O petróleo que comemos
Seguindo a cadeia alimentar até o Iraque
por Richard Manning
[*]
O segredo de uma grande riqueza com nenhuma fonte óbvia é algum
crime esquecido porque foi cometido de modo impecável.
-- Balzac
A regra dos jornalistas diz: siga o dinheiro. Esta regra, contudo, não
é realmente axiomática e sim um corolário pois o dinheiro,
como até o nosso vice-presidente poderá confirmar, é na
verdade um meio de ir ao encalço da energia. Nós seguiremos a
energia.
Aprendemos em criança que não há almoços gratuitos;
que não se pode obter alguma coisa a partir do nada; que o que sobe
deve descer, e assim por diante. A versão científica destas
verdades é apenas ligeiramente mais complexa. Como descobriu James
Prescott Joule no século XIX, há apenas um tanto de energia.
Você pode mudá-la de movimento para calor, de calor para luz, mas
nunca haverá mais nem nunca haverá menos dela. A
conservação da energia não é uma
opção, é um facto. Esta é a primeira lei da
termodinâmica.
Ainda que os humanos sejam especiais, não podemos fugir às
regras. Todos os animais comem plantas ou comem animais que comem plantas.
Isto é a cadeia alimentar, e a atracção é a
capacidade única das plantas de transformar a luz do sol em energia
armazenada sob a forma de carbohidratos, o combustível básico de
todos os animais. A fotosíntese da luz do sol é o único
meio de fabricar este combustível. Não há alternativa
para a energia das plantas, assim como não há alternativa para o
oxigénio. Os resultados da eliminação da energia que
obtemos das plantas podem não ser tão súbitos como o do
corte do oxigénio, mas eles são inevitáveis.
Os cientistas dão um nome à quantidade total da massa de plantas
criada pela Terra num dado ano, que é o orçamento total para a
vida. Eles chamam a isto a "produtividade primária" do
planeta. Houve duas tentativas de descobrir como é gasta tal
produtividade, uma de um grupo na Universidade de Stanford e outra de uma
contagem independente efectuada pelo biólogo Stuar Pimm. Ambas concluem
que nós humanos, uma espécie única entre milhões,
consumimos 40 por cento da produtividade primária da Terra, 40 por cento
de tudo o que há. Este simples número pode explicar porque a
actual taxa de extinção é 1000 vezes [maior] daquela que
existiu antes do domínio humano sobre o planeta. Nós 6 mil
milhões simplesmente roubámos a comida, os ricos entre nós
roubaram um bocado mais do que os outros.
A energia não pode ser criada ou eliminada, mas pode ser concentrada.
Este é o contexto mais amplo e profundo que explica um memorando sobre
segurança nacional escrito por George Kennan 1948, quando era
responsável por um comité de planeamento do Departamento de
Estado. Aparentemente é acerca da política asiática mas
na verdade é acerca de como os Estados Unidos deveriam actuar no seu
novo papel de força dominante da Terra. "Temos cerca de 50 por
cento da riqueza do mundo mas apenas 6,3 por cento da sua
população", escreveu Kennan. "Em tal
situação, não poderemos deixar de ser objecto de inveja e
ressentimento. Nossa tarefa real no período vindouro é conceber
um padrão de relacionamento que nos permita manter esta
posição de disparidade sem prejudicar a nossa segurança
nacional. Para conseguir isso teremos de dispensar quaisquer sentimentalismos
e devaneios; nossa atenção terá concentrar-se em todos os
aspectos dos objectivos nacionais imediatos. Precisamos não nos enganar
a nós próprios com a ideia de que podemos permitir-nos hoje o
luxo do altruísmo e da beneficência mundial".
"Não está longe o dia", concluiu Kennan, "em que
teremos de tratar [o mundo] em termos de conceitos de poder directo".
ARROZ, MILHO, TRIGO
Se você seguir a energia, acabará finalmente num campo algures.
Os humanos empenham-se num vertiginoso conjunto de artifícios e
indústria. No entanto, mais de dois terços da humanidade depende
dos resultados da produtividade primária da agricultura, dois
terços do quais por sua vez consistem em três plantas: arroz,
trigo e milho. Nos 10 mil anos decorridos desde que os humanos domesticaram
estes grãos, o seu status permaneceu em toda plenitude, mais
provavelmente porque os mesmos são capazes de armazenar energia solar em
maços densos e transportáveis de carbohidratos de uma forma
única. Eles são para a vegetação mundial aquilo
que um barril de petróleo refinado representa para os hidrocarbonetos
mundiais. Na verdade, com excepção dos hidrocarbonetos,
são a mais concentrada forma de riqueza verdadeira a energia do
sol encontrável sobre o planeta.
