Uma questão de integridade
por Doug Rokke, Ph.D.
[*]
"Parta para o front", estas palavras que ressoavam na minha cabeça
recordavam-me as experiências no Vietname quando, em Novembro de 1990,
depois de ter respondido ao apelo do tenente-coronel para o qual trabalhava nas
tropas de reserva, retomava meu posto no laboratório de
investigações em física da Universidade de Illinois.
Sabia que isso aconteceria após a invasão do Kuwait pelo Iraque
em Agosto de 1990. Contudo, ignorava quando seria convocado. No dia de
Acção de Graças de 1990 eu estava novamente a caminho da
guerra, como em 1969. Hoje, sou um oficial retirado, inapto para o
serviço e afectado ao serviço médico da reserva. Enquanto
antigo enfermeiro na activa, especializei-me em medicina nuclear,
operações militares nucleares, biológicas e
químicas (NBC), informações e medicina de urgência
sobre o terreno.
Quando explodiu a primeira guerra do Golfo, em Agosto de 1990, recebi primeiro
uma ordem para ensinar as operações NBC ao quarto exército
dos Estados Unidos. Finalmente, fiquei adstrito ao serviço activo e fui
enviado à Arábia Saudita com a ordem de "trazê-los
vivos para casa". O contraste não poderia ser maior com as minhas
tarefas de navegador de um bombardeiro B-52 durante a guerra do Vietname, que
consistir em optimizar o funcionamento dos sistemas de armas mortais. Enviado
como médico perito em radiofísica médica sanitária
na Arábia Saudita, fui afectado à equipe profissional do 12º
comando de medicina preventiva (MP). O 12º MP era responsável por
todas as medidas médicas preventivas no interior da zona de combate.
Éramos como um serviço de saúde pública.
Também fui afectado a três equipes de operações
especiais: a tropa de ataque Bauer, a equipe de investigações
sobre o urânio empobrecido e a equipe das armas tomadas ao inimigo.
Atraso nos cuidados médicos concedidos aos feridos
Hoje, 17 anos após o fim da operação "Tempestade do
deserto", dos combates travados em 1994 e 1999 no Balcãs e
após uma segunda guerra do Golfo que não acaba
(operações Liberdade para o Iraque e Liberdade Imutável),
lamento que o tratamento médico de "todas" as vítimas,
civis e militares, e a reparação de todos os danos causados ao
ambiente sejam adiados, recusados ou, em numerosos casos, ineficazes.
Até Maio de 2007, mais de 408 mil cidadãos dos Estados Unidos
pediram cuidados médicos e uma pensão devido a ferimentos e
doenças contraídas em combate (www.va.gov «May 2007 GWVIS
Report»).
Os problemas médicos (diagnostics ICD-9) constatados junto a mais de 300
mil vítimas de doenças ou ferimentos não devidos aos
combates (DNBI) entre Fevereiro de 2002 e Dezembro de 2007 (Analysis of VA
Health Care Utilization Among US Global War on Terrorism [GWOT] Veterans;
Operation Enduring Freedom, Operation Iraqi Freedom; VHA Office of Public
Health and Environmental Hazards; VA; January 2008) compreendem as seguintes
doenças: doenças contagiosas e parasitárias, neoplasmas
malignos, neoplasmas benígnos, doenças dos sistemas
endócrino, nutricional e metabólico, doenças do sangue e
dos órgãos que asseguram a formação dos elementos
constituintes do sangue, doenças mentais, doenças do sistema
nervoso/dos órgãos dos sentidos, doenças do sistema
uro-genital, doenças da pele, doenças dos sistemas muscular e
esquelético, das articulações, sintomas, sinais e estados
mórbidos mal definidos, ferimentos/envenenamentos. Um relatório
do exército de 6 de Abril de 2008 redigido por Kelly Kennedy e
intitulado "Reservistas embaraçados pelos critérios a
cumprir para terem direito a uma pensão de invalidez" revela que se
libertaram muitos soldados feridos ou doentes sem lhes dizer que tinham direito
a uma pensão de invalidez. Kenneth Cox, coronel da aeronáutica
dos Estados Unidos, constatou com tristeza que funcionários do
Ministério da Defesa retardavam intencionalmente diagnósticos
médicos de traumatismo craniano (Gregg Zoroya: «Colonel: Pentagon
delayed brain injury exams», «USA Today» du 18/3/08).
