A Covid, os governos da UE e as multinacionais farmacêuticas
1. Desaparecimento das farmacêuticas públicas e financiamento pelo Estado das multinacionais
2. O negócio do século: financiamento público antecipado e isenção de responsabilidade
3. Os interêsses económicos que controlam decisões políticas
4. A trapaça do COVAX
5. O que sabemos e, sobretudo, o que não sabemos sobre as vacinas que se estão a utilizar na UE
6- Farmacovigilância. O lobo a guardar o rebanho
7. Práticas criminosas e mafiosas
8. O contrato do século. A UE negoceia a compra à PfizerBioNtech de 1.800 milhões de doses
Conclusões
O desenvolvimento da pandemia Covid 19 caracterizou-se do ponto de vista
mediático por uma estratégia destinada a gerar confusão,
medo e impotência.
O procedimento é um bombardeamento esmagador de notícias carentes
do mais elementar rigor científico usam-se, por exemplo,
números absolutos e não taxas (relação entre o
número de caso e a dimensão da população) para
valorizar a incidência, de forma que qualquer comparação
é absurda e por uma ocultação sistemática da
informação que coloca alguma dúvida sobre a versão
oficial, inclusive aquela proveniente das fontes mais respeitadas.
Este trabalho pretende contribuir para analisar um fenómeno muito
complexo e atravessado por poderosíssimos interesses, que evidencia a
submissão estrita das decisões políticas aos interesses do
grande capital em detrimento da teórica prioridade de
salvaguardar a vida e a saúde das suas populações. A
gestão da compra de vacinas, tanto por parte da Comissão Europeia
como do governo espanhol, é um exemplo paradigmático da
submissão dos objectivos da saúde ao negócio privado.
1. Desaparecimento das farmacêuticas públicas e financiamento pelo
Estado das multinacionais
Nos países capitalistas, a produção e
distribuição de medicamentos concentrou-se em grandes
monopólios, ao mesmo tempo que desapareceram as empresas
farmacêuticas públicas. Tudo isso apesar de que, historicamente, a
OMS e a lógica sanitária mais elementar recomendava
a criação em cada país de indústrias
públicas produtoras dos medicamentos essenciais, dentre os quais as
vacinas e os hemoderivados ocupam os primeiros lugares. A actual pandemia Covid
19 evidenciou a realidade: nenhum país da UE produziu até
à data qualquer vacina em laboratórios públicos.
[1]
Em Espanha, de cada 100 euros da despesa pública em saúde, 29,6
são investidos em medicamentos
[2]
, cerca de 30 mil milhões de euros por ano. As multinacionais
farmacêuticas controlam o financiamento de fármacos e a
prescrição. Muitas vezes fazem-no mediante suborno directo dos
médicos e, em geral, influindo decisivamente nos planos de estudo de
medicina, manejando influências para incluir o Registro novos
fármacos que não o são
[3]
, financiando todos os congressos de especialidades médicas, pondo ao
seu serviço a investigação pública e inclusive
patrocinando associações de pessoas enfermas.
2. O negócio do século: financiamento público antecipado e
isenção de responsabilidade
Uma das consequências da pandemia é o colossal negócio para
as multinacionais farmacêuticas, calculado na UE, por enquanto, em 50 mil
milhões de euros decorrentes da compra pelos Estados de milhões
de doses de vacinas
[4]
. Gigantes empresariais como a GKS, Pfizer ou AstraZeneka, que como veremos
mais adiante encabeçam as listas de sanções por
práticas criminais e que exibem anualmente margens de lucros que superam
muitas vezes as da banca, nem sequer tiveram que arriscar seus investimentos.
Com dinheiro público dos estados da UE, entre eles do espanhol,
adjudicaram-se antecipadamente, em Agosto de 2020, 2000 milhões de euros
para vender milhões de doses de vacina
[5]
. E fizeram-no antes que se houvesse demonstrado a validade, eficácia e
segurança dos seus produtos.