Como reconheceu Kennan, entretanto, a manutenção de uma tal
concentração de riqueza muitas vezes exige acções
violentas. A agricultura é um experimento humano recente. Durante a
maior parte da história humana vivemos da colecta ou da matança
de uma vasta variedade de bens da natureza. A razão porque os humanos
poderão ter mudado esta abordagem para as complexidades da agricultura
é uma questão interessante e debatida há muito,
especialmente porque a evidência esquelética indica claramente que
os agricultores primitivos eram alimentados mais pobremente, mais sujeitos a
doenças e deformados do que os seus contemporâneos
caçadores-colectores. A agricultura não melhorou a maior parte
das vidas. A evidência que melhor aponta para a resposta, penso eu, jaz
na diferença entre as aldeias agrícolas primitivas e as suas
equivalentes pré-agrícolas a presença não
apenas de grão mas de celeiros e, de forma mais reveladora, de apenas
umas poucas casas significativamente maiores e mais enfeitadas do que todas as
outras anexas àqueles celeiros. A agricultura era não tanto uma
questão de comida e sim uma questão de acumulação
de riqueza. Ela beneficiou alguns humanos, e aquelas pessoas ficaram nas
chefias desde então.
A domesticação também foi uma mudança radical na
distribuição de riqueza no interior da vegetação.
As plantas podem dispender o seu rendimento solar de vários modos. A
estratégia dominante e prudente é atribuir a maior parte delas
à construção de raízes, troncos, cascas uma
carteira de investimentos conservadora que permita à planta melhor
reunir energia e sobreviver nos anos maus. Além disso, ao viver em
diversas posturas (um dado bocado de pradaria nativa talvez contenha umas 200
espécies de plantas), estas plantas perenes proporcionam serviços
para outras, tais como reter água, protegerem-se umas às outras
do vento, e fixar nitrogénio livre do ar para utilizar como
fertilizante. A diversidade permite a um sistema "promover a sua
própria fertilidade", para usar uma frase do agrónomo
visionário Wes Jackson. Isto é a norma mundial das plantas.
Há um grupo muito estreito de plantas anuais, contudo, que crescem em
manchas de espécies únicas e armazenam quase todo o seu
rendimento enquanto semente, num fardo compactado de carbohidratos facilmente
exploráveis por comedores de sementes como nós próprios.
Sob circunstâncias normais, esta estratégia de por todos os ovos
num cesto é uma ideia tola para uma planta. Mas não durante
catástrofes tais como inundações, incêndios e
erupções vulcânicas. Tais catástrofes varrem as
comunidades de plantas estabelecidas e criam oportunidades para o vento
espalhar sementes portadoras de espírito empresarial. Não
é por acidente que não importa onde a agricultura tenha
florescido no globo, isto sempre aconteceu próximo a rios. Pode-se
assumir, como muitos o fizeram, que isto se verifica porque as plantas precisam
da água ou de nutrientes. Na maioria das vezes não é
verdade. Elas precisam do poder da inundação, a qual limpa
paisagens e afasta competidores. Não é por acaso, penso, que a
agricultura cresce independentemente e simultaneamente por todo o globo assim
que termina a última era glacial, um tempo de enorme reviravolta quando
o gelo glacial fundiu-se formando grandes lagos que criaram ondas de
erosão. Foi um tempo de catástrofe.
O milho, o arroz e o trigo são especialmente adaptados à
catástrofe. Este é o seu nicho. No esquema natural das coisas,
uma catástrofe criaria um quadro em branco, um solo nu, o que era bom
para elas. Então, sob circunstâncias normais, a sucessão
rapidamente preencheria aquela nicho. As plantas anuais colonizariam. As suas
raízes estabilizariam o solo, acumulariam matéria orgânica,
proporcionariam cobertura. Finalmente o nicho catastrófico
fechar-se-ia. A agricultura é o processo de lavrar aquele nicho aberto
muitas e muitas vezes. É uma catástrofe anual artificial e exige
o equivalente a três ou quatro toneladas de TNT por acre (4047 m
2
) numa moderna propriedade agrícola americana. Os campos de Iowa exigem
a energia de 4000 bombas de Nagasaki por ano.
Quase toda Iowa agora é campo. Pequenas pradarias subsistem, aquilo a
que os iowanos chamam um "selo postal" remanescente, muito
provavelmente a confinar com um campo de milho. Isto permite uma
observação. Passeie da pradaria para o campo e provavelmente
descerá cerca de seis pés (1,8 m), como se a terra houvesse sido
roubada debaixo de si. Relatos de colonizadores que conquistaram a pradaria
mencionam um som, uma série de estouros, como tiros de pistolas, o som
de robustas raízes a romperem-se perante as lâminas do arado
(moldboard plow).
Um esbulho estava em andamento.
Quanto dizemos que o solo é rico, isto não é uma
metáfora. Ele é tão rico em energia quanto um poço
de petróleo. Uma pradaria converte energia para flores, raízes e
caules, os quais por sua vez retornam ao solo como matéria
orgânica morta. As camadas do topo do solo acumularam um rico
repositório de energia, um banco. Um campo agrícola apropria-se
daquela energia, transforma-a em sementes que podemos comer. Grande parte da
energia move-se da terra para os anéis de gordura em torno das nossas
nucas e cinturas. E muita da energia é simplesmente
desperdiçada, um rasto de dólares a escapar do saco do
ladrão.
