As mentiras acerca de Assange têm de parar já
Jornais e outros media nos Estados Unidos, Grã-Bretanha e
Austrália declararam recentemente uma paixão pela liberdade de
expressão, especialmente pelo seu direito de publicar livremente. Eles
estão preocupados com o "efeito Assange".
É como se a luta dos que dizem a verdade, como Julian Assange e Chelsea
Manning, fosse agora uma advertência para eles: que os bandidos que em
Abril arrastaram Assange para fora da embaixada equatoriana possam algum dia
chegar a eles.
Um refrão comum foi reflectido pelo
Guardian
na semana passada. A extradição de Assange, diz o jornal,
"não é uma questão de quão sensato é o
sr. Assange, muito menos de quão afável. Não é
acerca do seu carácter, nem do seu juízo. É uma
matéria de liberdade de imprensa e do direito do público de
saber".
O que o
Guardian
está a tentar fazer é separar Assange dos seus feitos
notáveis, os quais tanto fizeram o
Guardian
lucrar como revelaram a sua própria vulnerabilidade, bem como a sua
propensão para bajular o poder rapinante e enlamear aqueles que revelam
os seus duplos padrões.
O veneno que tem alimentado a perseguição a Julian Assange
não é tão óbvio neste editorial como habitualmente;
não há ficção acerca de Assange emporcalhar com
fezes as paredes da embaixada ou de ser abominável para com o seu gato.
Ao invés disso, as menções mistificatórias ao seu
"carácter" e "juízo" e
"afabilidade" perpetuam uma difamação monstruosa que
agora tem quase uma década. Nils Melzer, o Relator das
Nações Unidas sobre Tortura, utilizou uma descrição
mais adequada. "Tem havido", escreveu ele, "uma
implacável e desenfreada campanha de assédio
público". Ele explica o assédio como "um fluxo
infindável de declarações humilhantes, acanalhadas e
ameaçadoras na imprensa". Esta "acumulação
ridícula" equivale a tortura e poderia levar à morte de
Assange.
Tendo testemunhado muito do que Melzer descreve, posso atestar a verdade das
suas palavras. Se Julian Assange vier a sucumbir às crueldades
despejadas sobre ele, semana após semana, mês após
mês, ano após ano, como advertem médicos, jornais como o
Guardian
partilharão a responsabilidade.
Há poucos dias, o homem do
Sidney Morning Herald
em Londres, Nick Miller, escreveu um artigo preguiçoso e especioso
intitulado, "Assange não foi inocentado, ele simplesmente evadiu-se
à justiça". Ele estava a referir-se ao abandono pela
Suécia da chamada investigação Assange.
A reportagem de Miller não é atípica pelas suas
omissões e distorções enquanto mascara-se como um tribuno
dos direitos das mulheres. Não há trabalho original, nenhuma
investigação real: apenas difamação.
Não há nada no comportamento documentado de um punhado de
fanáticos suecos que deturparam as "alegações"
de má conduta sexual contra Assange e fizeram uma zombaria da lei sueca
e da louvada decência da sociedade.
Ele não menciona que em 2013 o promotor sueco tentou abandonar o caso e
enviou um email ao Serviço de Acusação da Coroa (Crown
Prosecution Service, CPS), em Londres, a dizer que não mais prosseguiria
um Mandado Europeu de Prisão (European Arrest Warrant), ao qual ela
recebeu a réplica: "Não ouse!!!" (Obrigado a Stefania
Maurizi, de
La Repubblica
).
Outros emails mostram que o CPS desencorajou os suecos de virem a Londres para
entrevistar Assange o que era prática comum bloqueando
portanto o progressos que podia tê-lo posto em liberdade em 2011.
Nunca houve uma acusação formal. Nunca houve
acusações. Nunca houve uma tentativa séria de fazer
"alegações" a Assange e questioná-lo
comportamento que o Tribunal Sueco de Recursos considerou ser negligente e que
o secretário-geral da Associação Sueca de Advogados
condenou.
Ambas as mulheres envolvidas disseram não ter havido
violação. As evidências escritas críticas das suas
mensagens de texto foram deliberadamente retidas aos advogados de Assange,
porque minavam claramente as "alegações".
Uma das mulheres ficou tão chocada com a prisão de Assange que
acusou a polícia de impor-se à força e de mudar o seu
depoimento como testemunha. A promotora chefe, Eva Finne, afastou a
"suspeita de qualquer crime".
O homem do
Sydney Morning Herald
omite como um político ambicioso e comprometido, Claes Borgstrom,
emergiu por trás da fachada liberal da política sueca e
efectivamente agarrou e ressuscitou o processo.