Os comandantes foram advertidos
Desde 1991, os autores de numerosos relatórios do Ministério da
Defesa constataram que os comandantes médicos e tácticos
não estavam conscientes dos riscos que faziam correr as armas de
destruição maciça (armas NBC) e nunca disseram nada dos
seus efeitos sanitários e ambientais negativos. Ora, eles foram
advertidos! Nós recomendámos um tratamento médico
imediato e a longo prazo. Descrevemos os riscos possíveis e seus
efeitos negativos previsíveis sobre a saúde e o ambiente nas
comunicações escritas e aquando dos nossos cursos. Estes cursos
abrangiam o 3rd US Army Medical Command (MEDCOM) et le 3rd US Army Central
Command (Arcent) Medical Management of Chemical and Biological Casualties
Course (www.gulflink.osd.mil/) o NBC-E Defence Refresher Course, o Combat
Livesaver Course e o Decontamination Procedures Course. De Dezembro de 1990 a
Fevereiro de 1991 ensinámos a mais de 1200 militares afectados a
diferentes unidades e ao estado maior de combate. Expliquei os cenários
das ameaças e descrevi os problemas colocados pelas armas NBC. De
Dezembro de 1990 a 25 de Fevereiro de 1991, ensinei no quadro do curso sobre as
armas NBC, do curso de salvação em combates e do curso de
descontaminação. A maior parte dos comandantes, o pessoal
médico e as pessoas com afectação especial em todos os
níveis sabiam portanto o que se poderia esperar e como era preciso
reagir a toda eventualidade.
Continua-se a utilizar armas com urânio
Se bem que a Comissão dos Direitos Humanos da ONU considere as
munições com urânio empobrecido
(depleted uranium, DU)
como armas ilegais, elas continuam a ser utilizadas, contaminando o ar, a
água, o solo e os alimentos e deteriorando a saúde. A
contaminação por estas armas resultando de
operações do exército dos Estados Unidos foi confirmada em
dois lugares do Hawai, depois de ter sido primeiramente constestada
(www.armytimes.com/news/2007/08/ap_hawai). Durante o Verão de 1991, as
forças armadas americanas haviam reunido em Camp Doha, no Kuwait,
nomeadamente artilharia, carros, veículos de combate Bradley,
munições convencionais e não convencionais e
camiões. Na sequência de negligências, este depósito
de armas incendiou-se. Isto resultou em explosões provocando mortos,
feridos, doentes e vastas contaminações do ambiente por DU,
explosivos clássicos e munições não convencionais.
Recentemente, o emirado do Kuwait exigiu que o Pentágono eliminasse as
contaminações. Em consequência, mais de 6700 toneladas de
areia e outras matérias contaminadas foram reunidas e transportadas para
os Estados Unidos, onde a firma American Ecology os enterrou em Boise, no Idaho.
Riscos dissimulados intencionalmente pelo governo dos Estados Unidos
Quando Bob Nichols, jornalista de investigação e eu
próprio contactámos com a American Ecology, verificou-se que a
empresa não tinha conhecimento da regulamentação 700-48
(US Army PAM-700-48), do Bulletin technique 9-1300-278 do Exército nem
das instruções médicas referentes ao urânio
empobrecido, à descontaminação do ambiente, à
segurança e aos cuidados médicos. A empresa jamais havia ouvido
falar tão pouco das directivas relativas aos resíduos mistos e
perigosos, tais como as matérias radioactivas e os sub-produtos de
explosivos clássicos (cf. «Approaches for the Remediation of
Federal Facility Sites Contaminated With Explosives or Radioactive
Wastes», EPA/625/R-93/013, Setembro de 1993, elaborados pelo US
Environmental Protection Agency EPA). O transporte por mar, o descarregamento
em Longview, no porto do Estado de Washington, o transporte ferroviário
e o enterramento no Idaho punham em perigo não só os habitantes
destas regiões como ameaçavam gravemente a agricultura
introduzindo parasitas, micróbios, etc, estranhos ao nosso país.