Já mencionei que nós humanos tomamos 40 por cento da
produtividade primária do globo a cada ano. Você pode ter suposto
que nós e o nosso gado comemos todo aquele volume, mas não
é o caso. Parte daquele total quase um terço dele
é o potencial da massa de plantas perdidas quando florestas são
derrubadas para a agricultura ou quando florestas de chuva tropical são
cortadas para serem transformadas em pasto ou quando arados destroem a trama
profunda de raízes de pradaria que mantêm todo o negócio
junto, disparando a erosão. O Dust Bowl
[1]
não foi um acidente da natureza. Uma pradaria de pasto em funcionamento
produz mais biomassa por ano do que o faz o mais tecnologicamente
avançado dos campo de trigo. O problema é que na maior parte sob
a forma de uma erva que os humanos não podem comer. Assim,
substituímos a pradaria com a nossa própria erva preferida, o
trigo. Não importa que alimentemos a maior do nosso gado com cereais, e
que o gado fique perfeitamente satisfeito em comer ervas nativas. E não
importa que ali provavelmente houvesse mais bisontes produzidos naturalmente
sobre as Grandes Planícies antes da agricultura do que todo o bife que
os agricultores hoje criam na mesma área. Nossos ancestrais achavam
preferível retirar a energia do solo e moverem-se quando ela desaparecia.
Hoje fazemos o mesmo, só que agora, quando o cofre está vazio,
nós o enchemos outra vez com nova energia na forma de fertilizantes
ricos em petróleo. O petróleo é produtividade
primária anual armazenada como hidrocarbonetos, um fundo
fiduciário
(trust fund)
de pouco valor, acumulado ao longo de muito milhares de anos. Em
média, gasta-se 5,5 galões (20,8 litros) de energia fóssil
para restaurar o valor da fertilidade anual perdida num acre (4047 m
2
) de terra erodida em 1997 queimámos directamente o valor de mais
de 400 anos de antiga produtividade fossilizada, a maior parte dela proveniente
de lugares distantes. Quando a terra debaixo de Iowa encolhe-se, está a
ser globalizada.
Seis mil anos antes de agricultores
(sodbusters)
irromperem em Iowa, seus ancestrais caucasianos irromperam na planície
húngara, uma área a noroeste das Montanhas do Cáucaso. Os
arqueólogos denominam esta tribo como LBK, abreviatura para
linearbandkeramik,
a palavra alemã que descreve a cerâmica inconfundível
que marca a sua ocupação da Europa. Os antropólogos
chamam-nos o povo trigo-bife, um nome que liga melhor aqueles povos antigos ao
longo do Danúbio com os meus companheiros de Montana na parte alta do
Rio Missouri. Estes proto-europeus tinham um conjunto completo de plantas e
animais domesticados, mas o trigo e o bife dominavam. Todos os domesticados
provinham de uma área ao longo do que é agora a fronteira da
Iraque-Síria-Turquia que orla as Montanhas Zagros. Este foi o centro de
domesticação das principais plantações e gado vivo
do mundo ocidental, o marco zero da agricultura catastrófica.
Dois outros tipos de agricultura catastrófica evoluíram
aproximadamente ao mesmo tempo, uma centrada sobre o arroz no que é
agora a China e a Índia e outra centrada sobre o milho e as batatas na
América Central e do Sul. O arroz é tropical e sua
expansão depende da água, de modo que desenvolveu-se apenas em
planícies inundáveis, estuários e pântanos. A
agricultura do milho era tão voraz quanto a do trigo; os aztecas podiam
ser tão brutais e imperialistas quanto os romanos ou os
britânicos, mas as culturas do milho entraram em colapso com a
carnificina da conquista espanhola. O próprio milho simplesmente
juntou-se à coligação do povo do trigo-bife. O trigo era
o construtor do império; seus reduzidos factos botânicos ditavam
o movimento e a violência que conhecemos como imperialismo.
O povo do trigo-bife passou rapidamente através das planícies da
Europa ocidental, em menos de 300 anos, uma conquista que alguns
arqueólogos chamam de "blitzkrieg". Uma raça diferente
de humanos, os Cromagnons caçadores-colectores, não
agricultores vivia naquelas planícies ao tempo. Sua arte em
cavernas em lugares tais como Lascaux testemunha o seu refinamento e
ligação profunda à fauna selvagem. Eles provavelmente
realizavam a maior da sua caça e colecta em terras altas e em rios,
lugares que os agricultores do trigo não necessitavam, o que sugere a
possibilidade da coexistência. Contudo, não foi o que aconteceu.
Tanto a evidência genética como a linguística indica que os
agricultores mataram os caçadores. O povo basco é provavelmente
o único remanescente que descende dos Cromagnons, o único sinal.
Os sítios arqueológicos do período de
caçadores-colectores contêm pontas de lança afiadas que
originalmente pertenciam aos agricultores, e podemos imaginar que não
eram bens comerciais. Um grupo de antropólogos concluiu: "A
evidência da extensão ocidental dos LBK deixa pouco espaço
para qualquer outra conclusão a não ser que as
interacções LBK-Mesolíticas foram na melhor das
hipóteses gélidas e na pior hostis". Os sobreviventes do
mundo do Pés Pretos, Sioux Assiniboine, Incas e Maori provavelmente
têm a melhor ideia do que foi a natureza destas interacções.
