por Andre Vltchek
Os americanos estão furiosos. Suspeitei que estariam, mas obtive a
confirmação em Miami, Washington D.C., Baltimore, Minneapolis,
Nova York e Boston. Basicamente, em todos os lugares em que estive enquanto
"tomava o pulso e a temperatura" ao país onde vivi
mais de uma década.
"Qual é o seu trabalho?" Gritou-me uma senhora afro-americana,
bem no meio da Union Station, na capital do país. Obviamente, foi uma
pergunta retórica, já que ela respondeu quase imediatamente
à sua própria pergunta: "Não há
empregos!"
O Sr. Floyd foi assassinado por policiais perversos e sádicos
[1]
. A economia está a entrar em colapso, pelo menos para os pobres e a
classe média. A pandemia COVID-19 é como uma montanha-russa, para
cima e para baixo, sem fim à vista.
As pessoas estão confusas, enquanto o governo está cada vez mais
agressivo. Grande parte dos chamados "media progressistas" não
se comportam progressivamente. O racismo às vezes é combatido com
novos tipos de racismo. Movimentos anti-racistas são periodicamente
infiltrados por grupos de extrema-direita, como testemunhei em Minneapolis.
O governo dos EUA está basicamente atacando países como a China,
Venezuela e Irão. Não apenas verbalmente, mas militarmente.
E a razão pela qual nosso mundo não está no meio da
Terceira Guerra Mundial, ainda, é por causa da tremenda
contenção e sabedoria dos adversários dos EUA.
Mas o país está sem empregos, sem política coerente de
como lutar contra o COVID-19 e sem unidade nacional no momento do desastre. O
que tenho testemunhado até agora foram algumas acções
limitadas e inconsistentes por parte dos governos (federal e estaduais), bem
como a confusão resultante de soluções tímidas e
inconsistentes. Bem ao contrário do que verifiquei na Ásia, seja
em países socialistas como a China (RPC) e o Vietname, mas também
em nações distantes do socialismo como a Tailândia, Coreia
do Sul, Filipinas.
Basta uma rápida verificação da realidade e fica claro que
o sistema dos EUA fracassou, completa e claramente: 30 milhões de
pessoas desempregadas desde o início da pandemia. Três
milhões de infectados e provavelmente, agora, muito mais. Mais de 130
mil cidadãos americanos perderam a vida
[2]
. Claro, tudo depende de como é calculado o número total de
vítimas. Mesmo assim, não importa como seja feito mesmo
que os
números mais baixos estejam correctos os Estados Unidos são o
país mais afectado do planeta, o que é lamentável
considerando que ainda é um dos mais ricos.
A administração Trump está, é claro, ciente de tudo
isto e, apenas alguns meses antes das eleições presidenciais,
procura desesperadamente alguém para culpar por este enorme desastre
nacional. O presidente e seus homens apontam o dedo freneticamente em todas as
direcções: da China à Organização
Mundial da
Saúde. Do Partido Comunista da China, ao presidente Maduro, aos
governadores dos Estados Unidos e àqueles poucos membros
"desobedientes" dos media que ainda ousam, pelo menos ocasionalmente,
desafiar a narrativa oficial.
As teorias da conspiração são abundantes.
Manifestações e protestos ocorrem por todo o país. Na
cidade de Nova York, a taxa de homicídios aumentou. Sirenes uivam. As
pessoas proferem clichés: "Siga o dinheiro",
ouço por
toda parte.
A quem culpar? Um regime inepto? Capitalismo desactualizado, monstruoso?
Grandes empresas? Sistema de educação de baixíssima
qualidade? As pessoas não sabem. Enquanto isto, os "falsos
profetas" prosperam.
O governo, os meios de comunicação de massa, bem como a grande
maioria dos chamados meios de comunicação ditos
"progressistas" (não se confunda com os media de esquerda, que
quase não existem nos Estados Unidos), culpam a China socialista, a
Rússia, o Irão e outros países de orientação
independente.
Esta é claramente uma luta política. A pandemia existe, mas para
a Casa Branca nada mais é que ruído de fundo. O regime dos EUA
luta pela sua sobrevivência. Trump está em confronto com
vários países estrangeiros, os que têm uma ideologia
realmente de esquerda.
Muito está em jogo. Toda a sobrevivência do sistema está
agora em questão. Se esse terrível esquema desmoronasse, o mundo
inteiro se alegraria; isso o beneficiaria. Mas a maioria dos norte-americanos
perderia. Mesmo aqueles que gostam de se pintar como "progressistas"
ou "diferentes" ou "também vítimas". E assim,
existem milhares de conspirações destinadas a desacreditar a
fúria que se seguiu à morte do Sr. Floyd. E existem
inúmeras teorias sobre as origens da pandemia, bem como a sua
gestão ou, mais precisamente, má gestão.
Tanto para Trump quanto para seus oponentes do Partido Democrata, é
absolutamente essencial desacreditar moral e socialmente países muito
mais bem-sucedidos como China, Rússia e até Cuba.
Um tsunami monstruoso de propaganda foi desencadeado nos Estados Unidos, mas
também no Reino Unido. É sem precedentes e avassalador. Vozes
alternativas são silenciadas. A censura, mesmo entre as chamadas
publicações ocidentais "alternativas", é
à prova de bala. E tudo aconteceu literalmente durante a noite.
Há apenas dois ou três meses, os meus ensaios costumavam sair em
pelo menos 20 grandes
outlets
nos Estados Unidos e Canadá, agora são no máximo cinco
que ousam.
Meu ângulo internacionalista de esquerda não mudou em nada.
