EUA intensificam sua guerra "democrática" pelo petróleo
do Médio Oriente
por Michael Hudson
Os meios de comunicação de referência estão a evitar
cuidadosamente o método oculto por trás da aparente loucura
americana em assassinar o general da Guarda Revolucionária
Islâmica Qassim Suleimani para iniciar o Ano Novo. A lógica por
trás do assassinato foi uma aplicação da consagrada
política global dos EUA, não apenas uma "loucura" da
personalidade de Donald Trump por acção impulsiva. Seu
assassinato do líder militar iraniano Suleimani foi na verdade um acto
de guerra unilateral que viola o direito internacional, mas foi um passo
lógico numa estratégia americana consagrada. Foi explicitamente
autorizado pelo Senado na lei de financiamento do Pentágono que aprovou
no ano passado.
O assassinato destinava-se a escalar a presença dos EUA no Iraque a fim
de manter o controle das reservas de petróleo da região e apoiar
as tropas Wahabi da Arábia Saudita (Isis, Al Quaeda no Iraque, Al Nusra
e outras divisões que na verdade são a legião estrangeira
da América) para apoiar o controle dos EUA do petróleo do Oriente
Próximo como um baluarte do US dólar. Isto permanece como a chave
para o entendimento desta política e a razão porque ela
está em processo de escalada, não de abrandamento.
Participei de discussões sobre esta política quando foi formulada
há quase cinquenta anos atrás, quando trabalhava no Hudson
Instituto e comparecia a reuniões na Casa Branca, encontrava-me com
generais em vários
think tanks
das forças armadas e com diplomatas nas Nações Unidas.
Meu papel era como economista especializado em balança de pagamentos,
especializado durante uma década na Chase Manhattan, na Arthur Andersen
e em grupos de estudo da indústria de petróleo e de gastos
militares. Estas foram duas das três principais dinâmicas da
política externa e da diplomacia americanas. (A terceira
preocupação era como travar uma guerra numa democracia em que os
eleitores rejeitavam a conscrição após a Guerra do
Vietname.)
Os media e a discussão pública têm desviado a
atenção desta estratégia ao propalar
especulações de que o presidente Trump fez isso, não para
combater a (não)ameaça de impeachment como um volteio, ou para
apoiar impulsos israelenses por espaço vital
(lebensraum)
ou simplesmente para render a Casa Branca à síndrome do
ódio neocon pelo Irãoo. O contexto real da acção
dos neocon foi a balança de pagamentos e o papel do petróleo e da
energia como uma alavanca de longo prazo da diplomacia americana.
A dimensão da balança de pagamentos
O principal défice da balança de pagamentos dos EUA tem sido os
gastos militares no exterior. Todo o défice de pagamentos,
começando com a Guerra da Coreia em 1950-51 e estendendo-se pela Guerra
do Vietname da década de 1960, foi o responsável por
forçar a retirada do dólar do ouro em 1971. O problema enfrentado
pelos estrategas militares dos Estados Unidos era como continuar a suportar as
800 bases militares dos EUA em todo o mundo e suportar tropas aliadas sem
perder a alavancagem financeira dos EUA.
A solução acabou por ser substituir o ouro por títulos do
Tesouro dos EUA (IOUs) como a base das reservas dos bancos centrais
estrangeiros. Depois de 1971, os bancos centrais estrangeiros tinham pouca
opção sobre o que fazer com a sua entrada contínua de
dólares, excepto reciclá-los para a economia dos EUA
através da compra de títulos do US Treasury. O efeito dos gastos
militares estrangeiros dos EUA, portanto, não corroeu a taxa de
câmbio do dólar e nem mesmo forçou o Tesouro e o Federal
Reserve a aumentar taxas de juros para atrair divisas que compensassem as
saídas de dólares na conta militar. De facto, os gastos militares
estrangeiros dos EUA ajudaram a financiar o défice do orçamento
federal dos EUA.
A Arábia Saudita e outros países OPEP do Médio Oriente
rapidamente tornaram-se um pilar do dólar. Depois que destes
países quadruplicarem o preço do petróleo (em
retaliação pelos Estados Unidos quadruplicarem o preço das
suas exportações de cereais, um dos pilares da balança
comercial dos EUA), os bancos americanos foram inundados com um influxo de
muitos depósitos estrangeiros os quais foram emprestados ao
países do Terceiro Mundo numa explosão de empréstimos
podres que explodiu em 1972 com a insolvência do México e destruiu
o crédito dos governos do Terceiro Mundo durante uma década,
forçando-o a depender dos Estados Unidos via FMI e Banco Mundial).