O trigo é temperado e prefere campos arados. O globo tem um stock
limitados de campos temperados, assim como um stock limitado de todos os outros
biomas. Em média, cerca de 10 por cento de todos os outros biomas
permanece hoje em algo como o seu estado nativo. Apenas 1 por cento dos campos
temperados permanecem não destruídos. O trigo toma tudo o que
precisa.
A oferta de campos temperados jaz no que são hoje os Estados Unidos, o
Canadá, os pampas sul-americanos, Nova Zelândia, Austrália,
África do Sul, Europa e a extensão asiáticas da
planície europeia dentro das estepes sub-siberianas. Isto descreve
amplamente o Primeiro Mundo, mundo desenvolvido. Campos temperados constituem
não só o habitat do trigo e do bife como também as ilhas
do globo de caucasianos, com sobrenomes e línguas europeias. No ano
2000 os países dos campos temperados, os neo-europeus, representavam
cerca de 80 por cento de todas as exportações de trigo do mundo,
e cerca de 86 por cento de todo comércio. Isto quer dizer que os
neo-europeus dirigem a agricultura do mundo. O domínio não se
limita aos cereais. Estes países, mais a mãe Europa
representavam três quartos de todas as exportações
agrícolas do mundo em 1999.
Platão escreveu acerca dos agricultores do seu país: O que agora
resta das terras anteriormente ricas é como que o esqueleto de um homem
doente. Antigamente, muitas das montanhas eram aráveis. A
planícies que estavam repletas de solo rico agora são
pântanos. Colinas que outrora estavam cobertas com florestas e produziam
pasto abundante agora produzem apenas alimentos para abelhas. Outrora a terra
era enriquecida por chuvas anuais, as quais não eram perdidas, como
são agora, ao fluírem da terra nua para o mar. O solo era
profundo, absorvia e mantinha a água em terra argilosa, e a água
que era absorvida nas colinas alimentava ribeiros e água corrente por
toda a parte. Agora os santuários abandonados em pontos onde outrora
houve ribeiros confirmam que nossa descrição da terra é
verdadeira.
O lamento de Platão está enraizado na agricultura do trigo, a
qual esgotou o solo do seu país e posteriormente provocou as
séries de declínios que empurraram os centros de
civilização para Roma, Turquia e Europa ocidental. No
século V, contudo, a estratégia do trigo de esgotar e mover-se
para a frente deparou-se com o Oceano Atlântico. A agricultura confinada
do trigo é como a agricultura do arroz. Ela equilibra suas
equações com a fome. No milénio entre 500 e 1500 a
Grã-Bretanha sofreu uma grande fome "correctiva" a cada dez
anos; houve 75 em França durante o mesmo período. A
incidência, contudo, caiu agudamente quando a colonização
trouxe um influxo de novos alimentos para a Europa.
As novas terras tinham um efeito ainda maior sobre os próprios
colonizadores. Thomas Jefferson, num jantar em Paris, depois de aguentar uma
palestra dos seus hospedeiros acerca da natureza rústica, salientou que
todos os americanos presentes eram uma boa cabeça mais altos do que os
franceses presentes. Na verdade, todos os colonizadores de origem europeia
desfrutavam de maior estatura e longevidade, bem como mais baixa taxa de
mortalidade infantil indicadores da melhor nutrição
permitida pelo dispêndio do capital acumulado anteriormente no solo
virgem.
O LIMITE ATINGIDO EM 1960 E A REVOLUÇÃO VERDE
As fomes pré-coloniais da Europa levantaram a questão: O que
aconteceria quando a oferta de terra arável do planeta acabasse? Temos
uma resposta clara. Cerca de 1960 a expansão atingiu seus limites e a
oferta de terras aráveis não cultivadas chegou a um fim. Nada
fora deixado para arar. O que aconteceu foi que os rendimentos dos cereais
triplicaram.
A expressão aceite para esta estranha viragem dos acontecimentos
é revolução verde, embora fosse mais adequado
etiquetá-la como revolução âmbar, porque ela
aplicou-se exclusivamente a cereais trigo, arroz e milho. Autores de
plantas consertaram a arquitectura destes grãos de modo a que pudessem
ser hiper-carregados com água de irrigação e fertilizantes
químicos, especialmente nitrogénio. Esta inovação
uniu-se habilmente com a "eficiência" acrescida do sistema
industrializado fábrica-fazenda. Com a possível
excepção da domesticação do trigo, a
revolução verde é a pior coisa que alguma vez já
aconteceu no planeta. Para começar, ela rompeu os padrões
há muito estabelecidos da vida rural em todo o mundo, movendo um bocado
de pessoas não-mais-necessárias para fora da terra e para dentro
da mais severa pobreza do mundo. A experiência Do controle de
população no mundo em desenvolvimento é agora clara.