Mas suas verdadeiras cores foram expostas. Porém, o meu trabalho tem
obtido grande apoio em países não ocidentais. Isso diz muito
sobre a situação!
Mas voltando a Trump. Ele ataca países estrangeiros, horrorizado por as
pessoas verem o quão otimistas e compassivas algumas
nações são. Mas também hostiliza aqueles que agora
derrubam estátuas, símbolos de fanáticos ocidentais,
responsáveis genocidas, proprietários de escravos e
conquistadores. Sem mencionar os trabalhadores da saúde, que se atrevem
a pintar um quadro desolador (leia-se: realista) e o exortam a colocar os
interesses das pessoas acima dos da economia, em particular do sector privado.
Em 8 de julho de 2020, a CNN relatou:
"Cinco meses após o início de uma pandemia ainda violenta
que matou mais de 130 mil americanos, as tensões de longa data entre o
presidente Donald Trump e os especialistas em saúde que trabalham no seu
governo escalaram de reclamações privadas e desacordos
tímidos para uma disputa aberta. O resultado, dizem as pessoas dessas
agências, é um novo senso de desmoralização à
medida que continuam as suas tentativas de lutar contra uma crise de
saúde que ocorre uma vez em cada geração, enquanto
simultaneamente se navega segundo os caprichos de um presidente que demonstrou
pouco interesse ou compreensão pelo seu trabalho".
"Que Trump não confia nem segue o conselho de especialistas como o
Dr. Anthony Fauci, o maior especialista em doenças infecciosas do
país, não é novidade. O presidente não comparece a
uma reunião do seu grupo de trabalho contra o coronavírus
há meses e, recentemente, as sessões foram realizadas fora da
Casa Branca, inclusive quarta-feira na sede do Departamento de
Educação. Fauci recebeu instruções para participar
na reunião por videoconferência, impedindo-o de participar na
conferência de imprensa coletiva. ... "
Nada de novo. Só que até a CNN, um dos porta-vozes do regime,
finalmente está a perceber!
É tudo uma questão de espalhar o niilismo, tanto em frentes
domésticas como estrangeiras. A China é atacada da maneira mais
extrema, irracional e até bizarra pelo presidente Trump e pela sua
equipa, mas também pelos seus adversários do Partido Democrata.
Depois de vencer a luta contra o COVID-19, a RPC, foi responsabilizada por
virtualmente tudo, desde reter dados, influenciar negativamente a OMS e
até mesmo pela fabricação do vírus num dos seus
laboratórios baseados em Wuhan e depois espalha-lo por toda parte. A
Casa Branca tem-lhe chamado o "vírus chinês", embora
ninguém saiba ainda ao certo, onde realmente se originou. Naturalmente,
Pequim e toda a China ficaram indignadas.
Nenhuma das acusações do governo dos EUA foi comprovada.
Alegações após alegações foram
ridicularizadas pela comunidade médica e científica dos Estados
Unidos e, frequentemente, por universidades. Mas o governo já foi longe
demais e é claramente incapaz de parar seus próprios ataques.
Ignora o ridículo, esperando que sua retórica machista, vulgar e
provinciana atraia certos grupos extremistas e crédulos da
população e ganhe o segundo mandato.
Analisando a revolta que se seguiu ao assassinato do Sr. George Floyd (que
aconteceu ser COVID-19 positivo), falei com dezenas de americanos de todas as
raças e posições sociais. A maioria deles ficou indignada
com a forma como o governo lida com a epidemia e os distúrbios. Nenhuma
pessoa com quem falei realmente culpou a China ou qualquer outro país
estrangeiro, directamente, pela terrível situação nos
Estados Unidos.
A retórica anti-chinesa é claramente um futebol político
jogado por republicanos e democratas. O mesmo vale para os sentimentos
anti-russos, incluindo a depreciação da ajuda externa russa
enviada aos Estados Unidos, logo no início da pandemia.
A estratégia do governo dos EUA é simples, alguns diriam
primitiva: "Seja o que for que aconteça de terrível
dentro
do país, basta contra-atacar e culpar os adversários
políticos por tudo e, se não se puder, ataquem-se países
estrangeiros: China, Rússia, até mesmo Irão ou Venezuela.
Ou agências das Nações Unidas, como a OMS. Enviem-se
insultos para todos os cantos do mundo e também navios de guerra".
Muito está errado nos EUA, muito, muito errado. Barracas dos sem abrigo
agora podem ser vistas por todo o centro de Washington D.C. A Casa Branca foi
convertida numa fortaleza. E enquanto milhões de americanos marcham,
protestando contra o racismo endémico e a discriminação, o
KKK e seus afiliados como os
Proud Boys
, queimam cidades e infiltram-se em legítimas
manifestações anti-racistas (algo que irei
abordar em breve nos meus ensaios).
As imagens são apocalípticas. A situação é
explosiva.
Este é um dos momentos mais perigosos da história mundial. Mas,
surpreendentemente, não está sendo escrito muito sobre a
urgência e a ameaça que nosso planeta enfrenta!
NT
[1] A autópsia revelou que Floyd tinha uma overdose do opióide
Fentanyl, o qual poderá ter sido a
causa mortis.
Ver artigo de Paul Craig Roberts:
Tucker Carlson Announces George Floyd Fatally Overdosed with Fentanyl...
[2] Em 08 Agosto, o total de casos COVID-19 nos EUA era de 5 144 728;
com 164 986 mortes e 498 mortes por milhão de habitantes. (
https://www.worldometers.info/coronavirus/
)
O original encontra-se em
www.informationclearinghouse.info/55366.htm
. Negritos da responsabilidade do tradutor.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.