Borgstom alistou uma antiga colaboradora política, Marianne Ny, como a
nova promotora. Ny recusou-se a garantir que Assange não seria enviado
para os Estados Unidos se ele fosse extraditado para a Suécia, muito
embora, como informou
The Independent,
"discussões informais já tivessem se verificado entre os
EUA e responsáveis suecos sobre a possibilidade de o fundador da
WikiLeaks, Julian Assange, ser entregue à custódia americana,
segundo fontes diplomáticas". Isto era um segredo aberto em
Estocolmo. Que a libertária Suécia tivesse passado negro e
documentado de entregar
(rendering)
pessoas às mãos da CIA não era novidade.
O silêncio foi rompido em 2016 quando o United Nations Working Party on
Arbitrary Detention, um organismo que decide se governos estão a cumprir
suas obrigações de direitos humanos, determinou que Julian
Assange estava ilegalmente detido pela Grã-Bretanha e conclamou o
governo britânico a libertá-lo.
Tanto o governo britânico como o sueco fizeram parte da
investigação da ONU e concordaram em obedecer à sua
determinação, a qual tinha o peso de lei internacional. O
secretário britânico dos Estrangeiros, Philip Hammond, levantou-se
no Parlamento e insultou o painel da ONU.
O caso sueco foi uma fraude desde o momento em que a polícia
secretamente e ilegalmente contactou um tablóide de Estocolmo e
desencadeou a histeria que era para consumar Assange. As
revelações da WikiLeaks dos crimes de guerra da América
envergonharam os serviçais do poder e seus interesses escusos, os quais
se intitulavam jornalistas. E, por isto, o insociável Assange nunca
seria esquecido.
Estava agora aberta a estação de caça. Os media
atormentadores de Assange copiavam e colavam as mentiras uns dos outros e as
suas injúrias. "Ele é realmente o mais excremento
(turd)
mais maciço", escreveu no
Guardian
a colunista Suzanne Moore. A voz corrente era que ele fora acusado, o que
nunca foi verdade. Na minha carreira, fazendo reportagens a partir de lugares
em extrema comoção, sofrimento e criminalidade, nunca conheci
qualquer coisa como isso.
Na pátria de Assange, a Austrália, este
"assédio" ("mobbing") atingiu o auge. Tão
ansioso estava o governo australiano por entregar o seu cidadão aos
Estados Unidos que a primeira-ministra em 2013, Julia Gillard, quis retirar-lhe
o passaporte e acusá-lo de um crime até que lhe fosse
apontado que Assange não havia cometido nenhum crime e que ela
não tinha o direito de retirar-lhe sua cidadania.
Julia Gillard, segundo o sítio web
Honest History
, mantém o recorde do discurso mais bajulatório já feito
no Congressos dos EUA. A Austrália, disse ela para o aplauso, era a
"grande alma gémea" da América. A alma gémea entrou em
conivência com a América na sua caçada a um australiano
cujo crime era o jornalismo. O seu direito a protecção e
assistência adequada foi negado.
Quando o advogado de Assange, Gareth Peirce, e eu encontrámos dois
responsáveis consulares australianos em Londres ficámos chocados
porque tudo o que eles sabiam acerca do caso "é o que lemos nos
jornais".
Este abandono por parte da Austrália foi a principal razão para a
concessão de asilo político pelo Equador. Como australiano,
considerei isto especialmente vergonhoso.
Quanto perguntado acerca de Assange, recentemente, o actual primeiro-ministro
australiano, Scott Morrison, disse: "Ele deveria enfrentar a
música". Esta espécie de selvageria, destituído de
qualquer respeito pela verdade, pelos direitos, pelos princípios e pela
lei, é porque a maior parte da imprensa na Austrália controlada
por Murdoch está agora preocupada acerca do seu próprio futuro,
tal como o
Guardian
está preocupado e
The New York Times
está preocupado. A sua preocupação tem um nome: "o
precedente Assange".
Eles sabem que o que acontece a Assange pode acontecer a eles. Os direitos
básicos e a justiça negadas a ele podem ser negados a eles. Eles
foram advertidos. Todos nós fomos advertidos.
Todas as vezes que vejo Julian no mundo sinistro e surreal da prisão de
Belmarsh sou recordado da responsabilidade daqueles de nós que o
defendem. Há princípios universais em causa neste caso. Ele
próprio teve o cuidado de dizer: "Não é por mim.
É muito mais vasto".
Mas no cerne desta luta notável e é, acima de tudo, uma
luta é um ser humano cujo carácter, repito
carácter, tem demonstrado a mais espantosa coragem. Eu a saúdo.
24/Novembro/2019
Ver também:
www.dontextraditeassange.com
Doctors from around the world have written an open letter to the UK home secretary about the plight of the WikiLeaks' publisher in London's Belmarsh prison
'Mr Assange could die in prison. There is no time to lose' over 60 medics in open letter to UK govt.
[*]
Versão editada de um discurso pronunciado no lançamento em
Londres de
In Defense of Julian Assange,
uma antologia publicada por Or Books, Nova York.
O original encontra-se em
www.globalresearch.ca/the-lies-about-assange-must-stop-now/5695785
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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