Não se trata de que pessoas façam mais pessoas em demasia e sim
de que elas fazem mais pessoas pobres. No período de 40 anos
principiado cerca de 1960, a população do mundo duplicou, somando
virtualmente um aumento total de 3 mil milhões às classes mais
pobres do mundo, as classes mais fecundas. A forma pela qual a
revolução verde elevou aqueles cereais contribuiu enormemente
para o boom populacional, e é o peso demográfico que deixa a
humanidade na sua presente posição desprotegida
(untenable).
Discussões destas, sobre a maioria pobre, são contudo
irrelevantes para a situação americana. Nós dizemos que
temos pobres aqui, mas quase ninguém neste país vive com menos do
que um dólar por dia, a referência global para a pobreza. Isto
diferencia uma classe de cerca de 1,3 mil milhões de pessoas, o
núcleo duro de um grupo maior de 2 mil milhões de pessoas
cronicamente mal nutridas ou seja, um terço da humanidade.
Podemos esquecê-los, como o faz a maior parte dos americanos.
Mais relevante aqui são os métodos da revolução
verde, os quais acrescentaram ordens de grandeza à
devastação. Ao minerar o ferro para tractores, perfurar o novo
petróleo para alimentá-los e fabricar fertilizantes nitrogenados
e ao levar a água que chove e dos rios para outras terras, a agricultura
estendeu suas fronteiras, seu domínio, a terras que não eram
agriculturáveis. Ao mesmo tempo, estendeu suas fronteiras no tempo,
recorrendo à energia fóssil, devastando activos do passado.
COMIDA É PETRÓLEO
A suposição comum nestes dias é que passamos em revista
nossas armas a fim de assegurar o petróleo, não a comida. Isto
parece uma anedota. Sempre, desde que ficámos desprovidos de terra
arável, a comida é o petróleo. Toda simples caloria que
comemos é suportada por pelo menos uma caloria de petróleo, mais
provavelmente dez. Em 1940 a propriedade agrícola média nos
Estados Unidos produzia 2,3 calorias de energia alimentar para cada caloria de
energia fóssil que utilizava. Em 1974 (o último ano em que
alguém examinou de perto esta questão), aquele rácio era
1:1. E isto ameniza os dados do problema, porque ao mesmo tempo que há
mais petróleo na nossa comida há menos petróleo no nosso
petróleo. Um par de gerações atrás
gastávamos um bocado menos energia ao perfurar, bombear e distribuir do
que gastamos agora. Na década de 1940 obtínhamos cerca de 100
barris de petróleo de retorno por cada barril de petróleo que
gastávamos para obte-lo. Hoje, cada barril investido no processo
retorna apenas dez, um cálculo que deixa de incluir o combustível
queimado pelas viaturas Hummer e helicópteros Blackhawks que utilizamos
para manter o acesso ao petróleo do Iraque.
David Pimentel
, um perito em alimentos e energia da Cornell University, estimou
que se todo o mundo comesse da forma como os Estados Unidos comem, a humanidade
exauriria todas as reservas globais conhecidas de combustível
fóssil em apenas cerca de sete anos. Pimentel tem os seus detractores.
Alguns acusam-no de afastar-se de outros cálculos em até 30 por
cento. Muito bem. Ponha dez anos.
Os fertilizantes põem uma linda bomba em circulação, uma
lição de química que Timothy McVeigh
[2]
deu no Edifício Federal Alfred P. Murrah, em Oklahoma City, no ano de
1995 não é um assunto sem importância, pois a
revolução verde tornou os fertilizantes nitrogenados
omnipresentes em alguns dos mais violentos e desesperados cantos do mundo.
Ainda assim, há mais para examinar do que a menos sensacional
química do nitrogénio.
A quimiofobia dos tempos modernos exclui o medo dos simples elementos da tabela
periódica dos elementos. Circulamos petições, realizamos
audiências, lançamos sítios web, compramos e vendemos
legisladores graças ao respeito que inspiram os compostos
orgânicos polissilábicos bifenis policlorinatados,
polivinis, DDT, 2-4d, essa espécie de coisas mas não com o
simples carbono ou nitrogénio. Não que a
utilização agrícola da química mais enfeitada seja
benigna uma criança nascida num condado rural produtor de trigo
nos Estados Unidos tem cerca do dobro de probabilidade de sofrer defeitos de
nascimento do que uma nascida num lugar rural que não produza trigo, um
efeito que os investigadores atribuem aos herbicidas clorofenoxis. Focar a
poluição dos pesticidas, contudo, omite o pior dos poluentes.
Esqueça os polissilábicos orgânicos. É o
nitrogénio o manancial de fertilidade ao qual está
confiado todo o Paraíso, a obsessão dos jardineiros de quintal e
de agricultores suburbanos que nós devemos temer mais.
