A
acusação
a Julian Assange feita pelo FBI parece um sonâmbulo a passear.
Nenhuma evidência. Sem documentos. Nenhum testemunho seguro. Só um
fogo cruzado de condicionais.
Mas nunca subestime a chicana contorcionista dos funcionários do governo
dos EUA. Ainda que Assange possa não ser caracterizado como
jornalista e editor, o objectivo da declaração juramentada
é acusá-lo de conspirar para cometer espionagem.
Na verdade, a acusação nem sequer é de que Assange tenha
hackeado um computador do governo estado-unidense e obtido
informações classificadas; é que ele pode ter discutido
isso com Chelsea Manning e pode ter tido a intenção de fazer um
hack. O estilo orwelliano do crime de pensamento não vai além
disso. Agora, a única coisa que está a faltar é um software
de inteligência artificial para detectá-los.
O conselheiro legal de Assange, Geoffrey Robertson que também
representa outro destacado prisioneiro político, o brasileiro Lula
foi
directo ao assunto
(aos 19:22 minutos): "A justiça que ele está a enfrentar
é justiça, ou injustiça, na América... Eu esperaria
que os juízes britânicos tivessem crença suficiente na
liberdade de informação para rejeitar o pedido de
extradição".
Isso está longe de ser um facto consumado. Daí a
consequência inevitável: A equipe legal de Assange está a
preparar-se para provar, sem limitações, num tribunal
britânico, que esta acusação do governo estado-unidense de
conspiração para hackear computadores é apenas um prolegómeno
para acusações subsequentes de espionagem, caso Assange seja
extraditado para o solo dos EUA.
Tudo acerca do Vault 7
John Pilger, entre outros, já
destacou
como o plano para destruir a WikiLeaks e Julian Assange foi lançado em
2008 no final do regime de Cheney cozinhado pela obscura
Divisão de Avaliações contra a Inteligência
Cibernética
(Cyber Counter-Intelligence Assessments Branch )
do Pentágono.
O objectivo exclusivo era criminalizar a WikiLeaks e enlamear Assange
pessoalmente, usando "tropas de choque... alistadas nos media
aqueles que têm a pretensão de manter o registo correcto e
dizer-nos a verdade".
Este plano permanece mais do que activo basta considerar como a
prisão de Assange foi coberta pela maior parte dos media de
referência dos EUA / Reino Unido.
Em 2012, já na era Obama, a WikiLeaks pormenorizou a surpreendente
"escala da investigação do Grande Júri dos EUA"
sobre si mesma. O governo dos EUA sempre negou a existência de um tal
grande júri.
"O governo dos EUA pôs de pé e coordenou uma
investigação criminal inter-agências da Wikileaks, composta
por uma parceria entre o Departamento de Defesa (DOD), incluindo: CENTCOM;
SOUTHCOM;
a Agência de Inteligência da Defesa (DIA);
Agência de Sistemas de Informação de Defesa (DISA);
Sede do Departamento do Exército (HQDA);
Divisão de Investigação Criminal do Exército dos
EUA (CID) para USFI (Forças dos EUA no Iraque) e 1ª Divisão
Blindada (AD);Unidade Investigativa de Crimes Informáticos do
Exército dos EUA (CCIU);
2º Exército (Comando Cibernético do Exército dos EUA).
Dentro disso ou além disso, três investigações de
inteligência militar foram realizadas.
Grande Júri do Departamento de Justiça (DOJ) e do Federal Bureau
of Investigation (FBI), Departamento de Estado (DOS) e Serviço de
Segurança Diplomática (DSS).
Além disso, a Wikileaks tem sido investigada pelo Gabinete do Director
de Inteligência Nacional (ODNI), pelo Gabinete do Executivo Nacional de
Contra-Inteligência (ONCIX), pela Agência Central de
Inteligência (CIA);
pelo Comité de Supervisão da Câmara;
pelo Comité Interinstitucional de Pessoal de Segurança Nacional e
pelo PIAB (Conselho Consultivo de Inteligência do Presidente)".
Mas foi só em 2017, na era Trump, que o Estado Profundo se tornou
totalmente balístico; foi quando a WikiLeaks publicou os ficheiros da
Vault 7
pormenorizando o vasto repertório de espionagem hacker /
cibernética da CIA.
Foi a revelação inédita da CIA como um Imperador Nu
incluindo as operações de supervisão desonestas do Centro
de Inteligência Cibernética, um departamento ultra-secreto da NSA.