Todas a grandes farmacêuticas conseguiram dos governos da UE que fossem
eles a pagar as indemnizações por possíveis efeitos
secundários da vacina. Além disso, estão tentando
conseguir serem totalmente eximidas de responsabilidade civil pelas sequelas
produzidas pelos seus medicamentos
[6]
.
3. Os interêsses económicos que controlam decisões
políticas
Em Agosto de 2010, um dia depois de declarar finalizada a epidemia de gripe A,
a OMS tornou público que os membros do seu Comité de Peritos
haviam sido subornados pelas multinacionais farmacêuticas fabricantes de
vacinas e de antivirais
[7]
, como Tamiflú e Releza (La Roche y GlaxoSmithkline, respectivamente). A
OMS foi acusada de haver gerado uma situação de alarme
injustificado que levou muitos países à compra maciça de
vacinas e medicamentos como os citados. Durante todo este tempo manteve em
segredo os nomes do seu comité de peritos com o pretexto de "evitar
pressões".
Desde a década dos 90, o financiamento por parte dos Estados membros
à OMS tem diminuído à medida que aumentavam os fundos
privados. Grandes fortunas como Bill Gates e multinacionais farmacêuticas
contribuem com 90% do orçamento da OMS. O gráfico a seguir fala
por si só:
O magnata norte-americano é accionista de uma dezena de
farmacêuticas, incluindo a Pfizer e a AstraZeneca. A Fundación
AstraZeneca em Espanha tem na sua folha de pagamentos como assessores
directores de hospitais e instituições públicas de
investigação
[8]
.
A evidência dos vínculos das grandes farmacêuticas com o
poder económico e político é esmagadora:
-
O principal proprietário da Pfizer é o fundo de investimentos
Black Rock, o maior do mundo em gestão de activos: 5,1 milhões de
milhões de dólares em 2016, segundo a empresa. A Black Rock tem 9
mil milhões de dólares investidos na banca espanhola e 12 mil
milhões no IBEX
[9]
. Além disso, em associação com a Naturgy (antes Gas
Natural Fenosa), a Black Rock participa em 49% do gasoduto
Argélia-Espanha, Medgaz
[10]
.
-
Em 11 de Dezembro de 2020 o presidente dos EUA, Donald Trump, deu um ultimato a
Stephen Hahn, director da FDA, para que autorizasse nesse mesmo dia a vacina ou
buscasse outro trabalho
[11]
. A ameaça surtiu efeito, a vacina da Pfizer recebeu a
autorização de emergência no dia seguinte e o gigante
Walmart anunciou sua disposição para distribuí-la em 5000
estabelecimentos dos EUA.
-
A EMA, Agência Europeia de Medicamentos, também facilitou a
autorização de emergência da Pfizer num tempo recorde e a
27 de Dezembro começou a ser inoculada nos países da UE. A EMA
também recebe 90% dos seus fundos das grandes empresas
farmacêuticas. Sua nova directora é vassala fiel da
indústria farmacêutica. Tal como publica a OMS na sua biografia,
procede da indústria irlandesa do medicamento e trabalhou como Gerente
de Assuntos Científicos e de Regulação em Bruxelas para a
EFPIA (Associação da Indústria Farmacêutica
Europeia)
[12]
, lobby do sector farmacêutico junto à UE. Foi eleita como
directora da EMA em plena pandemia, em Julho de 2020.
-
Em Espanha, a penetração das multinacionais farmacêuticas
nas instâncias políticas foi uma constante cuja
descrição ultrapassa os limites deste trabalho
[13]
. Vale a pena recordar que desde o primeiro governo do PSOE, em 1982, todos os
ministros e ministras da saúde foram-no com o
plácet
da indústria farmacêutica. O primeiro a não contar com o
seu visto bom foi Ciriaco de Vicente, um homem honrado, e isto levou a que
Felipe González designasse outro candidato, Ernest Lluch.
O registo por parte das farmacêuticas de altos cargos do
Ministério da Saúde e das e dos Conselhos das Comunidades
Autónomas, inclusive o ex-ministro Bernat Soria, foi uma constante
[14]
.
