Primeiro ano COVID
por José Ferrer
Estamos a dobrar o primeiro ano de COVID. Muitas incógnitas se
mantêm acerca da natureza da pandemia, das diferenças na sua
disseminação, do êxito das estratégias de ataque, da
representatividade dos dados coligidos pela OMS, etc.
Não obstante, tais incógnitas não nos impedem de chamar a
atenção para a grande discrepância entre os dados coligidos
relativamente a países do chamado capitalismo desenvolvido com os
referentes aos países vulgarmente apontados como rebeldes do
imperialismo ocidental.
Discrepância que aliás logo se notou na chamada primeira vaga.
Consideremos o indicador de
"Mortes por milhão de entes populacionais"
e analisemos os valores obtidos até 26/Dezembro/2020. O quadro
abaixo foi elaborado coligindo, dos países integrantes do capitalismo
desenvolvido, apenas os grandes países (Portugal foi acrescentado apenas
por curiosidade).
Os EUA só são ultrapassados pelas potências suas aliadas da
Europa Ocidental (Itália, Espanha e Reino Unido), distinguindo-se
claramente dos países que têm sido apontados como rebeldes
à sua hegemonia. É de notar que, dentre estes, o Irão
é o país que mais se aproxima dos EUA, ainda assim não
atingindo dois terços da cifra estado-unidense. E, do conjunto dos
"rebeldes", apenas o Irão, a África do Sul e a
Rússia atingem cifras superiores à média mundial.
A única excepção, neste quadro de análise, é
o Japão, que, aliado dos EUA, ocupa uma posição
invejável neste indicador.
Mas nem o Japão consegue melhor resultado que qualquer dos países
rebeldes. Estes, além de rebeldes, proclamam que estão a tratar
de encontrar o seu caminho para aperfeiçoar os seus regimes que se
reclamam de socialistas.
É tempo de nos interrogarmos: que desenvolvimento capitalista é
este que, passado um ano de pandemia, se mantém tão atrasado na
resposta à desgraça pandémica, com destaque para os EUA,
ainda seu centro?
Veremos se, afinal, a situação descrita não
constituirá mais uma prova da degradação da
situação social dos países do capitalismo desenvolvido e,
em particular, do declínio estado-unidense, resultantes das suas apostas
no neoliberalismo que têm procurado globalizar.
Palpita-me que se trata de um ângulo de análise que
continuará a ser escamoteado também em Portugal, apesar da
enxurrada informativa da comunicação social sobre a pandemia que
nos tem sido imposta.
27/Dezembro/2020/Lisboa
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