Aqueles que modelam o nosso planeta como um organismo assim o fazem na base de
que a terra parece respirar ela prospera ao converter uma curta lista de
elementos básicos de um composto no seguinte, assim como nossos corpos
fazem o ciclo do oxigénio em dióxido de carbono e as plantas do
dióxido de carbono em oxigénio. De facto, dois dos mais
fundamentais humores do planeta são oxigénio e dióxido de
carbono. O outro é o nitrogénio.
O nitrogénio pode ser libertado do seu estado "fixo" como um
sólido no solo através de processos naturais que lhe permitem
circular livremente na atmosfera. Isto também pode ser feito
artificialmente. Na verdade, os humanos agora contribuem com mais
nitrogénio para ciclo do nitrogénio do que o faz o próprio
planeta. Isto é, os humanos duplicaram a quantidade de
nitrogénio em jogo.
Isto levou a um desequilíbrio. É mais fácil criar
fertilizante nitrogenado do que aplicá-lo uniformemente pelos campos.
Quando agricultores despejam nitrogénio numa plantação,
grande parte é desperdiçada. Ele corre para dentro da
água e do solo, onde reage quimicamente com a vizinhança para
formar novos compostos ou corre para fertilizar outra coisa, em algum outro
lugar.
Esta reacção química, chamada acidificação,
é nociva e contribui significativamente para a chuva ácida. Um
do compostos produzidos pela acidificação é o óxido
nitroso
(nitrous oxide),
o qual agrava o efeito estufa. O crescimento das plantas normalmente
contrabalança o aquecimento global ao absorver dióxido de
carbono, mas o nitrogénio sobre os campos agrícolas mais o metano
da vegetação decomposta torna todo hectare cultivado, assim como
todo hectare da auto-estrada de Los Angeles, um contribuinte líquido
para o aquecimento global.
A fertilização é igualmente preocupante. A chuva e a
água de irrigação inevitavelmente lavam o
nitrogénio dos campos para os riachos e correntezas, o qual flui para
dentro de rios, os quais fluem para dentro do oceano. Isto explica porque o
Rio Mississipi, que drena o Cinturão de Milho
(Corn Belt)
do país, é uma catástrofe ambiental. O nitrogénio
fertiliza artificialmente grandes florescências de algas que ao cresceram
sugam todo o oxigénio da água, uma condição que os
biólogos chamam de anoxia, que significa "oxigénio
esgotado". Aqui não é preciso calcular efeitos a longo
prazo, porque a vida em tais lugares não tem longo prazo: todas as
coisas morrem imediatamente. Os eflúvios do Rio Mississipi, pesadamente
fertilizados, criaram uma zona morta no Golfo do México do tamanho de
Nova Jersey.
A maior cultura da América, o grão de milho, é
completamente intragável. É matéria-prima para uma
indústria que fabrica substitutos alimentares. Da mesma forma,
você não pode comer trigo não processado. Você
certamente não pode comer feno. Pode comer feijões de soja
não processados, mas a maior parte de nós não o faz.
Estas quatro culturas cobrem 82 por cento da terra agrícola americana.
A agricultura neste país não é para alimentos; é
para mercadorias que exigem o dispêndio de ainda mais energia para
tornar-se comida.
Cerca de dois terços do grão de milho americano leva a etiqueta
"processado", significando isto que é moído e
além disso refinado para alimentação ou
utilizações industriais. Mais de 45 por cento dele torna-se
açúcar, especialmente adoçante com alto teor de frutose do
milho, o ingrediente chave em três quartos de todos os alimentos
processados, especialmente em bebidas doces, o alimento dos pobres e das
classes trabalhadoras da América. Não é uma
coincidência que a pandemia americana de obesidade siga o aumento de
cinco vezes na produção de xarope de milho desde que Archer
Daniels Midland desenvolveu uma versão com alta frutose daquilo no
princípio da década de setenta. Nem tão pouco é
uma coincidência que a praga seleccione os pobres, os quais comem a maior
parte da comida processada.
Isto começou com a industrialização na Inglaterra
vitoriana. O império estava então cheio do açúcar
das plantações nas colónias. Ao mesmo tempo as cidades
estavam cheias de trabalhadores fabris. Não havia boa maneira de
alimentá-los. E assim nasceu a pausa do chá da tarde, o
chá consistindo primariamente de água quente e
açúcar. Se os trabalhadores estivessem bem de vida, eles
também podiam poupar pão com geleia pesadamente açucarada
a industrialização movida a açúcar. Houve
um aumento de 500 por cento na capitação do consumo de
açúcar na Grã Bretanha entre 1860 e 1890, um tempo em que
a expectativa de vida de um trabalhador fabril masculino era de 17 anos. No
fim do séculos o britânico médio estava a obter cerca de um
sexto da sua nutrição total do açúcar, exactamente
a mesma porcentagem que os americanos obtêm hoje o dobro do que
recomendam os nutricionistas.
Há um outro assunto de energia a considerar aqui, contudo. A
trituração, moagem, humidificação, secagem e
assadura de um pequeno-almoço de cereal exige cerca de quatro calorias
de energia para cada caloria de energia alimentar que produz. Um saco com duas
libras (0,9 kg) de cereal queima a energia de meio galão (1,89 litro)de
gasolina na sua fabricação. Tudo em conjunto, a indústria
de processamento de alimentos nos Estados Unidos utiliza cerca de dez calorias
de energia de combustíveis fósseis para cada caloria de energia
alimentar que produz.