Em plena pandemia, o ministro da Saúde do PSOE participou num importante
evento com a multinacional farmacêutica Roche grande protagonista
do escândalo da Gripe A e do Tamiflú patrocinado pelo
jornal
El País
para conceber a "saúde do futuro", com base no esquema de
"colaboração público-privada", preconizado pela
farmacêutica
[15]
.
A tentativa de eliminar do Registro os medicamentos ineficazes e inseguros
a Espanha tem quase cinco vezes mais medicamentos registados do que
outros países da UE implicou a viagem a Madrid de Henry
Kissinger, conselheiro da companhia norte-americana Sharp and Dome (MSD), em
visita privada para "velar pelos interesses da sua empresa"
[16]
. Conseguiu seu objectivo: o assunto resolveu-se com a demissão do
Director Geral de Farmácia, Félix Lobo.
Esses inconvenientes resolveram-se com a criação da Agência
Espanhola do Medicamento, que inicialmente foi um organismo autónomo e
depois uma agência estatal encarregada de facto das decisões
políticas nesse âmbito. Conseguiu-se assim situar a
política do medicamento fora das estruturas ministeriais e fazê-la
muito mais controlável pelas multinacionais farmacêuticas. Joan
Ramón Laporte
[17]
, máxima autoridade científica em matéria de medicamento
no Estado espanhol, afirmou recentemente: "as Agências do
Medicamento foram uma invenção do capitalismo neoliberal dos anos
noventa"
[18]
.
4. A trapaça do COVAX
O COVAX, apresentado no Fórum Mundial de Davos em 2017 como uma
colaboração mundial para acelerar o desenvolvimento de
tratamentos, provas e vacinas, é uma instituição fundada
pela Global Alliance for Vaccines and Inmunizations (GAVI)
[19]
e pela Coalition for Epidemic Preparedness Innovations (CEPI)
[20]
, ambas produzidas, concebidas e financiadas pela Fundação Bill e
Melinda Gates.
Apresenta-se como uma instituição
"público-privada" que, como todas as que usam este eufemismo
tão em voga, utiliza financiamento público, dos governos, para
benefício privado. Actua como banco comercial para a compra de vacinas a
multinacionais farmacêuticas. Utiliza o disfarce público e
benéfico de servir para garantir o acesso equitativo às vacinas,
quando na realidade sua finalidade é moldar a indústria mundial
de fabricação de vacinas e o mercado de consumo de vacinas nos
países pobres
[21]
.
A criação do COVAX obedece a três objectivos fundamentais:
proteger as patentes, evitar ao máximo a distribuição de
vacinas procedentes de instituições públicas de
países como a China, Rússia e Cuba, e impedir que as vacinas
sejam produzidas directamente por países que têm capacidade para
isso, como a África do Sul, a Índia e o Brasil
[22]
.
5. O que sabemos e, sobretudo, o que não sabemos sobre as vacinas que se
estão a utilizar na UE
A autorização de emergência recebida por todas as vacinas
contra o Covid 19 não é uma aprovação como a que
recebe qualquer outro medicamento, utiliza-se sim quando os fármacos em
questão não mostraram a documentação exigida para
isso. A decisão excepcional de permitir o seu uso adopta-se em
função de uma grave situação de alarme que
justificaria correr os riscos inerentes ao cumprimento dos protocolos e
controles exigidos antes de permitir o uso de qualquer medicamento.
Passados os momentos de choque, de confusão e até de
pânico, em boa medida induzidos pelos meios de comunicação,
cabe destacar que a taxa de letalidade média, no momento mais
álgido da epidemia (Maio de 2020) na Espanha era muito baixa: 0,8%
[23]
(uma das mais baixas da Europa) concentrada em pessoas maiores, 95% com mais
de 65 anos. A comparação desta letalidade com a taxa de
letalidade da difteria, que em menores de 5 anos era de 20%, ajuda a
relativizar adequadamente a situação e colocar a pergunta se sim,
em tais circunstâncias, é razoável prescindir dos
protocolos de segurança e ignorar os requerimentos estabelecidos,
precisamente quando se trata de administrar fármacos novos a centenas de
milhões de pessoas.
