Como funciona a máquina de propaganda do ocidente
por Nikolai Starikov
1. O seu princípio fundamental é a fragmentação.
Isto pode parecer estranho, mas a fragmentação é o
fundamento supremo da lavagem ao cérebro ocidental.
Não é segredo que o sistema de ensino nas "democracias
avançadas" está concebido de forma a criar artificialmente
uma visão muito estreita do mundo. Em contrapartida, o sistema escolar
soviético tenta criar uma visão abrangente do mundo, mesmo entre
os alunos mais preguiçosos, enchendo-lhes a cabeça com alta
matemática, física, química e astronomia, por mais
improvável que seja eles virem a usar todos esses conhecimentos. A
compreensão da forma como o mundo está interligado, a causa e o
efeito, e a capacidade de juntar tudo e analisar diversos factos, chama-se
"pensamento analítico". É o primeiro passo para a
criatividade.
Todas estas coisas desapareceram do sistema de ensino ocidental. O nosso
país tentou adotar este sistema, numa "reforma do ensino", que
tem um objetivo claro: a fragmentação da sociedade, não
apenas em classes, mas em castas. A casta dirigente recebe um ensino
clássico em escolas privilegiadas, as Cambridges e Eatons, em que se
ensina uma visão abrangente do mundo e em que são forjados os
futuros líderes e as elites do mundo ocidental. Todos os restantes
recebem um "sistema de ensino avançado" que, na
prática, aboliu os trabalhos de casa, e os estudantes acabam por quase
nem saber ler. Quem quer que tenha frequentado a escola na URSS e
conheça as escolas ocidentais poderá dizer como o programa na
União Soviética era muito mais sólido. Os nossos
estudantes do liceu resolviam problemas que os ocidentais estudavam na
faculdade.
A ênfase neste sistema de ensino no Ocidente não acontece por
acaso.
A fragmentação da consciência e a falta de uma visão
abrangente do mundo são características da perceção
da realidade de uma criança. Afinal, as crianças vivem no seu
mundo, um mundo de jogos, de contos de fadas e de sonhos. Acabam por
desenvolver uma visão adulta do mundo, com base na experiência,
observando o que os rodeia segundo o que é a realidade.
2. O objetivo do sistema de ensino ocidental é criar crianças.
Crianças crescidas.
Os únicos adultos no sistema são os formados nas universidades
de elite que recebem um ensino a sério. Daí, a ingenuidade
espantosa dos ocidentais que caem facilmente em todo o tipo de absurdos, se
lhos repetirem na TV. Por exemplo, a ideia de que os EUA são um farol de
liberdade e democracia para todo o mundo, que, em vez de defenderem os seus
interesses, apenas procuram disseminar uma "liberdade" bastante
nebulosa.
Uma criança é fácil de convencer o segredo é
repetir-lhe uma história com convicção e energia. A
máquina da informação ocidental é convincente
porque regurgita o mesmo ponto de vista por toda a parte: não se
apresenta outro ponto de vista. Ocorre o mesmo efeito, quando uma
criança faz a mesma pergunta, primeiro à mãe, depois ao
pai e, finalmente à avó. Perante a mesma resposta, convence-se
que assim deve ser.
3. As crianças adoram brincar e divertir-se e a civilização
ocidental moderna amplia a brincadeira e o divertimento eternamente.
Há milhares de jogos e centenas de aplicações para
jogos. Há filmes, livros, redes e locais especiais para jogar. Faz-se
tudo para garantir que os adultos brinquem tanto quanto queiram. Será
importante para a sociedade e para a humanidade, no seu todo, que as pessoas
brinquem assim tanto? Qual é o objetivo da brincadeira para a
espécie humana? Não se prevê qualquer benefício. Mas
é conveniente poder governar indivíduos que só querem
divertir-se, como crianças. Esta tendência leva à
imaturidade. As pessoas não querem ter filhos não admira,
já que as crianças não constituem família nem
procriam. É-lhes desnecessário. Ter uma família e criar
filhos nossos geralmente deixa pouco tempo livre para os jogos e para o
"divertimento".
Estas três características da civilização ocidental
estão por trás da estratégia usada para manipular o
Zé Povinho.
Colocam-se com êxito, na cabeça dele, pensamentos coloridos e
fragmentados. Este Zé Povinho, homem-criança, o ocidental
médio, não tem uma compreensão real do que acontece e
está plenamente disposto a acreditar numa história, se ela for
bastante colorida e repetida bastantes vezes.
Então, como distinguir uma manipulação de uma
apresentação honesta dos factos?
1. Os manipuladores vão apelar às
nossas emoções,
usando os sentimentos e uma quantidade mínima de factos
para criar uma impressão falsa.
2. Os manipuladores vão apresentar os
factos na sequência errada,
violando a lógica, invertendo a causa e efeito. Vão mostrar,
invariavelmente, um fragmento do que está a acontecer, mas nunca o
quadro completo.