Este número não inclui o combustível utilizado no
transporte do alimento da fábrica para a loja próxima de si, ou o
combustível utilizado por milhões de pessoas a conduzirem para
milhares de lojas de super descontos no extremo da cidade, onde a terra
é barata. Parece, contudo, que o ciclo do milho está prestes a
fechar um círculo completo. Se se formasse uma coligação
bipartidária de agricultores e legisladores estaduais e parece
que isso acontecerá dentro em breve compraremos gasolina que
contem o dobro do álcool combustível actual. O álcool
combustível já se perfila em segundo lugar na
utilização de milho processado nos Estados Unidos, atrás
apenas dos adoçantes. De acordo com um conjunto de cálculos,
gastamos mais calorias de energia de combustíveis fósseis a
fabricar etanol do que ganhamos com isto. O Departamento da Agricultura afirma
que o rácio está mais próximo de um galão de um
quarto de etanol para cada galão de combustível fóssil que
investimos. Aquele Departamento chama a isto uma pechincha, porque o gasool
(gasohol)
é um "combustível limpo". Esta
afirmação de limpeza está em discussão ao
nível do tubo de escape e ela certamente ignora a zona morta no Golfo do
México, a poluição dos pesticidas e o nevoeiro de gases
globais a acumularem-se sobre todo o campo agrícola. Nem esta
afirmação limpa a consciência; alguns ainda podem ficar
inquietos ao saberem que as exigências dos nossos SUVs
[3]
por combustíveis competem com as exigências dos pobres por cereais.
Os comedores de verduras, especialmente os vegetarianos, advogam comerem da
parte baixa da cadeia alimentar, uma simples questão de fluxo de
energia. Comer uma cenoura dá àquele que a ingere toda a energia
da cenoura, mas alimentar uma galinha com cenouras e então comer a
galinha reduz a energia num factor de dez. A galinha desperdiça alguma
energia, armazena alguma como penas, ossos e outras coisas
incomestíveis, e utiliza a maior parte dela apenas para viver o tempo
suficiente até ser comida. Como uma regra prática, aquele factor
de dez aplica-se a cada nível da cadeia alimentar, razão porque
alguns peixes, tal como o atum, podem ser um horror nisto tudo. O atum
é um predador secundário, significando isto que não
só não come plantas como come outros peixes que eles
próprios comem outros peixes, acrescentando um zero ao multiplicador a
cada passo, facilmente uma centena de vezes, mais provavelmente um milhar de
vezes menos eficiente do que comer uma planta.
Isto está muito bem na medida em que funcionar, mas o caso dos
vegetarianos pode ser decomposto em alguns pormenores. Em questões de
moral, os vegetarianos afirmam que os seus hábitos são mais
benévolos para com os animais, embora seja difícil ver como
exterminar 99 por cento do habitat da vida selvagem, como a agricultura fez no
Iowa, seja benévolo. No Michigan rural, por exemplo, os cultivadores de
batatas têm uma táctica peculiar para tratar dos cervos
predadores. Eles dão-lhes tiros na barriga com rifles de pequeno
calibre, na esperança de que os cervos se arrastem para as florestas e
morram num lugar onde não empestem os campos de batatas.
Pondo de lado os direitos do animais, os vegetarianos podem perder no argumento
da energia ao comerem alimento processado, com suas dez calorias de energia
fóssil por cada caloria de energia alimentar produzida. A
questão, então, é: Será que comer alimento
processado como burgers de soja ou leite de soja anula os benefícios
energéticos do vegetarianismo, o que quer dizer, será que posso
comer minhas costeletas de carneiro em paz? Talvez. Se eu tiver tido a devida
diligência, terei descoberto que o carneiro particular que estou a comer
era tanto local como alimentado com erva, dois factores que naturalmente
reduzem em muito a energia embebida numa refeição. Sei de
ranchos aqui no Montana, por exemplo, onde o carneiro come ervas nativas sob
circunstâncias estritamente controladas sem agricultura, sem
arados, sem milho, sem nitrogénio. Os recursos não foram
despojados. Não posso comer a relva directamente. Isto pode
prosseguir. Há poucos nichos como este no sistema. É da
responsabilidade individual de cada um descobrir tais nichos.
As probabilidades, contudo, são de que qualquer comedor de carne
chegará ao fim popular deste argumento, especialmente nos Estados
Unidos. Tomemos o caso do bife. O gado pasta, de modo que em teoria poderia
viver como o carneiro alimentado a erva. Algumas culturas de gado
aquelas na América do Sul e no México, por exemplo
aperfeiçoaram maravilhosas culinárias baseadas no bife alimentado
a erva. Este não é o nosso hábito nos Estados Unidos, e
é simplesmente uma questão de hábito. Oitenta por cento
do cereal que os Estados Unidos produzem são para a pecuária.
