Julian Assange está a ser assassinado
Estamos seriamente preocupados com a condição de saúde de
Julian Assange. Ontem, estava demasiado doente para poder comparecer perante o
tribunal e o seu advogado sueco, Per Samuelson, encontrou-o num estado em que
Julian estava incapaz de estabelecer uma conversa e dar
instruções. Há sintomas físicos muito marcados,
particularmente uma perda rápida de peso, e tememos que não
estejam a ser efectuados esforços, genuínos e suficientes, para a
obtenção de um diagnóstico, a fim de determinar
a verdadeira causa.
Durante o ano passado Julian foi mantido na Embaixada do Equador em
condições precárias, muito restritas e cada vez mais
opressivas e a sua saúde já estava a deteriorar-se de forma
alarmante, antes da sua expulsão e prisão. Uma série de
condições, incluindo abcessos dentários, que pode ter
consequências muito graves se não forem tratados durante muito
tempo e a recusa contínua do governo britânico e, mais tarde, dos
equatorianos, de permitir o acesso a cuidados de saúde adequados a um
asilado político, foi uma negação cruel e deliberada de
direitos humanos básicos.
Confesso que senti um certo alívio pessoal após a sua
prisão, porque, pelo menos agora ele receberia tratamento médico
adequado. No entanto, percebe-se agora, não haver qualquer
intenção de fornecê-lo e, de facto, desde que ele esteve em
Belmarsh, os problemas de saúde exacerbaram-se. Testemunhei a
cumplicidade do Estado britânico em casos de tortura para saber que esta
atitude pode significar mais do que somente uma consequência de
negligência não intencional. É extremamente alarmante
constatar que o homem mais lúcido que conheço já
não é capaz de manter, agora, uma conversa racional.
Não há nenhuma razão aceitável para que Assange
precise ser mantido numa instalação de alta segurança
destinada a terroristas e infractores violentos. Estamos a ver o motivo por
trás da sua longa detenção sem precedentes, para
esquivar-se à fiança da polícia quando pediu asilo
político. Como prisioneiro condenado, Assange pode ser mantido num
regime pior do que se estivesse apenas em prisão preventiva, devido aos
procedimentos de extradição. Mesmo que ele estivesse
saudável, o acesso aos seus advogados é extremamente restrito e,
para um homem que enfrenta grandes processos legais no Reino Unido, nos EUA e
na Suécia, é impossível que os seus advogados tenham tempo
suficiente para preparar, juntamente com ele, os seus processos adequadamente.
Assange está sob as mesmas restrições que são
impostas a um condenado. Claro que sabemos, pelo facto de que, três horas
após ter sido arrastado da Embaixada do Equador, ele ter sido condenado
e sentenciado a uma longa pena de prisão, que o Estado não tem
intenção de que os seus advogados se possam preparar.
Perguntei antes e faço-o, agora, novamente: Se fosse uma editora
dissidente na Rússia, o que é que a classe política e a
comunicação mediática do Reino Unido estariam a dizer
sobre ele ter sido arrastado por polícias armados, condenado e
sentenciado a prisão por um Juiz sem júri, três horas
depois, após uma farsa de um "julgamento" durante o qual o
juiz o insultou e chamou de "narcisista" antes de Assange dizer
qualquer coisa em sua defesa? A comunicação mediática
ocidental estaria em pé de guerra, se esse caso acontecesse na
Rússia. Aqui, eles congratulam-se com esses factos.
A seguir está uma foto de Julian na Embaixada em tempos mais felizes,
durante a presidência de Correa, com um grupo de pessoas verdadeiramente
surpreendente e forte, cada uma delas com histórias, as quais podemos
seguir e com elas aprender:
Da esquerda para a direita: Thomas Drake,
Coleen Rowley, Julian Assange, Elizabeth Murray,
Ray McGovern, Nadira, Ann Wright
Devo acrescentar que, juntamente com outros dois amigos íntimos, estou
pessoalmente a tentar ver Julian Assange, mas, como é óbvio, o
acesso é extremamente difícil.
Os objectos pessoais de Julian foram apreendidos pelos equatorianos para serem
entregues ao governo dos EUA. Incluem não só os computadores, mas
os seus documentos legais e médicos. Este é mais um exemplo de
uma acção estatal completamente ilegal contra ele. Além do
mais, qualquer transferência deve envolver o material roubado que
transita fisicamente em Londres, e o governo britânico não
está a tomar medidas para impedi-lo, o que é mais um dos
múltiplos sinais do grau de coordenação governamental
internacional por trás da frágil pretensão de uma
acção judicial independente.
Julian está preso há pelo menos mais de cinco meses mesmo com
liberdade condicional (que provavelmente vão encontrar uma desculpa para
não conceder). Depois, será mantido em prisão preventiva.
Portanto, não há necessidade de pressa. A recusa do tribunal
sueco, de atrasar uma audiência sobre um possível mandado de
extradição, para permitir que Julian se recupere para poder
instruir o advogado e o breve adiamento da audiência de
extradição dos EUA em Londres, com a intimação que
pode ser mantido dentro da prisão de Belmarsh, se Julian estiver
demasiado doente para se deslocar, são exemplos de uma pressa totalmente
desacostumada e desnecessária, na maneira como o caso está a
prosseguir. Os moinhos de Deus moem devagar; os do Diabo parecem girar a alta
velocidade.
Finalmente, para os que ainda acreditam que as acções judiciais
contra Julian, não só na Suécia, são de alguma
forma motivadas por uma preocupação em que a justiça seja
feita, particularmente os casos de justiça referente a mulheres
violadas, peço-lhes que leiam este
excelente relato
de Jonathan Cook. Quanto ao resumo da série verdadeiramente
impressionante de abusos legais por parte dos Estados contra Assange, que a
comunicação mediática empresarial e estatal distorceu e
escondeu deliberadamente durante uma década, o mesmo não pode ser
melhorado.
01/Junho/2019
[*]
Ex-diplomata britânico. Ver
en.wikipedia.org/wiki/Craig_Murray
O original encontra-se em
www.lewrockwell.com/2019/06/no_author/the-unrelenting-state/
e a tradução de Luisa Vasconcellos em
supportjulianassange.blogspot.com/...
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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