Para coroar tudo, é claro, o que a Arábia Saudita não
salva em activos dolarizados com os seus ganhos na exportação de
petróleo é gasto na compra de centenas de milhares de
milhões de dólares de armas exportadas pelos EUA. Isto tranca-a
na dependência do fornecimento de peças de reposição
e reparações dos EUA e permite que os Estados Unidos desliguem o
equipamento militar saudita a qualquer momento, caso os sauditas tentem actuar
de modo independente da política externa dos EUA.
Portanto, manter o dólar como moeda de reserva mundial tornou-se um dos
suportes principais dos gastos militares dos EUA. Os países estrangeiros
não têm de pagar directamente ao Pentágono por estes
gastos. Eles simplesmente financiam o Tesouro e o sistema bancário dos
EUA.
O medo deste desenvolvimento foi uma das principais razões pelas quais
os Estados Unidos actuaram contra a Líbia, cujas reservas estrangeiras
eram mantidas em ouro, não em dólares, o que instava outros
países africanos a seguirem o exemplo a fim de se libertarem da
"Diplomacia do Dólar". Hillary e Obama invadiram-na, agarraram
seus stocks de ouro (ainda não temos ideia de quem acabou com esse ouro
no valor de milhares de milhões de dólares) e destruiu o governo
da Líbia, seu sistema público de educação, sua
infraestrutura pública e as demais políticas
não-neoliberais.
A grande ameaça a isto é a desdolarização, pois a
China, a Rússia e outros países procuram evitar a reciclagem de
dólares. Sem a função do dólar como o
veículo para a poupança mundial com efeito, sem o papel do
Pentágono em criar a dívida do Tesouro que é o
veículo para as reservas dos bancos centrais do muno os EUA se
veriam constrangidos militarmente e portanto diplomaticamente, como acontecia
sob o padrão divisas-ouro.
Esta é a mesma estratégia que os EUA têm seguido na
Síria e no Iraque. O Irãoo estava a ameaçar esta
estratégia de dolarização e o seu esteio na diplomacia
estado-unidense do petróleo.
A indústria do petróleo como esteio da balança de
pagamentos dos EUA e da diplomacia estrangeira
A balança comercial é respaldada pelo petróleo e
excedentes agrícolas. O petróleo é a chave, porque
é importado por empresas americanas quase sem nenhum custo para a
balança de pagamentos (os pagamentos acabam nas
administrações da indústria do petróleo como lucros
e pagamentos à gestão), ao passo que os lucros nas vendas das
empresas petrolíferas dos EUA a outros países são
remetidos para os Estados Unidos (via centros de evasão fiscal offshore,
durante muitos anos sobre a Libéria e o Panamá). E, como
observado acima, os países da OPEP foram instruídos a manter suas
reservas oficiais na forma de títulos dos EUA (acções e
títulos, bem como títulos de dívida do Tesouro, mas
não a compra directa de empresas dos EUA consideradas economicamente
importantes). Financeiramente, os países da OPEP são estados
clientes da Área do Dólar.
A tentativa americana de manter esse esteio explica a oposição
dos EUA a quaisquer medidas de governos estrangeiros para reverter o
aquecimento global
[NR]
e o estado atmosférico
(weather)
extremo causado pela dependência mundial do petróleo patrocinada
pelos EUA. Quaisquer acções da Europa e de outros países
que reduzisse a dependência das vendas de petróleo dos EUA e,
portanto, a capacidade de os EUA controlarem a torneira global do
petróleo como um meio de controle e coação, são
encaradas como actos hostis.
O petróleo também explica a oposição dos EUA
às exportações de combustíveis da Rússia via
Nordstream. Os estrategas dos EUA querem tratar a energia como um
monopólio nacional dos EUA. Outros países podem se beneficiar da
maneira que a Arábia Saudita tem feito enviando seus excedentes
para a economia dos EUA mas não para suportar o seu
próprio crescimento económico e diplomacia. O controle do
petróleo implica portanto apoio ao continuado aquecimento global
[NR]
como parte inerente da estratégia dos EUA.