Reparem como as campanhas dos meios de comunicação ocidentais,
assim como as dos nossos liberais pró-ocidentais, que estão
ligados ao Ocidente por um cordão umbilical invisível, são
sempre fragmentadas e emotivas.
Em agosto de 2008, "eram todos georgianos". Noutra altura, estavam a
lutar contra a "tirania de Saddam Hussein". Uns anos depois,
"reinava grande liberdade na Ucrânia", quando queimaram e
apedrejaram a força policial desarmada "Berkut". Depois, de
repente, estão cheios de preocupações quanto ao destino de
Alepo, embora ainda ontem, não se preocupassem minimamente com o destino
de Donetsk ou de Damasco e de Homs. A seguir, metem os pés pelas
mãos quanto a "Putin a envenenar Litvinenko com
polónio", e ninguém se preocupa em saber se isto foi verdade
um método assim certamente já teria envenenado mais de uma
pessoa, possivelmente toda a cidade de Londres.
Colocam um pequeno fragmento de informações na boca do Zé
Povinho ocidental, um homem-criança, e embrulham-no numa bela imagem
televisiva. A imagem mostra camiões queimados, mas uma total
ausência de crateras de bombas. Todos os que veem acreditam que a imagem
mostra o resultado de um ataque da força aérea russa a uma coluna
humanitária. Ninguém denuncia o facto de que, se a coluna tivesse
sido realmente atingida por bombas aéreas, os camiões não
se tinham incendiado, teriam sido pulverizados. Mas a imagem é a cores
vivas e tão convincente!
Quem é o culpado pelo dilúvio de refugiados na Europa?
Obviamente, os dirigentes europeus que abriram as comportas do continente a
milhões de refugiados, principalmente do Afeganistão e de outros
países do Médio Oriente. Mas o que é que diz a
máquina de propaganda ocidental? A inundação de refugiados
é culpa da Rússia, porque esta dificulta o derrube de Assad. Se a
Rússia não tivesse interferido, a guerra já estaria
acabada e ninguém teria que fugir para a Europa. A mentira não
é apenas uma mentira óbvia, é uma dupla mentira: Se
anseiam pela paz na Síria, não apoiem quem a violou ou
seja, a "oposição". Há seis anos, não
havia refugiados sírios rumo à Europa, embora Bashar al-Assad
estivesse vivo e saudável como seu dirigente. As ações da
Rússia destinam-se a repor esse status quo anterior à guerra. Mas
a Rússia está a ser acusada pelo derramamento de sangue e pela
destruição da Síria e também pelo facto de uns 100
mil refugiados terem ido parar à Alemanha.
Quando o Pentágono ou o Departamento de Estado, muito a sério,
referenciam "provas do Facebook", não estão a gozar nem
a ser desonestos. Também eles foram educados PARA ISSO. É por
isso que alguns deles acreditam genuinamente que essas
informações são verdadeiras. Evidentemente, os adultos, a
mamã e o papá nunca mentiriam ao seu filhinho, não
é? Portanto, a criança acredita genuinamente que, se se recusar a
comer a sopa, aparecerá um papão assustador, zangado com a sua
falta de apetite com todas as consequências. A criança nem
sequer concebe a ideia de que não existe nenhum papão e que a
mãe o inventou, para atingir o seu objetivo prático (alimentar a
criança relutante). Um ocidental não pode acreditar que o filme
sobre "ataques russos a uma coluna humanitária" possa ter sido
fabricado, ou que o MI-6 possa ter envenenado Litvinenko com sais de
tálio, ou que os meios de comunicação ocidentais
desçam tão baixo como a mostrar "motins em Moscovo" com
palmeiras ao fundo (porque, na realidade, a cena passa-se com motins em
Atenas). Têm a certeza que um "país civilizado" nunca
entraria numa falsificação destas?
Assim, agora o Ocidente e a Quinta Coluna na Rússia "são
residentes de Alepo"
("Je suis Aleppo!"),
apesar de nenhum deles se importar com a Síria em geral e com Alepo em
particular. Só que, agora, os projetores do circo de
informações ocidentais estão virados para aquele lado.
Portanto, toda a gente olha obedientemente naquela direção,
observando apenas o que lhe mostram.
Mas não se preocupem, daqui a nada vão esquecer tudo sobre Alepo.
Vão mostrar-lhes e contar-lhes um conto assustador, novinho em folha, e
o infantil Zé Povinho vai acreditar nisso. Vão começar a
preocupar-se com alguém ou com qualquer coisa
até que a
máquina de propaganda ponha em destaque outros factos, noutro
país, deixando de noticiar a tragédia de Donbas ou das diversas
cidades da Síria, ou do Iémen, ou de centenas de outros locais do
planeta, cujas tragédias diárias recebem dos meios de
comunicação ocidentais apenas um frio encolher de ombros.
15/outubro/2016
O original encontra-se no
blogue de Nikolai Starikov
e a versão em inglês em
russia-insider.com/en/politics/how-western-propaganda-machine-works/ri17016
Tradução de Margarida Ferreira.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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