Em Nova York, na sede da ONU, aconteceu um evento cujo verdadeiro significado ainda não está claro: o mundo está a enterrar a Ucrânia, a Rússia está a vencer a batalha por mentes e corações das pessoas.
O ocidente e seus vassalos não haviam experimentado tal vergonha desde há muito tempo. Apesar de torcerem as mãos durante seis meses, ameaçarem e chantagearem, só 54 dos 193 países membros da ONU assinaram uma declaração contra a Rússia sobre a situação na Ucrânia, a qual fora preparada pela Grã-Bretanha – esta mentora do drama ucraniano. O vergonhoso documento foi anunciado pelo representante permanente da Ucrânia na ONU, Sergey Kislitsa. Depois de listar os países que apoiaram a declaração, a qual critica ações de Moscovo na Ucrânia e pede que a Rússia cesse hostilidades de imediato, ele disse em nome dos signatários:
Permanecemos comprometidos com a soberania, independência, unidade e integridade territorial da Ucrânia dentro das suas fronteiras reconhecidas internacionalmente.
Ou seja, com a Crimeia, o Donbass e todos os outros territórios que já não são mais da Ucrânia.
O triunfo completo da Rússia
Kislitsa anunciou realmente a vitória e o triunfo da Rússia. Em primeiro lugar, porque estamos a falar acerca de menos de um terço dos estados membros da ONU. Mais de dois terços recusaram-se a apoiar Kiev e seus seus mestres ocidentais, alinhando-se assim com a Rússia.
Em segundo lugar, a própria lista testemunha o espantoso isolamento do ocidente, não da Rússia. Além da UE e membros do AUKUS, ela está cheia de estados tão maravilhosos como a Albânia, Andorra, Guatemala, Liechtenstein, Montenegro, Macedónia do Norte, a Moldávia dependente do gás, San Marino, estados “livremente associados com os EUA” (isto é, colónias americanas) como Ilhas Marshall, Palau e a Federação dos Estados da Micronésia.
Em terceiro lugar, praticamente nenhum país grande e influente fora do estreito clube ocidental manifestou-se contra a Rússia. Não se encontrará nesta lista nem a China, nem a Índia, nem o Paquistão, nem Bangladesh (a população deste último é várias dezenas de milhões superior à da Rússia), nem a Indonésia, nem a Arábia Saudita, nem o Irão, nem o Egito, nem a Argélia, nem o Marrocos, nem a Nigéria, nem a África do Sul e, naturalmente, nem o Brasil, Argentina e México.
É curioso que o Azerbaijão não esteja entre os signatários, embora a Turquia do nosso “amigo Recep” apoiasse esta declaração (eles estão a cobiçar a Crimeia, mais por razões políticas internas).
O colapso da política ocidental em toda a sua glória
Julgue por si próprio. Metade dos participantes do G20 não alinharam com o ocidente contra a Rússia. Dos dez membros da Association of Southeast Asian Nations (ASEAN), só Singapura apoiou a declaração. Dos oito membros da South Asian Association for Regional Cooperation (SAARC), todos apoiaram a Rússia. Dos 11 membros do Mercosur (mercado comum Sul Americano), só um país participou no vergonhoso espetáculo em defesa da Ucrânia Banderista – a Colômbia, um antigo cliente dos EUA com tradições de brutal repressão do seu povo. Nenhum da União Africana (UA), a sucessora da Organização de Unidade Africana (OUA), a qual inclui 55 estados, traiu a Rússia, sua velha amiga. Da Liga dos Estados Árabe (LEA), a qual tem 22 membros, tão pouco.
Portanto, toda a África e todo o mundo árabe estão ao lado da Rússia. Toda a América do Sul, com exceção da Colômbia, e toda a América Central, exceto a Guatemala, também. O Sul da Ásia é todo pela Rússia. O Sudeste Asiático, exceto Singapura, também. Assim como a Oceania, com a exceção das três colónias americanas. No leste da Ásia, a Ucrânia foi apoiada por países ocupados pelos EUA: o Japão e a Coreia do Sul. Este último, no entanto, comportou-se de tal modo que não se obriga a nada, pretende manter seus laços económicos com a Rússia. E o Japão não quer completá-los completamente. Eles têm de quem tomar como exemplo. Como foi recentemente recordado em Pequim, os países nos quais vive 85% da população mundial não impuseram sanções contra a Rússia relativamente à situação na Ucrânia.
O que é isto senão o colapso completo da política do ocidente de “isolamento” da Rússia, a qual levou de facto a que ele se isolasse a si próprio? Afinal de contas, repetimos, a situação para os ocidentais realmente é ainda pior. Se não fosse pela pressão e intimidação, esta declaração seria apoiada por ainda menos países. A Hungria, por exemplo, onde entendem perfeitamente o que está a acontecer na Ucrânia, definitivamente não estaria entre os signatários. Foi a perceção deste facto imutável que levou o representante permanente da Rússia na ONU, Vasily Nebenzya, a declarar que os países ocidentais não serão capazes de impedir o fiasco iminente do regime de Kiev, apesar da assistência financeira e militar maciça, e que os objetivos da Operação Militar Especial serão alcançados.
O mundo compreendeu tudo
Por que a Rússia tem tantos amigos no mundo, que se manifestaram tão claramente neste caso particular? Há duas razões principais.
Primeiro, o mundo não está cego e vê perfeitamente bem que não é a Rússia, mas Kiev e o ocidente por trás dele que estão a arrastar a guerra na Ucrânia de todos os modos possíveis e, naturalmente, também sabe do métodos brutais com que os ucranianos estão a travá-la. Se, graças à propagada dos media ocidentais e seus rebentos em países não-ocidentais, suas sociedades são muitas vezes privadas de um quadro verdadeiro do que está a acontecer, então tudo está absolutamente claro para governos que contam com informação objetiva.
Em segundo lugar, e isto é talvez o mais importante: quase todo o mundo não-ocidental percebeu plenamente que a Ucrânia é um caso especial. Estamos realmente a falar acerca de uma revolta liderada pela Rússia de países que lutam pela soberania contra a hegemonia sufocante do ocidente, o qual quer continuar a pilhar o resto do mundo com métodos neocoloniais.
É um pouco assustador liderar uma tal revolta por si próprio – a maior parte dos países que são vítimas da hegemonia ocidental não têm nem a força nem os recursos para isto, mas eles têm a coragem para apoiar a Rússia politicamente e economicamente. É por isso que a maioria dos países deseja a vitória de Moscovo, entendendo mais ou menos claramente, ou adivinhando, que os russos estão a combater na Ucrânia pela liberdade de todos, incluindo os ucranianos capturados por terroristas.
E então?
A compreensão da política da Rússia em relação à Ucrânia, a propósito, não apareceu de imediato. A resolução ES-11/1 da Assembleia Geral da ONU, “Agressão contra a Ucrânia”, condenando a Rússia por conduzir a sua própria política e exigindo a retirada imediata do exército russo, foi apoiada por 141 estados no princípio de Março.
E hoje a mesma coisa já foi apoiada por 54 países, quase três vezes menos e grande parte do calibre da Macedónia do Norte. Isto só pode significar uma coisa: a Rússia está a vencer não só na Ucrânia como também na batalha por mentes e corações das pessoas em todo o mundo, embora isto esteja a acontecer de um modo muito trôpego.