Setenta e oito por cento de todo o nosso bife vem de gado estabulado, onde ele
come cereal, principalmente milho e trigo. Assim como a maior parte dos nossos
porcos e galinhas. O gado passa a sua vida adulta comprimido ombro a ombro num
espaço não muito maior do que os seus corpos, sendo alimentado
com cereal e um fluxo constante de antibióticos para impedir as
doenças que esta espécie de confinamento inevitavelmente
engendra. O estrume é rico em nitrogénio e outrora providenciava
fertilizante para a agricultura. Os resíduos, contudo, agora são
removidos para longe dos campos agrícolas, pois simplesmente não
é "eficiente" transportá-los para campos de milho.
Isto é desperdício. Exala metano, um gás com efeito
estufa. Polui fluxos de água. Desta forma, gastam-se trinta e cinco
calorias de combustível fóssil para fabricar uma caloria de bife,
sessenta e oito para fabricar uma caloria de porco.
Mais ainda, estes animais fazem algo que nós não podemos. Eles
convertem carbohidratos de cereais em proteína de alta qualidade. Tudo
bem, excepto que a produção per capita de proteína nos
Estados Unidos é cerca do dobro daquela que um adulto médio
necessita diariamente. O excesso não pode ser armazenado como
proteína no corpo humano e é simplesmente convertido em gordura.
Isto é o resultado final de um sistema fábrica-agricultura que
surge como um modo de viver, monumento em escala continental a Rube Goldberg
[4]
, uma repetição em negro do milagre do pão e dos peixes.
A produtividade da pradaria é perdida para o cereal, a produtividade do
cereal é perdida no gado, a proteína do gado é perdida na
gordura humana tudo subsidiado pelo governo federal com cerca de US$ 15
mil milhões por ano, dois terços dos quais vão
directamente para apenas duas culturas: milho e trigo.
Isto explica porque o perito em energia David Pimentel está tão
preocupado com a adopção de métodos americanos pelo resto
do mundo. Tem de estar, pois o resto do mundo está a adoptá-lo.
O México agora destina 45 por cento do seu cereal para o gado, um salto
em relação aos 5 por cento de 1960. O Egipto passou de 3 por
cento para 31 por cento no mesmo período. E a China, com um sexto da
população mundial, subiu de 8 por cento para 26 por cento. Todos
estes lugares têm pessoas pobres que poderiam utilizar o cereal, mas elas
não têm dinheiro para comprá-lo.
Vivo entre alces e aprendi a respeitá-los. Uma noite de luar no fim do
último inverno olhei pela janela do meu quarto e vi cerca de vinte deles
a pastarem um campo de erva do tamanho de uma sala. Exactamente aquele pequeno
bocado entre hectares de outras espécies de relva da pradaria nativa.
Por que aquelas espécies e apenas aquelas espécies de relva
naquela noite no pior do inverno quando a ameaça à sua
sobrevivência era a maior? Que nutrientes mágicos só esta
espécie precisava? O que um animal selvagem sabia que nós
não sabíamos? Penso que precisamos deste conhecimento.
Alimentação é política. Sendo este o caso, votei
duas vezes em 2002. No dia seguinte ao da eleição, com um humor
realmente lúgubre, escalei a montanha por trás da minha casa e
descobri uma pequena manada de alces a pastar ervas nativas na manhã
ensolarada. O meu respeito por estas criaturas ao longo de anos tornou-se
tão grande que naquela manhã que não hesitei e fui
directamente à minha tarefa: apanhar um cartucho e despejá-lo
sobre uma alce fêmea, minha fonte anual de proteínas para a casa.
Votei com a minha arma preferida um acto não de todo incomum
neste mundo, sobretudo, penso, devido ao modo como fomos alimentados na
infância. Posso ver porque ele é popular. Tal voto tem uma certa
influência satisfatória e sentido de finalidade. O meu bocado
particular de violência, contudo, é mais satisfatório,
penso, do que a restante confusão política do globo. Utilizei um
rifle a fim de optar por não fazer parte de um sistema insano. Matei,
mas assim fez você quando comprou aquele pacote de burger, mesmo quando
comprou o pacote de burger tofu. Matei, e então os alces restantes
prosseguiram, tal como o fizeram as ervas, os pássaros, as
árvores, os coiotes, os leões da montanha e os besouros, a
produtividade fundamental de um sistema natural intacto, todo ele prosseguiu.
Notas
1- Dust Bowl, Cinturão do Pó, área das Grandes Planícies (Texas, Oklahoma,
Kansas, Colorado e Novo México) mais afectada pela grande seca da década de
1930.
2- Fascista estadunidense que em 1995 fez explodir um edifício governamental no
Oklahoma.
3- Sport Utility Vehicle.
4- Cartoonista famoso pelos seus desenhos de máquinas malucas. Ver
http://en.wikipedia.org/wiki/Rube_Goldberg
.
[*]
Autor de
Against the Grain: How Agriculture Has Hijacked Civilization
O original encontra-se em
http://www.harpers.org/TheOilWeEat.html
.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
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