Ambiente contaminado
Infelizmente, os perigos bem conhecidos que a contaminação pelas
armas com urânio fazem pesar sobre a saúde e o ambiente já
atingiram nossas zonas residenciais. A EPA increveu no seu Superfund National
Priority List o antigo sítio de produção de armas com
urânio Starmet, em Concord, Massachusetts, porque constitui um grande
risco para a saúde pública e o ambiente. Em consequência,
a comuna na qual nasceu a nossa nação em 18 de Abril de 1775
tornou-se o lugar no qual a fábrica abandonada de bombas
sujas dos Estados Unidos constitui um perigo para a saúde e a
segurança dos descendentes dos nossos primeiros patriotas, os
"Minutemen"
[1]
.
É incrível que funcionários do Ministério da Defesa
recusem aplicar as suas próprias directivas, que exigem um tratamento
médico imediato. («Medical Management of Army Personnel Exposed to
Depleted Uranium», Headquarters US Army Medical Command du 29 avril 2004;
e a directiva anterior «Medical Management of Unusual Depleted Uranium
Casualties» DOD, Pentagon, 10/14/93). Eles recusam-se ainda a reparar os
danos causados ao ambiente como exigem o US Army Regulation 700-48, Logistics,
«Management of Equipment Contaminated With Depleted Uranium or Radioactive
Commodities», Headquarters, Department of the Army, Washington DC 16
Septembre 2002 e o Department of the Army Technical Bulletin 9-1300-278:
Guidelines for Safe Response to Handling Storage, and Transportation Accidents
Involving Army Tank Munitions or Armor which Contain Depleted Uranium,
Headquarters, Department of the Army, July 1996.
Toneladas de resíduos radioactivos eliminadas em outros países
De facto, os militares americanos "eliminaram" ilegalmente toneladas
de resíduos radioactivos em outros países que ignoravam as
consequências. O principal manual de treino do exército dos
Estados Unidos STP 21-1-SMCT: Soldiers Manual of Common Tasks precisa: "A
poluição pelo urânio empobrecido torna inutilizáveis
os alimentos e a água". [Número de tarefa: 031-503-1017
«Respond to depleted uranium/low level radioactive materials (Dullram)
hazards»]. Esta confirmação mostra que as
munições jamais deveriam ser utilizadas, porque o envenenamento
dos alimentos e da água afecta para sempre todos os homens. O problema
é que os alimentos e a água contaminados nunca mais podem ser
consumidos.
Confirmação da toxidade radioactiva e química do DU pelo
exército americano
Chefe do exército também confirmaram a toxidade das
munições com DU. Num memorando de 1º de Dezembro de 1992, o
secretário adjunto da Defesa, Walker, mandatado pelo Senado, pediu ao
director do US Army Environmental Policy Institute (AEPI), para investigar como
reduzir a toxidade do DU. Este afirmou no seu relatório final "que
nenhuma tecnologia disponível podia reduzir de maneira significativa a
toxidade química e radiológica do DU. Tais são as
características intrínseca do urânio". (AEPI
Executive Summary, juin 1995). Instruções internas do
Ministério da Defesa dadas pelo coronel J. Edgar Wakayama confirmam os
graves efeitos sanitários e ambientais do urânio empobrecido
(
www.traprockpeace.org/du_dtic_wakayama_Aug2002.html
). Estas
constatações vêm apoiar declarações da
Comissão dos Direitos Humanos da ONU segundo a qual a
utilização das munições com DU é ilegal.