Como uma nação "democrática" pode travar guerra
e terrorismo internacionais
A Guerra do Vietname mostrou que as democracias modernas não podem
montar exércitos para qualquer grande conflito militar, porque isto
exigiria uma conscrição dos seus cidadãos. Isto levaria
qualquer governo que tentasse tal projecto a ser votado para fora do poder. E
sem tropas não é possível invadir um país para
conquistá-lo.
O corolário desta percepção é que as democracias
têm apenas duas opções quando se trata de estratégia
militar: Elas só podem empregar poder aéreo, bombardeando
oponentes; ou elas podem criar uma legião estrangeira, ou seja,
contratar mercenários ou apoiar governos estrangeiros que providenciem
este serviço militar.
Aqui, mais uma vez, a Arábia Saudita desempenha um papel crítico,
através do seu controle dos Wahabi Sunita transformados em terroristas
jihadistas dispostos a sabotar, bombardear, assassinar, explodir e combater
qualquer alvo designado como um inimigo do "Islão", o
eufemismo para a actuação da Arábia Saudita como estado do
cliente dos EUA. (A religião realmente não é a chave;
não sei de nenhum ISIS ou ataque Wahabi semelhante a alvos israelenses.)
Os Estados Unidos precisam que os sauditas forneçam ou financiem
wahabistas loucos. Assim, além de desempenharem um papel chave na
balança de pagamentos dos EUA pela reciclagem dos seus ganhos com a
exportação de petróleo em acções,
títulos e outros investimentos nos EUA, a Arábia Saudita fornece
mão-de-obra apoiando os membros Wahabi da legião estrangeira
americana, o ISIS e Al-Nusra/Al Qaeda. O terrorismo tornou-se o modo
"democrático" de hoje da política militar dos EUA.
O que torna a guerra do petróleo da América no Médio
Oriente "democrática" é que esta é a
única espécie de guerra que uma democracia pode travar uma
guerra aérea, seguida por um exército terrorista odioso que
compensa o facto de nenhuma democracia poder colocar em campo o seu
próprio exército no mundo de hoje. O corolário é
que o terrorismo se tornou o modo "democrático" de fazer a
guerra.
Do ponto de vista dos EUA, o que
é
uma "democracia"? No vocabulário orwelliano de hoje,
significa qualquer país que apoie a política externa dos EUA.
Bolívia e Honduras tornaram-se "democracias" desde seus
golpes, juntamente com o Brasil. O Chile, sob Pinochet era uma democracia de
livre mercado no estilo Chicago. O mesmo acontecia com o Irãoo sob o
xá e a Rússia sob Yeltsin mas não desde que elegeu
o presidente Vladimir Putin, tal como a China sob o presidente Xi.
O antónimo de "democracia" é "terrorista".
Isso significa simplesmente uma nação disposta a combater para se
tornar independente da democracia neoliberal dos EUA. Isto não inclui os
exércitos por procuração dos EUA.
O papel do Irãoo como inimigo norte-americano
O que obstaculiza a dolarização, o petróleo e a
estratégia militar dos EUA? Obviamente, a Rússia e a China
têm sido visadas como inimigos estratégicos de longo prazo por
buscarem suas próprias políticas económicas e diplomacia
independentes. Mas a seguir a elas, o Irão está na mira dos
Estados Unidos há quase setenta anos.
O ódio americano ao Irãoo começa com sua tentativa de
controlar sua própria produção, exportações
e ganhos de petróleo. Isso remonta a 1953, quando Mossadegh foi
derrubado porque pretendia soberania interna sobre o petróleo da
Anglo-Persian. O golpe da CIA-MI6 substituiu-o pelo flexível Xá,
que impôs um estado policial para impedir a independência iraniana
da política dos EUA. Os únicos lugares físicos livres da
polícia eram as mesquitas. Isso fez da República Islâmica o
caminho de menor resistência para o derrube do xá e a
reafirmação da soberania iraniana.
Os Estados Unidos chegaram a termos com a independência
petrolífera da OPEP em 1974, mas o antagonismo em relação
ao Irão estende-se a considerações demográficas e
religiosas. O apoio iraniano à sua população xiita e ao
Iraque e outros países enfatizando o apoio aos pobres e a
políticas quase-socialistas em vez do neoliberalismo tornou-o o
principal rival religioso do sectarismo sunita da Arábia Saudita e do
seu papel como legião estrangeira americana dos Wahabi.