No momento em que se escreve este artigo não há notícia de
que nenhuma das empresas fabricantes das vacinas que se estão a usar na
UE esteja a seguir os protocolos exigidos para a autorização
definitiva, apesar dos muitos milhões de pessoas que já foram
inoculadas.
O direito de patente, e portanto a ocultação de
informação sobre a composição exacta do
fármaco, impossibilitam uma avaliação contrastada tanto da
eficácia como dos riscos das novas vacinas. O obscurantismo nos acordos
da UE com as multinacionais farmacêuticas
[24]
para a compra de vacinas, que havia financiado previamente, foi denunciado com
insistência no Parlamento Europeu. Nem sequer os eurodeputados puderam
aceder à documentação completa dos contratos nos quais
investiram mais de 2000 milhões de dinheiro público.
A informação apresentada pelo Departamento de Saúde do
Reino Unido aos profissionais sanitários, procedente de dados da
própria empresa acerca da vacina da Pfizer-BioNtech, ilustra acerca da
ausência de verificação da mesma, apesar do que se
está a proceder a vacinação de milhões de pessoas
[25]
. Do mencionado relatório britânico, a Coordenadora
Anti-privatização da Saúde (CAS) destaca o seguinte
[26]
:
-
1. A eficácia desta vacina é muito pequena se se comparar com os
níveis de protecção de vacinas anteriores
[27]
. A vacina da Pfizer preveniria só um caso leve-moderado por cada 119
pessoas vacinadas; ou seja, os outros 118 ver-se-iam submetidos aos efeitos
secundários sem obter nenhum benefício.
-
2. A protecção conferida refere-se somente a casos leves ou
moderados. Não há dados acerca da eficiência na
prevenção de casos graves (hospitalizações,
ingresso em UCI) ou mortalidade. Afirmar que a vacina previne mortes carece
totalmente de fundamento. E mais: os ensaios não estão concebidos
para avaliar a sua eficácia para evitar casos graves ou mortais
[28]
.
-
3. Não foram completados os dados sobre toxicidade reprodutiva em
animais.
-
4. Não se conhecem os efeitos em menores de 18 anos, nem em maiores de
65 anos, apesar de se haver informado que a vacinação no Estado
espanhol começará por este último grupo de idade.
-
5. Exclui-se a vacinação na gravidez e na lactação.
Também em pessoas com tratamento com imuno-supressores. A
contra-indicação em pessoas anti-coaguladas está sujeita a
controvérsia neste momento.
-
6. Desconhece-se o período de imunidade conferido pela vacina.
-
7. Não há dados sobre se se produzem danos na fertilidade.
-
8. Não há dados acerca da capacidade de transmissão da
enfermidade das pessoas vacinadas. Não há dado algum que permita
concluir que a vacinação maciça terminará com a
pandemia e, portanto, se se pode prescindir das medidas de
prevenção.
6- Farmacovigilância. O lobo a guardar o rebanho
Diante da vacinação maciça de pessoas sãs e pessoas
com diversas patologias e tratamentos, a lógica mais elementar, a
prudência mais básica e os princípios deontológicos
mais essenciais, exigiriam reforçar ao máximo todos os mecanismos
de farmacovigilância e de gestão de riscos.
Nada disso está a acontecer com carácter geral e
sistemático. No momento da inoculação, em muitos lugares a
única coisa que se pede à pessoa é que assine o
consentimento informado e se lhe pergunta sem tem alergias. Não se
está a seguir com carácter geral e obrigatório o protocolo
de farmacovigilância estabelecido. Nem lhes é aberta uma
história clínica, nem lhes é perguntado de enfermidades
prévias ou actuais, nem se lhes pede informação sobre
medicamentos que possa estar a tomar. Apesar de na própria
documentação da empresa Pfizer constar a
contra-indicação da vacina em casos de gravidez e
lactação, não se pergunta sistematicamente às
mulheres em idade fértil se estão grávidas ou em
lactação, ou se tomam anti-concepcionais. Tudo isso apesar de os
efeitos adversos graves em mulheres jovens quase quadruplicarem os dos homens
[29]
.