(
www.traprockpeace.org/karen_parker_du_illegality.pdf
)
Os pedidos do projecto americano relativo ao DU
As inquietações contínuas relativas aos efeitos nocivos
bem conhecidos do DU sobre a saúde e o ambiente, a insuficiência
confirmada da preparação dos militares e os resultados do estudo
da AEPI, tudo isso conduziu a por de pé o US Army Depleted Uranium
Project. Em reacção às questões do Congresso e por
ordem do secretário adjunto da Defesa, fui chamado ao serviço
activo em 1 de Agosto de 1994 como chefe do referido projecto, a fim de:
1- Por à disposição um treino suficiente dos soldados que
pudessem entrar em contacto com armas com DU.
2- Por à disposição testes médicos completos
destinados aos soldados que haviam sido expostos a munições com
DU durante a guerra do Golfo.
3- Elabora, para as operações futuras, um plano de
descontaminação dos materiais contaminados por DU.
Este projecto e o exame dos resultados de investigações
anteriores confirmaram nossas conclusões e recomendações
de 1991.
1- Toda contaminação por DU deve ser eliminada fisicamente de
maneira a impedir exposições futuras às
radiações.
2- Detectores de radiações especiais que detectam e medem a
emissão de partículas alfa e beta, raios X e raios gama ao
nível correspondente indo de 20 dpm (cpm) a 100 000 dpm (cpm) e de 1
mrem/hora a 75 mrem/hora devem ser adquiridos e distribuídos a todas as
pessoas e organizações responsáveis por cuidados
médicos e por descontaminação de ambiente onde se suspeite
a presença de DU (urânio 238) e outros isótopos fracamente
radioactivos. Os aparelhos padrão não detectam esta
contaminação.
3- Todas as pessoas que inalaram ou poderiam ter inalado ou ingerido DU ou
terem sido contaminadas por intermédio de ferimentos devem ser objecto
de cuidados médicos para detectar todo envenenamento interno
móvel ou isolado por DU.
4- Toda pessoa que entre em contacto com um material contaminado de qualquer
tipo que seja, passe por cima ou trabalhe num raio de 25 metros deve portar uma
protecção das vias respiratórias e da pele.
5- Os materiais contaminados e danificados não deveriam ser reciclados
para fabricar novos materiais.
Não aplicação das directivas do Pentágono
Desde 1991, numerosas directivas dos Ministérios da Defesa
(
www.spidersmill.com/gwvrl/
) e dos Antigos Combatentes exigem, com base em
instruções anteriores e, posteriormente, com base nos resultados
e recomendações do estudo AEPI e do projecto DU, um tratamento
médico e uma descontaminação do ambiente. Contudo
e apesar que os responsáveis dos referidos ministérios e aqueles
das Nações Unidas terem sabido o que era preciso fazer as
observações, as provas fotográficas e os vídeos, as
medidas radiológicas efectuadas no local, a experiência pessoal e
os relatórios publicados demonstram que:
1- Os cuidados médicos não foram concedidos a todas a
vítimas do DU.
2- O ambiente não foi descontaminado.
3- Os interessados não usam protecção das vias
respiratórias e da pele.
4- Os materiais contaminados e avariados foram reciclados para fabricar novos
materiais.
5- O treino e as informações não ocorreram senão
parcialmente.
6- As directivas sobre as medidas de luta contra a contaminação
não foram divulgadas nem aplicadas.
É preciso acabar com os esforços constantes dos altos
funcionários dos Ministérios da Defesa, do Exército, da
Energia e dos Antigos Combatentes dos Estados assim como de funcionários
britânicos, canadianos e australianos e das Nações Unidas
tendentes a impedir a tomada de consciência destes problemas e a
livrarem-se da sua responsabilidade. O coronel Robert Cherry, antigo membro do
Exército americano e responsável no Pentágono pela
protecção contra a radioactividade, difundiu mensagens
electrónicas cujo teor era o seguinte: "Ele [Doug Rokke]
não era director do projecto do Exército americano relativo ao
DU. Nenhum projecto jamais teve este nome". Esta mentira, assim como
outras difundidas por altos funcionários de Pentágono, tem como
finalidade perpetuar a utilização das armas com DU e
desembaraçar-se da sua responsabilidade a propósito dos efeitos
nocivos destas armas sobre a saúde e o ambiente desacreditando e
destruindo todos aqueles que tentam incitar os funcionários do
Pentágono a aplicarem as suas próprias directivas relativas aos
cuidados médicos e à descontaminação do ambiente.
