Este artigo apresenta uma visão geral de uma tendência profundamente perturbadora na Ucrânia, iniciada em 2014 e que se acelerou e intensificou desde 24 de Fevereiro de 2022. Assassínios extrajudiciais, assédio, detenções arbitrárias por homens em uniformes camuflados, espancamentos e desaparecimentos continuam a acontecer regularmente na Ucrânia. A maioria das detenções e desaparecimentos são frequentemente executados pela polícia política ucraniana (SBU), sob uma repressão generalizada.
Embora todos tenhamos ouvido falar dos processos macartistas que tiveram lugar nos EUA, a caça às bruxas de suspeitos comunistas, uma acção semelhante está hoje a verificar-se na Ucrânia. As autoridades ucranianas e os grupos ultranacionalistas associados andam atrás de pessoas que não só foram críticas em relação ao primeiro como também em relação ao actual governo ucraniano. Ameaças, assédio e apelos à violência têm sido e continuam a ser feitos contra eles:
Apoiaram publicamente os Acordos de Minsk
São contra a "descomunização"
Salientaram violações dos direitos humanos
Defenderam uma resolução do conflito em Donbass
Serem considerados como "pró-russos"
Representantes da Igreja e do clero
Por lerem noticiários da Rússia
Acrescente-se a este turbilhão outra camada de repressão extrajudicial, sob a forma de justiça improvisada a civis, presos, amarrados a postes, espancados, humilhados e alguns mortos em consequência. Há simplesmente centenas e centenas de vídeos e fotografias mostrando estes acontecimentos, que são delineados noutro artigo.
As pessoas não estão a ser amarradas a mobiliário urbano só por serem suspeitas de pilhagem, mas sim amarradas ou presas por serem pró-russos, por não poderem dizer a palavra "Palyanytsya" em ucraniano. Nem todos os falantes de russo étnico na Ucrânia conseguem falar bem ucraniano e alguns têm dificuldade em pronunciar determinadas palavras nessa língua. Há relatos de pessoas que foram mortas por não pronunciarem correctamente a palavra shibboleth e, assim, assumiram fazer parte de grupos subversivos de reconhecimento russo.
A chamada "comunidade internacional" não manifestou qualquer interesse ou desejo de analisar mais de perto esta situação perturbadora na Ucrânia. Mais uma vez, o terreno moral elevado promovido avidamente por milhares de ONGs, grupos de reflexão e uma multidão de relatórios, dissipa-se rapidamente na realidade de um vazio negro. O silêncio é ensurdecedor e todos eles estão silenciosos sobre a repressão que está verificar-se na Ucrânia, provavelmente iniciando o processo de adesão à UE em Junho. Obviamente, um sistema altamente repressivo com graves violações dos direitos humanos cometidas contra civis, por membros das forças militares e policiais, não constitui um impedimento para fazer parte da família europeia e da NATO.
Outrora, teria havido prisioneiros de consciência que a Amnistia Internacional teria apoiado e denunciado por abusos dos direitos humanos, agora o caso é de amnésia total, completa, reina um silêncio mortal sobre os casos generalizados de abusos dos direitos humanos e atrocidades, a menos que se esteja a apontar o dedo à Rússia.
Durante oito anos, os nacionalistas ucranianos internalizaram um ódio nu contra os ucranianos que falam a língua russa e, como padrão, consideraram-nos culpados de serem pró-russos. Dentro deste âmbito inclui-se ser a favor [dos acordos] de Minsk, defender a paz no Donbass ou chamar a atenção para as violações dos direitos humanos. Neste contexto febril de caça às bruxas, qualquer suspeita de cooperação ou ajuda aos russos equivale a uma execução sumária em algumas situações, ou mais provavelmente a uma sova e a ser entregue à SBU.
