Centenas de jornalistas do mundo inteiro assinam carta aberta pela
libertação de Assange
por Oscar Grenfell
Centenas de jornalistas e de trabalhadores dos media do mundo inteiro assinaram
uma carta aberta apaixonada que reclama a liberdade incondicional do fundador
da WikiLeaks, Julian Assange. Ela pede também o fim imediato da campanha
judicial travada contra lei pelo crime de ter revelado crimes de guerra.
Dentre os 422 signatários, até o momento, figuram
Kristinn Hrafnsson, redactor chefe da WikiLeaks; John Pilger, jornalista de
investigação de reputação mundial e Daniel
Ellsberg, o denunciante dos "Pentagone papers" que revelou toda a
criminalidade da guerra do Vietname.
Em nome do World Socialist Web Site, a carta foi assinada pelo presidente do comité
de redacção internacional do WSWS, David North, e por outros
jornalistas do WSWS.
Este apelo poderoso testemunha o carácter canalha e ilegal do
aprisionamento de Assange no presídio de alta segurança de
Belmarsh pela Grã-Bretanha. Ele indica claramente que os jornalistas que
têm princípios vêm a tentativa da
administração americana do presidente Donald Trump de o perseguir
por 17 acusações principais sob a Lei de espionagem e de
aprisioná-lo pela vida toda como um ataque frontal à liberdade de
imprensa e uma ameaça grave aos seus próprios direitos.
A posição tomada pelos jornalistas segue-se à carta aberta
dirigida ao ministro britânico do Interior no mês passado por mais
de 65 médicos eminentes. A carta condena a recusa a fornecer cuidados de
saúde adequados a Assange e adverte que ele poderia morrer na
prisão. Ela coincide com uma declaração de um grupo de
advogados internacionais, os quais documentam a ilegalidade da
perseguição a Assange pelos Estados Unidos e pede a sua
libertação imediata.
Estas iniciativas mostram que fora do vaso fechados dos governos, das
agências de informação e das empresas mediáticas,
que têm conduzido a campanha de nove anos contra Assange, a
opinião pública mundial está do lado do fundador da
WikiLeaks e contra os seus perseguidores.
A carta dos jornalistas diz: "Este caso está no cerne do
princípio da liberdade de expressão. Se o governo americano puder
perseguir o sr. Assange por ter publicado documentos classificados, isto pode
abrir o caminho a processos judiciais contra jornalistas por toda a parte do
mundo. Isto constituiria um precedente alarmante para a liberdade de imprensa
no mundo".
A carta declara sem meias palavras: "Numa democracia, os jornalistas podem
revelar crimes de guerra e casos de tortura e de abusos sem ter de ir para a
prisão. Este é mesmo o papel da imprensa numa democracia".
Ela passa em revista as conclusões repetidas do Grupo de Trabalho das
Nações Unidas sobre a Detenção Arbitrária.
Estas conclusões demonstram que Assange tem de facto sido objecto de uma
detenção ilegal pelas autoridades britânicas quando
invadiram a embaixada equatoriana, onde em 2012 ele havia pedido asilo
político.
A carta apresenta a conclusão do Relator especial da ONU sobre tortura,
Nils Melzer. Este último declarou que os direitos legais e
democráticos de Assange haviam sido espezinhados. Além disso,
Assange foi objecto de uma campanha sem precedentes de
"mobbing public"
que equivalia à "tortura psicológica".
Os jornalistas escrevem: "Consideramos os governos dos Estados Unidos da
América, do Reino Unido, do Equador e da Suécia
responsáveis pelas violações dos direitos do homem que o
sr. Assange foi vítima".
Eles citam um comentário notável de Melzer, que escreveu no
princípio deste ano: "Compreendi finalmente que eu me deixara cegar
pela propaganda. Caluniou-se Assange sistematicamente para desviar a
atenção dos crimes que ele denunciava". O funcionário
da ONU sublinhou o papel da imprensa burguesa na diabolização de
Assange e na repetição das calúnias cozinhadas contra ele
pelos serviços de informação.
Os trabalhadores dos media declaram (e isto é significativo):
"Assange deu uma contribuição excepcional ao jornalismo de
interesse público, à transparência e à
imputabilidade dos governos através do mundo". Eles recordam
algumas das dezenas de prémios que ele recebeu pelas
divulgações da WikiLeaks, o que refuta magistralmente a
afirmação de que Assange não é "um
jornalista", repetida pelos cães amestrados pró patronato
alinhados com a administração Trump.
A carta toma igualmente posição a favor dos lançadores de
alerta que são perseguidos por terem denunciado actos criminosos
cometidos por governos. "As reportagens do sr. Assange sobre os abusos e
os crimes são de uma importância histórica, assim como as
contribuições dos lançadores de alerta Edward Snowden,
Chelsea Manning e Reality Winner, que estão agora no exílio ou
encarcerada", afirma.