Desde há muito tempo os funcionários dos Ministérios da
Defesa dos Estados Unidos, de Israel, do Canadá e do Reino Unido recusam
com arrogância aplicar suas próprias regulamentações
que exigem conceder um tratamento médico imediato e eficaz a todos
aqueles que foram expostos a radiações. (Medical Management of
Unusual Depleted Uranium Casualties, DOD, Pentagon, 10/14/93, Medical
Management of Army personnel Exposed to Depleted Uranium [DU] Headquarters,
U.S. Army Medical Command 29 April 2004 e partes 2-5 do U.S. Army Regulation
700-48.) Infelizmente, após o recurso do Exército israelense a
arma com DU aquando dos seus combates no Líbano, os responsáveis
devem igualmente fornecer um tratamento médico às pessoas
afectadas e eliminar os efeitos da contaminação sobre o ambiente.
Os responsáveis do Pentágono recusam-se a proceder a
descontaminações como é prescrito pela AR 700-48 (cf.
supra) e pelo TB 9-1300-278 (cf. supra). Em particular as partes 2-4 de l'AR
700-48 de 16 de Setembro de 2002 precisam que:
1- "os militares identificam, isolam, põem em segurança e
etiquetam todos os materiais contaminados";
2- "procedimentos visando reduzir a dispersão da radioactividade
devem ser tomados desde que possível":
3- "o material e os resíduos radioactivos não serão
nem enterrados, nem imergidos, nem queimados, nem destruídos no local,
nem abandonados";
4- "Todo o material contaminado, inclusive o material de combate ou tomado
ao inimigo, será vigiado, embalado, repatriado, descontaminado e reposto
em circulação (IAW TB 9-1300-278, DA PAM 700-48)"
Os responsáveis do Pentágono dissimulam as listas de materiais
contaminados
Os responsáveis do Pentágono não mostram aos militares os
vídeos de treino sobre DU pedidos pelo Congresso. Estes três
vídeos 1. Depleted Uranium Hazard Awareness, 2. Contaminated and
Damaged Equipment Management e 3. Operation of the AN/PDR 77 Radiac Set
são essenciais para compreender os riscos que representam a
utilização das armas com DU e os procedimentos de
descontaminação. Os responsáveis do Pentágono
devem mostrar estes vídeos a todos os militares que utilizam estas armas
ou estão encarregados da descontaminação do material. A
utilização passada e actual das armas com DU, as
radiações emitidas por componentes de materiais militares
americanos ou estrangeiros que foram destruídos e aqueles provenientes
dos materiais radioactivos das instalações industriais,
médicas e de investigação expuseram quantidades de pessoas
a radiações inaceitáveis. Em consequência, a
descontaminação deve ser realizada como exige a AR 700-48 e
deveria incluir todo o material utilizado aquando de operações
militares.
Os cidadãos do mundo inteiro devem elevar a voz
Não podemos continuar a não ter em conta os efeitos nocivos da
utilização das armas com DU sobre a saúde e o ambiente.
Nenhuma pessoa nem nenhum Estado tem o direito de dispersar toneladas de
resíduos radioactivos tóxicos no ambiente do seu próprio
país ou de países estrangeiros. Há uma questão
à qual os responsáveis americanos, britânicos e
australianos recusam-se a responder: Que direito têm eles de dispersar
deliberadamente substâncias radioactivas em tal ou tal país e
recusar a seguir proceder à descontaminação e a fornecer
cuidados médicos a todas as pessoas que foram expostas às
radiações.