Uma pequena lista dos caídos em desgraça junto ao governo ucraniano:
Vlodymyr Struk (Presidente da Municipalidade de Kreminna)
Denis Kireev (alto funcionário do governo)
Mikhail & Aleksander Kononovich (líderes de partidos políticos)
Nestor Shufrych (deputado Verkhovna Rada)
Yuri Tkachev (jornalista)
Yan Taksyur (escritor)
Elena Berezhnaya (activista dos direitos humanos / ex-patinadora)
Dmitry Dzhangirov, (apresentador de televisão, cientista político)
Yuriy Dudkin (cientista político)
Maxim Rindkovsky (lutador de MMA)
Dmitry Skvortsov (jornalista)
Aleksandr Matiushenko (organização activista "Livytsia")
Oleg Smetanin (violinista).
Estas pessoas e outras são listadas em mais pormenor mais adiante neste artigo.
Recordemos estas pessoas, estes ucranianos que, por várias razões, caíram enredados junto às autoridades, foram presos, torturados, desapareceram, ou mortos. Os detidos são frequentemente colocados sob enorme tensão, ameaçados, espancados, ou torturados para darem confissões. Outro aspecto a considerar é que muitos advogados não desejam representar estas pessoas, pois ao fazê-lo pode levar a que sejam acusados de serem cúmplices e igualmente acusados de serem "agentes do inimigo".
A SBU, as violações dos direitos humanos e os paramilitares
A SBU tem um historial de tortura, interrogatórios brutais, homicídios extrajudiciais e outras violências e ameaças levadas a cabo com total impunidade. O governo ucraniano sabe disso, mais ainda desde Zelensky, desde que nomeou Oleksandr Poklad como chefe da contra-espionagem da SBU em 2021. Poklad tem uma reputação sinistra como 'O Estrangulador' . É conhecido por ter ligações ao crime organizado e envolvimento em execuções extrajudiciais. Este indivíduo é agora um funcionário de alto nível e mais um dos vários personagens decididamente pouco escrupulosos que são agentes da lei.
Um vislumbre de algumas das atitudes toleradas dentro das estruturas de aplicação da lei, a começar por 2018, quando um ex-conselheiro da SBU, antigo deputado da Rada, membro do partido nacionalista de extrema-direita Svoboda [Liberdade], Yuri Michalchyshyn, advogava o seguinte:
"Propagar um extermínio total dos abutres e demónios do Kremlin, traidores e vira-casacas locais, os seus ajudantes e cúmplices voluntários – ao invés de "reconciliação" com os traidores da Pátria Mãe e os inimigos do povo ucraniano".
Outro grupo paramilitar, o Sector Direita, tem também amplas ligações com a SBU.
Antes do início da operação militar russa contra Kiev, alguns exemplos da brutalidade, tortura e assassínios extrajudiciais foram relatados por um conjunto de organizações, HRW, OSCE, Amnistia Internacional, OHCHR e, em França, a OFPRA. Estes relatórios permitiram vislumbrar uma situação que foi esmagadoramente varrida para debaixo do tapete por funcionários da UE, dos Estados Unidos e dos media corporativos mainstream. A maior parte dos casos estava relacionada com o conflito no Donbass, mas houve muitos casos noutros locais na Ucrânia.
"OHCHR documentou alegações de desaparecimentos forçados, detenções arbitrárias e incomunicáveis, e tortura e maus-tratos, perpetrados impunemente por agentes da lei ucranianos, principalmente por elementos do Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU)".
Fonte: OHCHR
O relatório das Nações Unidas de Junho de 2016 observou que os casos de detenção sem comunicação e de tortura trazidos à sua atenção no final de 2015 e início de 2016 "implicam sobretudo a SBU".