Tão pouco se alerta àqueles que recebem a vacina acerca de que
sintomas graves poderão aparecer e o que fazer nesse caso. Ou seja,
não há uma recolha sistemática de dados, não
há um protocolo nem um registo geral.
É por isso que, tal como assinala Joan Ramón Laporte, quando a
EMA começa a falar da existência de trombose em
localizações atípicas que poderiam ser produzidas pela
vacina da Astra Zeneca, cai em contradições com os seus
próprios dados e, sobretudo, não mostra a tabela de recolha de
dados obrigatória em todo sistema de farmacovigilância. Laporte
sugere que a causa poderia ser a enorme infra-dotação de meios
dos Centros de farmacovigilância em consequência dos cortes dos
últimos anos, mas, sobretudo, e estreitamente vinculada aos cortes, a
normativa da UE sobre farmacovigilância
[30]
que confere uma função muito destacada neste campo precisamente
à indústria farmacêutica. Segundo a normativa em vigor, as
fontes de informação são de dois tipos: uma recebe as
notificações espontâneas feitas pelo pessoal médico
com um subregisto importante e que não permite quantificar com
exactidão e o segundo são os sistemas de gestão de
riscos, cuja responsabilidade recai na própria indústria do
medicamento.
Pela sua especial transcendência, reproduzo a seguir as palavras de Joan
Ramón Laporte numa entrevista recente: "os sistemas de
gestão de riscos (são) uma série de estudos que se fazem
com os primeiros consumidores de um novo medicamento para ver o que se passa e
se funcionam tal como no ensaio clínico. Estes planos são
encarregados às próprias farmacêuticas e isto
é por o lobo a guardar o rebanho! Porque disto não se fala. Com
os sinais de trombos, a AstraZeneca não trouxe nenhum dado, tudo o que
se sabe é pela notificação espontânea. E mais, se
vais à web da EMA e examinas o documento oficial de
autorização de todas as vacinas contra o Covid, ali fica claro
que o plano de acompanhamento de segurança das vacinas está nas
mãos de cada companhia, mas não há nenhuma lista dos
estudos que fará cada uma delas, nem protocolos: é algo secreto e
opaco"
[31]
. Em continuação ilustra a situação com um exemplo:
"Estes estudos implicam um enorme movimento de dinheiro. Um
relatório alemão contava que em cinco anos as farmacêuticas
pagaram mais de 200 milhões de euros a médicos para que
participassem nestes estudos, sem que produzissem nem um só resultado
que fosse ao sistema alemão de farmacovigilância. Utilizam a
farmacovilância para promover a prescrição do medicamento!
Pagam a cada médico participante por cada participante ao que lhe seja
prescrito! Isso a EMA sabe perfeitamente e nada faz a respeito".
7. Práticas criminosas e mafiosas
A revista JAMA
(Journal of the American Medical Association)
publicou em Novembro de 2020 um artigo intitulado "Sanções
económicas impostas às grandes empresas farmacêuticas por
actividades ilegais"
[32]
. O estudo refere-se só aos EUA e recolhe as sanções
impostas por este país entre 2003 e 2016 a 22 multinacionais
farmacêuticas que produzem medicamentos para o tratamento, teste ou
vacinas para o Covid 10. A GlaxoSmithKline (GSK) ocupa o primeiro lugar com
multas no valor de 9.775 milhões de dólares, a Johnson and
Johnson o terceiro, com 2.668 milhões e a AstraZéneka o
décimo primeiro com 1.172. As multas costumam ser de 10% dos lucros
obtidos pelo facto sancionado. O pagamento de multas é considerado como
uma despesa mais na comercialização de um fármaco.
Os delitos de que foram acusadas são: promoção ilegal
(recomendar fármacos para indicações não
aprovadas), interpretação falseada dos resultados das
investigações, ocultação de dados e danos e
subornos com comissões a pessoal médico e políticos para
obter contratos, entre outros. Todas elas obtiveram contratos
milionários com a Comissão Europeia, inclusive a GSK que,
associada com a francesa Sanofi, conseguiu vender à Comissão
Europeia 300 milhões de doses da sua vacina que supostamente
estará disponível em meados deste ano.