Os EUA opuseram-se ao general Suleimani, acima de tudo, porque ele estava
combatendo contra o ISIS e outros terroristas apoiados pelos EUA na tentativa
de romper a Síria e substituir o regime de Assad por um conjunto de
líderes locais acomodatícios com os EUA o velho
estratagema britânico "dividir e conquistar". Na
ocasião, Suleimani havia cooperado com tropas americanas no combate
contra grupos do ISIS que ficaram "fora de linha", o que significa a
linha do partido dos EUA. Mas todas as indicações são de
que ele estava no Iraque para trabalhar com o governo que procurava recuperar o
controle dos campos de petróleo que o presidente Trump jactou-se em alta
voz de capturar.
Já no início de 2018, o presidente Trump pediu ao Iraque que
reembolsasse os EUA pelo custo de "salvar sua democracia" pelo
bombardeamento do remanescente da economia de Saddam. O reembolso era para
assumir a forma de Petróleo Iraquiano. Mais recentemente, em 2019, o
presidente Trump perguntou: por que não simplesmente agarrar o
petróleo iraquiano. O gigantesco campo petrolífero tornou-se o
prémio da guerra do petróleo de Bush-Cheney após o 11 de
Setembro. "'Foi em geral uma reunião muito comum e discreta",
disse a Axios uma fonte que estava na sala. E então, no final, Trump diz
algo provocante, com um sorriso afectado no rosto e diz: 'Então, o que
vamos fazer acerca do petróleo?' "
[1]
A ideia de Trump de que os EUA deveriam "obter algo" dos seus gastos
militares na destruição das economias iraquiana e síria
reflecte simplesmente a política dos EUA.
No final de Outubro de 2019,
o New York Times
informou que: "Nos últimos dias, Trump estabeleceu as reservas de
petróleo da Síria como uma nova lógica para parecer
inverter o curso e enviar centenas de tropas adicionais para o país
devastado pela guerra. Ele declarou que os Estados Unidos
"asseguraram" campos de petróleo no nordeste caótico do
país e sugeriu que a captura
(seizure)
do principal recurso natural do país justifica que os EUA ampliem ainda
mais sua presença militar ali. 'Tomamos e garantimo-lo', disse Trump
sobre o petróleo da Síria durante declarações na
Casa Branca no domingo, depois de anunciar a morte do líder do Estado
Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi. "
[2]
Um funcionário da CIA lembrou ao jornalista que tomar o petróleo
do Iraque era uma promessa da campanha de Trump.
Isso explica a invasão do Iraque por petróleo em 2003, e
novamente este ano, como o presidente Trump disse: "Por que simplesmente
não tomamos o petróleo deles?" Também explica o
ataque Obama-Hillary à Líbia não apenas pelo seu
petróleo, mas por investir suas reservas estrangeiras em ouro ao
invés de reciclar suas receitas excedentes de petróleo em
títulos do Tesouro dos EUA e, é claro, por promover um
estado socialista laico.
Explica porque os neoconservadores dos EUA temiam o plano de Suleimani de
ajudar o Iraque a reafirmar o controle do seu petróleo e a resistir aos
ataques terroristas ao Iraque apoiados pelos EUA e pela Arábia Saudita.
Foi isso que tornou o seu assassínio um impulso imediato.
Os políticos americanos desacreditaram-se ao começarem a sua
condenação de Trump dizendo, como fez Elizabeth Warren,
quão "má" pessoa era Suleimani, como ele havia matado
tropas americanas ao planear a defesa iraquiana de bombardementos
rodoviários e outras políticas que tentavam repelir a
invasão dos EUA para agarrar o seu petróleo. Ela estava
simplesmente a papaguear a descrição de Suleimani como um monstro
feita pelos media americanos, desviando a atenção da
questão política que explica porque ele foi assassinado
agora.
A contra-estratégia dos EUA para a diplomacia do petróleo, do
dólar e do aquecimento global
Esta estratégia continuará até que países
estrangeiros a rejeitem. Se a Europa e outras regiões não o
fizerem, sofrerão as consequências desta estratégia dos EUA
na forma de uma guerra crescente patrocinada pelos EUA por meio do terrorismo,
do fluxo de refugiados e da aceleração do aquecimento global
[NR]
e de condições climáticas extremas.
