Bolhas em série?
por Jim Kunstler
Eric Janszen, de
http://www.itulip.com/
, chamou a atenção com a sua matéria de capa no
Harper's Magazine
acerca da "Bolha seguinte". A sua tese é de que uma nova
onda gigante de investimento dirigir-se-á em breve para a
"infraestrutura e a energia alternativa". Com isto Janszen significa
uma renascida pressão pela energia nuclear, a reconstrução
de auto-estradas, pontes e túneis, ferrovias de alta velocidade, energia
solar e eólica, e combustíveis líquidos alternativos.
Este boom que está a caminho, diz ele, seria conduzido pelo medo
político quanto à segurança energética.
Pelo visto, a proposta de Janszen parece mais prometedora e inteligente do que
os booms anteriores concebidos com casas suburbanas. Mas ela levanta um bocado
de questões e pontos de interrogação.
Em primeiro lugar, a palavra "bolha" sugere mais algo como um
exercício contra incêndios financeiros do que actividade produtiva
real. Seria excelente se os americanos investissem na
restauração de um sistema ferroviários para passageiros.
Mas se isto fosse simplesmente um esquema para grandes bancos emitirem novos
títulos inovadores com comissões gigantescas sem realmente
conseguir que circulem quaisquer comboios bem, isso seria como uma outra
burla no velho estilo, como o empacotamento de hipotecas em papel de
dívida titularizado demonstrou-se ser.
Por outras palavras, será que Janszen faz uma distinção
entre um boom e uma "bolha"? Ele parece entender que as duas bolhas
anteriores com as dot-coms e a habitação foram essencialmente
fraudes que geraram riqueza imaginária, a qual mais cedo do que tarde
evaporou-se das folhas de balanço e para fora do sistema financeiro. Um
boom, parece-me, não é o mesmo que uma "bolha". Embora
esbanjadores e confusos, os booms pelo menos produzem alguma coisa de valor
para além das comissões pagas a banqueiros para arranjarem o
capital necessário. Um boom que resultasse em cidadãos sendo
capazes de apanhar um comboio de Boston para Albany produziria um bem
público substancial. A criação pela Goldman Sachs de uma
companhia no papel que nunca cumprisse coisa alguma seria outra coisa. Isto,
naturalmente, conduz à questão mais profunda de saber se os EUA
são realmente uma sociedade séria ou apenas uma
incorrigível nação de palhaços gananciosos.
Seremos mesmo capazes de distinguir entre a actividade resoluta e a arte da
trapaça?
Isto conduz a uma nova consideração: de onde virá o
capital para "a próxima bolha". Janszen não leva em
conta a presente condição dos EUA, essencialmente em bancarrota.
O capital que foi aplicado e malbaratado nas duas bolhas anteriores não
está mais disponível para se lavado, passado a ferro e reciclado.
Ele desapareceu. Foi arrancado de centenas de fundos de pensão, de
milhões de investidores individuais e, em termos de
obrigações finais, do governo federal. Há um buraco negro
da dívida não resolvida onde aquele "capital" costumava
estar.
A ideia de Janzen parece ser de que o novo investimento virá da simples
reflação do crédito. Não percebo como isto seria
possível enquanto a actual bolha na habitação continua
apenas em parte "concluída". Ela ainda tem um longo caminho a
percorrer, e um bocado de dano a fazer. Ela deitará abaixo bancos,
companhias de seguro, hedge funds, governos municipais, e deixará um
bocado de pessoas empobrecidas, literalmente lá fora no frio. Enquanto
milhões de milhões de perdas permanecerem escondidos ou
não resolvidos, o sistema básico para aplicação de
capital permanecerá paralisado.
Gostava de saber se consertar toda a infraestrutura de feliz
motorização não seria um exercício de futilidade e
uma outra camada de trágico mau investimento. Afinal de contas,
está baseado na suposição de que ainda estaremos a
circular enormes números de carros e camiões nas décadas
pela frente, e não estou convencido de que isso será
possível sob quaisquer circunstâncias. A psicologia do
investimento anterior exercerá uma poderosa pressão para esbanjar
dinheiro nas nossas auto-estradas. Pode ser mais realista pensar disto como um
processo de triagem perguntarmo-nos quanto deste material abandonaremos
e que partes do mesmo vamos realmente manter. Milhares de milhas de
auto-estradas de seis pistas podem não mais ser necessárias
àquele "nível de serviço". No que se
tornarão elas? Faremos nós correr comboios nas auto-estradas
inter-estaduais? Certamente, não desejamos que as nossas pontes
desmoronem.
Pela mesma ordem de ideias, gostava de saber se os nossos investimentos em
energias alternativas demonstrar-se-ão quiméricos coisas
desejadas e esperançosas mas impossíveis de atingir. O meu
próprio pressentimento é que as nossas noções de
escala não são consistentes com o que a realidade
permitirá neste campo. Não acredito que venhamos a construir
mais do que uns poucos parques eólicos gigantes. Acredito antes que
descobriremos que a energia eólica só é realmente
prática ao nível doméstico ou numa base extremamente
local. O mesmo quanto ao solar. Também duvido que continuaremos a
obter todos os exóticos metais necessários para fabricar o
hardware para estas coisas. Seguindo linhas semelhantes, acredito que as
nossas expectativas para o etanol e a produção de biodiesel
demonstrar-se-á ser não só decepcionante como destrutiva
para o sector da produção alimentar.
Tudo isto significa dizer que uma campanha de investimento destinada a
sustentar o insustentável por outro meios terminaria em prantos.
Pessoalmente, não penso que haverá uma "próxima
bolha". Penso que estamos fora de bolhas e que o nosso actual modo de
vida neste país está em vias de terminar. Estamos a enfrentar um
tal conjunto de instabilidades potenciais que mesmo assumir que continuaremos a
viver numa sociedade ordenada pode ser demasiado. Tal como todas as outras
actividades nas nossas vidas, as finanças, também, podem estar
à beira de uma desescalada monumental.
O original encontra-se em
jameshowardkunstler.typepad.com/clusterfuck_nation/2008/02/serial-bubbles.html
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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