
investigação. O capitalismo está apodrecendo absolutamente
tudo.
28/Maio/2020
(1)
www.thelancet.com/pdfs/journals/lancet/PIIS0140-6736%2815%2960696-1.pdf
Ver também:
Um infectologista marroquino passa a pente fino o estudo de The Lancet que critica a cloroquina
Des "stars de la recherche médicale" se joignent à Raoult pour questionner le Lancet et son étude sur la chloroquine
O original encontra-se em
movimientopoliticoderesistencia.blogspot.com/...
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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