A Rússia, a China e seus aliados já lideram o caminho da
desdolarização como meio de conter a política militar
global dos EUA como meio de apoio à sua balança de pagamentos.
Mas todo mundo agora está a especular sobre qual deveria ser a resposta
do Irão.
A pretensão ou mais precisamente, o diversionismo dos
media norte-americanos no fim-de-semana foi descrever os Estados Unidos como
estando sob ataque iminente. O presidente da municipalidade de Blasio
posicionou policias em cruzamentos importantes para nos informar o quão
iminente é o terrorismo iraniano como se fosse o Irão,
não a Arábia Saudita que montou o 11 de Setembro, e como se o
Irão tivesse de facto efectuado alguma acção contundente
contra os Estados Unidos. Os media e os tertulianos da televisão
saturaram o público com advertências de terrorismo islâmico.
Os âncoras da televisão estão simplesmente a sugerir onde
será mais provável que ocorram os ataques.
A mensagem é que o assassinato do general Soleimani foi para nos
proteger. Como Donald Trump e vários porta-vozes militares disseram, ele
havia matado americanos e agora eles devem estar a planear um ataque
enorme que ferirá e matará muitos mais americanos inocentes. Esta
posição tornou-se a postura da América no mundo: fraca e
ameaçada, exigindo uma forte defesa na forma de um forte ataque.
Mas qual é o interesse real do Irão? Se é realmente minar
a estratégia do dólar e do petróleo, a primeira
política deve ser a retirada das forças militares dos EUA do
Oriente Próximo, incluindo a ocupação americana dos seus
campos de petróleo. Acontece que o acto precipitado do presidente Trump
agiu como um catalisador, provocando exactamente o oposto do que ele queria. Em
5 de Janeiro, o parlamento iraquiano reuniu-se para insistir em que os Estados
Unidos saíssem. O general Suleimani era um convidado, não um
invasor iraniano. São as tropas americanas que estão no Iraque em
violação do direito internacional. Se eles partirem, Trump e os
neocons perdem o controle do petróleo e também da sua
capacidade de interferir na defesa mútua
iraniano-iraquiana-síria-libanesa.
Para além do Iraque, surge a Arábia Saudita. Tornou-se o Grande
Satanás, o defensor do extremismo wahabista, a legião terrorista
dos exércitos mercenários dos EUA que lutam para manter o
controle das reservas de petróleo e de divisa estrangeira do Oriente
Próximo, a causa do grande êxodo de refugiados para a Turquia,
Europa e para onde mais puderem fugir das armas e do dinheiro fornecidos pelos
apoiantes americanos do Isis, da Al Qaeda no Iraque e das suas legiões
aliadas sauditas wahabistas.
O ideal lógico, em princípio, seria destruir o poder saudita.
Esse poder jaz nos seus campos de petróleo. Eles já foram
atacados por modestas bombas iemenitas. Se os neocons americanos
ameaçarem seriamente o Irão, a sua resposta seria o bombardeio e
a destruição por atacado dos campos de petróleo sauditas,
juntamente com os do Kuwait e xeques aliados do Oriente Próximo. Isto
acabaria com o apoio saudita aos terroristas wahabistas, bem como ao
dólar americano.
Uma tal actuação seria, sem dúvida, coordenada com um
apelo aos palestinos e outros trabalhadores estrangeiros na Arábia
Saudita se levantassem e expulsassem a monarquia e seus milhares de vassalos
familiares.
Além da Arábia Saudita, o Irão e outros defensores de uma
ruptura diplomática multilateral com o unilateralismo neoliberal e
neocon dos EUA deveriam pressionar a Europa a retirar-se da NATO, na medida em
que esta organização funciona principalmente como uma ferramenta
militar centrada nos EUA na sua diplomacia do dólar e do petróleo
e, portanto, opondo-se às políticas de mudança
climática
[NR]
e de confrontação militar que ameaçam tornar a Europa
parte do turbilhão dos EUA.