Em consequência, os cidadãos do mundo inteiro devem falar a uma
única voz para constranger os responsáveis dos países que
utilizaram munições com DU a reconhecer as consequências
imorais dos seus actos e assumir a responsabilidade de oferecer cuidados
médicos a todas as pessoas expostas ao DUE e a limpar todas as zonas
contaminadas na sequência de combates ou de actividades civis.
Estou frustrado por ver que não se reage às nossas
advertências, aos nossos pedidos de cuidados médicos e de
descontaminação do ambiente.
Por que continuar a exprimir estas reivindicações se os
responsáveis americanos, britânicos, canadianos, australianos, das
Nações Unidas e da NATO ficam indiferentes, continuando a negar a
realidade a fim de evitar, por razões económicas e
políticas, ter de assumir as suas responsabilidades. As forças
da coligação aplicaram a tecnologia nos combates sem levar em
conta os seus efeitos nocivos previsíveis. Os Estados Unidos
transportaram para o Iraque agentes de destruição maciça,
nomeadamente o antrax, difundiram substâncias químicas
tóxicas nos combates, utilizaram munições com DU e agora
os nossos responsáveis querem ignorar estes factos a fim de se livrarem
das suas responsabilidades. Nós contaminámos a Terra. Nossas
acções tiveram graves efeitos sanitários e ambientais.
Meus esforços para cumprir a missão que me foi assinalada e para
fazer com que os nossos responsáveis cuidassem das suas tropas
saldaram-se por recusas, perdas de emprego, problemas familiares, o
desaparecimento e talvez a destruição de relatórios
médicos e pessoais e dos problemas de saúde. Eu próprio e
centenas de milhares de outros militares recebemos agora cuidados
médicos que chegam demasiado tarde ou são inadequados.
Nós servimos nosso país e merecemos cuidados óptimos dos
ferimentos e doenças contraídas durante nosso serviço.
Ora, fomos abandonados, abusados! Sofro agora medidas de represália do
Pentágono e do Ministério dos Antigos Combatentes porque
recusei-me a respeitar o Memorando de Los Alamos de Março de 1991.
Queriam que eu assegurasse que o DU podia ser utilizado no decorrer de
operações militares e de actividades civis. Ora, no mesmo
momento um memorando de um oficial da Defense Nuclear Agency mencionava
sérios efeitos sanitários. Mas não estou só.
Qualquer um que reclame cuidados médicos e a
descontaminação do ambiente choca-se com represálias
constantes e graves.
A guerra está obsoleta
Hoje devemos considerar a guerra como obsoleta pois não sabemos resolver
os problemas colocados pelos efeitos nocivos à saúde e o ambiente
devidos à utilização de armas que destroem as
infraestruturas de um país e difundem venenos que afectam militares e
civis. O custo humano da guerra é estarrecedor. Segundo
relatório VA GWVIS de Maio de 2007, pelo menos 407.911 antigos
combatentes das duas guerra dos Golfo, do conflito do Balcãs e do do
Afeganistão que foram feridos ou caíram doentes têm de se
bater para beneficiarem dos cuidados médicos que merecem por terem
servido seu país. O relatório mais recente do Ministério
dos Antigos Combatentes, intitulado "Analysis of VA Health Care
Utilization Among US Global War on Terrorism (GWOT) Veterans; Operation
Enduring Freedom, Operation Iraqi Freedom; VHA Office of Public Health and
Environmental Hazards", de Janeiro de 2008, revela que mais de 299 mil
antigos combatentes americanos têm graves problemas de saúde
ligados à exposição às radiações que
correspondem aos problemas de saúde diagnosticados nos veteranos da
operação "Tempestade do Deserto" (1991). Infelizmente
os cuidados médicos são ainda ineficazes para os dois grupos. Os
problemas de saúde diagnosticados são o resultado de
acções ou ausência de acções dos Estados
Unidos. Assim, revelam-se graves problemas neurológicos. Eles
são provavelmente devidos à exposição aos
pesticidas os soldados usam coleiras anti-pulgas e à
toxicidade do DU. Mas ninguém quer saber destes dois tipos de
exposição, nem de outros.