A publicação de relatórios e resultados de
investigações farmacológicas nas mais prestigiosas
revistas científicas é financiada pela indústria
farmacêutica, que as utiliza como instrumento de propaganda, tal como foi
reconhecido por directores dessas publicações
[33]
.
8. O contrato do século. A UE negoceia a compra à PfizerBioNtech
de 1.800 milhões de doses
Em 14 de Abril último, a presidente da Comissão Europeia,
Úrsula von der Leyen, confirmou que a UE estava a negociar com a
PfizerBioNtech a compra de 1.800 milhões de doses adicionais da sua
vacina, no momento que se anunciava o aumento de preço de cada dose para
23 dólares. No total, a UE pagará a fabulosa cifra de 41.400
milhões de euros de dinheiro público por um número de
doses que multiplica por quatro a população actual da UE-27, 447
milhões de pessoas. Este desequilíbrio justifica-se pela chegada
de novas "ondas" que exigirão três ou quatro novas doses
de vacina até 2023.
O cenário montado com os incumprimentos e os efeitos adversos da
AstraZeneka serviu para justificar que a vacina da PfizerBioNtech se converta n
"coluna vertebral da vacinação europeia". A presidente
da Comissão Europeia aproveitou para louvar "o compromisso, a
fiabilidade e a reactividade da Pfizer-BioNTech". Estas
louvações não são gratuitas, pretendem sim encobrir
que a multinacional farmacêutica ocupa o infame segundo lugar em
condenações por delitos de promoção de medicamentos
para indicações não aprovadas, ocultação de
resultados adversos e, sobretudo, no caso que nos ocupa, subornos a
funcionários para a obtenção de contratos
[34]
.
É muito interessante aceder ao comparecimento público do Promotor
Geral associado dos EUA, Thomas Perrelli, anunciando a histórica
condenação da multinacional farmacêutica. A PfizerBioNtech
aceitou a sua culpabilidade pela promoção de fármacos para
usos não aprovados e pagou 2.300 milhões de dólares
[35]
. Alguém poderia assegurar que o fabuloso contrato obtido pela
PfizerBioNtech com a UE é alheio a estas práticas tão
habituais e documentadas da multinacional farmacêutica?
Ainda que a "estratégia de choque" esteja a tornar
possível que o mais elementar seja esquecido, é preciso recordar,
sobretudo diante de um contrato destas dimensões, com prazos temporais
tão longos e que prevê inoculações repetidas a
milhões de pessoas, que se trata de um fármaco não
aprovado. Apesar de os meses transcorrerem e de se estar a efectuar
vacinações maciças, este facto transcendental não
é mencionado, nem se estabelecem prazos para que os estudos
necessários para sua aprovação definitiva sejam culminados.
Conclusões
1- O objectivo prioritário da obtenção crescente de lucros,
inerente à empresa privada, é estritamente oposto ao da
saúde pública: melhorar o estado de saúde de toda a
população. O capital, para desenvolver-se, necessita minar e
debilitar o sistema público: quanto mais e melhor saúde
pública, menos espaço de negócio privado e vice-versa.
Exactamente igual aos parasitas em relação ao organismo cujos
recursos utilizam para viver e cuja devastação é inerente
ao seu desenvolvimento.
2- Num cenário de profunda crise geral, de hegemonia capitalista na luta
de classes e quando o espaço para as reformas há muito que se
esgotou, constata-se que, apesar de a pandemia ter revelado as
dramáticas insuficiências da saúde pública, os
recursos destinaram-se exclusivamente à empresa privada. As medidas
gerais de saúde pública, tanto sociais como sanitárias,
têm sido ignoradas.
3- Os múltiplos antecedentes de corrupção tanto de peritos
da OMS e das diferentes Agências de Medicamentos como de
políticos, por parte das grandes empresas farmacêuticas,
juntamente com os lucros fabulosos que se estão a gerar, permitem
suspeitar que foi construído um sinistro cenário
"informativo" de medo na população, para tentar
justificar investimentos multimilionários com dinheiro público em
vacinas produzidas pelas grandes multinacionais farmacêuticas.