Fonte: Relatório HRW 2016
A SBU é responsável por uma grande percentagem dos casos de "detenção arbitrária, tortura e abuso dos detidos", desde 2014 a 2019. Na realidade, isto é uma fracção do que se verificou, dada a avaliação unilateral de muitos destes relatórios em primeiro lugar. Vislumbres horríveis sobre estas detenções foram apresentados:
Vários também alegaram que, após terem sido transferidos para as instalações da SBU, foram espancados, sujeitos a choques eléctricos e ameaçados de violação, execução e retaliação contra membros da família, para os induzir a confessar o seu envolvimento em actividades criminosas relacionadas com o separatismo ou para fornecer informações. (HRW 2016)
Notadamente, durante o conflito do Donbass, o lado ucraniano cometeu crimes extremamente hediondos, tais como enterrar pessoas vivas, decapitações (como relatado pela Newsweek), actos sistemáticos impiedosos de tortura, violações, pilhagens, numa escala significativamente muito maior em comparação com os crimes relatados cometidos pelo "lado pró-russo" também incluídos nestes relatórios. Do outro lado, a parte russa também documentou os abusos e a repressão dos direitos humanos: relatório de violações de 2017-2020.
Dito de outra forma, mesmo o Departamento de Estado dos EUA conseguiu perceber e captar estes aspectos perturbadores dos comportamentos de aplicação da lei ucranianos:
"A ONU observou deficiências significativas nas investigações de violações dos direitos humanos cometidas pelas forças de segurança governamentais ...em alegações de tortura, desaparecimentos forçados, detenções arbitrárias, e outros abusos alegadamente perpetrados pelo Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU)".
Fonte: US Report.
Estes relatórios constituem uma leitura desagradável, no entanto ninguém nos media corporativos do ocidente se atreve a fazer-lhes referências. Ao invés disso continuam a branquear os crimes hediondos cometidos pelas forças da lei e unidades militares ucranianas. Os piores casos são levados a cabo por unidades paramilitares e ultra-nacionalistas.
Mais recentemente:
"Não foi alcançada justiça, verdade ou reparação para nenhuma das vítimas de desaparecimento forçado, detenção secreta e tortura de civis pelo Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) entre 2014 e 2016, e nem um único suspeito foi processado".
2020 Amnistia Internacional
A SBU tem um histórico pavoroso de graves abusos dos direitos humanos, que continuam até hoje. Pior ainda é a participação de indivíduos como os do 'Azov', Sector Direito e outros nas detenções e também os desaparecimentos de pessoas. O líder do grupo Neo-Nazi C-14, Yevhen Yaras reconheceu abertamente trabalhar com o serviço de segurança ucraniano (SBU).
Agora, certos media corporativos dizem-nos repetidamente que se trata de "desinformação russa" ou que isto já não é relevante. Como se isto fosse remotamente possível para encobrir ou fazer luz sobre abusos absolutamente odiosos dos direitos humanos. Washington, Bruxelas são na verdade capazes de o fazer, pois demonstraram uma capacidade de longa data para varrer tudo para debaixo do tapete, Contras na Nicarágua, esquadrões da morte na América do Sul e Central, crimes do UCK no Kosovo, rebeldes moderados na Síria e agora ultra-nacionalistas ucranianos. Mykola Azarov fez referências aos esquadrões da morte num vídeo.
Estas práticas e abusos dos direitos humanos ainda se verificam regularmente na Ucrânia. Pormenores das prisões, as detenções são sempre irregulaares uma vez que a representação legal é praticamente nula e nenhuma comunicação é possível.
Em suma, sob o domínio de Zelensky, as agências governamentais e outros grupos armados estão a deter, a prender e a matar pessoas na Ucrânia. Qualquer pessoa que critique ou seja considerada como opositora ao seu governo, qualquer acção percebida (actual ou anterior) é devidamente notada, sendo assim susceptível de ser perseguida, detida ou pela SBU ou por grupos paramilitares irregulares. O governo permite conscientemente estas violações dos direitos humanos no seu próprio interesse.
Deve lembrar-se que as autoridades ucranianas continuaram a utilizar uma base de dados, o website Mirotvorets, para destacar aqueles que consideram como "inimigos da Ucrânia". Este controverso sítio web foi criado em 2014, por iniciativa de Anton Gerashchenko (o vice-ministro ucraniano dos assuntos internos). Gerashchenko declarou que o sítio era "extremamente importante para a segurança nacional da Ucrânia". Acrescentou então que "quem não compreende isto ou tenta interferir com este trabalho ou é um fantoche nas mãos de outros ou trabalha contra os interesses da segurança nacional". [2]
A inclusão de detalhes de indivíduos, recomendados para liquidação e detenção, levou no passado a que pessoas, ucranianas e estrangeiras, fossem visadas, presas e assassinadas. Um jornalista ucraniano, Oles Buzina, teve os seus dados pessoais publicados no site em 2015, o que levou ao seu assassinato pouco tempo depois. Tudo isto numa Ucrânia supostamente democrática.
