"Perseguição colectiva" a
Assange deve cessar, afirma perito da ONU
Um comunicado de imprensa que os media portugueses silenciaram
por Gabinete do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos
GENEBRA (31/Maio/2019) Um perito da ONU que visitou Julian Assange numa
prisão em Londres afirma temer que os seus direitos humanos possam ser
seriamente violados se ele for extraditado para os Estados Unidos e condena o
deliberado e concertado abuso infligido durante anos ao co-fundador da
Wikileaks.
"Minha mais urgente preocupação é que, nos Estados
Unidos, o Sr. Assange seria exposto a um risco real de sérias
violações dos seus direitos humanos, incluindo sua liberdade de
expressão, seu direito a um julgamento justo e a proibição
de tortura e outros tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes, bem
como punições", afirmou Nils Melzer, o Relator Especial da
ONU sobre tortura.
"Estou particularmente alarmado com o recente anúncio pelo
Departamento de Justiça dos EUA de 17 novas acusações
contra o Sr. Assange sob a Lei da Espionagem, a qual actualmente prevê
até 175 anos de prisão. Isto pode resultar numa sentença
de prisão perpétua sem liberdade condicional, ou possivelmente
mesmo a pena de morte, se novas acusações forem acrescentadas no
futuro", disse Melzer, o qual reiterou também
preocupações quanto à saúde de Assange.
Embora Assange não seja mantido em confinamento solitário, o
Relator Especial disse que está gravemente preocupado com a
frequência e duração limitada das visitas de advogados e de
que a sua falta de acesso aos ficheiros e documentos do processo tornem
impossível para ele preparar adequadamente a sua defesa em qualquer dos
complexos processos judiciais que se acumulam contra ele.
"Desde 2010, quando a Wikileaks começou a publicar provas de crimes
de guerra e de tortura cometidos pelas forças dos EUA, temos assistido a
um esforço sustentado e concertado de vários Estados para
conseguir que o Sr. Assange seja extraditado para os Estados Unidos para
processo, o que levanta preocupações sérias sobre a
criminalização do jornalismo investigativo em
violação tanto da Constituição dos EUA como da lei
internacional dos direitos humanos", disse Melzer.
"Desde então, tem havido uma implacável e desenfreada
campanha de assédio público, intimidação e
difamação contra Assange, não só nos Estados Unidos
como também no Reino Unido, Suécia e, mais recentemente, no
Equador". Segundo o perito, isto incluiu um fluxo infindável de
declarações humilhantes, degradantes e ameaçadoras na
imprensa e nos medias sociais, assim como de figuras políticas
importantes e até mesmo magistrados judiciais envolvidos em processos
contra Assange.
"No decorrer dos últimos nove anos o Sr. Assange tem sido exposto a
abuso persistente e cada vez mais severo que vai da perseguição
judicial sistemática e arbitrária até o confinamento na
embaixada equatoriana, ao seu isolamento opressivo, importunação
e vigilância dentro da embaixada e de deliberado ridículo
colectivo, insultos e humilhação, para dar azo a
instigação de violência e mesmo apelos repetidos ao seu
assassínio".
Durante a sua visita à prisão em 9 de Maio Melzer foi acompanhado
por dois peritos médicos especializados no exame de vítimas
potenciais de tortura e outros maus tratos.
A equipe pôde falar com Assange confidencialmente e efectuar uma
avaliação médica completa.
"Era óbvio que a saúde do Sr. Assange fora seriamente
afectada pelo ambiente extremamente hostil e arbitrário a que tem estado
exposto durante muitos anos", disse o perito. "O mais importante, em
acréscimo a sofrimentos físicos, o Sr. Assange mostrou todos os
sintomas típicos de prolongada exposição à tortura
psicológica, incluindo extrema tensão, ansiedade crónica e
trauma psicológico intenso".
"A evidência é esmagadora e clara", afirmou o perito.
"O Sr. Assange tem sido deliberadamente exposto, por um período de
vários anos, a formas progressivamente severas de tratamento ou
punição cruel, desumana ou degradante, cujos efeitos cumulativos
só podem ser descritos como tortura psicológica.
"Condeno, nos mais fortes teremos, o abuso deliberado, concertado e de
natureza constante infligidos ao Sr. Assange e deploro seriamente o fracasso
constante de todos os governos envolvidos para tomar medidas a fim de proteger
seus direitos humanos mais fundamentais e sua dignidade", declarou o
perito. "Ao exibir uma atitude de complacência, na melhor das
hipóteses, e de cumplicidade, na pior, estes governos criaram uma
atmosfera de impunidade que encoraja o aviltamento e abuso sem limites do Sr.
Assange".
Em cartas oficiais enviadas antes desta semana, Melzer instou os quatro
governos envolvidos a coibirem-se de disseminar, instigar ou tolerar
declarações ou outras actividades prejudiciais aos direitos
humanos e dignidade do Sr. Assange e a tomarem medidas para proporcionar-lhe o
adequado alívio e reabilitação pelo dano passado. Ele mais
uma vez apelou ao Governo Britânico para não extraditar Assange
para os Estados Unidos ou para qualquer outro Estado que falhe em proporcionar
garantias confiáveis contra a sua adiantada transferência para os
Estados Unidos. Ele também recordou ao Reino Unidos a sua
obrigação de assegurar o acesso desimpedido de Assange a
conselhos legais, documentação e preparação
adequada proporcional à complexidade dos processos pendentes.
"Em 20 anos de trabalho com vítimas de guerra, violência e
perseguição política nunca vi um grupo de Estados
democráticos confabulados para deliberadamente isolar, demonizar e
abusar de um indivíduo isolado por tão longo tempo e com
tão pouco respeito pela dignidade humana e a regra da lei", afirmou
Melzer. "A perseguição colectiva de Julian Assange deve
acabar aqui e agora!"
O Sr. Nils Melzer,
Special Rapporteur on torture and other cruel, inhuman or degrading treatment or punishment
(Relator especial sobre tortura e outros tratamentos ou punições
crueis, desumanos e degradantes); faz parte do que é conhecido como os
Special Procedures
do Conselho de Direitos Humanos. Special Procedures, o maior corpo de peritos
independentes no sistema de Direitos Humanos das Nações Unidas,
é o nome geral dos mecanismos de apuramento independente de factos e
monitoração do Conselho que trata ou de situações
específicas de país ou de questões temáticas em
toda a parte do mundo. Os peritos do Special Procedures trabalham numa base
voluntária; eles não são funcionários da ONU e
não recebem um salário pelo seu trabalho. Eles são
independentes de qualquer governo ou organização e actuam na sua
capacidade individual.
Para mais informação e solicitações do media, favor
contactar o Sr. Christophe Peschoux,
+41 22 917 9381
/
cpeschoux@ohchr.org
).
Para investigações do media relativas a outros peritos
independentes da ONU contactar por favor Jeremy Laurence,
UN Human Rights Media Unit
(+41 22 917 9383
/
jlaurence@ohchr.org
).
Démasquer la torture de Julian Assange
, de Nils Melzer
Este comunicado de imprensa do Gabinete do Alto Comissariado das
Nações Unidas para os Direitos Humanos encontra-se em
https://www.ohchr.org/EN/NewsEvents/Pages/DisplayNews.aspx?NewsID=24665&LangID=E
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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