Pois eles sabem o que fazem
Às centenas de milhares de vítimas americanas acrescentam-se
centenas de milhares de não combatentes, sobretudo crianças,
mulheres e pessoas idosas dos países que atacámos. Os problemas
de saúde não se limitam aos soldados americanos, eles afectam
todos os indivíduos que foram expostos.
Estimativas mundiais chegam a mais de dois milhões de vítimas,
dos quais mais de um milhão de americanos que foram feridos ou
caíram doentes. Milhares estão morto e eu contava com numerosos
amigos entre estas vítimas. Em consequência, fazendo parte
daqueles que pediram muitas vezes para limpar esta sujeira, experimento uma
grande frustração por ver que os responsáveis do
Pentágono e do Ministério dos Antigos Combatentes não
aplicam os programas que desenvolvemos para proteger a nossa terra e tratar
todas as vítimas.
Nossos filhos e nossas filhas responderam ao apelo do país nos muito
casos que implicavam operações militares efectuadas sem
justificação. Muito mais pessoas estão mortas e continuam
a morrer enquanto outras que foram feridas, expostas a substâncias
tóxicas e caídas doentes são abandonadas pelos
responsáveis do nosso país, como se verificou muitas vezes no
curso da história. Infelizmente, a maioria destes casos são
classificados na rubrica "doenças e ferimentos não devidos
aos combates" e são o resultado directo de nossas
acções e de nossa ausência de acções. O
custo humano aumenta porque muitos caíram doentes ou morreram depois de
retornarem às suas casas e saberem o que se passa. Contudo, os chefes
dos Ministérios da Defesa, do Exército e dos Antigos Combatentes
recusam reconhecer o que se passou e não querem por em prática os
programas que aperfeiçoámos para resolver os graves problemas
sanitários e ambientais. Não se levam em conta numerosas
directivas e regulamentos referentes à necessidade de conceder cuidados
médicas às pessoas que foram expostas ao DU. Elas não
serão tomadas e consideração pois pretende-se evitar
assumir a responsabilidade dos problemas sanitários e ambientais
causados pelos combates e pelas acções militares em tempos de paz.
Nossos "dirigentes" fracassaram
Quando o politicamente correcto e a vontade de evitar custos são
utilizados para determinar quais cuidados médicos vão ser
concedidos, quem vai se beneficiar, quando aquilo será feito e quando a
descontaminação ambiental será efectuada, nós,
soldados e civis, somos os perdedores. Nossos responsáveis decidiram
ignorar os problemas na esperança de que estes desapareçam por si
mesmos. O seu objectivo é evitar ter de responder pelos efeitos nocivos
sobre a saúde e o ambiente dos seus actos deliberados e das guerras.
Recentemente o Pentágono criou o programa "Combatente ferido"
para começar a resolver os problemas colocados pela recusa de cuidados,
pelos atrasos ou pelos cuidados ineficazes concedidos aos nossos combatentes
feridos ou doentes. Se os dirigentes do nosso país não tivessem
abandonado os combatentes feridos, doentes e mortos devido às
acções do Pentágono que se verificaram desde os primeiros
dias da Segunda Guerra Mundial veteranos vítimas de ensaios
atómicos, guerra fria (projecto Shad), guerra do Vietname (Agente
Laranja), operações Tempestade do Deserto, Liberdade para o
Iraque e Liberdade imutável (urânio empobrecido, agentes
químicos e biológicos, vacinas, matérias perigosas,
pesticidas, armas de hiperfrequência, etc não
teríamos hoje um número impressionante de vítimas
dissimuladas e abandonadas. Se bem que a equipe do programa "Combatente
ferido" conceda assistência, ela ainda se recusa a ajudar a resolver
os problemas fundamentais: recusa de conceder os cuidados médicos
rápidos e eficazes às vítimas, atrasos, medidas de
represálias e de destruição ou falsificação
de relatórios.