Recorde-se que Zelensky pôs agora fora da lei todos os partidos da oposição – mas não aqueles partidos que o apoiam como, com ultra-nacionalistas e neonazis a fazerem parte destes partidos políticos e que são também altamente influentes. O Facebook e outras plataformas de meios de comunicação social também ajudaram neste processo, apagando sites e contas de organizações e indivíduos da oposição.
Funcionários de alto nível e meios de comunicação social estão deliberadamente a ignorar o que está a acontecer na Ucrânia, fazendo acreditar que os russos são muito piores, no âmbito e extensão dos abusos dos direitos humanos, ao mesmo tempo que saneiam uma vasta gama de abusos hediondos, desaparecimentos e assassinatos na Ucrânia. Além disso, isto é varrido sob as vagas categorias de "traição", apoio aos russos ou "sabotadores":
Casos individuais
Caso: Vlodymyr Struk
Presidente da Municipalidade de Kreminna
Evento: sequestrado e extrajudicialmente morto
Data: 01 de Março de 2022
Acusado de: ser traidor e pró-russo
Ref: New York Post /
Daily Mail
Notas: Anton Gerashchenko, Conselheiro do Ministro dos Assuntos Internos da Ucrânia, anunciou no seu relato nos media que o Presidente da Municipalidade de Kreminna, Volodymyr Struk, foi morto a tiro por "patriotas desconhecidos" depois de ter sido sequestrado na sua casa. Acrescentou ainda que Struk "foi julgado pelo tribunal do povo e considerou-o traidor".
Caso: Denis Kireev
Membro da equipa de negociação do governo ucraniano.
Evento: assassinado na rua de Kiev, perto do edifício do Tribunal Pechersky, pelo serviço de segurança da SBU.
Data: 5 de Março de 2022
Acusado de: alegadamente por ter "posição pró-russa" e ' suspeita de traição'.
Ref: Times of Israel /
Daily Mail /
Kyiv Independent
Notas: abatido a tiro por "resistir à prisão". Confirmadamente membro do serviço secreto militar ucraniano.
Caso: Nestor Shufrych
Verkhovna Rada deputy (Bloco de Oposição)
Evento: Preso e sequestrado
Data: 4 de Março de 2022
Acusado de: alegadamente "fornecer inteligência à Rússia".
Ref: Alegadamente detido pelo 206º Batalhão de Defesa Territorial. Fotos +
vídeo clipe dele a ser intimidado e ameaçado.
Caso: Irmãos Mikhail & Aleksander Kononovich
Membros dirigentes da União da Juventude Comunista Leninista (fora-da-lei na Ucrânia).
Evento: Preso e detido pela SBU
Data: 6 de Março de 2022
Acusado de: "divulgação de "pontos de vista pró-russos e pró-Bielorrúsia" e "traição".
Ref: Actualmente detidos num centro de detenção pré-julgamento, foram espancados e enfrentam a execução sob falsas acusações.
Caso: Yan Taksyur
Escritor e jornalista / apresentador de TV.
Evento: Preso e detido pela SBU.
Data: 10 de Março de 2022
Acusado de: "traição
Ref: 70 anos, natural de Kiev, jornalista ortodoxo e apresentador de televisão, "Pershiy Kozatsky". Actualmente num centro de detenção pré-julgamento.
Caso: Yuri Tkachev
Cientista e jornalista independente
Editor-chefe da revista online https://timer-odessa.net/.
Evento: Preso e detido em Odessa
Data: 19 de Março de 2022
Acusado de: ' traição'.
Ref: Sem contacto ou informação sobre o seu estado actual. Escreveu pouco antes da sua detenção: "Eles vieram por mim, foi um prazer conversar".