4- Ao serviço deste negócio descomunal deve situar-se o facto de
se terem obtido autorizações de emergência, sem assegurar
níveis de segurança e eficácia exigidos a este tipo de
medicamentos usados maciçamente em pessoas sãs. Além
disso, no processo de vacinação não há
notícias da existência de protocolos de farmacovigilância,
com carácter geral e sistemático, que permitam conhecer com rigor
os efeitos adversos que as novas vacinas estão a produzir.
5- A avaliação da segurança e da eficácia de um
medicamento tem os seus ritmos e as suas formas. Não respeitá-los
implica riscos, sobretudo quando vai ser administrado a milhões de
pessoas sãs. O princípio de Hipócrates
"primum non nocere"
que deve guiar a prática médica sucumbiu frente aos
negócios multimilionários. O paradoxo trágico é que
precisamente as dúvidas das próprias multinacionais
farmacêuticas acerca da segurança dos seus fármacos
é que levou ao escandaloso acordo destas empresas com a UE. São
os governos respectivos, com dinheiro público, que pagarão as
indemnizações pelos efeitos adversos das vacinas.
6- O controle das decisões políticas por parte das multinacionais
farmacêuticas revela-se nitidamente quando os governos esgrimem o
"alarme" e a "emergência" como razões para
adoptar decisões que ultrapassam os limites da prudência. Ao mesmo
tempo, as descobertas feitas por organismos públicos nos próprios
países da UE são ignoradas ou são sabotados acordos com
países como a Rússia ou Cuba, com uma longa e comprovada
tradição das suas instituições públicas na
biotecnologia e na descoberta de vacinas.
7- Num mundo em que as evidências científicas são
subordinadas à lógica esmagadora do lucro, a
produção de medicamentos por instituições
públicas é a única garantia de poder retirar um bem
tão precioso à acção de máfias
internacionais com uma enorme capacidade de corrupção, chantagem
e até de crime como as descritas por John le Carré no seu romance
"O jardineiro fiel".
Há uma incompatibilidade essencial entre negócio privado e
saúde pública. Nestes meses, e o mais difícil ainda
está para vir, a depredação de vidas humanas que o
capitalismo produz tornou-se inegável. A aposta pela vida, para colocar
o ser humano como uma prioridade social, exige a sua destruição.
Maio/2021
[1] Investigadores da Universidade de Helsinkia têm há meses uma
vacina contra o Covid, que é usada mediante spray nasal impedindo a
entrada e replicação do vírus, pode ser conservada
à temperatura ambiente e está livre de patentes. A equipe
necessita 50 milhões de euros para executar a Fase III, montante
ridículo frente ao que se está a investir em vacinas, mas que
não foi conseguido até à data.
kaosenlared.net/,,,
Algo semelhante ocorre na Espanha com a vacina, também nasal,
sobre a qual trabalha uma equipe do CSIC, com cientistas com contratos
precários e investigadores aposentados que trabalham gratuitamente.
www.eldiario.es/...
[2]
catalunyaplural.cat/...
[3] O número de medicamentos autorizados e comercializados em Espanha,
13.335, é mais de dez vezes superior ao de países como a Noruega
e mais do triplo do que em França. Este facto não implica
melhores recursos para os tratamentos e sim alto grau de controle do Registro
pelas empresas. As palavras de Joan Ramón Laporte, director da Agencia
Catalana del Medicamento são concludentes: A Espanha financia todos os
fármacos que a indústria lhe propõe.
www.elperiodico.com/...
[4] A utilização da propaganda pelos grandes executivos da Pfizer
ou Moderna sobre supostos êxitos das suas vacinas como meio para
conseguir aumentos das cotações em bolsa para, a seguir, venderem
suas acções dá ideia das gigantescas expectativas de
negócio e da falta de escrúpulos com que se move este
negócio.