O WikiLeaks obteve os ficheiros da Vault 7 no início de 2017. Na
época, a WikiLeaks já havia publicado os ficheiros do DNC
[Democratic National Committee]
os quais o impecável Veteran Intelligence Professionals for Sanity
(VIPS) provou sistematicamente serem uma fuga, não um hack.
A narrativa monolítica da facção Estado Profundo, alinhada
com a máquina de Clinton, foi que "os russos" hackearam os
servidores DNC. Assange sempre foi inflexível; esse trabalho não
fora de um actor do Estado e ele poderia provar isso tecnicamente.
Houve alguma movimentação rumo a um acordo, intermediado por um
dos advogados de Assange: A WikiLeaks não publicaria a
informação mais contundente da Vault 7 em troca da passagem
segura de Assange para ser entrevistado pelo Departamento de Justiça dos
EUA (DoJ).
O DoJ queria um acordo e eles fizeram uma oferta à WikiLeaks. Mas
o director do FBI, James Comey, o matou. A questão é saber porque.
É uma fuga, não um hack
Algumas
reconstruções
teoricamente sãs do movimento de Comey estão disponíveis.
Mas o facto chave é que Comey já sabia por meio das suas
conexões estreitas com o topo do DNC que isso não fora um
hack e sim uma fuga.
O embaixador Craig Murray enfatizou repetidas vezes (ver
aqui
) como os ficheiros do DNC / Podesta publicados pela WikiLeaks vieram de duas
fontes diferentes dos EUA; uma de dentro do DNC e outra de dentro da
inteligência dos EUA.
Não havia nada para Comey "investigar". Ou haveria, se Comey
tivesse ordenado ao FBI que examinasse os servidores do DNC. Então, para
que conversar com Julian Assange?
O lançamento pela WikiLeaks, em Abril de 2017, dos mecanismos de
malware
embutidos no "Grasshopper" e no "Marble Framework" foram
de facto uma bomba. É assim que a CIA insere cadeias
(strings)
de linguagem estrangeira no código-fonte a fim de
disfarçá-los como originários da Rússia, do
Irão ou da China. O inestimável Ray McGovern, membro do VIPS,
destacou como o Marble Framework "destrói essa narrativa acerca do
hacking russo".
Não é de admirar que o então director da CIA, Mike Pompeo,
tenha acusado a WikiLeaks de ser uma "agência de inteligência
hostil não estatal", habitualmente manipulada pela Rússia.
Joshua Schulte, o alegado vazador (
leaker
) do Vault 7, ainda não enfrentou um tribunal dos EUA. Não
há dúvida de que lhe será oferecido um acordo pelo governo
dos EUA se ele for agressivo no seu testemunho contra Julian Assange.
É uma estrada longa e sinuosa, a ser percorrida em pelo menos dois anos,
se Julian Assange vier a ser extraditado para os EUA. Duas coisas para o
momento já estão claras como cristal. O governo dos EUA
está obcecado em encerrar a WikiLeaks de uma vez por todas. E por causa
disso, Julian Assange nunca obterá um julgamento justo no chamado
"Tribunal de Espionagem" do Distrito Leste da Virgínia,
conforme
pormenorizado
pelo ex-responsável de contra-terrorismo da CIA e denunciante John
Kiriakou.
Enquanto isso, a demonização ininterrupta de Julian Assange
prosseguirá inabalável, fiel às directrizes estabelecidas
há mais de uma década. Assange é até mesmo acusado
de estar numa operação de inteligência dos EUA, e a
WikiLeaks, um ramo de uma operação de cobertura do Estado
Profundo.
Talvez o Presidente Trump manobre o Estado Profundo hegemónico para que
Assange testemunhe contra a corrupção do DNC; ou talvez Trump
ceda completamente à "agência de inteligência
hostil" de Pompeo e sua gang da CIA a ladrar por sangue. É tudo um
jogo de sombras com riscos ultra-altos e o espectáculo nem mesmo
começou.
19/Abril/2019
Ver também:
Prisão de Assange mostra que Moreno é um "activo da CIA" e transforma o Equador em "vassalo" Ricardo Patino, ex-ministro das Relações Exteriores do Equador
Correa, após a prisão de Assange: "Lenín Moreno é o maior traidor da história equatoriana e latino-americana"
"Assange será extraditado a los Estados Unidos, pero WikiLeaks ya ha cambiado el mundo"
O original encontra-se em
www.strategic-culture.org/news/2019/04/19/deep-state-vs-wikileaks.html
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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