Finalmente, o que podem fazer os opositores à guerra dos EUA para
resistir à tentativa neocon de destruir qualquer parte do mundo que
resista à autocracia neoliberal dos EUA? Esta foi a resposta mais
decepcionante ao longo do fim-de-semana. Eles estão debater. Não
foi útil para Warren, Buttigieg e outros acusarem Trump de agir
precipitadamente, sem pensar nas consequências das suas
acções. Aquela abordagem evita o reconhecimento de que a sua
acção na verdade tinha uma lógica trace uma linha
na areia, para dizer que sim, a América IRÁ à guerra,
combaterá o Irão, fará qualquer coisa para defender seu
controle do petróleo do Oriente Próximo e ditará à
OPEP a política dos bancos centrais, defenderá suas
legiões do ISIS como se qualquer oposição a esta
política fosse um ataque aos próprios Estados Unidos.
Posso entender a resposta emocional ou ainda novos pedidos de
impeachment
de Donald Trump. Mas isso é uma óbvia
não-solução, em parte porque tem sido obviamente um
movimento partidário do Partido Democrata. Mais importante é a
falsa e egoísta acusação de que o presidente Trump
ultrapassou seu limite constitucional ao cometer um acto de guerra contra o
Irão ao assassinar Soleimani.
O Congresso endossou o assassínio cometido por Trump e é
totalmente culpado por ter aprovado o orçamento do Pentágono com
a remoção pelo Senado da emenda à Lei de
Autorização de Defesa Nacional de 2019 que Bernie Sanders, Tom
Udall e Ro Khanna haviam inserido na versão da Câmara dos
Deputados, explicitamente não autorizando o Pentágono a travar
guerra contra o Irão ou assassinar seus responsáveis. Quando este
orçamento foi enviado ao Senado, a Casa Branca e o Pentágono
(também conhecido como complexo militar-industrial e neoconservadores)
removeram aquela restrição. Era uma bandeira vermelha anunciando
que o Pentágono e a Casa Branca realmente pretendiam fazer guerra contra
o Irão e/ou assassinar seus responsáveis. Faltou ao Congresso
coragem para discutir este ponto no primeiro plano das discussões
públicas.
Por trás de tudo isso está o acto do 11 de Setembro de
inspiração saudita, que retira o único poder do Congresso
de travar guerra sua Autorização para o Uso da
Força Militar, de 2002
(2002 Authorization for Use of Military Force),
tirada da gaveta ostensivamente contra a Al Qaeda, mas na verdade o primeiro
passo no longo apoio dos Estados Unidos ao próprio grupo que foi
responsável pelo 11 de Setembro, os sequestradores sauditas de
aviões.
A questão é: como fazer com que os políticos do mundo
EUA, Europa e Ásia vejam como a política americana
de tudo ou nada está a ameaçar novas ondas de guerra, refugiados,
interrupção do comércio de petróleo no Estreito de
Ormuz e, finalmente, global aquecimento
[NR]
e dolarização neoliberal impostas a todos os países.
É um sinal de quão pouco poder existe nas Nações
Unidas que não haja nenhum país a clamar por um novo julgamento
de crimes de guerra no estilo de Nuremberga, nenhuma ameaça de retirada
da NATO ou mesmo de evitar manter reservas sob a forma de dinheiro emprestado
ao Tesouro dos EUA para financiar o orçamento militar dos EUA.
05/Janeiro/2020
[1]
www.axios.com/...
O artigo acrescenta: "Na reunião de Março, o
primeiro-ministro iraquiano respondeu: 'O que quer dizer isso?' segundo a
fonte na sala. E Trump diz: 'Bem, fizemos muito, fizemos muito por
lá, gastamos triliões por lá e muitas pessoas têm
falado sobre o petróleo' ". ?
[2] Michael Crowly, " 'Keep the Oil': Trump Revives Charged Slogan for new Syria Troop Mission' ",
The New York Times,
26/Outubro/2019.
https://www.nytimes.com/2019/10/26/us/politics /trump-syria-oil-fields.html
. O artigo acrescenta: "Eu disse para ficarem
com o petróleo", tornou a dizer Trump. "Se vão para o
Iraque, que fiquem com o petróleo. Eles nunca o fizeram. Nunca o
fizeram". ?
[NR] Hudson sabe muito de economia, finanças e balanças de
pagamentos mas não de climatologia. Aparentemente deixou-se
influenciar pela
mistificação aquecimentista
, agora transformada numa espécie de nova "religião"
global.
Mas o mundo já tem problemas reais suficientes e não precisa
inventar outros adicionais.
O original encontra-se em
thesaker.is/america-escalates-its-democratic-oil-war-in-the-near-east/
Este artigo encontra-se em
https://resistir.info/
.
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