Os jornalistas mencionam o combate travado pelo romancista francês
Émile Zola em favor de Alfred Dreyfus, um oficial militar judeu
vítima de uma maquinação baseada sobre falsas
acusações de espionagem no fim do século XIX. Em 1898
escreveu sua célebre carta aberta "J'accuse!" na qual ataca
nominalmente os responsáveis pela perseguição de Dreyfus.
A carta dos jornalistas diz: "A posição de Zola entrou para
os livros da história e constitui ainda hoje nosso dever de lutar contra
os erros judiciais e de exigir contas aos poderosos. Este dever é hoje
mais necessário do que nunca, no momento em Julian Assange é
perseguido por governos e confrontado com 17 acusações principais
em virtude da Lei americana sobre espionagem, que remonta a mais de um
século".
A comparação é perfeitamente apropriada. Tal como no caso
de Dreyfus, são as forças mais reaccionárias da sociedade
que conduzem a perseguição de Assange e utilizam-na como um
precedente para abolir os direitos fundamentais de toda a
população. E, tal como para a defesa de Dreyfus, nada menos que a
mobilização da classe operária e dos partidários
das liberdades civis, a começar pelos jornalistas, é
necessária para assegurar a liberdade incondicional de Assange e repelir
os atentados aos direitos democráticos.
A última parte da carta merece ser citada na íntegra.
"Enquanto jornalistas e organizações de jornalistas que
acreditam nos direitos do homem, na liberdade de informação e no
direito do público à informação, pedimos a
libertação imediata de Julian Assange", lê-se ali.
"Exortamos nossos governos, todas as agências nacionais e
internacionais e nossos confrades jornalistas a pedirem que seja posto fim
à campanha judicial travada contra ele pelo crime de ter revelado crimes
de guerra".
"Exortamos nossos colegas jornalistas a informar o público desta
violação das liberdades fundamentais".
Sinal do imenso respeito mundial pela WikiLeaks e do reconhecimento das
implicações internacionais da perseguição a
Assange: jornalistas de países tão diversos como a África
do Sul, o Quénia, a Namíbia, o Uganda, Israel, o Líbano, o
Chile, Sri Lanka, a Ucrânia, a Rússia, a China, a Nova
Zelândia, a Austrália, a Islândia, a Suécia, a
França, a Turquia, a Croácia, os Estados Unidos e uma
multidão de outros assinaram a carta.
Dentre eles figuram personalidade com dezenas de anos de experiência na
indústria dos media. Na Austrália, Kerry O'Brien, presidente da
" Walkley Foundation", assim como os jornalistas de
investigação Andrew Fowler e Quentin Dempster fazem parte.
Empregados actuais de grandes organizações mediáticas
assinaram igualmente. Na Alemanha, personalidades de primeiro plano de
numerosas organizações de imprensa dentre as mais importantes do
país participam da iniciativa. Entre outros Becker Sven, redactor chefe
de
Der Spiegel
e Bastian Obermeyer, responsável pelos inquéritos do
Süddeutsche Zeitung.
Personalidades eminentes dos media progressistas e anti-guerra como Joe Lauria,
redactor chefe do Consortium News e os jornalistas Chris Hedges, Mark Curtis,
Elizabeth Vos, Nozomi Hayase e numerosos outros são signatários.
Anthony Bellanger, secretário geral da Federação
Internacional dos Jornalistas (IFJ), associação mundial que
reúne 187 organizações filiadas em 140 países e
representando 600 mil membros, ali figura igualmente.
Todos os defensores de Assange dos direitos democráticos devem promover
o mais amplamente possível a posição destes jornalistas. A
carta deveria ser difundida nos media sociais, enviada a todos os trabalhadores
dos media e distribuída nos campus universitários e nos bairros
populares.
Esta carta é uma nova manifestação da vaga de apoio da
opinião pública em favor de Assange e de que a hostilidade
à sua perseguição, que anima milhões de
trabalhadores, estudantes, jovens e intelectuais por todo o mundo, surge
à superfície da vida política.
Esta evolução bem vinda sublinha a necessidade de intensificar a
campanha pela sua defesa, sobretudo alçando-a o mais amplamente
possível na classe operária internacional. Esta é a
força social mais poderosa do mundo e seus interesses são
indissociáveis de uma ofensiva para proteger todos os direitos
democráticos e sociais.
13/Dezembro/2019
Ver também
The Fate of Journalism & Julian Assange
, Kristinn Hrafnsson, Editor-In-Chief of WikiLeaks
Le sort du journalisme et Julian Assange (Defend Wikileaks)
, Kristinn Hrafnsson
Visiter le prisonnier politique de la Grande Bretagne
, John Pilger
Assange lawyer discloses conditions for British justice TO RETHINK his extradition
O original encontra-se em www.mondialisation.ca/...
Este artigo encontra-se em
https://resistir.info/
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