De MAS a menos:

O grande salto atrás

por Guillermo García Ponce [*]

Há poucos dias, muito silenciosamente, solitário, o MAS (Movimiento hacia el Socialismo) cumpriu os 33 anos do seu nascimento. Contrasta com a euforia do 19 de Janeiro de 1971. Então, rodeado por uma briosa juventude ansiosa por mudanças revolucionárias e apadrinhada por lutadores veteranos que foram dirigentes emblemáticos do Partido Comunista da Venezuela, o partido recém nascido prometeu enfrentar "o capitalismo oligárquico, não dar tréguas aos instrumentos do reformismo burguês e construir uma alternativa socialista". Em meio à admiração da intelectualidade de esquerda, desde o caricaturista Zapata até o prémio Nobel Gabriel Garcia Marquez, o MAS declarou que nascia para "libertar a Venezuela e construir uma poderosa força social capaz de derrubar a dominação norte-americana e da oligarquia venezuelana".

Era natural que grandes sectores da população, especialmente os jovens, brindassem uma entusiástica acolhida ao partido emergente. Mais ainda quando os fundadores, Pompeyo Márquez, Teodoro Petkoff, Freddy Muñoz, dentre outros subscritores da declaração, afirmavam: "somos uma força internacionalista solidária de todos os combatentes que em qualquer lugar do mundo fazem da luta pela libertação nacional e o socialismo o objectivo da sua vida".

O que se passou? Por que essa solidão actual? Onde estão aqueles que em 19 de Janeiro de 1971 afirmavam: "Na América Latina verificou-se o fracasso histórico das diferentes formas de reformismo burguês e da sua expressão institucional: a democracia representativa". Para onde foram?

Com o MAS verificou-se o maior salto político para trás que conhecemos. Desde as suas origens, há 33 anos, até hoje não transcorreu muito no tempo; mas, no campo político e ideológico, que distância enorme! Do nascente partido que elevava a voz para declarar-se como uma força revolucionária, anti-imperialista, socialista e internacionalista a essa formação híbrida, em decadência, a reboque da ultradireita golpista, atolada num debate sobre se apoia Enrique Mendoza, ou Juna Fernández, ou Carlos Ortega ou os jovens fascistas de Primero Justicia. Que destino!


[*] Jornalista e político venezuelano. Director do DIARIO VEA . Preside o Comando Político da Revolução Bolivariana

Fonte: ALTERCOM .


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25/Jan/04