Clientes e clientelas
O debate e a votação do OE2021 continuou a merecer ouro, incenso
e mirra das pérolas do comentariado nacional. Não, nem sequer
é preciso ir ao Diabo (o jornal, não vá haver enganos...)
para que tais dádivas ao menino/bloco central se possam ler nos
principais órgãos da nossa imprensa e restante media. É
certo que alguns abusam, como o
Expresso
e o
Público
... (Aliás não deve haver reuniões dos conselhos
redactoriais senão era impossível pôr 3, 4 ou 5 dos
"habituais", dos que têm assinatura, a dizer a mesma coisa na
mesma edição... Quem tiver dúvidas deve ver o
Expresso
de 04DEZ20 e os textos do JVP na 2.ª página, MST na 12.ª e LM
na 8.ª do Caderno Economia. Aliás, glosando-se uns aos outros e ao
que eles próprios tinham escrito nas semanas anteriores! Viva a
liberdade de Imprensa! Aliás, reiterando o que outros escreveram no
Público,
e etc
.
Cabe hoje restringir o texto aos notáveis Editoriais de Manuel Carvalho,
Director do
Público,
nos dias 20, 25 e 27 de Novembro (só os títulos davam um
romance) e a consolidada e reiterada tese dos clientes (outros dirão
"clientelas") do PCP. No dia 20, "Uma votação
contaminada pelo ridículo", MC escreve: "A tenda montada pelo
PS favorece claramente os clientes do PCP para levar o orçamento a bom
porto e deprecia todos do outros". No dia 27, "O Orçamento em
que todos perderam", conclui: "(
) o ruidoso mercado das medidas
que se instalou em S. Bento (
) é igualmente o testemunho de um
Parlamento mais dependente dos humores (
) do comité central ou da
direcção dos partidos do que das necessidades do
país." e "Perante a fraqueza do Governo, a tortura minuciosa
do PCP (...)", certamente para satisfazer cada um dos seus clientes! Dias
atrás (20NOV), "O Orçamento de novo entre o rigor e o
populismo", o medo de MC era outra "crise de pagamentos" pois
"Com a opção do BE e PCP, haveria dinheiro a rodos para
pagar todas as perdas e calar todas as reivindicações
(...)". Mas hipócrita, insistindo na bacoca ideia de que no meio
é que está a virtude (embora ninguém justifique
porquê!), frade capuchinho compungido, edita: "Se acreditar que
há meios para responder a todos os problemas é um delírio
demagógico, segurar as "franjas" dos que se arriscam a sofrer
e perder mais com a crise é um dever". Como é piedosa esta
alma!
É lamentável que este director de um periódico de
referência não enumere as ditas "franjas", ou que pelo
menos desvendasse quais os "clientes" do PCP! Serão os
trabalhadores atingidos pelo Lay Off, que vão passar a ter os
salários a 100%??? Serão os reformados com baixas pensões,
que vão ter pelo quinto ano consecutivo mais 10 euros por mês???
(Que bem acompanha MC as preocupações da CE!) Serão os
utentes e profissionais do SNS pelas melhorias introduzidas no OE pelo PCP e
que esperamos que sejam concretizadas! Serão os MPM Empresários
pelo que conseguiram graças ao PCP, e que só não foi o
necessário porque o PS e PSD a isso se opuseram???
E é pena que os apologistas da tese do OE para servir
"clientes/clientelas" nunca se lembrem dos clientes/clientelas quando
o PS, PSD e CDS baixam a taxa do IRC, acabaram com o imposto sucessório,
ou alargam e engordam os benefícios fiscais!
Não se diz que o OE2021 é um bom Orçamento. Ancorado pelo
PS nas imposições europeias do défice e da dívida,
falha na resposta suficiente à crise económica e social. Falha
nas respostas estruturantes às necessidades do país no
médio e longo prazo.
Eles não querem dizer que o OE2021 é mau, até porque
salvaguarda os comandos comunitários nas restrições de
despesa e investimento públicos. Mas o que queriam e querem
desesperadamente são orçamentos com a bênção
do Bloco Central. Do que querem fugir, como o diabo da água benta,
é de orçamentos onde o PCP, em defesa dos trabalhadores e das
"franjas" contou. O anticomunismo conta muito para essa gente. Por
exemplo, para MC, conta tanto que um destes dias, num desses
"pluralistas" debates da RTP1 (É Ou Não É),
acossado pelos compinchas de catecismo de que estaria a defender o PCP,
não teve dúvidas, em defesa da sua profissão de fé
anticomunista, de lhes pedir que lessem os seus editoriais no
Público
... Estava certo
desta vez.
11/Dezembro/2020
O original encontra-se em
foicebook.blogspot.com/2020/12/clientelas.html
Este artigo encontra-se em
https://resistir.info/
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