[5] A Espanha incorporou-se ao Acordo de Compra Antecipada de Vacinas da UE
www.boe.es/diario_boe/txt.php?id=BOE-A-2020-9132
[6]
www.eldiario.es/...
[7]
elpais.com/diario/2010/06/05/sociedad/1275688803_850215.html
[8]
Sua Directora é a ex-secretária de Estado de Investigación
com [o governo de] Mariano Rajoy. Também são membros, o Director
da fundação pública de Medicina Genómica do
Serviço Galego de Saúde, del Centro Nacional de Genotipado do
ISCIII e membro da Agencia Europeia do Medicamento, a Subdirectora General de
Bioética da Comunidade de Madrid, um membro do comité de peritos
em política do medicamento da OMS e a Directora de ensaios
clínicos do Hospital de Granada. No Comité científico de
la fundação AstraZeneca está o Director do Instituto
Respiratorio do H. Clínic de Barcelona, o Chefe de Serviço de
Oncologia do H. 12 de octubre, o Director do Instituto de
Investigação de Barcelona e o Chefe de Serviço de
Cardiologia do Hospital Ramón y Cajal.
hojasdebate.es/sanidad/que-intereses-estan-detras-de-las-politicas-sanitarias/
[9] A BlackRock é o primeiro accionista dos dois grandes bancos
espanhois, Santander (5,38%) e BBVA (5,917), Caixabanc (3,003%), Banc de
Sabadell (4,994%)
e Bankinter (3,694%) Também possui participações
em grandes empresas multinacionais espanholas, como por exemplo:
Telefónica (3,883%), Repsol (3,25%), ACS (3,2%), OHL, Gamesa (9%), IAG
(6,2%), Euskaltel (3,59%), Técnicas Reunidas (3,055%).
es.wikipedia.org/wiki/BlackRock#Espa%C3%B1a
[10]
www.eldiario.es/...
[11]
www.milenio.com/
[12]
www.who.int/blueprint/about/emer-cook/en/
[13]
www.elconfidencial.com/...
[14] Os dados podem ser consultados aqui:
www.dsalud.com/...
[15]
www.elsaltodiario.com/...
[16]
elpais.com/diario/1986/07/18/sociedad/522021605_850215.html
[17]
Joan Ramón Laporte é catedrático de Farmacología
da Universidade de Barcelona e Director do Instituto Catalán de
Farmacología, organismo colaborador de la OMS.
[18]
ctxt.es/...
[19]
es.wikipedia.org/wiki/GAVI
[20]
en.wikipedia.org/wiki/Coalition_for_Epidemic_Preparedness_Innovations
[21] COVAX, um órgão mundial de múltiplas partes
interessadas que pode acarretar riscos sanitários e políticos
para os países em desenvolvimento e o multilateralismo Amigos de
la Tierra Internacional (foei.org)
[22] COVAX: la trampa (alainet.org)
[23]
www.mscbs.gob.es/...
pág. 25
[24]
www.eldiario.es/...
[25] A informação científica apresentada pelo Governo
britânico pode ser consultada aqui:
assets.publishing.service.gov.uk/...
[26]
www.casmadrid.org/...
[27] A vacina contra a poliomielite confere um nivel de proteção
entre 99 e 100% até 25 años depois da quarta dose.
www.vacunas.org/eficacia-de-la-vacuna-poliomielitis/
[28]
www.bmj.com/content/371/bmj.m4037
[29]
dap.ema.europa.eu/...
[30]
www.boe.es/doue/2010/348/L00074-00099.pdf
[31]
ctxt.es/...
[32]
jamanetwork.com/...
[33] Gotzsche, C. Peter (2014),
Medicamentos que matan y crimen organizado
. O autor, médico, biólogo e químico, que trabalhou para a
indústria farmacêutica reflecte neste trabalho demolidor a
engrenagem criminosa das multinacionais farmacêuticas.
[34] Ibid. nota 41.
[35] Pfizer Medical Fraud Settlement | C-SPAN.org (c-span.org)
[*]
Médica, dirigente da
Red Roja
.
Este artigo encontra-se em
https://resistir.info/
.
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