Caso: Dmitri Dzhangirov
apresentador de televisão, cientista político
Membro do partido "Novyi Sotcialismo" ("Novo Socialismo")
Evento: detido pela SBU (?)
Data: 7 de Março de 2022
Acusado de: ?
Ref: Segundo informações dos meios de comunicação social, "os assinantes denunciaram que uma declaração anti-russa foi publicada no seu canal Youtube "The Capital". Foi subsequentemente forçado a fazer um discurso anti-russo perante as câmaras e também no seu canal YouTube.
Caso: Elena Berezhnaya
Desportista / activista dos direitos humanos
Evento: Detida pela SBU (?)
Data: 16 de Março de 2022
Acusada de: ?
Ref: artigo
Caso: Maxim Rindkovsky
Combatente de MMA
Evento: detido, espancado e torturado por grupo ultra-nacionalista
Data: Data precisa desconhecida – 1ª semana de Março de 2022
Acusado de: ter treinado com lutadores do MMA do clube Chechen Ahmat durante a sua carreira desportiva.
Ref: Artigo / Estatuto actual desconhecido, embora alegadamente tenha sido morto.
Caso: Dmitry Skvortsov
Jornalista e militante da paz da Igreja Ortodoxa Ucraniana
Evento: Detido pela SBU
Data: 10 de Março de 2022
Acusado de: ?
Ref: tweet
Caso: Mikhail Pogrebinsky
Cientista político
Evento: Preso pela SBU
Data: 27 de Março de 2022
Acusados de: traição e enriquecimento ilegal.
Ref: Considerado pró-russo, pois apareceu em canais de televisão russos.
Caso: Vladimir Ivanov
Activista de esquerda
Data: 4 de Março
Caso: Aleksandr Matiushenko
Militante da organização de esquerda ucraniana "Livytsia".
Data: 3 de Março
Acusado de "participação na guerra agressiva".
Ref: Preso pela SBU e "Azov".
Caso: Oleg Smetanin
Violinista
Data: 4 de Março
Acusado de: passar informações sobre um aeroporto para os russos.
Caso: Vasily Volga
Antigo líder da União das Forças de Esquerda
Data: 7 de Março
Caso: Yury Dudkin
Jornalista
Data: 7 de Março
Caso: Aleksandr Karevin
Escritor
Data: 7 de Março
Ref: escrito na sua página no Facebook: "A SBU chegou"
Caso: Oleg Pankartiev
Assistente de um deputado do partido de oposição "OPZZH (Plataforma de Oposição para a Vida)
Data: 9 de Março
Acusado de: ?
Ref: Brutalmente espancado durante a detenção e ainda detido pela SBU.
Caso: Spartak Golovachiov
Activista de esquerda
Data: 11 de Março
Ref: escreveu em redes sociais: "Eles estão a arrombar a minha porta armados com uniformes ucranianos. Adeus". Paradeiro desconhecido.
Caso: Elena Viacheslavova
Activista dos direitos humanos
Data: 11 de Março em Odessa
Detida pela SBU
Ref: Filha de Mikhail Viacheslavov, queimado vivo a 2 de Maio de 2014, na Casa dos Sindicatos de Odessa.
Caso: Artiom Khazan
Representante do Partido Shariy
15 de Março
Detido pela SBU
Ref: Foi severamente espancado durante a sua detenção pela SBU. No dia seguinte, um vídeo apareceu nas redes sociais, no qual Khazan difamou o presidente do partido Anatoli Shariy. Paradeiro actual desconhecido.
Caso: Yury Bobchenko
Presidente do sindicato dos trabalhadores siderúrgicos e mineiros ucranianos
Data: 19 de Março
Preso por militares ucranianos.
Ref: Trabalhador da empresa Arcelor Mittal Krivoi Rog.
Caso: Gleb Lyashenko
Cientista político e blogueiro
Data: 29/30 de Março
Preso pela SBU (?) e acusado de traição.