Exijamos o fim deste pesadelo
Nossos dirigentes abandonaram os cidadãos americanos e os do mundo
inteiro. Em consequência, creio que eles ignoram as palavras imortais
pronunciadas por Lincoln no seu discurso de Gettysburg:
"Cabe antes a nós, os vivos, consagrar-mo-nos à tarefa ainda
inacabada que eles até aqui tão nobremente cumpriram. Cabe antes
a nós consagrar-mo-nos à grande tarefa que nos resta a fim de que
estes mortos venerados nos inspirem uma devoção acrescida
à causa que os fez dar a sua vida, a fim de que sejamos firmemente
resolutos para fazer com que estes mortos não sejam mortos em
vão; a fim de que esta nação, diante de Deus,
renasça para a liberdade e que o governo do povo, pelo povo, para o
povo, não seja apagado desta terra".
Hoje, como antigo combatente e patriota, rezo para que Deus responda ao nosso
pedido de intervenção e leve nossos dirigentes a conceder os
cuidados médicos necessários a todas as vítimas e a
efectuar a descontaminação ambiental indispensável para a
reabilitação dos nossos preciosos recursos naturais. Não
cessarei jamais de fazer o que é bom para Deus e para os cidadãos
do mundo inteiro porque tornou-se uma questão de integridade.
Se bem que eu tenha sido um "combatente para a guerra", devo hoje ser
um "combatente pela paz". As três questões que cada um
de nós se deve colocar são:
1- Quando os responsáveis dos Ministérios da Defesa e dos Antigos
Combatentes reconhecerão os efeitos nocivos sobre a saúde e o
ambiente das operações militares e concederão cuidados
médicos rápidos e eficazes a todas as vítimas militares e
civis?
2- Quando vão eles proceder finalmente a toda a
descontaminação ambiental a fim de atenuar os futuros efeitos
nocivos sobre a saúde e o ambiente?
3- Quando os cidadãos do mundo inteiro vão reclamar o fim deste
pesadelo e encontrar o meio de viverem juntos na paz?
[1]
Minuteman: Soldado colonial antes e durante a Guerra Revolucionária Americana.
[*]
Nota biográfica:
"Retirado do Exército de reserva americano, com uma invalidez de
60%. Durante toda a minha carreira, meus objectivos foram fazer
investigação, redigir instruções técnicas,
programas de ensino e instrução, avaliar programas destinados a
melhorar a preparação para os combates, efectuar
reabilitações do ambiente e trazer cuidados médicos a
todas as vítimas. Fui chamado a cumprir diversas missões
perigosas:
1- Preparar, dirigir e avaliar missões sanitárias militares;
2- Assegurar que cada um estava preparado para a utilização de
armas de destruição maciça;
3- Proceder à descontaminação do ambiente poluído
pelo urânio e outras matérias perigosas;
4- Desenvolver os programas de conformidade ambiental do Exército
americano e cursos a este respeito;
5- Dirigir o Depleted Uranium Project;
6- Dirigir os Laboratórios radiológicos Edwin R. Bradley, do
Exército americano;
7- Desenvolver, ensinar e avaliar programas civis e militares de
reacções de urgência ao emprego de armas de
destruição maciça;
8- Desenvolver, após investigações, o programa do
Pentágono de reabilitação ambiental dos sítios
militares desafectados assim como cursos a este respeito".
Doug Rokke
Ver também:
Urânio empobrecido: Bombas sujas, mísseis sujos e balas sujas
Urânio empobrecido, arma de extermínio da humanidade
O urânio empobrecido retorna aos EUA
Guerra do Iraque: Urânio empobrecido contamina a Europa
Carta de Leuren Moret ao Presidente Hugo Chavez
Afeganistão: O pesadelo nuclear principia
Os bárbaros e os civilizados
As armas utilizadas e os alvos atingidos pelos bombardeamentos israelenses
O caso do urânio empobrecido
As mortes silenciosas de militares italianos
Os efeitos das armas com urânio empobrecido usadas no Iraque
A versão em francês encontra-se em
http://www.horizons-et-debats.ch/index.php?id=1095
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
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