Caso: Um alemão
Ex-jornalista, Radio Liberty
Caso: Oleg Novikov
Oposição Activista
Data: 5 de Abril
Preso pela SBU
Ref: Escreveu no Telegram: "Eles vieram à minha procura. Não pensem mal de mim. Permaneçam íntegros".
Como se pode ver na lista, o paradeiro de muitos não é conhecido, as acusações reais contra eles também não são conhecidas. Apenas uma acusação, ter o seu nome numa lista negra pode levá-lo a ser sequestrado, brutalizado e potencialmente ser morto na Ucrânia.
Situação na Ucrânia
Há ainda alguns poucos corajosos que tentam recolher informações sobre as prisões e detenções. Os níveis crescentes de ilegalidade e repressão tornam muito difícil a recolha de informações precisas.
Integrados na já volátil mistura de repressão estatal, os ultra-nacionalistas ucranianos operam fora de qualquer supervisão legal, não sendo assim responsáveis perante as estruturas políticas estatais. Além disso, muitos tiveram total impunidade desde 2014 e, apesar de alguns incidentes entre a SBU e o sector da direita, ainda têm apoio não declarado por parte de todos os níveis do oficialismo ucraniano.
É expectável que os ultra-nacionalistas tenham tomado nas suas próprias mãos assuntos como o sequestro, espancamento e tortura de um combatente do MMA, Maxim Rindkovsky, unicamente com base no facto de ter treinado no passado com um clube de MMA checheno. Informações não confirmadas indicam a participação de membros Azov na tortura e desaparecimento de Maxim Rindkovsky.
Outros exemplos recentes do domínio da máfia, ultra-nacionalista dos aplicadores da defesa territorial:
13 de Março, a casa de Dmitry Lazarev, um activista de esquerda, foi incendiada (numa aldeia perto de Odessa).
16 de Março, na aldeia de Tomashevka, na região de Kiev: Guennady Batenko, um sacerdote da Igreja Ortodoxa Ucraniana foi raptado por um comando armado. Foi libertado pela SBU no dia seguinte.
27/28 de Março: Slema, região de Cherkasy. Um padre é filmado sendo levado à força por um destacamento de ultra-nacionalistas da "defesa territorial" (Teroborona), juntamente com paroquianos que tentavam protegê-lo. O seu paradeiro não é conhecido.
A julgar unicamente pela lista esboçada neste artigo, trata-se apenas de uma pequena indicação da situação mais vasta com centenas de detidos na Ucrânia. As circunstâncias e estatuto das suas detenções não não lhes garantem atenção para evitar o desaparecimento, o seu paradeiro não é de todo conhecido. À medida que o conflito continua, a repressão continua a acumular-se contra uma crescente categoria de pessoas.
Enquanto tudo isto está a acontecer, as autoridades ocidentais e os media corporativos são completamente indiferentes à situação. Os media corporativos são na verdade cúmplices ao branquearem estes abomináveis acontecimentos. Como era de esperar, as organizações ocidentais estão demasiado ansiosas por divulgar qualquer repressão de vozes dissidentes na Rússia. No entanto, não têm tempo nem inclinação para fazer o mesmo para aqueles que criticam o governo de Zelensky, a repressão estatal que é incontavelmente e implacavelmente mais cruel, mais severa e significativamente mais mortífera.
A longa lista de abusos e maus-tratos dos direitos humanos pela SBU tem sido amplamente catalogada no passado, juntamente com a assistência de grupos ultra-nacionalistas, que estão tacitamente autorizados a agir indiscriminadamente contra qualquer pessoa que considerem como um "inimigo da Ucrânia".
O destino de pelo menos uma dúzia de conhecidos activistas da oposição, analistas políticos, jornalistas, políticos e blogueiros continua a não ser claro. Tudo isto acontece sob a fria indiferença de bem conhecidas organizações ocidentais de direitos humanos e, de forma mais gritante, dos media corporativos ocidentais, tudo sob os auspícios das supostamente "iluminadas", "civilizadas" Europa e América do Norte. Ninguém está a levantar a voz contra estas acções.
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